A Rusticidade do Amor e da Morte
A textura era rústica, mas o roçar contra a pele do rosto tornava o movimento agradável. Cheirou-os e sentiu um aroma adocicado, teve vontade de segurá-los, com força, assim como se segura alguém quando se faz amor. Entretanto, mudou de idéia e beijou-os. A textura rústica roçou seu beiço e sentiu prazer com aquilo a ponto de começar a ficar excitado. A ereção veio rápido, como um flashback de um lembrança perdida no tempo. Ficou mais excitado e uma súbita vontade de colocá-lo na boca e chupá-lo delicadamente lhe veio a cabeça. Novamente não foi adiante com a primeira idéia e simplesmente os segurou sentindo sua textura rústica contra a palma da mão. Dessa vez se viu como uma criança que realizava o desejo de tocar algo proibido. Lembrou de suas aulas de estética na faculdade e da sua descoberta vocacional ainda criança... Soube que seria artista não porque viesse de uma família de artistas ou porque tinha noção de seus dotes com artes plásticas. Não, soube que seria artista por conta do toque, porque adorava tocar as coisas que sempre estavam ao seu redor: o pêlo do gato do vizinho, a pele escura de sua mãe, a barba espinhosa de seu pai, a mão calejada de sua avó que chegou a tocar mesmo quando a mesma encontrava-se sem vida e jogada ao lado esquerdo da cama em que o corpo moribundo ficara entrevado por três anos antes de dar o último suspiro numa manhã chuvosa de janeiro. Mas o momento de descoberta foi durante a ida ao museu numa excursão de sua classe de terceira série: foi pego passando suas pequeninas mãozinhas escuras sobre um quadro. Uma bronca do segurança, esporro da professora, advertência enviada pros pais e, por fim, a coroação com uma surra da mãe. Havia passado pelo ritual de iniciação, tornou-se artista aos 10 anos. Tocar, segurar, apertar, roçar... Não demorou a descobrir a mágica e sensações poderia tirar de determinadas partes de seu próprio corpo, mas nunca imaginou que aquilo pudesse ser feito a dois. Já crescido, Dedé um dia lhe disse que seu trabalho era como o de uma puta, a única diferença era que seus clientes eram suas esculturas. Sim, ele passava o dia inteiro tocando, modelando, massageando, e fazendo amor com suas esculturas. Mas talvez não fosse isso que Dedé quisesse dizer com sua analogia. O fato é que artistas são putas porque supostamente vendem sentimentos, colocam um preço na em sua intimidade. Todas as esculturas que ele tinha feito eram expressões de relações mal-resolvidas, estados profundos de tristeza, alegria, medo, ansiedade, desejo, raiva, ódio, paixão e decepção. Segurou-os com força agora. A ereção tinha passado e ficou olhando para o corpo nu de Dedé. As formas arredondas e grandes daquela mulher da cor da noite. Sentiu medo, sempre sentia medo de Dedé. Aquela mulher guardava segredos que nunca lhe seriam confessados. Mas quando faziam amor e se tornavam um, ele podia sentir os segredos de Dedé, como se eles fossem parte dele por alguns minutos. E por fim, quando ela gozava, soltava uma gargalhada que só mulheres pretas como ela sabem dar e se jogava ao lado da cama com o coração acelerado. Dedé dormiria e ele ficaria acordado olhando seu corpo na penumbra e a observando dormir. Admirando sua pele e agradecendo a Deus, o Diabo, São Benedito, Xangô, Jeová, Jah, Jesus e a Escrava Anastácia por ter colocado aquela mulher cor da noite em sua vida. O ritual de contemplação de sua musa sempre acabava no cabelo de Dedé dreadlocks que eram, na sua opinião, a mais linda escultura que ele já havia visto. Os dreads de Dedé tinham a mesma rusticidade que ele sentia ao tocar a mão calejada de sua avó quando criança, sensação que perdera há tanto tempo, mas que recuperara na preta de sua vida. Quando pensava na possibilidade de perdê-la, entrava em pânico. Agarrava o corpo de Dedé, como uma criança que se esquiva sobre a mãe, e dormia de forma profunda para esquecer que essa possibilidade existia. Entretanto, na sua cabeça, a morte seria menos dolorosa se fosse possível escolher sua data e lugar. No seu caso, morreria ali, juntinho de Dedê, no mesmo dia, hora e agarrado ao cabelo rústico de sua amada, uma dádiva de Jah. Amor é renúncia, amor é rusticidade, amor é morte...
Muita Paz, Ótima Semana!
* Canção inspiradora Ex-Factor, Lauryn Hill, álbum The Miseducation of Lauryn Hill (1998). Ouça AQUI
A textura era rústica, mas o roçar contra a pele do rosto tornava o movimento agradável. Cheirou-os e sentiu um aroma adocicado, teve vontade de segurá-los, com força, assim como se segura alguém quando se faz amor. Entretanto, mudou de idéia e beijou-os. A textura rústica roçou seu beiço e sentiu prazer com aquilo a ponto de começar a ficar excitado. A ereção veio rápido, como um flashback de um lembrança perdida no tempo. Ficou mais excitado e uma súbita vontade de colocá-lo na boca e chupá-lo delicadamente lhe veio a cabeça. Novamente não foi adiante com a primeira idéia e simplesmente os segurou sentindo sua textura rústica contra a palma da mão. Dessa vez se viu como uma criança que realizava o desejo de tocar algo proibido. Lembrou de suas aulas de estética na faculdade e da sua descoberta vocacional ainda criança... Soube que seria artista não porque viesse de uma família de artistas ou porque tinha noção de seus dotes com artes plásticas. Não, soube que seria artista por conta do toque, porque adorava tocar as coisas que sempre estavam ao seu redor: o pêlo do gato do vizinho, a pele escura de sua mãe, a barba espinhosa de seu pai, a mão calejada de sua avó que chegou a tocar mesmo quando a mesma encontrava-se sem vida e jogada ao lado esquerdo da cama em que o corpo moribundo ficara entrevado por três anos antes de dar o último suspiro numa manhã chuvosa de janeiro. Mas o momento de descoberta foi durante a ida ao museu numa excursão de sua classe de terceira série: foi pego passando suas pequeninas mãozinhas escuras sobre um quadro. Uma bronca do segurança, esporro da professora, advertência enviada pros pais e, por fim, a coroação com uma surra da mãe. Havia passado pelo ritual de iniciação, tornou-se artista aos 10 anos. Tocar, segurar, apertar, roçar... Não demorou a descobrir a mágica e sensações poderia tirar de determinadas partes de seu próprio corpo, mas nunca imaginou que aquilo pudesse ser feito a dois. Já crescido, Dedé um dia lhe disse que seu trabalho era como o de uma puta, a única diferença era que seus clientes eram suas esculturas. Sim, ele passava o dia inteiro tocando, modelando, massageando, e fazendo amor com suas esculturas. Mas talvez não fosse isso que Dedé quisesse dizer com sua analogia. O fato é que artistas são putas porque supostamente vendem sentimentos, colocam um preço na em sua intimidade. Todas as esculturas que ele tinha feito eram expressões de relações mal-resolvidas, estados profundos de tristeza, alegria, medo, ansiedade, desejo, raiva, ódio, paixão e decepção. Segurou-os com força agora. A ereção tinha passado e ficou olhando para o corpo nu de Dedé. As formas arredondas e grandes daquela mulher da cor da noite. Sentiu medo, sempre sentia medo de Dedé. Aquela mulher guardava segredos que nunca lhe seriam confessados. Mas quando faziam amor e se tornavam um, ele podia sentir os segredos de Dedé, como se eles fossem parte dele por alguns minutos. E por fim, quando ela gozava, soltava uma gargalhada que só mulheres pretas como ela sabem dar e se jogava ao lado da cama com o coração acelerado. Dedé dormiria e ele ficaria acordado olhando seu corpo na penumbra e a observando dormir. Admirando sua pele e agradecendo a Deus, o Diabo, São Benedito, Xangô, Jeová, Jah, Jesus e a Escrava Anastácia por ter colocado aquela mulher cor da noite em sua vida. O ritual de contemplação de sua musa sempre acabava no cabelo de Dedé dreadlocks que eram, na sua opinião, a mais linda escultura que ele já havia visto. Os dreads de Dedé tinham a mesma rusticidade que ele sentia ao tocar a mão calejada de sua avó quando criança, sensação que perdera há tanto tempo, mas que recuperara na preta de sua vida. Quando pensava na possibilidade de perdê-la, entrava em pânico. Agarrava o corpo de Dedé, como uma criança que se esquiva sobre a mãe, e dormia de forma profunda para esquecer que essa possibilidade existia. Entretanto, na sua cabeça, a morte seria menos dolorosa se fosse possível escolher sua data e lugar. No seu caso, morreria ali, juntinho de Dedê, no mesmo dia, hora e agarrado ao cabelo rústico de sua amada, uma dádiva de Jah. Amor é renúncia, amor é rusticidade, amor é morte...
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8 comentários:
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