quinta-feira, 11 de junho de 2009

"Probremas" de "Ingrêis": Is The Book "On" or "In" the Table?

http://www.hltmag.co.uk/sep06/joke_image01.gif

Andei pagando vários micos no caminho para o Brasil e logo ao chegar em São Paulo. Coisas do tipo lançar um Can I have another glass of white wine numa aeronave de companhia brasileira em que toda a tripulação era de patrícios ou tascar um excuse me na saída do metrô Paraíso. Porém, tudo isso tem uma explicação: o "piloto automático do inglês" que demora um tempo para ser desligado.

Não há como não entrar numa espécie de language breakdown (colapso de linguagem) quando você fica trocando de um idioma para o outro. Lembro de uma palestra que assisti na USP há muitos anos atrás com os alemães do grupo Krisis, intelectuais que lançaram o Manifesto Contra o Trabalho, e que naquela ocasião, na falta de um tradutor profissional, tiveram a "ajudazinha" de nada mais do que o crítico literário e ex-professor da USP Roberto Schwarz para conversar com o público brasileiro. Ao final de quase três horas de conversa, Schwarz estava visivelmente exausto ao ficar traduzindo idéias complexas do português para o alemão e vice-versa.

Aprender outro idioma é um saco, mas é necessário. A sensação que se tem ao dominar outra língua é de estar apoderado, como me descreveu uma amiga afro-americana que aprendeu a falar português em um ano de estudo intensivo no Brasil. Ano passado escrevi um texto para uma circular interna do programa que sou bolsista no Brasil. O artigo descrevia um pouco as técnicas - nada complexas - que desenvolvi quando estudava para meu teste de proficiência em inglês. Acho que talvez ele possa ajudar em algo aqueles que estão envoltos no aprendizado de outra língua ou se preparando para algum tipo de exame. Como o texto é antigo, algumas informações são datadas. Exemplo disso é a revista Speak Up que não existe mais e seu site que, consequentemente, foi retirado do ar. É isso!

Is the book "on" or "in" the table?

http://ecurioso.blogs.sapo.pt/arquivo/Tio%20sam.jpg
(Vai ter que me engolir, trutão!!)

Atualmente é impossível passar por um curso de graduação e de pós-graduação sem se deparar com a cobrança de domínio da língua inglesa. Quem nunca pensou duas vezes antes de encarar uma disciplina cuja bibliografia incluía várias leituras nessa língua maldita ou se indignou quando descobriu que a única opção de proficiência em língua estrangeira na prova do mestrado era o inglês? Pois bem, não precisarei gastar muitas linhas para convencê-lo(a) de que dominar a linguazinha imperialista não se trata, como ocorria tempos atrás, de uma simples questão de status social. Ler, falar, entender e escrever em inglês é praticamente uma questão de sobrevivência no mundo acadêmico e/ou ativista atual.

Todavia, há uma série de pequenas atitudes e procedimentos que, quando realizados diariamente, podem fazer a diferença no aprendizado e aperfeiçoamento desse idioma. Tempos atrás me vi diante da necessidade de melhorar meu inglês, pois pretendia me candidatar ao doutoramento numa universidade norte-americana. Assim sendo, tive que me preparar para o teste de proficiência que é exigido para estudantes internacionais: TOEFL (Test of English as a Foreign Language). Apesar de estudar a língua yankee desde a adolescência (resultado de minha admiração da música negra americana) e já possuir certa desenvoltura na mesma, me preparei sistematicamente antes de fazer o exame (para compensar os sábados que a vagabundagem me impediu de ir as aulas) no sentido de corrigir deficiências adquiridas e/ou rever partes da gramática já esquecidas.

A primeira coisa a ser feita é ter em mente o porquê se está estudando. Não é necessário gostar da língua, mas é essencial possuir um objetivo bem delimitado que pode ir desde aperfeiçoar a leitura de textos para realizar a prova de proficiência de um curso de pós-graduação até prestar exames como TOEFL, IELTS (International English Language Test System) ou GRE (Graduate Record Examination). De acordo com o objetivo visado, as técnicas e rotinas diárias de estudos devem ser ajustadas. Em outras palavras, estudar para o TOEFL ou IELTS requer muito mais preparação do que a melhoria da prática de leitura de inglês instrumental, geralmente o suficiente para a prova de proficiência dos programas de pós-graduação no Brasil. O que segue abaixo é uma série de dicas que são importantes para todo(a)s aquele(a)s que estão estudando inglês, quaisquer que sejam os objetivos.

Arregaçando as Mangas
No decorrer do meu período de preparo para a prova utilizei-me de vários materiais e técnicas. Explicitarei as estratégias adotadas a partir das quatro habilidades cobradas em um exame como o TOEFL: reading (leitura), listening (audição), speaking (fala) e writing (escrita).

Reading
Comece com uma revisão de gramática no nível ao qual você está alocado: básico, intermediário ou avançado. Há vários manuais de auto-estudo disponíveis no mercado. Minha sugestão é o Grammar Express: for self-study and classroom use. O livro está organizado em 76 unidades com os pontos mais importantes da gramática inglesa. Há também 32 apêndices com listas de verbos irregulares, phrasal verbs, non-action verbs, regras de pronúncia, contrações e várias outras desgraças que tiram o sono de qualquer estudante de inglês. O recomendável é a realização de uma unidade a cada dia.

Pari passu a essa revisão gramatical é obrigatória a leitura compulsiva em inglês de tudo aquilo que caía a mão como revistas (The Economist e Newsweek são minhas sugestões), artigos científicos e livros que possibilitem a leitura de um capítulo a cada um ou dois dias. Na época em que estava estudando, juntei o útil ao agradável lendo uma nova biografia da cantora Billie Holiday (1915-1959), da qual sou um admirador, intitulada With Billie. Esses procedimentos possibilitam o acúmulo de vocabulário ao mesmo tempo em que a gramática – que está sendo revisada – também é incorporada ao vê-la em ação nos textos. Porém, para que isso aconteça é necessário que se faça uma leitura ativa dos materiais escolhidos: lendo-os sistematicamente várias vezes, anotando ou grifando as palavras desconhecidas e buscando o significado delas no dicionário, observando a maneira como o autor se utiliza das regras gramaticais, ficando atento para a diferença entre linguagem formal e informal dentre outros detalhes menores. Aliás, invista na compra de dicionários. É necessário possuir ao menos dois: um português-inglês/inglês-português e outro inglês-inglês. No caso do último, sugiro os clássicos Cambridge ou Webster (se eles vierem com CD-ROM, melhor ainda!).

Listening
As inovações tecnológicas dos últimos tempos facilitaram bastante a vida de quem estuda idiomas. Quando focamos especificamente a habilidade audição isso fica bastante evidente. Na época em que comecei a estudar inglês, há uns quinze anos atrás, a revista Speak Up vinha com fitas cassetes, hoje é possível adquirir o mesmo periódico numa banca de jornal acompanhado de um CD-ROM que contem as gravações do áudio dos textos além de jogos interativos. Tire o máximo de proveito dessas facilidades. Quanto mais coisas você ouvir em inglês melhor treinado ficará seu ouvido para reconhecer frases e construções mais complexas. Outro resultado de treinar o ouvido é que seu speaking também melhorará, pois você ouvirá a pronúncia correta das palavras passando a utilizá-la com decorrer do tempo. Há uma maneira bastante fácil de praticar o listening economizando tempo: carregue o seu MP3 player ou iPod com textos da Speak Up ou outros arquivos de áudio em inglês da sua preferência e ouça sempre que estiver numa atividade que não requeira muita atenção como caminhar para a escola ou o trabalho, durante a viagem de ônibus ou metrô, a corrida na esteira e os exercícios na academia.

Assistir filmes de origem americana ou britânica com a legenda em inglês é uma boa pedida, pois é possível ver os contextos nos quais determinadas expressões são usadas ao mesmo tempo em que se aprende os vários ritmos e pausas que os native speakers usam. Assistir canais de notícias como CNN ou BBC (na TV a cabo ou Internet) é outra sugestão, contudo, o estudante necessita estar ao menos no nível intermediário para que possa entender ao menos 50% do que está sendo discutido evitando que a atividade não se torne enfadonha. Os dois canais possuem sites na web e algumas reportagens podem ser assistidas lá caso você tenha internet com uma boa conexão. Na rede mundial de computadores também é possível ter acesso a aulas sobre os mais diversos assuntos em inglês. Uma dica é o site da New York University que tem uma seção com aulas curtas de 5 a 8 minutos com professores dessa instituição falando sobre os mais diversos assuntos contemporâneos.

Speaking
Não tenha receio de pagar mico, porque você vai pagar de qualquer jeito mesmo: fale, fale e fale! Os piores inimigos de um estudante de idiomas são a timidez e a vergonha. Desse modo, aproveite qualquer ocasião para usar o seu inglês macarrônico, seja encontrando um estrangeiro na rua, marcando encontros com amigo(a)s fluentes ou também estudantes da língua que podem ser tornar práticas de conversação, simulando diálogos e seminários em inglês com interlocutores invisíveis (eu fazia isso no chuveiro!) nos quais você faz exposições sobre temas que lhe são familiares ou ainda aproveitando ao máximo as aulas do curso regular de inglês papeando com seus classmates e teacher antes, durante e depois das aulas. Grave suas falas e as ouça observando sua dicção e comparando-as com as falas dos native speakers. Lembra dos capítulos de livros e artigos que você lerá para aperfeiçoar seu reading? Pois é, eles também serão utilizados aqui. Leia os mesmos em voz alta várias vezes tentando estabelecer ritmo e praticando a pronúncia correta de novas palavras.

Writing
Vale à pena escrever um ensaio de uma página a cada dois dias sempre prestando atenção as estruturas que são cobradas nos exames como introdução, apresentação do argumento, desenvolvimento e conclusão. A elaboração dos ensaios é um bom momento para aplicar os novos/velhos conhecimentos adquiridos/relembrados na revisão gramatical realizada. Sempre entregue os textos para alguém corrigir, seja ele(a) um(a) professor(a) ou alguém versado na língua. Observe os erros, recorrências, pontos fortes e fraquezas trabalhando nas mesmas posteriormente. Arquive todos os ensaios elaborados por ordem cronológica de produção e vá observando seus avanços.

Espero que essas pequenas dicas possam ajudá-lo(a) na melhora do seu desempenho ao ler, escutar, falar e escrever em inglês. In conclusion, don’t forget the words: “Go on with your goals and never give up!”.

Agora assista ao vídeo do Teacher Arthur para aprender a pronúncia correta: don't worry, it's ease! ...hahahahahaha...


quarta-feira, 10 de junho de 2009

Medo/Saco de Voar e "Probremas" de "Ingrêis"!

13 h 35 min de 8 de junho. No momento em que começo a escrever esse post estou a sei lá quantos mil pés de altura sobrevoando o Caribe - passando pela Jamaica para ser mais preciso - em direção ao Brasil (nos Airbus 330 da TAM dá pra acompanhar o itinerário do avião pelo vídeo da sua poltrona). Estar nas nuvens e deixar a gringolandia por umas semanas me fez refletir sobre duas coisas. A primeira delas diz respeito ao medo e a enchenção de saco que é voar. Outra faz referência ao que eu chamaria "language breakdown". Comecemos pelo neurose de voar...

http://www.surfersvillage.com/gal/pictures/1215airplanes.jpg

Se Pudesse, Não Viajaria de Avião... Não na Classe Econômica!

Viajar de avião após acidentes aéreos é sempre uma situação estranha. A mídia americana e brasileira não pará de bombardear o público com informações e histórias - umas necessárias e outras inúteis - sobre o acidente com o voo 447 da Air France ocorrido na semana passada. Mais divertido para mim foi descobrir, ao verificar informações sobre meu voo pela internet na madrugada de segunda, que iria fazer o itinerário NYC-SP com o mesmo modelo de aeronave que havia se despedaçado no Atlântico com mais de 200 passageiros a bordo a caminho de Paris vindo do Rio de Janeiro. Contudo, nessas horas você recorre a todas as estatísticas que evidenciam que viagens de avião são as mais seguras dentre as várias opções de transporte coletivo e que o número de acidentes aéreos é irrisório se comparado ao montante de voos que são feitos diariamente. Mas aí você vira para si e diz: "Mas e se eu for o contemplado dessa mórbida loteria?" Se fu... Que seja rápido e indolor!

Mas viajar por vias aéreas ficou um saco depois do dia 11 de setembro de 2001. Nem preciso dizer o que aconteceu nessa data, não? Pois bem, as normas de segurança se multiplicaram e há um longo caminho nos aeroportos que separam você de uma aeronave. Iniciemos pela comparação dos aeroportos Guarulhos e JFK.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d3/AeroportoGuarulhos_TPS1-Interno.jpg
(Guarulhos)

Três pontos positivos para Guarulhos: os carrinhos para transportar bagagem são na faixa/vasco, as malas são despachadas no balcão de check in das companhias e os funcionários das empresas são simpáticos (bem, a tão afamada simpatia brasileira foi colocada a prova na crise aeroviária de um ano e meio atrás). Pontos negativos: Guarulhos não é espaçoso e os viajantes universalmente conduzem mal seus carrinhos (resultado: tenha cuidado com seus pés e pernas), chegar/sair no/do aeroporto em dias de trânsito é tarefa para bravos e corajosos motoristas e, por fim, você até consegue chegar de metrô e ônibus, mas não é nada comfortável (ao menos a opção mais barata do circular que faz o trajeto Guarulhos-Estação Tatuapé).

O JFK tem "apenas" seis terminais a mais do que Guarulhos. Os oitos terminais garantem espaço para as dezenas de companhias aéreas que lá operam e mais comforto para os passageiros. Há um Air Train que faz o transporte dos passageiros entre os terminais e dos terminais para duas estações de metrô. Caso se esteja levando pouca bagagem, é perfeitamente possível pegar o metrô para chegar/sair do JFK. Coisas ruins: os carrinhos não são na faixa, custam US$ 5, e o despache das malas não é feito no balcão de check in das companhias, mas geralmente em um lugar determinado para o qual o passageiro deve levar sua bagagem. Finalmente, os funcionários das companhias áereas não são nada simpáticos. Fingem trocar simpatia por eficiência, mas não convencem um viajante mais experiente: são ruins mesmo!

(JFK)

Okay, independente de onde esteja, Guarulhos ou JFK, você conseguiu passar por todos esses impecilhos iniciais, esforços físicos e está prestes a embarcar somente com a sua singela - e muitas vezes pesada - bagagem de mão. Mas como já disse Racionais MCs em Pânico na Zona Sul: "Se você acha que o problema acabou/Pelo contrário, ele apenas começou!" E ele começa literalmente com a série de funcionários que verificam uma, duas e até três vezes o seu passaporte, visto e sua passagem. Como sempre, simpáticos e delicados como um elefante. Em seguida, minha parte favorita: raio x e detector de metais. Morro de rir quando vejo mulheres, geralmente brasileiras, indo para viagens cheias de pompa calçando botas ou sandálias de salto alto. A mochila de viajantes então, no caso de se estar voltando dos EUA, deve estar cheia de aparelhinhos eletrônicos (alguns novos e outros velhinhos) como máquinas fotográficas, iPods e laptops. O bolso, suponho, dever estar cheio de moedas que se intencionava usar para pagar o último Hazelnut no Starbucks, a fivela do cinto é uma daquelas de comboy americano ou hip-hopper que pesa três quilos e o seu tênis é um Nike Air Jordan bonitão que será exibido no Brasil com muito orgulho: "todo mundo vai pagar um pau lá em casa, ó?!" Okay, ladies and gentlemen: muita gente fica quase nua - inclusive nossas amigas calçando botas e salto alto - ao passar pelo detector de metais e demora um tempo considerável para tirar todos os aparelhos eletrônicos colocados estrategicamente nas mochilas mas que devem ser retirados para passar pelo raio x. Algumas senhoras desavisadas perdem potes de creme que ultrapassam os 100 ml permitidos para ir a bordo da cabine da aeronave. Tudo isso ocorre, obviamente, sobre os olhares e as instruções dos funcionários dessa seção dos aeroportos. Extremamente cordiais, com gritos que lembram um técnico de futebol numa final de campeonato, eles instruem os passageiros que muitas vezes não falam a sua língua. Divertido de ver, triste de experimentar...

Pois bem, você passou. Foi difícil, mas você conseguiu. Está na sala de espera para embarque e só lhe resta ser recepcionado na aeronave por aeromoças e o comandante em sorrissos que lembram comercial de pasta de dente. Bonitos, mas fakes! Bem, nesse momento me lembro de duas situações. A primeira delas foi quando acompanhei um dean (espécie de diretor acadêmico) da Howard University, Orlando Taylor, ao aeroporto de Guarulhos anos atrás. Na minha ingenuidade encaminhei o ilustríssimo senhor para a fila - lotada diga-se de passagem - da classe econômica da American Airlines e ele, muito sutilmente com seu charmoso inglês, apontou a fila da primeira classe. Mico, não?! A outra situação foi há muitos anos atrás quando um amigo reclamava do fato de estar cansado de viajar na classe econômica e lembrava de forma nostalgica de um projeto do qual tinha participado nos EUA que exigia várias reuniões em NYC e todas as viagens eram feitas na primeira classe. Eu achei a fala de meu amigo fresca, afinal, na minha inocência de juventude, tanto fazia classe econômica como primeira classe, o importante era ter a chance de viajar.

Realmente, pode parecer arrogância, ainda mais num país onde tão poucas pessoas viajam internacionalmente e/ou de avião, mas hoje entendo como viajar na classe econômica é uma m... Filas gigantescas nos check ins e aperto total na poltrona. Durante meu último voo, nas idas ao banheiro, ficava olhando com inveja o povo da classe executiva e primeira classe com espaço suficiente para esticar as pernas se espreguiçando. Incrível como as minhas aulas de economia na graduação me fizeram entender como espaço pode se tornar um recurso escasso. O que é demandado entre as várias categorias de passagens aéreas, mais do que os serviços, é basicamente espaço. Okay, não vou reclamar se me servirem champagne durante o voo, assim como o fazem na primeira classe, mas mais espaço para esticar minhas perninhas numa viagem de 9 horas já resolveria bem o problema!

Entretanto, minha viagem de vinda para São Paulo foi tranquila. Não peguei turbulência, não tive acompanhantes, ouvi o novo CD de Adriana Calcanhoto e uma coletânea do New Order nas opções da rádio TAM, li um artigo sobre o pintor Francis Bacon (1909-1992) na New York Magazine que comprei semanas atrás, li parte de um conto do livro que estou lendo no momento, The Best Short Stories By Black Writers (1899-1967): The Classic Anthology organizada por Langston Hughes, comi alguma coisa morta - parecia um frango - no "delicioso" almoço servido a bordo, tentei encher a cara de vinho branco, babei na manta verde água fornecida aos passageiros para se proteger do frio do ar-condicionado e comecei a escrever esse post. Ah, tinha uma criança muita "charmosa" que contou todas as suas histórias sobre o escolinha que ela frequenta num tom de voz nada difícil de não se ouvir. Viajar é um grande barato!

O post sobre "ingrêis" fica pra amanhã, já que esse ficou muito grande!!!

sábado, 6 de junho de 2009

Tobossis - Virando a Mesa



Quer saber quais são as conversas que rolam quando mulheres pretas, bonitas e bem resolvidas se reúnem? Então dê uma checada no blog Tobossis e assista ao programa Virando a Mesa. Abaixo a sinopse da iniciativa retirada do blog.

Virando a Mesa

Tobossis Virando a Mesa é um programa online semanal que vai ao ar todas as quartas-feiras nos sites youtube.com, vidilife.com e tantos outros, além do nosso blog. Diante da ausëncia de programas que privilegiem e destaquem as lutas, conquistas e desafios da mulher Negra no campo midiático, Tobossis decide virar a mesa e ocupar um dos campos determinantes no processo de construcao identitario: o campo da imagem, da comunicação, portanto. Demarcamos aqui um dos territórios no qual a voz da mulher negra será ouvida e respeitada, afim de estabelecer o diálogo com outras mulheres e homens, negros ou não, a partir do nosso lugar, olhar e percepção de mundo.

Tobossis Virando a Mesa dá continuidade a luta de Lélias, Mahins, Rosas, Bells, Marias, Menininhas, Senhoras, Ciatas, Franciscas, Jandiras, enfim, todas as mulheres negras, reconhecidas ou não, que lutaram da maneira que foi possível para que chegássemos até aqui.

Com temas variados, Tobossis conta com a participação de três negras mulheres para virar a mesa: a estudante e esteticista Marah Akin, a jornalista e poetisa Mel Adún e a jornalista e musicista Víviam Caroline.

Idealizado e realizado pelo grupo Abará Tabuleiro da Comunicação, Tobossis Virando a Mesa nasce com a intenção de também chacoalhar a rede!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Amor e a Família Que Todos Querem! Será mesmo?...

O mundo parou para assistir a cerimônia de casamento da realeza inglesa que se realizou em Londres numa tarde ensolarada de 24 de fevereiro de 1981. O casamento do Charles e Dianna tinha uma áurea de conto de fadas uma vez que a noiva não pertencia a aristocracia inglesa: era uma professora de pré-escola de 19 anos que havia conquistado o coração de um príncipe (veja comentários de Mojana Vargas e Ari Brito ao post). Todos, ao redor do mundo e de todas as classes sociais, invejavam o amor de Lady Di e Charles. Infelizmente, o destino do casamento do casal não foi dos mais felizes e, posteriormente, o fim da vida de Dianna Spencer foi trágico.
 
Passados quase trinta anos, todos invejam e querem algo parecido ao amor de outro casal: Michele e Barack Obama. A imagem da primeira família americana enche os olhos das mais diversas pessoas ao redor do mundo ao mesmo que expõe aspectos irônicos da sociedade contemporânea e da própria concepção de família. Barack, Michele, Malia, Sasha e Bo (o cachorrinho da família ) compõem aquilo que conhecemos como família burguesa, ou seja, o padrão de família que emergiu junto a modernidade e composta por um casal heterossexual, monogâmico, cristão, com filhos legítimos e poder patriarcal (concentrado no homem). Esse é um modelo de família adaptado as necessidades de reprodução da sociedade capitalista e que deve ser seguido/buscado pelas pessoas, é o desejo que todo pai ou mãe tem para com seus filho(a)s junto de um bom emprego e uma carreira de sucesso. O tipo de amor sobre o qual se apóia a família burguesa é o amor romântico, ou seja, a idéia de que há uma “alma gêmea” pela qual nos apaixonamos e que, diferente do amor platônico, nos completa tanto do ponto de vista emocional como sexual. O amor romântico é aquele visto nos enredos de romances lidos pelas mulheres burguesas no início do século XIX, mas que continua a nutrir o imaginário de homens e mulheres no mundo atual.

Famílias Negras

http://www.loc.gov/exhibits/african/images/boat.jpg

Devido a uma série de fatores, dentre os quais talvez o principal tenha sido a escravidão, famílias negras nos EUA nunca foram entendidas como se enquadrando a perspectiva do modelo de família burguesa, mas como desviantes a ele. Nos anos 1940 uma polêmica entre dois intelectuais norte-americanos teve como epicentro justamente essa temática. E. Franklin Frazier (1894-1962) e Melville Herskovits (1895-1963) discordavam sobre as causas de homens negros terem filhos com diferentes mulheres além uma certa tendência a matrifocalidade, ou seja, a autoridade/responsabilidade sobre os filhos estava centrada nas mulheres e não nos homens, visualizada nas famílias negras.

As trajetórias de Frazier e Herskovits de certa maneira explicam suas divergências. O primeiro era um sociólogo negro marxista que lecionava na Howard University, a mais tradicional universidade negra norte-americana. Sua tese de doutorado, defendida na Universidade de Chicago em 1932, versava sobre a família negra e gerou três livros distintos. Seu mais famoso texto é Black Bourgeoisie (1957), uma profunda crítica ao conservadorismo e padrões culturais das classes médias e elites afro-americanas. Frazier também fez pesquisas no Brasil no começo dos anos 1940 morando em Salvador e visitando cidades do sudeste e sul do país. Posteriormente ele produziria um dos primeiros textos que comparam a situação das populações negras no Brasil e EUA.

Herskovits, por sua vez, era um antropólogo judeu que havia se formado na Columbia University tendo tido como orientador Franz Boas (1858-1942): um dos pais fundadores da antropologia contemporânea, teórico do relativismo cultural e crítico das noções biologizadas do conceito de raça. Herskovits fez estudos sobre as chamadas “sobrevivências africanas” e tinha uma certa obsessão em tentar entender os processos de adaptação cultural das populações negras ex-escravizadas ao novo mundo. Boa parte de suas idéias estão contidas no seu livro The Myth of Negro Past (1928).

Resumidamente, Frazier afirmava que o padrão vigente nas famílias negras americanas era resultado da pobreza e penúria que afligiam essa população nos EUA na primeira metade do século XX. Herskovits, por sua vez, defendia a idéia de que os núcleos familiares dos negros reproduziam padrões que podiam ser observados na África e, portanto, eram uma “sobrevivência” ou um “resquício” de padrões culturais africanos.

Minha impressão é que Frazier tinha o argumento mais lógico, uma vez que se observarmos as famílias afro-americanas de classe alta e média hoje, ambas se assemelham ao núcleo da primeira família atual. Mais: o sociólogo francês Loïc Wacquant num texto de 1998, Inside the Zone: The Social Art of the Hustler in the Black American Ghetto (no Brasil o texto foi publicado no livro A Miséria do Mundo, 2003), mostra como o fato de homens negros terem relacionamentos e filhos com várias mulheres pode ser entendido como uma estratégia racional de sobrevivência a situação de pobreza vivida no gueto. Sintomático disso é o fato que entre os negros pertencentes ao que vem sendo chamado de hip-hop generation (indivíduos nascidos entre 1965 e 1984), termos como baby daddy (pai solteiro) e baby mamma (mãe solteira) se tornaram comuns.

O Casamento Heterosexual

A primeira família norte-americana é fruto de um casamento heterosexual, mas essa normatividade dos casamentos pode estar com os dias contados. Desde os anos 1970, com a ascensão do movimento gay, várias batalhas judiciais vem sendo realizadas nos EUA e em outros países buscando legalizar o casamento entre indivíduos do mesmo sexo.



Nos EUA, em 2009, dois estados já aprovaram a lei: Iowa e Vermount. Em New York, a assembléia legislativa aprovou em 12 de maio deste ano uma legislação que permitiria a aprovação do casamento gay e tornaria o estado o sexto a aprová-lo dentre da federação. O placar da votação foi 89 contra 52, sendo que 5 votos a favor vieram de deputados republicanos. A grande derrota na luta pela matrimônio homossexual fica por conta da Califórnia onde, após ter sido aprovado em 2005, houve um recuo na lei em 2008 e a medida progressista foi desautorizada pela Suprema Corte daquele estado no início de 2009 (ver comentário de Ari Brito).

A Instituição Casamento

Milhares de pessoas se casam todo ano e outras milhares se divorciam também. Muito se fala da falência do casamento como instituição, mas vestidos de noiva, alianças e troca de votos de fidelidade ainda enchem de desejo os olhos e a boca de jovens, adultos e idosos. A imagem de Michele e Barack, com suas duas filhas e mais de uma década de casamento também ajuda a reforçar o imaginário de um amor eterno, e não "infinito enquando dure" (correção aqui feita graças a Mojana Vargas, veja comentário) como disse o brilhante e bêbado poeta Vinícius de Moraes (1913-1980) em um de seus poemas. Moraes, aliás, seguiu a regra suas idéias de casamento, pois se casou e descasou uma porção de vezes sempre com mulheres bem nascidas, bonitas – “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”, disse ele certa vez! – e na sua maioria mais jovens do que ele.

http://dicasparacasamento.files.wordpress.com/2008/06/casamento1.jpg

Algo de fato positivo é que o estigma que antes existia sobre indivíduos divorciados – principalmente em países de tradição católica como o Brasil – vai deixando de existir pouco a pouco. Ainda lembro como na minha infância mulheres divorciadas – ou “desquitadas” como habitualmente se falava – eram vistas como páreas e os termos pelos quais elas eram classificadas beiravam o xingamento. Havia uma espécie de duplo preconceito, pois era como se uma mulher divorciada fosse de antemão "culpada" por sua situação e condenada a viver "encalhada" pelo resto da vida. Hoje as mulheres que já viveram a experiência de um casamento, mas sairam dele não se degladiam, ao menos teoricamente, com essas visões ultrapassadas.

Cada vez mais se vê famílias onde os filhos são oriundos de outros casamentos e o divórcio dos pais não é experimentado como um grande trauma que marca parte da vida dos filhos. Assim como ser divorciado(a), ser filho(a) de pais divorciados também começa ou já não é mais um estigma.

Divorced Dad Reading Newspaper Beside His Kids
(Divorced daddy reading newspaper)

Outro fato importante é que muitos indivíduos optam por morar juntos ao invês ou antes de se casar legalmente. No Brasil, por exemplo, relações estáveis que duram por um número determinado de anos – acho que 5 ou 6 – já podem ter acesso aos mesmos benefícios legais de um casamento legal.

Como se vê, a existência de uma primeira família negra nos Estados Unidos nos faz olhar para questões como família, casamento e orientação sexual de forma distinta. O mundo, ao menos nessas questões, está mudando… E para melhor, eu diria!

Pra fechar, assista parte de dois episódios de um dos desenhos atuais mais legais sobre família: Family Guy.



Esse é com o bebê mais charmoso e psicopata do desenho, Stewie, e Brian, o cachorro intelectual que fala. Atenção: cenas fortes de violência! "Where is my money, man??"...hahahahaha...





quarta-feira, 3 de junho de 2009

Harlem...




Anoitecer no Harlem, Lenox Avenue and Malcolm X Boulevard, sobre a fumaça de meu cigar Phillies após jantar, café, bolo de chocolate e duas taças de vinho branco. Foto de Renata Bichir.

As Cotas Desmentiram as Urucubacas

Não sou de reproduzir textos alheios no meu "brog". Mas ao acordar hoje li esse texto de Elio Gaspari sobre as cotas enviado por minha amiga Bibi Lima via email. Há semanas veio ensaiando de escrever algo sobre esse assunto, mas tudo soava ou muito acadêmico ou muito emotivo. O texto de Gaspari tem a vantagem de ser equilibrado e, por conta desse ser um tema que diz respeito a todos os brasileiros, é sempre bom ter um branco emitindo sua opinião.

Muita Paz!

AS COTAS DESMENTIRAM AS URUCUBACAS

03-Jun-2009
Elio Gaspari - FOLHA DE S. PAULO

Os negros desorganizariam as universidades, como a Abolição destruiria a economia brasileira.

http://alagoasatual.files.wordpress.com/2008/03/jovem-negro.jpg

QUEM ACOMPANHASSE os debates na Câmara dos Deputados em 1884 poderia ouvir a leitura de uma moção de fazendeiros do Rio de Janeiro: "Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela escravidão, mas não há um só brasileiro que não se oponha aos perigos da desorganização do atual sistema de trabalho." Livres os negros, as cidades seriam invadidas por "turbas ignaras", "gente refratária ao trabalho e ávida de ociosidade". A produção seria destruída e a segurança das famílias estaria ameaçada.

Veio a Abolição, o Apocalipse ficou para depois e o Brasil melhorou (ou será que alguém duvida?). Passados dez anos do início do debate em torno das ações afirmativas e do recurso às cotas para facilitar o acesso dos negros às universidades públicas brasileiras, felizmente é possível conferir a consistência dos argumentos apresentados contra essa iniciativa.

De saída, veio a advertência de que as cotas exacerbariam a questão racial. Essa ameaça vai completar 18 anos e não se registraram casos significativos de exacerbação. Há cerca de 500 mandados de segurança no Judiciário, mas isso nada mais é que a livre disputa pelo direito.

Num curso paralelo veio a mandinga do não-vai-pegar. Hoje há em torno de 60 universidades públicas com sistemas de acesso orientados por cotas e nos últimos cinco anos já se diplomaram cerca de 10 mil jovens beneficiados pela iniciativa.

Havia outro argumento: sem preparo e sem recursos para se manter, os negros entrariam nas universidades, não conseguiriam acompanhar as aulas, desorganizariam os cursos e acabariam deixando as escolas. Entre 2003 e 2007 a evasão entre os cotistas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi de 13%. No universo dos não cotistas, esse índice foi de 17%.

Quanto ao aproveitamento, na Uerj, os estudantes que entraram pelas cotas em 2003 conseguiram um desempenho pouco superior aos demais. Na Federal da Bahia, em 2005, os cotistas conseguiram rendimento igual ou melhor que os não cotistas em 32 dos 57 cursos. Em 11 dos 18 cursos de maior concorrência, os cotistas desempenharam-se melhor em 61 % das áreas.

De todas as mandingas lançadas contra as cotas, a mais cruel foi a que levantou o perigo da discriminação, pelos colegas, contra os cotistas. Caso de pura transferência de preconceito. Não há notícia de tensões nos campus. Mesmo assim, seria ingenuidade acreditar que os negros não receberam olhares atravessados. Tudo bem, mas entraram para as universidades sustentadas pelo dinheiro público.

Tanto Michelle Obama quanto Sonia Sotomayor, uma filha de imigrantes portorriquenhos nomeada para a Suprema Corte, lembram até hoje dos olhares atravessados que receberam ao entrar na Universidade de Princeton. Michelle tratou do assunto em seu trabalho de conclusão do curso. Ela não conseguiu a matrícula por conta de cotas, mas pela prática de ações afirmativas, iniciada em 1964. Logo na universidade onde, em 1939, Radcliffe Heermance, seu poderoso diretor de admissões de 1922 a 1950, disse a um estudante negro admitido acidentalmente que aquela escola não era lugar para ele, pois "um estudante de cor será mais feliz num ambiente com outros de sua raça". Na carta em que escreveu isso, o doutor explicou que nem ele nem a universidade eram racistas.