sábado, 24 de março de 2012

O Som Das Ruas Vintage!


Adoro essa foto/capa do disco O Som Das Ruas lançado pela equipe/gravadora Chic Show em 1988. Junto com outras duas coletâneas - Hip Hop Cultura de Rua (Eldorado)  e Consciência Black Volume 1 (Zimbabwe) -, também postas na rua no mesmo ano, ela forma a tríplice aliança (ou santíssima trindade!) que deu o pontapé inicial e formal no hip hop/rap brasileiro. Nesse disco foram lançadas figuras como Metralhas, Sampa Crew, N Dee Naldinho e Dee Mau. E dá uma olhada no naipe da rapaziada... A crew tá mais pra uma quebrada aqui do Bronx, Harlem ou Brooklyn do que SP. Isso mesmo: rap nacional vintage! Seria bem legal fazer uma remontagem contemporânea da foto com MCs/rappers atuais: fica a idéia!

Muita Paz Muito Amor!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Edição 8 de O Menelick 2º Ato


Num post de novembro falei/escrevi sobre a revista O Menelick 2º Ato (leia AQUI) ao mesmo tempo que divulgava a festa de lançamento de um novo número do periódico. Os figuras estão de volta com um novo número e o lançamento - que se desdobrará em três - acontecerá na próxima semana. A propósito, fui convidado pelo pessoal da revista a escrever um texto para essa edição de número 8. Foi assim que saiu o artigozinho "Transgressão e Arte: o Brasil e o seu lugar na street art global", uma pequena discussão sobre as relações entre grafite e pixação na cidade de São Paulo. A revista é distribuida gratuitamente nos lançamentos e em lugares previamente estipulados. Contudo, se você está muito na fissura de acessar os textos é possível lê-la online clicando AQUI  Confira no convite abaixo os locais agendados para os lançamentos.



Muita Paz Muito Amor!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Million Hoodies for Trayvon Martin!

 
Ontem, 21 de março, foi o Dia Internacional de Luta Para Eliminação da Discriminação Racial. Em NYC aconteceu uma marcha de um caso que é emblemático dessa dolorosa realidade: o assassinato de Trayvon Martin. No dia 26 de fevereiro Martin saiu de sua casa, numa pequena cidade no estado da Flórida, para comprar doces e refrigerante. Ele vestia um casaco de moleton com capuz (hoodie) e foi visto como suspeito por George Zimmerman que ligou para a polícia. Zimmerman foi instruído pelo telefonista da polícia a não perseguir e/ou abordar Martin, mas ele fez justamente o contrário.  Não só perseguiu Martin como o abordou e disparou sua arma contra o garoto de 17 anos que morreu no local. Detalhe: Zimmerman alegou legítima defesa e não foi indiciado por nada. Caso não houvesse mobilização popular, o caso passaria batido. Veja algumas fotos tiradas tiradas por mim durante o protesto clicando AQUI


Justiça Para Trayvon Martin e Sua Família!

Muita Paz e Muito Amor (na medida do possível)!

domingo, 18 de março de 2012

Robert Glasper e Seu Black Radio

Um amor antigo é sempre testado no decorrer de nossa trajetória. Há momentos - especialmente naqueles de crise - em que você se pergunta qual foi o motivo que o levou a se apaixonar por tal coisa ou pessoa. Minha relação com o hip hop é uma relação de amor antigo: há momentos que duvido que ainda estou apaixonado ou tenho sentimentos por essa expressão artística, cultural e política. Daí é preciso voltar ao final dos anos 1980 e início dos 1990 para me lembrar de como um adolescente negro vivendo numa cidade caipira do interior de São Paulo se derreteu de amor ao começar a frequentar bailes black  ali ouvir pela primeira coisas como Public Enemy, Bismarck, Run DMC, Naughty By Nature, N.W.A., MC Jack, Thaíde e DJ Hum, Racionais e outros mais. Você se sente aliviado ao (re)ouvir parte desses grupos e lembrar que foi ali que tudo começou. Entretanto, tem momentos que é bem difícil de gostar da parada. Um desses momentos tem rolado agora, com tantas porcarias (tipo Drake, Nick Minaj, Lil Wayne entre outros) fazendo sucesso principalmente no mercado norte-americano. Não diria que o hip hop, que é muito maior do que o rap, está em crise. O mal estar do rap corresponde a um momento de transição que a música pop como um todo vive nos últimos quinze anos. Ninguém sabe muito bem para onde a parada vai devido as mudanças tecnológicas e o poder cada vez menor (graças a Deus, se ele existir!) das grandes gravadoras.
 
Uma surpresa boa no meio desse lamaçal é o lançamento de Black Radio, álbum que é uma reunião de artistas organizada pelo músico de jazz Robert Glasper batizada por ele de Robert Glasper Experiment e contando com a participação de Erykah Badu, Musiq Soulchild, Lupe Fiasco, Yasiin Bey (Mos Def), Chrisette Michele, Bilal, Stokely, King, Shafiq Husayn, Ledisi, Meshell Ndegeocello e Lalah Hathaway.  Glasper, de 33 anos, colecionou todas essas amizades no decorrer dos últimos anos. Nascido e criado em Houston seu background é invejável. Sua família frequentava igrejas em que gospel e R&B eram os gêneros musicais que davam ritmo aos cultos. Na adolescência Glasper estudou numa escola de ensino médio com ênfase em artes e famosa por produzir jovens músicos de jazz e R&B, alguns nomes ligados a escola são Jason Moran (jovem pianista com contrato com a Blue Note, mesma gravadora de Glasper) e nada menos do que a senhora Carter: Beyoncé Knowles.
 
Fiquei sabendo da existência de Black Radio de forma inusitada. Semanas atrás, ao entrar em um dos prédios de minha universidade, vi um mural onde estava pregada a reportagem The Corner of Jazz and Hip Hop (leia AQUI) publicada no jornal New York Times de 24 de fevereiro último. O texto fala do lançamento do novo álbum de Glasper e de sua carreira. A propósito, a reportagem do NYT estava pregada no mural de minha universidade porque o músico é ex aluno da The New School for Jazz and Contemporary Music (escola de música da universidade onde faço meu doutoramento em sociologia). Mas daí vem a pergunta: o que o álbum possue de tão especial?


A questão é digna de nota uma vez que essa fusão (crossover) entre hip hop e jazz não é algo novo. Os anos 1990 registraram uma série de discos que se embrenaram nesse caminho como o projeto JazzMatazz do falecido rapper Guru com seu parceiro DJ Premier além dos primeiros discos do Gangstar (o grupo dos dois), o produtor Eazy Mo Bee que usou riffs de Miles Davis para dar uma roupagem contemporânea a música do astro do jazz, os dois álbuns do grupo Digable Planets, os discos do catado de grupo US3, os dois discos do projeto do músico de jazz Brandford Marsallis intitulado Buckshot LeFonque além das produções do falecido J Dilla para grupos que emergiram nos anos 1990 como De La Soul, A Tribe Called Quest e Common. Pois bem, o que faz a diferença no disco de Glasper é a facilidade com que o músico faz a ponte entre jazz acústico, R&B, neo-soul e hip hop. Há algum tempo o músico se tornou amigo de várias figuras importantes da cena musical negra contemporânea devido aos comentários boca a boca das apresentações de seu quarteto de jazz. Apesar de fazer jazz, as apresentações do grupo de Glasper começaram a reunir um audiência majoritariamente jovem e afro-americana, algo inusitado para músicos de jazz geralmente mais apreciados por um público branco e estrangeiro. O motivo para o interesse da molecada pelo som de Glasper era justamente a pegada diferente que o músico dava as suas apresentações trazendo um "Q" de contemporaneidade, balanço e peso ao jazz. Isso se deve em muito aos contatos de Glasper com J Dilla, DJ e produtor oriundo de Detroit falecido em 2006, que foi um dos primeiros artistas de hip hop a fundir jazz em suas produções no início dos anos 1990. Sem mais, recomendo o álbum Black Radio para o/as leitore/as do NewYorKibe.  Injeção de dinamismo e contemporaneidade ao hip hop e jazz! Ouça abaixo a faixa "Afro Blue" que conta com a participação de Erykah Badu.



Muita Paz Muito Amor!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Parabéns Mulheres!

Há um longo caminho a ser percorrido para que alcancemos a igualdade de gênero. O que mulheres almejam, e homens inteligentes devem almejar também, é uma sociedade onde mulheres sejam tratadas como seres humanos livres de violência (física, sexual e simbólica), discriminação e tenham seu trabalho tão valorizado e remunerado quanto o de seus parceiros homens. Parabéns Mulheres Pelo Seu Dia!

A imagem acima é de Zora Neale Hurston (1891-1960). Hurston foi antropóloga e escritora. Nos anos 1920 trabalhou como assistente de pesquisa de Franz Boas (1858-1942) - um dos pais fundadores da antropologia moderna - além de Ruth Benedict e Margaret Mead, todos lecionando na Columbia University onde Hurston fazia seu bacharelado. Morando no Harlem no começo do século passado, Hurston teve oportunidade de tomar parte do Harlem Renaissance, um movimento artístico, estético e político que buscava reconfigurar a representação da população afro-americana. De certa forma, os intelectuais e artistas envolvidos com o Harlem Renaissance como W.E.B. Du Bois, Claude McKay, Langston Hughes dentre outro/as, estavam dando os primeiros passos no sentido de fornecer as linhas mestras de uma (à época ainda incipiente) cultura afro-americana. Em 1937 Hurston publicou Their Eyes Were Watching God (há uma tradução para o português) considerado um clássico da literatura norte-americana e o manifesto feminista da literatura afro-americana. Nos 1930 ela fez extensivos trabalhos de campo em países do Caribe e da América Central.

File:Hurston-Zora-Neale-LOC.jpg

Em 1948 Hurston foi falsamente acusada de molestar um garoto de dez anos de idade. Apesar de conseguir provar sua inocência - ela estava em Honduras na época do ocorrido - o caso teve uma repercussão tão negativa que prejudicou tanto sua vida pessoal como profissional. Hurston viria posteriormente se manter financeiramente trabalhando como escritora free lance de revistas. Em momentos críticos ela foi obrigada a aceitar trabalhos como professora substituta e empregada. No final da vida continuaria enfrentando dificuldades financeiras o que se agravaria por conta de seu estado de saúde, o que a obrigou a se internar num asilo onde faleceu após sofrer um AVC em 1960.  Durante vários anos seus restos mortais ficaram numa sepultura sem nenhuma referência no cemitério Garden of Heavenly Rest in Fort Pierce, Florida. Foi somente em 1973 que a escritora Alice Walker e o estudioso de literatura Charlotte Hunt, ao visitar o cemitério, acharam um túmulo sem referência numa área comum e decidiram marcá-lo como sendo o de Hurston.

Muita Paz e Muito Amor a Todas às Mulheres!