sábado, 28 de dezembro de 2013

Aristocrata Clube


Racismo é um tema bastante complicado e difícil de ser discutido no Brasil. Contudo, ocorreram muitos avanços nos últimos 20 anos. O documentário Aristocrata, dirigido por Jazmin Pinho e Aza Pinho (2004), explora a história de uma associação recreativa de negros de classe média fundada na década de 1960. Naquela época, havia a convivência com práticas que soam contraditórias: a afirmação da idéia de democracia racial, ou seja, ausência de racismo entre nós, ao mesmo que ocorriam práticas explícitas de racismo. Um dos espaços em que a discriminação contra negros e negras se dava abertamente eram aqueles associados ao lazer e sociabilidade. Esse é o argumento utilizado pelos entrevistados do documentário para justificar o surgimento do Aristocrata Clube.

Entretanto, a história do Aristocrata pode ser colocada num contexto mais amplo. Clubes negros existem em São Paulo desde os anos 1930 e boa parte deles são remanescentes da Frente Negra Brasileira (FNB), fundada naquela década. A FNB foi fechada pelo regime ditatorial de Getúlio Vargas, o Estado Novo, em 1937, uma vez que todas as organizações políticas nesse período foram colocadas na ilegalidade e a FNB havia acabado de se transformar em partido político. Mas nessa época clubes como o 28 de Setembro, de Jundiaí, o 13 de Maio, de Piracicaba, e o José do Patrocínio, de Rio Claro, já haviam sido fundados no interior do estado. Todos eles eram espaços de sociabilidade de uma pequena e precária classe média negra constituída majoritarimente por funcionários públicos.

Nos anos 1950 e 1960 outros clubes surgiram. Seus fundadores eram profissionais liberais que atuavam como médicos, advogados, professores além de pequenos comerciantes e funcionários públicos de carreira. Um dos mais famosos clubes desse período é o Renascença Clube, criado em 1951 na cidade do Rio de Janeiro (leia mais AQUI) e que ficaria conhecido na década seguinte por promover concursos de beleza de mulheres negras (abaixo fotos das garotas frequentadoras do Aristocrata e conhecidas à época como "aristogatas").


Assistir o documentário Aristocrata é adentrar a história de sociabilidade, lazer e relações raciais que permeia a trajetória da população negra em São Paulo e no Brasil. Porém, diferente do argumento utilizado pelo/as entrevistado/as para justificar a decadência do clube, a falta de interesse pelo clube demonstrada pela geração de filho/as do/as fundadore/as explica apenas em parte o problema de continuidade da associação. O outro lado da moeda diz respeito a dificuldade enfrentada por essa pequena classe média em repassar o lugar de classe conquistado por ela para seus filhos e filhas, em outras palavras, a difícil tarefa enfrentada por negro/as de manter e/ou reproduzir riqueza e status social. Mas isso já seria história para outro post. Assistam o vídeo! Leia mais sobre o Aristocrata acessando uma reportagem feita pela revista Época São Paulo (AQUI).

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Mulata Exportação


A Mulata Exportação (da série “Grandes Figuras da Negritude Brasileira: ensaios em profundidade do Dr. Altamiro Brandão, Ph.D. em Negrologia”)


O Brasil é um país abençoado. Quase não vivenciou guerras em toda a sua história (matamos uns paraguaios, mas quem se importa?), raramente experimenta adversidades causadas pela mãe natureza como vulcões, terremotos, tufões, tornados - e outras desgraças mais - e não possui conflitos étnicos e raciais vivendo sobre a égide do que intelectuais da academia e até os de boteco chamam de democracia racial. Ou seja, a idéia de que todos por aqui, independentemente da cor, têm as mesmas chances e que esse besteirol de preto-preto/branco-branco, tão comum entre os patrícios anglo-saxões do norte, não tem vez em solo tupiniquim. Somos um povo mestiço, formado pelo alegre encontro das três raças e culturas, já dizia o grandíssimo mestre Giba Freyre, em seu catatau “Barraco Grande e Senzala Chic” (1933): o branco europeu, o negro africano e o indígena originário da própria terrinha. Nosso gigante sul-americano também tem uma economia vibrante e, desde o século XVII, participamos com afinco do comércio internacional saindo da venda de especiarias, como açúcar no além-mar entre os séculos XVI e XVII, passando pelo ouro no século XVIII, café no XIX e chegando atualmente aos jatinhos da Embraer. Brasil Brasil. “God can be generous and blessing America”, mas com certeza Deus é brasileiro e corinthiano. Ainda dentre as tradicionais mercadorias negociadas pela grande nação tupiniquim, uma tem destaque no cenário internacional do entretenimento: a mulata exportação. Contudo, para entender o desenvolvimento dessa grande figura da negritude brasileira, é necessário entender o seu desenvolvimento histórico, econômico e social. A mulata é uma figura que arranca suspiros de todos os homens com sua beleza e sensualidade. Filha do encontro entre raças, a branca e a negra, a mulata reservou aquilo que as duas tinham de melhor, contrariando o pensamento de célebres doutores europeus (um nobre francês agraciado Gobineau e um italiano com nome de vinho vagabundo, Lombroso) e até mesmo brasileiros (Nina Rodrigues) que no final do século XIX diziam que o mestiço era um degenerado, fraco e vagabundo que levaria nosso gigante sul-americano ao fracasso como nação. A mulata é prova do contrário, é a nossa grandeza genética. Como bem se sabe, mulatas não existem em todos os lugares da mesma forma que no nosso Brasilzão. Nos EUA, por exemplo, a mulata é Black ou African-American, nomes estranhos que escondem sua origem mestiça. Mas entre o povo preto americano e mesmo entre brancos sabe-se muito bem da admiração pela beleza e sensualidade das mulheres classificadas como light-skinned, as mulatas de um passado norte-americano distante: veja aí as atrizes Halle Berry e Vanessa Williams, e as cantoras Alicia Keys e Beyoncé Knowles. Mulatas dos pés a cabeça seriam no Brasil, mas na grande nação dos federalistas nada além de Blacks ou African-American ou light-skinned women. No caso da África do Sul, houve um grosseria absurda: colocaram todas as mestiças sobre a categoria “colored.” Estupidez e falta de criatividade. Mas voltando ao Brasa, há famosas mulatas que povoam o universo de nossa literatura: Rita Bahiana, figura central no clássico “O Cortiço” de Aluísio Azevedo, escrito em 1890, Escrava Isaura, do livro de título homônimo publicado por Bernardo Guimarães em 1875, que dizia-se branca na obra mas que, na verdade, era uma mulatinha formosa e educada. Lembremos também da sensual e linda Gabriela da obra de Jorge Amado, “Gabriela, Cravo e Canela”, de 1958. Entretanto, muitos têm problemas com a categoria mulata/mulato. De acordo com estes, o termo é pejorativo por fazer referência ao animal mula, que é produto do cruzamento do cavalo com burra ou do jumento com égua. Seja verdade ou não, o que importa é que mulata teve períodos de glória na história do gigante sul-americano. Exaltada nas modinhas de carnaval como na letra de “O Teu Cabelo Não Nega”, escrita por Lamartine Babo em 1931, e que não reproduzo aqui por falta de espaço, e em concursos de beleza como o Rainha das Mulatas, organizado pelo Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento e do mulato Guerreiro Ramos, nos anos 1940, que revelou a exuberante Mercedes Batista, e o do Clube Renascença, celeiro de mulatas nos anos 1970. Foi justamente nessa época que a mulata exportação foi concebida pelas idéias de visionários como o radialista Oswaldo Sargentelli, que cunhou o termo “Mulata Sargentelli”, e foi elevado à figura de “mulatólogo”: “mulatinha bonitinha do ziriguidum, meu amigo! Boa boa, ops, oba oba...” Mulatas mulatas... Representação do meu Brasil varonil. No corpo pancadão a marca da miscigenação, nos pés o dom de sambar e na cama o prazer de amar. Línguas maldosas insistiam em epítetos fora de sentido como o clássico: “Branca pra casar, mulata pra fornicar e preta pra trabalhar”... Mentiras deslavadas! O próprio redator deste texto confessa que só se casou com uma branca por uma peça pregada da vida: o amor. Mas antes disso várias mulatas passaram pelos meus braços satisfazendo meus mais profundos desejos. Foi a partir dos anos 1960 e 1970 que a categoria mulata ganhou uma feição institucional no que ficou conhecido como “Show de Mulatas”. Em casas noturnas da saudosa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro elas dançavam, sambavam e entretinham turistas nacionais e estrangeiros exibindo seus dotes trajando biquínis minúsculos que ressaltavam ainda mais as formas corporais já avolumadas. Passamos a exportar mulatas. Sim, exportar, pois elas começaram a viajar além-mar para mostrar a esses gringos de cintura dura o que a mistura racial tinha criado nos trópicos, contrariando as teorias dos doutores Gobineau, Lombroso e Rodrigues. E foi daí que surgiu a categoria “mulata exportação”: aquela que samba, dança e representa com toda a autoridade a ginga de um país mestiço e harmonioso como o nosso. Ah mulata, sua pele morena, seu cabelo macio e alisado na chapinha; bendito seja o Henê Maru e o Alisabel que resolveram o problema do seu pixaim. Não faltam mulatas exportação na sua história. O que diríamos da dançarina Mercedes Baptista, da cantora Elza Soares (que deu um drible de placa conquistando o coração do craque de futebol Garrincha), a Miss Guanabara e segunda colocada no Miss Brasil 1964, Vera Lúcia Couto, as cantoras Eliana Pittman e Clara Nunes, a Miss Brasil 1986 Deise Nunes, a diva das telas de Di Cavalcanti, Marina Montini, e a “sargentelli”, que posteriormente virou atriz global, Solange Couto. Desnecessário dizer que o carnaval é a data na qual ocorre uma opulência de mulatas dos mais variados tipos, formatos e cores. É a época do ano em que reinado delas é estabelecido. São elas rainhas do carnaval, madrinhas de bateria de escolas de samba e as passistas da avenida. Sendo assim, a última versão da mulata exportação foi criada nos anos 1980 no contexto do carnaval: a “mulata globeleza.” A sua figura ficou associada à modelo e dançarina Valéria Valença que, durante os anos 1990, aparecia nas vinhetas de uma rede de televisão com o corpo despido de qualquer peça de vestuário e coberto por pinturas. Bastava a vinheta da mulata globeleza aparecer na TV para sabermos que o carnaval com sua alegria e luxúria havia chegado. Mas como já disse, o aparecimento da mulata globeleza sinalizava a agonia da figura mulata exportação. Desde os anos 1970 , uma série de negros - pais e avôs dos atuais negr@s metid@s - começaram a divulgar a ideologia de que todos aqueles haviam passado das seis da tarde no seu nascimento (e não vale ser no horário de verão!) ou possuíam o pé na cozinha não deveriam mais se pensarem como pret@s, pard@s, moren@s, cablocl@s, cafuz@s e mulat@s. Diziam eles que para o que não há remédio remediado está: tod@s deveriam se auto-definir como NEGR@S. Foi a partir daquele momento que a mulata começou a ser perseguida como categoria social: perdeu o respeito dos ditos mais educados, que insistiam em chamá-la de negra. Oswaldo Sargentelli morreu em 2002 de enfarto e desgosto. Dizem as más línguas que a desilusão do mulatólogo aumentara mais ainda ao saber que as cotas para negros, estabelecidas inicialmente numa universidade estadual do Rio de Janeiro, uma cidade mestiça/mulata, não aceitaria mulatas, mas apenas negras. Em 2004 Valéria Valença, já aposentada da TV, se tornaria evangélica. A Solange Couto, por sua vez, não parava de engordar na época em que escrevi esse texto e já voltou a emagrecer agora que o publico. Nossa última esperança de reviver a mulata exportação era através de uma mulatinha promissora: Camila Pitanga. Mero engano. Sem pestanejar e em questão de poucos anos ela se revelou uma negra metida global. A mulata exportação desapareceu de vez e mesmo a mulata comum com samba no pé também está fadada à extinção. O carnaval, época em que elas são mais toleradas e têm lugar privilegiado na folia de Momo, já não é mais o mesmo. Ela ainda é a rainha da festa, mas sua nobreza, constituída de madrinhas de escola de samba e passistas, vem se transformando rapidamente e as mulatas tem perdido o seu posto para branquelas globais esqueléticas bronzeadas artificialmente e mulheres fruta fartas de aBUNDÂncia e pobres de ginga. Mas aposto que nunca seremos tão bons em exportar melancias e peras como fomos com mulatas. É vero! Que Deus abençoe a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, cujo porto séculos atrás recebeu pretos escravos africanos e portugueses brancos colonizadores para séculos depois enviar, via Galeão, às mais diversas partes do mundo, o produto mais 100% nacional de todos: a mulata exportação.

Leia também os outros ensaios do Dr. Brandão: "Negr@s Metid@s" (AQUI) e "O Mulato Pernóstico" (AQUI)

domingo, 3 de novembro de 2013

A Miséria do Novo Humor Brasileiro


Desde o ano passado que leio e escuto comentários positivos aqui e ali sobre o documentário O Riso dos Outros (2012) do diretor Pedro Arantes. Na quinta passada, depois de uma conversa com minha namorada que acabara de assistir o filme resolvi fazê-lo também. São por volta de cinquenta minutos de falas, muitas piadas e poucos risos. Digamos que foi assim ao menos de minha parte. A película busca captar a cena do emergente humor stand up brasileiro.

Sugiro vivamente que as pessoas assistam o filme. É um bom retrato da pobreza do novo humor brasileiro (ou do sudeste brasileiro) que nada faz do que requentar velhas fórmulas, ou seja, o humor desbocado, racista, sexista, homofóbico, misógino, classista e preconceituoso com qualquer forma de diferença física, social e étnica. O documentário capta as falas de figuras de ponta da cena stand up como os polêmicos Rafinha Bastos e Danilo Gentili além dos depoimentos do cartunista Laerte, do escritor Antonio Prata, da blogueira feminista Lola Aranovich, do político e ativista gay Jean Willys e outro/as comediantes, ativistas e acadêmicos. Em minha opinião, faltou a fala do público desse novo humor uma vez que eles são a outra ponta dessa cena artística.

O que me chamou a atenção em particular é a falta de formação e conhecimento político, intelectual, artístico da nova geração de comediantes tirando algumas poucas exceções. Fala-se que há uma "ditadura do politicamente correto" e que a "a piada é só uma piada". Pois bem, há dois anos atrás cursei uma disciplina da grade de meu doutorado com um professor que gosto muito chamado Terry Williams. O curso de Williams tinha um formato e título pouco usual mesmo para a pouco ortodoxa New School: Youth Culture: Sex, Drugs and Comedy. Na verdade, estudamos a junção dessas três temáticas no contexto urbano de Nova Iorque. Lemos textos teóricos sobre sexualidade, drogas e humor, fomos em shows de sexo, clubes de stand up e frequentamos cenas relacionadas ao consumo de drogas.

Ao fazer meu trabalho final para o curso tive a oportunidade de ler mais a fundo sobre humor do ponto de vista teórico além de me aprofundar na trajetória de um dos maiores comediantes norte-americanos: Richard Pryor (1940-2005).  O que me chamou a atenção à época é o acúmulo de literatura teórica sobre os conceitos de humor e piada e o fato do comediante ser um comentarista social que, através do humor e da piada, reflete sobre a realidade a sua volta descontruindo ou reforçando o status quo. Bons humoristas também são existencialistas por natureza uma vez que a sua experiência de vida torna-se material precioso que é revertido na elaboração de piadas que buscam a auto-ironia. Exemplo disso é a vida de Richard Pryor que nasceu dentro de um bordel e teve uma vida atribulada com suas várias namoradas e esposas, abuso de drogas com um toque requintado vindo da experiência de ser negro nos EUA dos anos 1960 e 1970. Para quem se interessa pelo tema e lê em inglês vale a pena checar a sua hilariante e muitas  vezes triste auto-biografia intitulada Pryor Convictions and Other Sentences lançada em 1995.  Abaixo segue um videozinho de Pryor contando sua piada sobre os animais na selva africana. Hilário!  Talvez o/as comediantes brasileiro/as pudessem aprender um pouquinho com ele, não?

Muita Paz, Muito Amor!

domingo, 20 de outubro de 2013

Para o Nosso "Ben"


Acordei tarde hoje e fui à cozinha onde minha mãe já dava os toques finais ao almoço: raviolli (acho que é assim que se escreve). Meu pai que é um ranzinza charmoso reclamava: "Mas só tem isso pra comer? E o arroz, feijão..." Sim, ele nunca come sem esses acompanhamentos. De minha parte, estava no processo de preparar minha dose diária de droga: cafeína.  A TV da cozinha, há três na casa, estava sintonizada na Globo e transmitia o programa de Regina Casé, Esquenta. Não tenho saco nenhum para a programação da Globo, acho imbecilizante. Contudo, não há como você fugir dela em sua vida. Pelos posts de meus/minhas amigo/as no Facebook fico sabendo quais são os artistas quentes do The Voice Brasil, como foi a polêmica participação de Edi Rock no Caldeirão do Huck e que em alguma novela estão querendo fazer um moleque preto cortar o seu cabelo "selvagem". Pois bem, voltemos ao Esquenta. Nunca me dei ao trabalho de assistir a esse programa, acho chato. Por outro lado, entendo que o mesmo faz parte de uma política de reconhecimento e representação que coloca preto/as na TV e parte de suas manifestações culturais. E como é padrão Globo, o/as pretinho/as são super produzido/as e bonito/as. Dei uma "bizoiada" no programa enquanto preparava meu pretinho forte. Lá estavam Arlindo Cruz, Preta Gil, a garotada de um videoclipe de passinho patrocinado pela Coca-Cola que está circulando na internet (eu acho), a garota negra carioca que ficou famosa fazendo piadas sobre o comportamento das pessoas no Facebook além do músico Jorge Benjor. Mais um pouco de programa e Benjor faz uma performance cantando W/Brasil. Nesse momento lembrei de conversas que tenho sempre com meus amigos e namorada: Benjor um dia foi legal e nem era Benjor, mas sim Ben. Explico.


Jorge Benjor é uma referência musical para todo/as aquele/as que frequentaram espaços de sociabilidade negra e pobre em São Paulo entre os anos 1960 e 1990.  Em qualquer batizado, festa de aniversário, casamento, baile, jantar dançante, churrasco, festa de debutante e outras festividades eram e ainda são tocadas músicas clássicas de Benjor compostas e gravadas por ele entre os 1960 e 1980. Aliás, muitas pessoas ainda se referem a ele nesses espaços como Ben e não Benjor, nome que o artista incorporou nos anos 1980 para evitar confusão com o músico norte-americano George Benson. Mas a mudança de nome pode ser interpretada também como uma linha divisora da musicalidade do artista. Se o Ben fazia uma tipo de música marcada por uma mistura magistral entre bossa-nova, soul, jazz, samba, funk e rock, que alguns classificaram como a melhor definição do que seria o samba-soul ou sambalanço ou samba-rock, o Benjor dos anos 1990 conseguiu sair de uma crise em sua carreira fazendo uma espécie de sonoridade que lembra em muito marchinhas chatas de carnaval e prestando homenagens a figuras conhecidas como o músico Tim Maia (o "síndico" da canção) e o publicitário Washington Olivetto (que segundo consta, encomendou a música). Pode ser sacanagem da minha parte, mas não lembro de nenhuma música contemporânea de Benjor além de W/Brasil. Definitivamente, a negrada que eu conheço e me incluo aclama e ouve o Jorge Ben e desconhece o Benjor. Para o nosso Ben!

Muita Paz, Muito Amor!

sábado, 12 de outubro de 2013

Os Sete Anões de Auschwitz


12 de outubro: Dia das Crianças e de Nossa Senhora Aparecida. Parabéns aos dois! Sou um adulto ranzinza e devoto de São Benedito. Não darei doce as crianças e nem farei orações para a santa errada, fiquem tranquilos.

Post rápido, hoje é feriado. Deixo como dica para esse sábado preguiçoso - caso você não vá a igreja ou alguma festa de criança - um ótimo documentário que assisti tempos atrás por sugestão de meu truta Dafne Sampaio: The Seven Dwarfs of Auschwitz (Os Sete Anões de Auschwitz). O filme conta a história de uma família de anões que é deportada para o campo de concentração de Auwschwitz e se torna objeto de interesse do Anjo da Morte: Josef Mengele.

Assistam (audio e legendas em inglês apenas).

Muita Paz Muito Amor!


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Um Beijo e Adeus Para Gabriela!


Faleceu ontem à noite, aos 62 anos, Gabriela Leite.  Durante boa parte da sua vida Leite trabalhou como prostituta e atuou como ativista em defesa dos direitos das profissionais do sexo (um termo que ela achava muito politicamente correta e preferida o termo "puta") reivindicando a regularização da profissão. Durante a juventude Gabriela chegou a estudar filosofia na Universidade de São Paulo (USP), mas acabou deixando o curso e um trabalho de secretária em escritório para se dedicar a prostituição na região da Boca do Lixo em São Paulo e posteriormente na zona boêmia de Belo Horizonte e na Vila Mimosa no Rio de Janeiro. Em 1987 ela organizou o primeiro Encontro Nacional de Prostitutas e ganhou notoriedade por sua militância criando em 1992 a ONG Dávida.  Um das suas iniciativas mais conhecidas foi a criação, em 2006, da marca Daspu, cuja as roupas eram elaboradas e costuradas por prostitutas. O nome era uma clara ironia a loja de artigos de luxo Daslu. Em 2010 Gabriela concorreu ao cargo de deputada federal pelo Partido Verde. Sua campanha foi coberta num documentário filmado pela americana Laura Murray intitulado Um Beijo Para Gabriela (trailer logo abaixo).


Gabriela se vai vítima de câncer. O que ela nos deixa como legado além de seu trabalho como ativista é uma postura que olhava a prostituta sem o viés moralizante ou vitimizador. De acordo com ela, a prostituição era uma profissão que deveria ser regulamentada para que seus/suas profissionais tivessem acesso aos mesmos benefícios que o/as trabalhadore/as de outras áreas e fosse assim quebrado o estigma que paira sobre o/as mesmo/as. Para saber mais da vida de Gabriela leia a sua biografia lançada em 2009 pela Objetiva e intitulada Filha, Mãe, Avô e Puta (baixe AQUI).

A foto abaixo foi tirada em abril desse ano na exibição do filme sobre a campanha de Leite na The New School, NYC. Da esquerda para direita estão eu, Cristian Mat, Flávio Lenz (companheiro de Gabriela), Mariana Assis, Geeti Das e Laura Rebecca Murray (diretora do filme). 

Um beijo e adeus para Gabriela! Descanse em paz, querida! 

Muita Paz, Muito Amor!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

"and that's your time": THEESatisfaction


Há um bom tempo que não escrevo por aqui. Mudanças mil. Volta ao Brasil, trabalho de campo para o doutorado em São Paulo, refúgio/castigo em Limeira, dificuldades e processo de leitura e escrita. Enfim, vida! Mas o motivo para voltar a escrever é uma notícia boa: o lançamento de uma nova mixtape do duo feminino de rap THEESatisfaction (foto acima).

Essas duas garotas oriundas de Seattle (sim, a cidade na qual surgiu o grunge nos anos 1990 e que nos premiou com a banda Nirvana) são uma grande novidade na cena alternativa do hip-hop norte-americano. Elas são descoladinhas, meio hipsters (no bom sentido!), lésbicas e fazem um som com inspiração nos anos 1980. Ano passado assisti o show delas numa casa em Williamsburg, Brooklyn, NYC, e adorei! O primeiro álbum delas saiu ano passado e leva o título de awE naturalE. Das treze faixas desse disco minhas preferidas são Bitch, QueenS (cujo videoclipe que segue logo abaixo é uma espécie de celebração ao amor gay/lésbico), Existinct e Sweat (um dos samplers usados nessa faixa lembra muito música brasileira). As faixas God e Enchantruss contam com a participação de Ishmael Butler aka "Palaceer Lazaro"; ele foi um dia "Butterfly" do clássico grupo de jazz-rap dos anos 1990 Digable Planets e agora lidera o grupo alternativão Shabazz Palaces.



Depois de awE as garotas lançaram mixtapes em homenagem as suas maiores influências: THEESatisfaction Loves Anita Baker (outubro de 2012) e THEESatisfaction Loves Erykah Badu (janeiro de 2013). Delas destaco a faixa Cabin Fever Sweet (Live on the Radio K) que tem um sampler maravilhoso da canção Sweet Love, hit dos anos 1980 na voz de Anita Baker. Confira o som no videoclipe abaixo. Na vasta produção das garotas há ainda as mixtapes That's Weird (novembro de 2008), Snow Motion (agosto de 2009), Why We Celebrate Colonialism (novembro de 2009), THEESatistaction Loves Stevie Wonder Wonder Why We Celebrate Colonialism (julho de 2010), THEESatisfaction LIVE on KEXP Street Sounds (fevereiro de 2010), as faixas Icing (novembro de 2009) e Astronomical Warfare (outubro de 2009) e os álbuns digitais Transitions (novembro de 2010), Sandra Bollocks Black Baby (março de 2011) e o lançado hoje and that's your time



As letras das garotas são engajadas versando sobre sexualidade, racismo, gênero, desigualdades sociais e outras paradas. Um detalhe interessante é que elas lançaram duas mixtapes cujos títulos perguntavam "Por que celebramos o colonialismo?" justamente em datas cívicas dos EUA: dia da independência e dia de Ação de Graças.

Enfim, baixe os discos, mixtapes e faixas e curta o som engajado e experimental de THEESatisfaction!

Muita Paz e Muito Amor!

sábado, 18 de maio de 2013

An Oversimplicafition of Her Beauty


Devido a insistentes pedidos de minha namorada Moniquetiz e minha querida truta Marília Gessa fui assistir sábado passado An Oversimplification of Her Beauty (2012), filme dirigido por Terence Nance e lançado mês passado nas telonas gringas. Mônica e Marília estavam fascinadas pelo trailer do filme que teve o apoio e participação (de alguma forma) do rapper Jay-Z, do ator/comediante/escritor Wyatt Cinac,  da atriz e ex modelo Joy Briant e a jornalista, diretora e crítica cultural Dream Hampton.  Não me pergunte o papel que cada uma dessas pessoas desemprenhou no filme, pois não sei e estou com preguiça de pesquisar sobre. Também não li nenhuma resenha do filme antes ou depois de assisti-lo, algo que dá certa autenticidade/originalidade a análise meia boca que segue (trailer abaixo).



Sumarizando o filme, a sinopse do mesmo afirma que (retirando os adjetivos que antecedem a descrição) "AN OVERSIMPLIFICATION OF HER BEAUTY, documents the relationship between Terence and a lovely young woman (Namik Minter) as it teeters on the divide between platonic and romantic. Utilizing a tapestry of live action and various styles of animation, Terence explores the fantasies, emotions, and memories that race through his mind during a singular moment in time" (visite o site AQUI)


Quando decidi assistir o filme de Nance esperava algo próximo da nova onda de filmes negros que surgido nos EUA em fins dos anos 2000. Talvez a primeira película desse ainda incipiente movimento seja Medicine For Melancholy (2008) sobre o qual escrevi aqui no blog há quatro anos atrás (leia AQUI). Ano passado tive o prazer de assisir Pariah (2011), estimulado pelo artigo do crítico cultural Nelson George publicado no The New York Times (leia AQUI). Resumidamente, George defende o argumento de que essa nova safra de diretores estabelecem uma complexificação da identidade negra nos EUA e na diáspora africana trazendo para dentro da discussão elementos como gênero, sexualidade, classe e nacionalidade. Com essa expectativa paguei 18 Obama$ e sentei minha bunda preta num cinema do Village para assistir AN OVERSIMPLIFICATION OF HER BEAUTY.


O que a película tem de melhor é o não dito. É um filme que busca dissertar sobre amor e relacionamentos contemporâneos numa cidade moderna, rápida e capitalista até o último fio de cabelo: Nova Iorque. Apesar do filme ser totalmente racializado (todos os personagens são negros) não há nenhuma discussão sobre relações raciais ou racismo propriamente dito: ótimo! Há toda uma iconografia negra, obviamente, que lembra em muito os primeiros e mais radicais filmes de Spike Lee como She's Gotta Have It (1986) e Do The Right Thing (1989). A iconografia está no "afro" psicodélico, nos ternos coloridos e roupas cuidadosamente despojadas que Terence (diretor e um dos personagens principais) veste durante o filme e que remetem a figura de Jimmy Hendrix, em imagens do Brooklyn negro que cada vez mais é parte do passado devido a gentrification (leia AQUI artigo sobre isso no The New York Times) e as dores e dúvidas dos relacionamentos amorosos.


Mas fora isso, tudo soa extremamente artificial em Oversimplification. Não há um roteiro linear e muitas vezes a platéia fica perdida com a justaposição de diferentes histórias/filmes. A película começa dando sinais que vai seguir a estética de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) com sobreposição e mudança rápida de imagens acompanhandos por música e narração frenética, mas depois de algum o diretor desiste desse caminho. A narração é toda afetada pelo uso de termos que remetem a um pseudo-intelectualismo que deseja ser irônico e ao mesmo tempo sofisticado, mas que no final das contas acaba não tendo graça alguma (típico humor hipster falsamente esperto e blasé). As animações são chatas, demoradas, cansativas e cheias de referenciais que não fazem o menor sentido a quem assiste o filme. Mais que isso: o uso exacerbado de animações, desenhos com estética de mangás japoneses, narração, repetição e diálogos deslocados entre os personagens passam a dar uma sensação de cansaço a quem assiste uma vez que o filme poderia ter a metade do tempo. Aliás, o filme tem até mesmo um certo machismo, pois a história é quase em sua totalidade narrada na perspectiva de Terence sobre suas relações com ex-namoradas e casos. Mulheres quase não falam.


Enfim, você poderá conferir por si próprio/a esse detalhes quando o filme aportar pelo Brasil em algum festival ou mostra (ou você baixá-lo em algum site gringo). Mas fica a dica: Oversimplification talvez entre para a lista daqueles filmes que as pessoas fazem um puta esforço em assistir já que se trata da sensação do momento e leva o "sponsorship" de uma série de celebridades negras gringas. Contudo, o filme não passa de uma exercício de estudante de cinema tentando provar que entende da sétima arte e consegue ser ao mesmo tempo diferente e inovador. Nesse processo ele esquece de um detalhe que aprendi com meu amigo Noel Carvalho: cinema se trata de entretenimento, seja mais ou menos intelectualizado, ele tem que fazer a audiência comprar e se deliciar com o argumento e a história do diretor. Não comprei nem me deliciei com a história/argumento de Terence Nance.

Muita Paz, Muito Amor!

domingo, 12 de maio de 2013

Nova Biografia de Malcolm X Traduzida Para o Português



Minha amiga Jaqueline Lima Santos me avisou dias atrás que está previsto para o próximo dia 25 de maio o lançamento em português da mais recente biografia de Malcolm X, escrita pelo historiador Manning Marable e publicada nos EUA em abril de 2011 (mais info AQUI). Essa é uma ótima notícia para quem tem curiosidade em ler o novo livro, mas não possue fluência em inglês. Na época do lançamento do livro por aqui escrevi uma resenha para o blog que logo depois foi publicada na revista Sankofa (leia AQUI). Malcolm X: A Life of Reinvention se tornou um best seller nos EUA entrando para a lista do jornal The New York Times de livros de não ficção mais vendidos naquele ano. No ano seguinte a obra ganhou o prêmio Pulitzer para livros de história. O lado triste do lançamento do livro em 2011 foi que seu autor, o historiador e professor da Columbia University, Manning Marable, faleceu três dias antes do livro vir a público.

Fato também triste e curioso que coincide com a edição do livro no Brasil é a notícia veiculada essa semana da morte do neto de Malcolm X, Malcolm Shabazz.  Shabbaz, 28 anos, ganhou notoriedade e teve sua vida marcada de forma negativa em 1997, aos 12 anos, por ter sido responsável pelo incêndio no qual sua avó, Betty Shabazz, foi morta. O neto de Malcolm teve uma vida curta e problemática (com entradas e saídas da prisão) que findou numa área turística da Cidade do México na manhã da última quinta-feira. As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas, mas a polícia mexicana declarou que Shabazz foi vítima de agressão do lado de fora de um bar (leia mais AQUI). A morte do neto de Malcolm me fez recordar um trecho da primeira biografia de X escrita por Alex Haley e na qual o ativista afirmava que seu pai havia sido morto de forma violenta e que ele tinha certa percepção que o mesmo ocorreria com ele. Infelizmente, a previsão de Malcolm não só se concretizou, mas se perpetou de forma trágica para sua esposa e neto.

Na foto acima Malcolm X segura suas filhas Qubilah (à esquerda), mãe de Shabazz, e Attilah em 1963.

Muita Paz e Muito Amor! 

sábado, 4 de maio de 2013

Dançando com Bobbito Garcia no East/Spanish Harlem


Lugares para se dançar em Nova Iorque abundam. Há opções para todos os gostos e bolsos. Estudante como sou, priorizo os lugares que, além de tocar alguma coisa que eu tenha afinidade, tenham um preço em conta. O local ao qual me refiro nesse texto foi descoberto de forma bastante acidental se tratando de uma famosa dica de insiders. Toda primeira segunda-feira do mês Bobbito Garcia, a.k.a. Kool Bob Love (clique AQUI), toma a frente dos toca discos no bar Camaradas Del Barrio (clique AQUI para visitar) localizado no East/Spanish Harlem. Garcia é uma lenda urbana na Big Apple tendo descoberto grupos de rap que ficaram famosos como Wu Tang Clan e Nas, escrito em revistas de hip hop (Rap Pages e The Source) e atuando em outras áreas relacionadas a cultura hip hop. Ele também é DJ, fotógrafo, colecionador de discos, documentarista e jogador de pick up basketball, assunto sobre o qual dirigiu um documentário ano passado intitulado Doin' It In The Park (assista trailer abaixo).



Portanto, já sabe: se estiver por Nova Iorque em uma primeira segunda-feira do mês (como a próxima) cole no East Harlem onde Bobbito controla as pick ups das 8 da noite a 1 da manhã. No set list da lenda rola muito R&B, hip hop new e old school, música latina (salsa, merengue, bossa nova, música popular brasileira, samba e até samba-rock), funk, soul e break beats. Mas o mais legal é que Bobbito toca tudo isso via canções que raramente você ouve em festas mais comuns, ou seja, é uma festinha especial e seletiva em que ele se sente em casa para sair dos toca discos e até dançar junto com o público.  Paga-se apenas US$ 5 para entrar e o preço da cerveja e dos pratinhos não deixa ninguém pobre. Enfim, boa música, cerveja e comida por um preço justo!

Por fim, se você gostou do trailer do documentário, dá pra comprar o filme de Garcia por US$ 9.90 AQUI

Muita Paz, Muito Amor!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Marcadores de Classe em Nova Iorque

Morar em Nova Iorque tem me feito pensar muito em classe, um conceito que tem voltado a mesa de discussão dos sociólogos contemporâneos após um período de descrédito. A sociedade norte-americana é dividida basicamente por grupos que se alinham em termos classe e elementos étnico-raciais, mas a desigualdade econômica tem crescido nos últimos tempos principalmente após o governo de Bush filho e a crise econômica que se arrasta desde 2008. As clivagens étnico-raciais são, na minha opinião, mais visíveis do que as de classe, apesar de muitas vezes as duas categorias estarem sobrepostas. Mas é justamente a dinâmica de uma cidade como Nova Iorque, marcadamente diversificada do ponto de vista étnico-racial e extremamente cosmopolita, que faz as distinções de classe tão interessantes de ser observadas. Vou elencar três, a saber: a) ser magro b) a ausência ou manipulação de inscrições no corpo, tatuagens e c) ser vegetariano. Na minha opinião, esses são os três marcadores de classe mais discretos de serem observados nos novaiorquinos e estão alocados, de uma forma ou de outra, no corpo das pessoas. Nesse sentido, sigo a orientação do sociólogo francês Pierre Bourdieu para o qual a desigualdade social da sociedade se cristaliza e toma forma no corpo dos indivíduos.
Primeiro uma aula rápida de sociologia. Classe é um conceito fundante em sociologia que explica as formas como indivíduos/grupos agem, se organizam e se agrupam na sociedade. Há três definições clássicas do conceito: 1) oriunda de Karl Marx onde classe é entendida como a posição que ocupamos na estrutura de produção capitalista: burguesia (os que dentem os meios de produção) e proletariado (aqueles que não possuindo os meio de produção, vendem sua força de trabalho). Ainda há a polêmica posição intermediária, vulgarmente chamada de "pequena burguesia" (burocracia, intelectuais, entre outros); 2) oriunda de Max Weber em que classe é dado pela quantidade de bens materiais/econômicos que o indivíduo possue e 3) oriunda de Pierre Bourdieu onde a posição de classe é dada pela articulação entre vários tipos de capitais (simbólico, econômico e cultural) sendo que os marcadores de classe são observados no que o sociólogo denominada de "habitus", ou seja, a cristalização de formas/traços de classe em ordenamentos mentais, físicos/estéticos e de técnicas corporais que estabelecem distinção social.


Minhas análises sobre o marcador social classe estão amparados na perspectiva de Bourdieu, que é mais flexível, complexa e incorpora as elaborações de classe teorizadas por Marx e Weber.  Para Bourdieu, classe é responsável por criar uma espécie de "estilo de vida" marcado pelo consumo de bens materias, simbólicos e culturais. Amanhã (ou dentro de alguns dias) falarei da idéia de magreza como um dos elementos que estabelece distinções de classe em Nova Iorque.

Muita Paz, Muito Amor! 

terça-feira, 30 de abril de 2013

Rihanna, Chris Brown e a Violência Doméstica

 
O diário The New York Times publicou na sua edição impressa de ontem um artigo intitulado Stormy Relationship, Forgiving Followers (Relação Tempestuosa, Seguidores Perdoam, leia AQUI) comentando a relação entre os artistas Rihanna e Chris Brown. Em 2009 a mídia americana e fãs de ambos os artistas, a época namorados, foram pegos de surpresa pela caso de espancamento de Rihanna por Brown. Na sequência o público acompanhou, atentamente, o rompimento, os pedidos de desculpas públicos e midiáticos além do julgamento de Brown que declarou-se culpado e foi condenado a uma pena de cinco anos (em liberdade assistida).  Quatro anos após o ocorrido, o casal se reconciliou e voltou a ser foco de flashes das câmeras de paparazis. A grande dúvida é saber o que toda essa história nos ensina a respeito de violência doméstica contra mulheres e qual a mensagem que a reconciliação de Rihanna e Brown podem passar a mulheres jovens em situações similares.


Esse é o foco do artigo do Times, que chega a rotular o caso como emblemático da "hip-hop generation" (geração hip-hop), termo que dá título ao livro de 2002 do jornalista e crítico cultural Bakari Kitwana e explora as questões sociais e políticas vivenciadas pela geração de indivíduos afro-americanos nascidos entre a partir dos anos 1970 e que sofreram a influência da cultura hip-hop. O autor afirma que há um conflito de gênero aberto dentro da população afro-americana devido a um gap cultural e econômico entre homens e mulheres. Para exemplificar seu argumento e mostrar a desconexão entre os avanços feministas e a misoginia e representações de gênero incutidas em jovens da hip-hop generation, Kitwana analisa os casos em que o rapper Tupac Shakur e o boxista Mike Tyson (ídolos da hip-hop generation) foram condenados por estupro. Voltando a Rihanna e Brown, diria que o grande problema é a mensagem implicitamente enviada de que "perdoar" significa estar aberta/o a um retorno da relação. Casos de violência doméstica entre estrelas da música negra são conhecidos de longa data. Billie Holiday (foto acima) sempre esteve envolvida em relações nas quais seus parceiros abusavam física e financeiramente dela. Parte desse sofrimento é registrada na letra da canção My Man (ouça AQUI) onde a mesma diz que:

"He's not much on looks
He's no hero out of books
But I love him
Yes, I love him

Two or three girls
Has he
That he likes as well as me
But I love him

I don't know why I should
He isn't true
He beats me, too
What can I do?
"


Tina Turner (foto abaixo) também teve sua própria história de abuso e violência doméstica nas mãos de seu parceiro musical, marido e empresário Ike Turner.  Após romper com Ike (que chegou a ameaçar matá-la, com arma em punho), em fins dos anos 1970, Tina conseguiu refazer sua carreira com sucessos como What's Love Got To Do With It, lançado em 1984 (ouça/assista AQUI), cujo nome também dá o título do filme de 1993 que cobre a carreira de Tina, passando pelos anos de relacionamento conturbado com Ike (assista o trailer do filme AQUI). Tina nunca reatou seu relacionamento com Ike.


De acordo com o artigo do Times, fãs de Rihanna não se importam com o relacionamento, Brown teria até sido perdoado por eles. O receio é que essa história tenha um desfecho parecido a de muitas outras histórias de abuso/violência doméstica e que foi encenada num episódio recente da série Law & Order SVU que teve inspiração direta do caso Rihanna/Brown: uma artista de R&B é espancada pelo namorado, um rapper famoso, que consegue, mesmo sobre o escrutínio da mídia, dos fãs e da polícia reatar o relacionamento exibindo uma dupla personalidade. O desfecho é a morte da cantora pelas mãos do rapper numa ilha do Caribe para onde os mesmos fogem (assista o episódio Funny Valentine AQUI).

Muita Paz, Muito Amor e Diga Não a Violência! 

sábado, 27 de abril de 2013

Em Busca da Bunda e do Pênis Perfeito

Houve épocas em que escrevi tratados e não posts. Com o tempo isso mudou. Falta de tempo e amadurecimento me fizeram entender que textos longos são bons para livros e revistas acadêmicas, mas não blogs. Meus textos hoje são mais breves e informativos, não buscam dissertar de forma excessiva sobre assuntos polêmicos, pois ninguém quer passar 30 ou 40 minutos lendo a mesma parada em frente a tela do computador. O texto que segue abaixo foi uma das últimas tentativas de fazer algo de fôlego por aqui. Acabei não terminando e ele estava perdido como um rascunho de post. Resolvi publicar da forma como o deixei. A parte divertida é imaginar para onde o texto ia, que rumos a argumentação tomaria. A propósito, o post (ou a "tentativa de post") foi originalmente escrito em 22 de novembro de 2011.  Vamos lá... Ah, já ia esquecendo: a foto aí debaixo é do polêmico livro de fotografias Black Book (1986) do fotógrafo Robert Mapplethorpe (a história desse livro e de Mapplethorpe daria um ótimo post).

Em Busca da Bunda e do Pênis Perfeito

"Bunda, diz o ditado, é uma paixão nacional no Brasil. Mas o que isso significa propriamente? Que somos um país negro/mestiço? Que somos sexualmente mais liberados que outras nações? Difícil pergunta. Seja uma paixão nacional ou não, traseiros femininos (e até masculinos) sobressalentes são objetos de desejo e admiração mundo à fora. Entretanto, uma leitura mais detalhada dessa "admiração" pode assustar leitore/as desavisad@s. Semana atrás li a notícia em um jornal sensacionalista americano de que uma transexual havia sido presa no estado da Flórida, EUA, acusada de oferecer serviços de "buttocks enhancement" (numa tradução tosca, aumento de bunda) em que a mistura aplicada nas nádegas de suas "clientes" continha, dentre outras substâncias, cimento e cola (leia mais AQUI). Contudo, por mais bizarra que a notícia possa parecer, ela não se dá num contexto isolado. Várias mulheres têm perdido a vida em tentativas de aumentar o tamanho de suas nádegas fazendo enchertos em clínicas plásticas e, muitas vezes, se utilizando de "profissionais" não qualificados e/ou autorizados.  Esse foi o caso da ex-miss Argentina, Solange Magnano, que faleceu em 2009, aos 37 anos, após um procedimento de inserção de silicone nas nádegas (leia mais AQUI) e também da aspirante a modelo britânica Claudia Aderomiti, 20 anos, que no início desse ano viajou da Inglaterra para os EUA para o mesmo procedimento e morreu horas depois num hospital do estado de Delaware (leia mais AQUI).


Mas se mulheres tem cada vez mais se submetido a procedimentos estético/plástico-cirúrgicos para aumentar nádegas e seios, homens tem agora a sua disposição uma série de produtos que prometem o aumento do pênis. Dentro dessa lógica, a máxima "tamanho não é documento" está totalmente desacreditada. Outros produtos também populares são as pílulas para promover ou estender a ereção. Lembrando sempre que essas drogas não tem como público alvo somente homens vítimas de disfunção erétil, como impotência e ejaculação precoce, pelo contrário, aposto afirmar que a grande maioria compradora desses produtos são homens perfeitamente saudáveis no que diz ao seu desempenho sexual. Desse modo, fica a pergunta: o que faz com que pessoas desejem mudar o seu corpo ao ponto de submeterem ao procedimentos cirúrgicos arriscados, se entregarem a pessoas sem qualquer tipo de qualificação para aplicação de substâncias perigosas e fazerem uso de drogas das quais não há qualquer tipo de regulamentação e que não se conhece de fato se são eficientes ou seus efeitos colaterais?

Minha hipótese é que vivemos numa sociedade contemporânea hedonista onde os prazeres, do mais diversos tipos, tem tomado, cada vez mais, um lugar central na vida dos indivíduos. O prazer sexual é talvez a mais antiga e trivial forma de satisfação corpórea existente, mas que, como mostra o filósofo francês Michel Foucault em seu livro História da Sexualidade, ganhou centralidade como forma de discurso e prática com o advento da modernidade entre os séculos XVIII e XIX. Entretanto, justamente no momento em que teve início a configuração de um discurso sobre a sexualidade também ocorria uma espécie de sistematização do racismo científico europeu via teóricos como Lombroso, Gobineau e outros que estabeleciam uma classificação e hierarquização das diferenças raciais que se cristalizavam em diferentes corpos no que diz respeito a cor da pele, formatos dos lábios, textura dos cabelos etc."

Bem, você pode completar ou imaginar o restante do texto agora...

Muita Paz, Muito Amor!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

NYC Sociology Student Mixer


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Racismo é Coisa da Sua Cabeça!



Todo FIAPO, preso de forma vergonhosa no cabelo pixaim de um NEGRO, e descaradamente fruto de uma orgia com o cobertor velho na noite anterior que heroicamente escapou da ação de um garfo na manhã seguinte, escondendo-se na parte de trás da cabeça, é BRANCO!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

À Beira da Palavra

Hoje estou com preguiça de escrever, por isso estou recortando e colando a notícia que meu amigo Spensy Pimentel subiu na timeline dele no Facebook. Segue: "À Beira da Palavra, programa do mestre Allan da Rosa que ajudamos a realizar em 2012, vencedor do Proac, agora estará disponível na internet, no site da Edições Toró. São 20 e tantas entrevistas de 1 hora cada, com expoentes da literatura negra, indígena, africana, nordestina contemporâneas - tudo o que está à beira -, mais alguns programas com estudiosos de autores antigos, como Carolina de Jesus e James Baldwin. Dá só uma olhada! Incluindo os mestres Cidinha Da Silva, Olivio Jekupe, Márcio Macedo, Salloma Jovino Salomão e muito mais... Engenharia sonora do Mateus Subverso, e produção da Joana Moncau. Originalmente exibido na Rádio USP, desde novembro, e produzido com apoio da Oboré, do mestre Sérgio Gomes."

O link para as entrevistas no site das Edições Toró pode ser acessado AQUI

A foto no início do post é da escritora Carolina de Jesus (1914-1977).

Muita Paz, Muito Amor!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Odara Sol - Minha Prece


A música negra brasileira contemporânea que recebe influência do hip-hop e R&B/neosoul tem, a cada ano que passa, evoluído e tomado feições que a aproxima da qualidade vista nas produções gringas e ao mesmo tempo busca estabelecer feições próprias. Outro ponto interessante é a complexificação das letras, o que mostra um bem-vindo processo de amadurecimento das temáticas e do/as artistas. Exemplo desses aspectos pode ser notado na nova música de Odara Sol, uma cantora paulistana oriunda da zona sul de São Paulo e hoje radicada em Berlim. Sol, nos anos 1990, esteve ligada a um importante grupo/posse/núcleo cultural do hip-hop em SP, o Conceitos de Rua que tinha como um dos principais articuladores o rapper Kall, também residindo em Berlim atualmente. Sol me enviou o vídeo de sua nova música pelo Facebook diás atrás, mas só hoje tive tempo de assistir o mesmo. Gostei do que vi/ouvi e fica aqui a dica!  Enjoy it!



Muita Paz! 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Terra Prometida


Arsenal pulava de um lado pro outro no palco enquanto DJ Pitch Zero fazia scratchs e trocava as bases. Depois de três músicas a platéia já estava no ponto. Gostosas gritavam o nome do grupo e marmanjos olhavam de canto de olho entre alguns goles de cerveja, algum tipo de quente ou um baseado. A próxima música seria a principal faixa do disco e seria a consagração. Foi nesse momento que Arsenal olhou pro seu DJ sinalizando que parasse o som. O salão ficou num silêncio sepulcral. Como já era de se esperar lá vinha o momento do discurso do rap consciente. “Então rapaziada”, foi dizendo o MC, “cêis tão ligado que é foda!”... “Tem horas que cê acorda de noite cas idéia no seu psicológico só martelando, tá ligado? Aí cê começa a pensar porque isso porque aquilo, tá ligado? Tipo, porque a gente é pobre e vive nessa correria, tá ligado? Porque o bagulho tá todo zuado na sua vida, manja? Então, aí cê pensa na escravidão, tá ligado? Os cara esculachava cos nego véio cas nega véia, tá ligado?” A platéia prestava extrema atenção em Arsenal, séria e concentrada. “Então mano, o barato é louco. Os caras zuaro cá gente, tá ligado? Trouxeram a gente pra um lugar que a gente num conhecia, num navio que metade da rapaziada morria na travessia e pá... Mano, o barato é que tá na hora da gente reagir, tá ligado? Tá na hora da gente voltá e reconquistá o que é nosso, morou? Tipo, voltá pra nossa terra, tá ligado?” A platéia reagia num chiado afirmativo uníssono e Arsenal, percebendo a aprovação se entusiasmou, “Tá na hora da gente volta pra nossas muié, volta pros nosso carro, tá ligado?”, a agitação era ainda maior já que o rapper aumentava cada vez o tom de voz, “Mano, tá na hora da gente pará com essa palhaçada de viver num lugar estranho e voltá pra nossa terra mano...”, uivos de aprovação e braços levantados de apoio, “Truta, o barato é o seguinte... TÁ NA HORA DA GENTE VOLTÁ PRA NOSSA TERRA, MALUCO...”, gritou o rapper levando a platéia ao delírio e fazendo até copos cheios de bombeirinho irem pro chão derramando seu líquido cor de sangue, “...TÁ NA HORA DA GENTE VOLTÁ PROS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, MANO!”, “?????????”

terça-feira, 26 de março de 2013

Us Nigga, As Bitch!


O casal aproximou-se alegremente e viu a fila enorme em frente ao clube. Podia-se nitidamente ouvir, ali, do lado de fora, batidas compassadas de rap, ragga, reggaeton e R&B vindas de dentro da festa. Um segurança com cara de poucos amigos interpelava todas as pessoas na porta de entrada: ausência de RG, falta de dinheiro e até um peido eram motivo para ser barrado. “Eu sou amiga da Joana, a gerente. Dá pra chamar ela pra mim?”, disse a garota loira em meio a um sorriso para o guarda-roupa à sua frente ao mesmo tempo que seu parceiro de trejeitos afeminados lançava um olhar blasé ao redor. Todos os presentes na fila olhavam a cena com expressões iradas. “Seu nome não está lista!”, disse o segurança respondendo a garota. “Acho que ela esqueceu de colocar. Chama ela pra mim, vai?”, retrucou a garota com um sorriso malicioso que encantou o brutamonte engravatado. Enquanto o segurança falava ao rádio tentando contatar a tal de Joana, a garota olhava para a fila quilométrica constituída por 100% de infelizes preto/as que não tinham o nome na lista, não eram VIPs, não tinham dinheiro, não eram artistas ou personalidades. Nesse momento a baunilha girl olhou  para fila e voltou-se para o rapaz articulando-se num inglês perfeito que a fazia se sentir descolada, “I love these niggas!”, no que o rapaz respondeu imediatamente em meio a um sorriso, “I love these black bitches!”... “TÁ LIBERADO!” disse o segurança ao mesmo tempo que abria passagem para o baunilha couple.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dilemas da Democracia Brasileira

Três episódios, três situações que colocam em evidência dilemas que se postam a democracia brasileira. Vamos a eles lembrando sempre que sou um observador distante, mas atento:


1- Marcos Feliciano: um pastor evangélico eleito deputado que recorrentemente faz afirmações racistas e homofóbicas é indicado por seu partido para presidir uma comissão de direitos humanos. Detalhe: um dos maiores aliados de Feliciano é nada mais nada menos do que Jair Bolsonaro, um deputado abertamente homofóbico.


2- Garota negra de 12 anos é espancada no Distrito Federal após, no caminho para a escola, pegar ônibus e descer numa área desconhecida na qual é confrontada e agredida por outras quatro garotas. O motivo da agressão: ser negra e estar, por equívoco, numa área onde negro/as não são bem-vindo/as.




3- Ronaldo Fraga, estilista mineiro, usa palhas de aço na cabeça das modelos que apresentaram sua coleção de roupas no São Paulo Fashion Week. As palhas de aço eram uma alusão ao cabelo crespo dos negros.

Dilemas são situações paradoxais, ou seja, idéias contrárias que não podem existir ao mesmo tempo. Democracia faz referência à igualdade juridíca, convivência pacífica e respeitosa entre diferentes, cidadania, um mínimo de recursos econômicos, direitos/estado de direito, representação política e acesso a bens inalienáveis como saúde, segurança pública e educação fornecida por um estado laico.  Nas três situações o que se coloca é justamente o contrário, ou seja, hierarquia de vários tipos, violência física e simbólica contra os diferentes, manifestações de preconceito que abrem a porta para o conflito aberto entre grupos e ausência de representação política com base de legitimidade.

O Brasil vive um paradoxo. Ele é simples de ser explicado, mas difícil de ser resolvido: ou afirmamos nossas convicções, valores e projeto de nação calcados numa perspectiva democrática ou permitimos que forças conservadoras e retrógradas deturpem o jogo democrático em favor de uma ordem caduca, tacanha e que nos coloca no caminho contrário ao que o mundo mais igualitário tem buscado.  Gilberto Freyre afirmava que a cultura brasileira se constitue numa forma de "antagonismos em equilíbrio" e isso poderia ser comprovado na idéia paradoxal de "democracia racial". Fico curioso para saber o que o velho mestre de Apipucos diria sobre esses ocorridos se ainda estivesse entre nós.  Vale lembrar que o jovem intelectual progressista de Casa Grande & Senzala dos anos 1930 (que teve um caso homo-afetivo na juventude) se tornou um conservador reacionário no fim da vida que defendia o moribundo colonialismo português na África nos anos 1970. Bom para se pensar...

Muita Paz e Mais Amor!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Emicida em Nova Iorque e Austin.

Para quem está por Nova Iorque ou Austin, Texas, nos próximos dias, vale a pena conferir os shows do rapper paulistano Emicida. Mais informações na imagem abaixo. Agradeço a Kall do Vale por ter me passado a informação mesmo estando do outro lado do Atlântico, mais especificamente em Berlim.

Muita Paz, Muito Amor!


terça-feira, 5 de março de 2013

Lilia Schwarcz e Lima Barreto na USP


Lilia Schwarcz (foto acima), ou Lili, como ela gosta de ser chamada, é uma dessas professoras que esbanjam simpatia, carisma, finesse e erudição, uma combinação bastante difícil de se encontrar nas pessoas ultimamente. Quando entrei no curso de ciências sociais na USP, em 1997, ouvia o ressoar de sua fama pelos corredores da Faculdade de Filosofia (que uspianos chamam ridícula e carinhosamente de "Fefeléche"!) e através do meu amigo Batistão, naquela época seu orientando de mestrado e monitor em um de seus cursos de graduação. Nos meus oito de USP, entre graduação e mestrado, fiz dois cursos com Lili, trabalhamos juntos num projeto de formação de pesquisadores e ainda a tive como avaliadora na minha banca de mestrado. Lili é detendora de um currículo extenso de fazer inveja e tirar o fôlego a qualquer acadêmico/a. Sua produção inclue uma série de livros e infinidade de artigos cujos temas variam entre a relação entre antropologia e história, raça, arte, biografia, literatura e pensamento social brasileiro. Atualmente ela ocupa a posição de global scholar na Princeton University e foi por lá que a reencontrei há duas semanas atrás num seminário sobre raça e cidadania no Brasil. Há um evento (mais informações abaixo) agendado para o próximo dia 22 de março na USP em homenagem a ela e nele Lili apresentará material do seu próximo livro focado no escritor Lima Barreto (1881-1922). Não perca, assistir as falas de Lili é uma experiência que mescla a delicadeza das canções de Caetano Veloso e Gilberto Gil com a complexidade do pensamento de Claude Lévis-Strauss e Marshall Sahlins, artistas e autores dos quais, como sei bem, ela gosta muito!

Muita Paz, Muito Amor!


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Começo do Fim


Faz tempo que não sai um post no NewYorKibe... Isso dá margem para que alguns pensem, "Lá se vai mais um blog!" Pois bem, quase. Não acabou ainda, mas esse endereço virtual tem seus dias contados. Está chegando a hora de dar vazão a novos projetos, quem sabe um blog novo falando de coisas novas. Aliás, blog em si já está virando coisa do passado com essa obsessão contemporânea por imagens, algo que levou a ascensão do Tumblr e do Instagran. Não tenho nem um nem outro e, possivelmente, nunca terei. Blogueiro/as são pessoas que gostam de escrever, de ver seu texto surgindo na tela do laptop e imaginar pessoas como você lendo o mesmo além de esperar um comentariozinho em retribuição. É, escrever para mim é como fazer sexo: você faz um puta esforço, sua e quase chega a exaustão para obter o seu prazer, mas também fazer com que seu o/a parceiro/a  tenha prazer. Escrever é isso. Nada mais. Assim sendo, a partir da semana que vem começam a ser publicados os últimos posts dessa budega que tem me roubado tempo nos últimos 4 anos e meio. Serão textos especiais, focados em coisas divertidas/ou horríveis, ou melhor, "nas coisas" que eu acho divertidas/ou horríveis de se fazer em Nova Iorque. Essa série de posts também vai me ajudar a economizar tempo quando alguém me perguntar sobre coisas para se fazer/se evitar por aqui. É isso, esperem e verão/lerão!  Por fim, se você tiver um tempinho entre na página do NewYorKibe do Facebook e dê uma curtida. É lá que faço posts rápidos de coisas legais que acontecem por aqui. E lembrem-se: os posts finais do NewYorKibe serão semanais tendo início na próxima segunda. Até lá!
Muita Paz, Muito Amor!