Aqui vai meu último post do ano. Acabo de ler a autobiografia do filósofo norte-americano Cornel West intitulada Brother West Living and Loving Out and Loud: A Memoir publicada em 2009. Apesar de ser celebridade intelectual nos EUA, West é pouco conhecido no Brasil fora das rodas de intelectuais, pesquisadores e ativistas que se dedicam ao tema das relações raciais e outras áreas correlatas. Dos seus mais de vinte livros há apenas um traduzido para o português: o clássico Race Matters cuja publicação data de 1993. Há também um coletânea de artigos escritos em parceria com Roberto Mangabeira Unger. Race... foi publicado no Brasil em 1994 pela Companhia das Letras com o título de Questão de Raça. Ainda me lembro do prazer que tive ao ler essa obra pela primeira vez no distante ano de 1998, meu segundo ano de estudante de ciências sociais na USP, e o impacto que ela teve em minha formação.
Race Matters atirou West para o sucesso, mas a experiência de ler os ensaios coerentes, elegantemente bem escritos, engajados e apaixonados desse livro pouco se compara a ver essa figura, que é um misto de filósofo e teólogo, falar em público. Ano passado tive o prazer de pela primeira vez assisti-lô e trocar rápidas palavras com ele em um colóquio realizado na New York University (NYU) no qual participavam outros três intelectuais de peso: Jürgen Habermas, Judith Butler e Charles Taylor. Havia muita gente para ver Habermas e Butler, mas digo com certeza que a maior parte dos negros (eu me incluo nessa massa) estava lá interessada em ver a performance de Doctor West, maneira como o chamam por aqui (reverência que, apesar do título que todos possuem, poucos professores da área de humanas levam na vida cotidiana). Pois bem, Doctor West é um show! Fala de forma livre sem ter um texto escrito ou roteiro pré-determinado, usa toda a tradição dos pastores afro-americanos com entonações diferentes de voz, paradas estratégicas, caretas, corporalidade e piadas que levam o público ao delírio. Assista parte de uma entrevista do homem no vídeo aí embaixo. Nele West descreve um encontro que ele e sua família tiveram com o ex-presidente Ronald Reagan (1911-2004) quando esse era então governador da Califórnia, entre 1967 e 1975, e West tinha apenas 16 anos.
Feita a apresentação de West aos que nunca ouviram falar dele vamos ao que interessa. Devo dizer que prefiro biografias a autobiografias. Os dois formatos de obra sofrem sérios riscos, mas tendo a ver o segundo como mais problemático. Depois de mais uma centena de páginas lidas é quase impossível não ser arrebatado pela impressão de que o autor sofre de certo egocentrismo e que o livro não passa de um exercício radical de narcisismo. Isso ocorre não necessariamente porque os autores são de fatos narcisistas, mas devido a forma como a memória funciona. A memória é uma construção do passado a partir do presente. Isso significado que a leitura que fazemos do nosso passado é realizada de forma a dar coerência ao que somos e vivemos hoje. Assim sendo, quando reconstruímos nossa trajetória apagamos/esquecemos tudo o que havia de contraditório, problemático e que se postava como dilemas. Obviamente que determinadas biografias não podem se dar a esse luxo, uma vez que elas só nascem a partir da resolução de determinadas conflitos e rompimentos que estabelecem fins e inícios de períodos. Um grande exemplo aqui é a autobiografia de Malcolm X (1925-1965), escrita por Alex Haley (1921-1992) a partir de conversas com o líder negro. Haley usou outra estratégia que agradou o público leitor: ele construiu uma narrativa muito próxima da estrutura de um romance cujo o final todos já sabiam, ou seja, a fatídico assassinato de Malcolm. Há quatro rompimentos/fases essenciais na narrativa da vida de Malcolm: sua primeira infância marcada pela perda do pai e a desestruturação familiar; a adolescência de sucesso escolar e aspirações de ascensão social; a vida de criminoso e, por fim, a ascensão como líder religioso/político.
David Ritz, autor de várias biografias e autobiografias, tentou criar uma narrativa agradável ao trabalhar com West nesse projeto estabelecendo rompimentos e fases distintas a vida do filósofo. Contudo, o resultado deve desagradar um público mais especializado e que conhece minimamente o trabalho do professor enquanto é sucesso garantido entre o público leigo em questões intelectuais e que conhece West de suas aparições na TV ou lectures. A tese central do livro é que West é o resultado da tradição na qual sua família está inserida: cristã/batista, classe média baixa com antepassados de classe trabalhadora e com pais dedicados aos filhos. A família de West é a personificação da respeitabilidade negra construída pela classe média e elites afro-americanas para fazer frente ao racismo desumanizador norte-americano. Essa atitude, que era interiorizada pelos negros mais aquinhonhados, consistia em valorização da ética do trabalho, dos estudos, religiosidade, cuidados com a aparência pessoal, moralidade quase vitoriana e ativismo. West, que nasceu em 1953, é fruto disso tudo, mas viveu sua adolescência e juventude nos anos 1960 e 1970 momentos de transição na sociedade americana. Os pais de West eram sofisticados intelectualmente. A mãe era professora e o pai empregado numa base áerea do governo americano. Ambos haviam cursado universidade e estavam situados num lócus mediano na estratificação social de Sacramento, cidade onde moravam no estado da Califórnia. West cresceu nesse meio em companhia do irmão mais velho Cliff e duas irmãs mais novas. Logo depois de um curto período problemático na escola foi classificado como super-dotado indo estudar numa instituição especial. Hilário é ver o filósofo se referir a si mesmo na terceira pessoa afirmando que o garoto problemático, Little Ronie (ele com seu nome do meio), era um pequeno gangsta à época. O batismo na igreja que seus pais frequentavam, os primeiros livros lidos, a admiração, apreciação e influência da música negra e os primeiros contatos amorosos são descritos de forma detalhada pelo intelectual que vai enumerando autores, ativistas, canções com seus ou suas respectiv@s intérpretes além da sua atração pelo sexo feminino.
O garoto promissor da família foi aceito em Harvard com dezoito anos e cursou a graduação em filosofia em três (um recorde na instituição). O doutorado foi realizado em Yale com um período de bolsa em Harvard. Durante a graduate school o intelectual ainda casou (o primeiro dos seus três casamentos), teve o primeiro filho (posteriormente teria uma filha) e se divorciou. Aos poucos vai surgindo o Cornel West que poucos conheciam. Todos os dilemas e contradições que se colocaram a sua trajetória são explicadas pelo autor como resultado de sua opção de colocar a sua vocação à frente de tudo mais na sua vida. Sendo assim, o intelectual, professor e ativista carismático, talentoso e famoso é o mesmo que enfrentou três divórcios que o levaram a bancarrota financeira mesmo enquanto desfrutava o ápice do sucesso de Race Matters. Essa obra de West foi responsável por recolocar a centralidade de discussões raciais num momento em que explicações neo-liberais e conservadoras estavam cada vez mais em foca. O grande mérito do filósofo neste livro é de conseguir estabelecer uma conexão entre a América antes e depois dos movimentos pelos direitos civis e como raça se rearticula com a reestruturação do sistema capitalista. Constam ainda no livro a defesa da manutenção das ações afirmativas que se encontrava sobre ataque à época, uma discussão dos limites do pensamento racialista, a relação entre negros e judeus, reflexões sobre a sexualidade e niilismo dos afro-americanos, a tradição de intelectual conservadora negra além do legado de Malcolm X. Tudo isso numa linguagem simples e acessível a qualquer leitor. O livro teve como leitor célebre o presidente Bill Clinton e West foi convidado para um jantar na Casa Branca. By the way, seu nome também entrou para a lista de vários grupos racistas e sua casa em Harvard foi invadida em uma ocasião por um homem encapuzado que carregava uma pistola automática com silenciador. O resto é história...
Mas West é mais do que Race Matters e esse é ao mesmo tempo o ponto mais forte e fraco do livro. É válido conhecer o professor que por algum tempo viveu como homeless dormindo nos bancos e jardins do Central Park, que toma a música negra como inspiração para sua obra se afirmando como um "bluesman in the life of mind and a Christian jazzman in the world of ideas", o intelectual romântico que namorou a bela cantora de música erudita Kathleen Battle, o homem apaixonado que após uma cerimônia de casamento sultuosa em Adis Abeba, Etiópia, tem a sua vida e da amada ameaça por rebeldes que cercam o palácio onde se realizara o enlace, o intelectual que estende sua atuação as filmes, álbuns de hip-hop, talk shows, explica a inspiração de seu visual buscado em jazzmen e pastores negros, que leciona um curso com 700 calouros em Harvard e explica detalhadamente o motivo de sua saída daquela instituição depois de um conflito com o presidente da universidade à época Lawrence Summers, uma polêmica que ganhou as páginas dos principais jornais e revistas norte-americanos.
O problema é que todas essas histórias levam o livro para um pessoalismo excessivo no qual é difícil ver contradições ou uma relação mais conflituosa entre o homem e sua obra. West acaba sendo bonzinho e perfeito demais e, vamos e convenhamos, nenhum ser humano é assim. O ápice do pessoalismo é notado quando West afirma que deixou seus três casamentos porque era necessário que suas ex-esposas, como mulheres inteligentes e criativas que são, pudessem ter mais espaço e desenvolveram suas carreiras uma vez que a presença dele as obscurecia. Well well... Entretanto, essas são observações chatas que só um cara que resenha o livro (como eu!) deve fazer. Para leitore/as menos crític@s ou chatos as 275 páginas do livro podem ser apreciadas sem grande desconforto. Porém, Cornel West ainda necessita de uma biografia intelectual escrita com distanciamento pessoal e estabelecendo conexões entre texto e contexto, vida e obra. Talvez, outro West possa surgir dessas futuras páginas, um West nem melhor nem pior, apenas menos coerente e, consequentemente, mais humano.
Para saber mais sobre o Doutor West visite o site dele AQUI
Muita Paz e Bom Ano!
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Jabu versus Malcolm X
Não espere um post falando sobre líderes negros, mas sim com os respectivos nomes de meus futuros pets: Jabu (corruptela de "jaboticaba"), o "auau", e Malcolm X, o "miau". Pelos nomes não preciso nem mesmo dizer que cor eles terão, né? Pois é, não sou um grande fã/admirador de cachorros, mas admito que eles tem o seu charme e deve ser divertido levar o "auau" para passear todos os dias, o que te força a um mínimo de atividade física. Isso me aventa a possibilidade futura de arranjar um depositório ambulante de pulgas. Mas minha paixão mesmo são os gatos, esses fofos, preguiçosos, companheiros e simpáticos bichos.
Tempos atrás fiz um post sobre o livro do escritor norte-americano William Burrough (1914-1997) The Cat Inside (leia AQUI) e transcrevi uma parte do texto no qual Burrough tece suas comparações entre gatos e cachorros. Apesar de afirmar não odiar cachorros, ele é categórico em defender que os homens transferem suas qualidades para os cachorros e esses animais acabam sendo o veículo do seu ódio, nas palavras do autor: "A dog's rage is not his. It is dictated by his trainer."
Na literatura, Burroughs não está sozinho na categoria "admirador de gatos e detrator de cachorros." O argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) é outro escritor que vivia cercado de gatos e dedica uma passagem de seu O Livro dos Seres Imaginários (1967), que transcrevo abaixo, a descrever um cachorrinho bastante peculiar com o refinado humor típico de Borges (foto abaixo):
o cão cérbero
Se o inferno é uma casa, a casa de Hades, é natural que um cão a guarde; também é natural que esse cão seja imaginado como atroz. A Teogonia de Hesíodo lhe atribui cinqüenta cabeças; para maior comodidade das artes plásticas, esse número foi reduzido, e as três cabeças do cão Cérbero são de domínio público. Virgílio menciona suas três gargantas; Ovídio, seu tríplice latido; Butler comparas as três coroas da tiara da roupa do papa, que é porteiro do céu, com as três cabeças do cão que é porteiro dos infernos (Hudibras, IV, 2). Dante empresta-lhe características humanas que agravam sua índole infernal barba imunda e negra, mãos com grandes unhas, que desgarram, em meio à chuva, as almas do réprobos. Morde, ladra e mostra os dentes.
Obrigar o cão Cérbero a mostrar-se a luz do dia foi o último dos trabalhos de Hércules. Um escritor inglês do século XVIII, Zachary Grey, interpreta assim a aventura:
"Esse cão com três cabeças denota o passado, o presente e o futuro, que recebem e, por assim dizer, devoram todas as coisas. Que tenha sido vencido por Hércules prova que as ações heróicas são vitoriosas sobre o tempo e subsistem na memória da posteridade."
Segundo os texto mais antigos, o cão Cérbero saúda com o rabo (que é uma serpente) os que entram no inferno e devora os que procuram sair. Uma tradição posterior o faz morder os que chegam; para apaziguá-lo era costume por no ataúde um torta de mel.
Na mitologia escandinava, um cão ensangüentado, Garmr, guarda a casa dos mortos e lutará com os deuses quando os lobos infernais devorarem a Lua e o Sol. Alguns lhe atribuem quatro olhos; quatro olhos tem também os cães de Yama, deus bramânico da morte.
O bramanismo e o budismo contam com infernos de cães, que, a semelhança do Cérbero dantesco, são verdugos das almas.
Mesmo assim, cachorros são uns bobões/babões legais! Ainda continuo com a idéia do Jabu (o bobão) e do Malcolm X (o espertão).
Muita Paz!
Tempos atrás fiz um post sobre o livro do escritor norte-americano William Burrough (1914-1997) The Cat Inside (leia AQUI) e transcrevi uma parte do texto no qual Burrough tece suas comparações entre gatos e cachorros. Apesar de afirmar não odiar cachorros, ele é categórico em defender que os homens transferem suas qualidades para os cachorros e esses animais acabam sendo o veículo do seu ódio, nas palavras do autor: "A dog's rage is not his. It is dictated by his trainer."
Na literatura, Burroughs não está sozinho na categoria "admirador de gatos e detrator de cachorros." O argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) é outro escritor que vivia cercado de gatos e dedica uma passagem de seu O Livro dos Seres Imaginários (1967), que transcrevo abaixo, a descrever um cachorrinho bastante peculiar com o refinado humor típico de Borges (foto abaixo):
o cão cérbero
Se o inferno é uma casa, a casa de Hades, é natural que um cão a guarde; também é natural que esse cão seja imaginado como atroz. A Teogonia de Hesíodo lhe atribui cinqüenta cabeças; para maior comodidade das artes plásticas, esse número foi reduzido, e as três cabeças do cão Cérbero são de domínio público. Virgílio menciona suas três gargantas; Ovídio, seu tríplice latido; Butler comparas as três coroas da tiara da roupa do papa, que é porteiro do céu, com as três cabeças do cão que é porteiro dos infernos (Hudibras, IV, 2). Dante empresta-lhe características humanas que agravam sua índole infernal barba imunda e negra, mãos com grandes unhas, que desgarram, em meio à chuva, as almas do réprobos. Morde, ladra e mostra os dentes.
Obrigar o cão Cérbero a mostrar-se a luz do dia foi o último dos trabalhos de Hércules. Um escritor inglês do século XVIII, Zachary Grey, interpreta assim a aventura:
"Esse cão com três cabeças denota o passado, o presente e o futuro, que recebem e, por assim dizer, devoram todas as coisas. Que tenha sido vencido por Hércules prova que as ações heróicas são vitoriosas sobre o tempo e subsistem na memória da posteridade."
Segundo os texto mais antigos, o cão Cérbero saúda com o rabo (que é uma serpente) os que entram no inferno e devora os que procuram sair. Uma tradição posterior o faz morder os que chegam; para apaziguá-lo era costume por no ataúde um torta de mel.
Na mitologia escandinava, um cão ensangüentado, Garmr, guarda a casa dos mortos e lutará com os deuses quando os lobos infernais devorarem a Lua e o Sol. Alguns lhe atribuem quatro olhos; quatro olhos tem também os cães de Yama, deus bramânico da morte.
O bramanismo e o budismo contam com infernos de cães, que, a semelhança do Cérbero dantesco, são verdugos das almas.
Mesmo assim, cachorros são uns bobões/babões legais! Ainda continuo com a idéia do Jabu (o bobão) e do Malcolm X (o espertão).
Muita Paz!
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Da Série "Santos": 2 - São Benedito, Tietê e "Jay Z"
Há várias versões sobre a história de vida desse santo preto conhecido por vários nomes como Benê, Dito, Ditinho, Ditão ou Nego Dito e que é cultuado em várias partes do Brasil. São Benedito é pop! Há versões que contam que Benê era um negrão correria na Itália, para onde teria ido para jogar futebol na Internacional de Milão, que se converteu a vida religiosa e virou o cozinheiro de um convento. Sua especialidade era uma feijoada light com caipirinha e que todo sábado era acompanhada por um grupo de pagode que levava o nome de Diretoria de Benê (detalhe Benê mandava ver no reco reco puxando o samba!). Outra versão diz que São Benedito era um hustler morando numa project house do Brooklyn e que resolveu parar com as trambicagens depois que ouviu o chamado de Deus e passou a dedicar sua vida cozinhando soul food que era servida gratuitamente nas quebradas de Bed-Stuy!
(Soul food que Benê preparava em Bed-Stuy)
Outra versão que contam por aí é que Benê era filho de Cristovam Manasseri e Diana Larcan, negros de origem etíope descendentes de escravos. O pai fora cativo de um rico senhor na Itália, Vicente Manasseri, enquanto a mãe havia sido libertada por um cavalheiro da Casa de Lanza ou Larcan. Nosso futuro santinho nasceu livre na Itália em 1524 e foi batizado com o nome de Benedito cuja significado é bendito, abençoado. O casal ainda teve outr@s filh@s: Marcos, Baldassara e Fradella. O primeiro rebento do casal foi pastor de ovelhas e fez outros trabalhos até os 21 anos quando conheceu por acaso Frei Jerônimo Lanza que havia fundado a ordem dos Irmãos Eremitas Franciscanos, na qual os membros faziam votos de pobreza, jejuavam três dias por semana e mendigavam. Benê se juntou a essa ordem pela sua fé e permaneceu nela até 1562 quando entraria para a Ordem dos Franciscanos Menores Reformados e foi para o Convento de Santa Maria di Gesú, próximo a cidade de Palermo. Seu primeiro ofício no convento foi de cozinheiro, onde rolaram, segundo consta, as primeiras graças: certo dia a carne para o rango do convento chegou atrasada e os frades começaram reclamar e pedir a comida. Benê disse que a carne estava no fogo, mas que iria verificar e acelerar o processo. Quando foi checar a carne a mesma estava temperada, cozida e pronta (santo de negrão é firmeza total, já começa fazendo milagre com comida! Só falta o vinhozinho, tá ligado? Transformar o Chapinha num Bordeaux IX, safra de 1851). Benê também era um "hustler" nato, pois, mesmo sem saber ler e escrever, chegou a superior no convento administrando toda a parada sozinho. Nosso santo sangue bão faleceu em 4 de 1589 com 65 anos de idade depois de, pelo consta no registro de sua beatificação, ter realizado vários milagres. Seu corpo encontra-se exposto numa urna mortuária que pode ser visitada na igreja de Santa Maria em Palermo, Itália.
Sejam essas histórias verídicas ou não (o que você acha?), a verdade é que as festas que ocorrem em homenagem a esse santo no Brasil geralmente são regadas com muitos comes, bebes e uma batucadinha! Uma das mais famosas delas acontece sempre no último domingo do mês de setembro na cidade de Tietê, interior do estado de São Paulo. Como estou com preguiça de descrever a festa, remeto @s leitore/as desse post ao texto de minha amiga antropóloga Jaqueline Santos, que descreve muito bem a parada no Blog da Preta (clique AQUI). Pois é, mas que saudade da Festa de São Benedito lá de Tietê, hein?! Tomei muita pinga e beijei muitas pretas beiçudas nessa festa que sempre rola debaixo de um sol de rachar mamona.
(Vandão e Flávião "Jay Z", protagonistas da história abaixo!!!)
Vai vendo a cena: seis horas da manhã de domingo e a negraiada fazendo samba e bebendo cerveja na beira do rio enquanto ônibus cheios de maloqueiros e senhoritas prendadas nas suas melhores (e curtas!) vestes não param de chegar na cidade. Dá-lhe Tietê e salve São Benedito! Teve um ano que dormi bêbado na praça e perdi minha carona de volta pra Piracicaba. Essa festa não é pra amadores não, mano! Num outro ano (acho que 2001), meu truta Flávio "Jay Z" Francisco fez sua estréia na festa. Tanto ele como Vando, meu outro parceiro de pinga e discussões intelectuais, nunca haviam ido na festa e à época fazíamos parte do Dez Vezes Dez, um projeto de formação de pesquisadores na USP. No dia seguinte a festa deveríamos estar no Rio de Janeiro onde participaríamos naquela semana de um curso e seminário. Sendo assim, voltaríamos para São Paulo no domingo à noite e já embarcaríamos num busão em direção a Cidade Maravilhosa. Bem, a trumpe toda conseguiu voltar para SP e pegar o borracha em direção ao Rio com exceção de Jay Z que desapareceu minutos antes do horário combinado para o retorno. No dia seguinte já estavamos no Rio por 12 horas com mais de 24 horas sem notícias do negrão. Tal qual não foi nossa surpresa ao chegar num seminário que iríamos participar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e nos depararmos com Jay Z sentado na platéia com a mesma roupa que havia ido para a festa no dia anterior e com cara de ressaca. História surreal: o negrão tomou todas, dormiu numa cadeira de boteco, perdeu o busão de nossa excursão e acabou dormindo por Tietê mesmo. Voltou pra SP na segunda e nem passou na casa dos pais, mas foi direto pra sua agência bancária, retirou dinheiro e logo em seguida se dirigiu a Congonhas onde embarcou num avião em direção ao Rio (detalhe: Jay Z nunca havia viajado de avião) sem ter qualquer tipo de informação de onde estávamos. Ao chegar no aeroporto por sorte viu um cartaz que anunciava um seminário sobre cotas e solicitou a um taxista que o levasse aquele endereço. Já que pouca desgraça é bobagem, o táxi ainda quebrou a algumas quadras da UERJ e Jay Z teve que fazer o resto do percurso até a universidade, que fica ao lado do Maracanã, a pé.
Enfim, a festa de Benê em Tietê não é para amadores, mano!!!
Muita Paz!
domingo, 5 de dezembro de 2010
Finals em Ritmo de Jazz e Cornel West!
Queridas pessoas leitoras desse caderno eletrônico de anotações... Venho informar que ficarei ausente pelas próximas semanas. Motivo: final de semestre. Papers a fazer e muitas, muitas coisas para ler e ter idéias geniais, geniosas ou genitais... Whatever, tudo acaba nos genitais mesmo! De minha parte, além de um recesso do inbrog abandonarei o Facebook por algumas semanas e apenas tuitarei as notícias que ler e achar interessante.
Para aguentar o ritmo de fechamento, que esse semestre está todo zoado, e criar motivação estou ouvindo meus Coltranes, Miles e Mingus além de minhas Holidays, Fitzgeralds e Simones. Jazz para para esquentar meu coração e do frio que já bate a casa do zero. Entre uma leitura sociólogica chata, estéril e sem gosto vou devorando um livro que altamente recomendo à tod@s: Brother West: Living and Loving Out Loud, A Memoir, a deliciosa biografia do filósofo afro-americano Cornel West (foto/pintura acima e um cara fenomenal que consegue juntar Marx, Platão, Jesus, James Brown, Black Phanters Party e voodoo). É dele a frase com que fecho esse post além da linda música de John Coltrane e Johnny Hartman nessa maravilhosa parceria: "I'm a Christian bluesman in the life of mind and a Christian jazzman in the world of ideas."
Muita Paz e até dia 24 de dezembro, data em que volto a escrever por aqui!
Para aguentar o ritmo de fechamento, que esse semestre está todo zoado, e criar motivação estou ouvindo meus Coltranes, Miles e Mingus além de minhas Holidays, Fitzgeralds e Simones. Jazz para para esquentar meu coração e do frio que já bate a casa do zero. Entre uma leitura sociólogica chata, estéril e sem gosto vou devorando um livro que altamente recomendo à tod@s: Brother West: Living and Loving Out Loud, A Memoir, a deliciosa biografia do filósofo afro-americano Cornel West (foto/pintura acima e um cara fenomenal que consegue juntar Marx, Platão, Jesus, James Brown, Black Phanters Party e voodoo). É dele a frase com que fecho esse post além da linda música de John Coltrane e Johnny Hartman nessa maravilhosa parceria: "I'm a Christian bluesman in the life of mind and a Christian jazzman in the world of ideas."
Muita Paz e até dia 24 de dezembro, data em que volto a escrever por aqui!
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Os Últimos Dias Desse Blog!
Estive pensando e cheguei a conclusão/decisão que esse blog está em contagem regressiva para sair do ar. Sim, já decidi que o empreendimento aqui acaba logo após o término do doutorado. A razão? Simples. Provavelmente, depois de terminar essa nhaca de PhD me tornarei um professor doutor (que só tem de bonito o título!) sanguinário que assustará os alunos de graduação logo no primeiro dia de aula dizendo que pouquíssimas pessoas já conseguiram sobreviver ao curso dele. Para legitimar minha malvadeza não posso ter um blog bunda mole como o NewYorKibe, né? Vamos e convenhamos... Sendo assim, já sabe: lá por 2013 ou 2014 essa merda aqui acaba e todos os textos somem do ar... :)
Aproveite para xingar e falar mal de mim enquanto é tempo! :)
Muita Paz...
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
20 de Novembro na Gringa!
Ser negrão brasileiro e passar o 20 de novembro no exterior é um saco! Meu último Dia da Consciência Negra no Brasil foi há exatos 3 anos atrás. Levantei cedo, tomei café com a primeira dama na padaria perto do muquifo que morávamos, li o Estadão (na época ele não tava tão reaça, só um pouquinho!) e no início da tarde fomos à passeata que sempre rola na Avenida Paulista. Tava um calorzinho gostoso, típico de novembro, propício para tomar um chopp e comer uma feijoada no meu restaurante predileto no centro de São Paulo, o Marajá. E foi justamente o que fizemos depois de caminhar pela Paulista e descer a Consolação com a negraiada! Pois bem, recordar é viver... As coisas são diferentes agora: New York Shit, frio (nesse exato momento faz 7 graus!), solteiro novamente e de saco cheio com a animação dos gringos pelo feriado chatérrimo do Thanksgiving (Dia de Ação de Graças) e pela Black Friday (sexta seguinte a esse feriado e dia em que todas as lojas fazem liquidação por aqui), coisas que rolam na próxima semana. Mas enfim, ainda volto pro Brasil para passar um feriadinho básico de 20 de novembro na minha querida Sampa tomando um chopp e comendo uma fejuca poderosa com meus/minhas trutas... Afinal, ser negrão/negrona é o que há!
Muita Paz, Muito Amor e que a Coisa Fique Preta Pra Todo Mundo Nesse Dia!
Muita Paz, Muito Amor e que a Coisa Fique Preta Pra Todo Mundo Nesse Dia!
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Seja um Homem Feminista, Porra!
O feminismo é constantemente atacado por homens e mulheres desinformados que se equivalem do estereótipo da mulher raivosa, neurótica e supostamente ansiosa por uma sociedade onde ocorra uma sujeição do gênero masculino em relação ao feminino. Mulheres feministas ainda são retratadas como mal-resolvidas, "mal-comidas" (horrível isso!) e inimigas dos homens. Nada mais equivocado! O feminismo, em sua mais simples acepção, busca apenas a equiparação das relações de gênero entre homens e mulheres. Pode não parecer, mas vivemos numa sociedade onde mulheres ainda ganham menos do que homens, são discriminadas e violentadas (de forma física, sexual e simbólica) cotidianamente e, por mais absurdo que pareça, mortas/assassinadas simplesmente por serem mulheres. Toda essa situação é mantida por uma mentalidade machista e misógina (desprezo em relação as mulheres) que informa a sociedade como um todo. É duro deixar de ser machista, eu mesmo me considero inserido num processo de reeducação em minhas relações com as mulheres. Entretanto, não é impossível mudar nosso comportamento como homens, basta querer e ter em mente que numa sociedade machista e desigual, tod@s são prejudicad@s!
A imagem abaixo foi retirada do blog Politika etc, de meu amigo, ex roommate e cientista político Raphael Neves. Achei a mesma interessante por conta da sua mensagem quebrar com a noção de que um homem feminista é menos homem por ser favorável ao igualitarismo de gênero. Se liga na fita: trate as mulheres com respeito e seja um homem de verdade, não um brucutu escroto e retrógrado!
Muita Paz e Muito Amor!
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Decoded by Jay-Z
Jay-Z manda mais uma de suas mega empresariais ações. Agora o multimilionário rapper quarentão que vai ser papai (todo mundo sabe que a negra grande dele, Beyoncé Knowles, está prenha, né?) está lançando uma espécie de biografia cujo título é Decoded (336 páginas, Spiegel and Grau Publishers, US$ 18.99). O livro conta com textos escritos por Jay-Z e fotos que ilustram a trajetória do cantor e magnata. O lançamento do livro ocorreu na última segunda-feira quando Jay-Z se reuniu com o filósofo Cornel West para um diálogo na biblioteca pública de New York City. Até pensei em aparecer no esquema e dar um alô brazuca para meus patrícios gringos, mas com o ingresso cotado a US$ 58 (mesmo para estudantes!) resolvi deixar o shout-out para outra ocasião. Tudo bem... Se você não teve a chance de ir ao evento por não estar na Big Apple ou não quis pagar as cinquenta e oito doletas (como foi o meu caso), ainda continua tendo a oportunidade de ver a parada via web (vídeo lá embaixão!). Mas achei mais interessante o vídeo em que ele explica o livro e está disponível no site do Amazon (clique AQUI para assistir, trutão/trutona!)
Por outro lado, é necessário colocar o livro de Jay-Z dentro do contexto do campo literário/histórico. O gênero biográfico é produto da sociedade moderna burguesa uma vez que ele é responsável por imortalizar a trajetória de um indivíduo. Basicamente, é com a modernidade burguesa (cuja gestação está localizada entre os séculos XVII, XIX e XIX) que conceitos como indivíduo, individualismo, privacidade, liberdade e autonomia surgem. Okay, aí você se pergunta: "mas o que essa porra toda tem haver com Jay-Z?" Simples, basta lembrar que a sociedade norte-americana na qual Shawn Core Carter (nome de pia do negrão!) vive nasceu como um rebento da sociedade burguesa o que resultou no desenvolvimento do capitalismo mais desenvolvido do mundo onde o invidualismo é um valor supremo. Jay-Z (e Lula também!) representa uma figura histórica que norte-americanos idolatram: o self-made man. Essa é histórica representação dos indivíduos que, por ações próprias, construíram o próprio caminho, saíram da base e chegaram ao topo da sociedade, realizaram o que foi e é exposto a todos os imigrantes que vieram e vem fazer a América como o grande diferencial desse país, ou seja, a idéia de que tudo aqui é possível e as chances de se realizar o American Dream são reais e acessíveis, basta trabalhar duro. A biografia de indivíduos bem sucedidos, no contexto norte-americano, fornece elementos empíricos para a confirmação de uma representação que é em parte ideológica (ideológico = fantasioso/falso/meia verdade).
Apesar do livro de Jay-Z expor sua história pessoal carregada em tons de contos de fada banhados por trabalho duro e uma grande dose e estratégia e visão empresarial, a realidade norte-americana para jovens pobres negros e latinos é muito mais cruel, como vários sociólogos tem mostrado em seus estudos: desigualdade social crescente, altos índices de encarceramento, mortalidade, incidência de doenças como HIV/AIDS etc etc e etc... Jigga, apelido do rapper, representa uma gota de sucesso em um mar de histórias que não vingaram. Mas não quero estragar a festa! Vale a pena ouvir Jay-Z e Cornel West conversando e notar como a trajetória desse músico pode representar um novo modelo de rapper, não necessariamente por ser rico e bem sucedido em seus negócios e sim por ter 41 anos e ser um afro-americano que manteve-se vivo, fora de problemas, ter constituído uma família, estar prestes a ser pai e saber lidar com o sucesso. This should be seen as success!
Divirta-se Assistindo o Vídeo (aqui está disponibilizado os primeiros 10 minutos/para assistir por inteiro clique "full program"), Muita Paz e Mantenha-se Fora de Encrencas assim como Jay-Z!
terça-feira, 16 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
90 Dias Com Catra
Bem interessante esse vídeo que está no YouTube e acompanha a trajetória do cantor de funk carioca Mr. Catra. A parada, segundo informações contidas no site, é um "episódio piloto produzido pela Mellin Vídeos // Grupo Sal para uma série de TV ainda sem canal para exibição". O que me chamou mais a atenção no documentário é como ele pode trazer reflexões sobre as interconexões entre raça, classe, sexualidade, gênero, música/entretenimento e identidade regional.
O funk carioca é, sem dúvida, uma das maiores expressões culturais e populares do Rio de Janeiro nos últimos 30 anos. Um filho meio que bastardo do Black Rio, movimento de Brazilian soul dos anos 1970, o funk carioca consegue personificar de forma incrível representações de sexualidade, classe, raça e regionalismos muito próprios da capital fluminense. Impossível para mim não estabelecer uma conexão (que alguns podem até achar forçada) entre Wilson Simonal e Mr. Catra. Simona, como era conhecido, cunhou o termo "pilantragem" para se referir ao seu estilo irônico e malandro. Obviamente, o termo trazia implícito noções/representações de sexualidade, já que o cantor se nutria do estereótipo do negrão conquistador/galanteador. As coisas mudaram bastante nos últimos quarenta anos e Mr. Catra, por sua vez, se diz adepto da "putaria", segundo ele, o "sexo com alegria" e é adepto de um estilo de vida hedonista através de um consumo conspícuo e relacionamentos múltiplos e abertos com várias mulheres. A sexualidade incorporada em Mr. Catra não deixa de nutrir noções negativas/homofóbicas sobre a homossexualidade, algo que pode ser visto na sua tentativa de diferenciação entre "viados" e "homossexuais". Enfim, é bastante coisa para se pensar! Assista o vídeo e entre na conversa...
De quebra assista o vídeo da canção Machuka (2010) do rapper norte-americano associado com o estilo dirty south Lil John que conta com a participação de Mr. Catra.
Agradeço a minha amiga Laura Moutinho pelo toque do vídeo.
Muita Paz!
O funk carioca é, sem dúvida, uma das maiores expressões culturais e populares do Rio de Janeiro nos últimos 30 anos. Um filho meio que bastardo do Black Rio, movimento de Brazilian soul dos anos 1970, o funk carioca consegue personificar de forma incrível representações de sexualidade, classe, raça e regionalismos muito próprios da capital fluminense. Impossível para mim não estabelecer uma conexão (que alguns podem até achar forçada) entre Wilson Simonal e Mr. Catra. Simona, como era conhecido, cunhou o termo "pilantragem" para se referir ao seu estilo irônico e malandro. Obviamente, o termo trazia implícito noções/representações de sexualidade, já que o cantor se nutria do estereótipo do negrão conquistador/galanteador. As coisas mudaram bastante nos últimos quarenta anos e Mr. Catra, por sua vez, se diz adepto da "putaria", segundo ele, o "sexo com alegria" e é adepto de um estilo de vida hedonista através de um consumo conspícuo e relacionamentos múltiplos e abertos com várias mulheres. A sexualidade incorporada em Mr. Catra não deixa de nutrir noções negativas/homofóbicas sobre a homossexualidade, algo que pode ser visto na sua tentativa de diferenciação entre "viados" e "homossexuais". Enfim, é bastante coisa para se pensar! Assista o vídeo e entre na conversa...
De quebra assista o vídeo da canção Machuka (2010) do rapper norte-americano associado com o estilo dirty south Lil John que conta com a participação de Mr. Catra.
Agradeço a minha amiga Laura Moutinho pelo toque do vídeo.
Muita Paz!
domingo, 14 de novembro de 2010
Umas Férias do Facebook e Twitter...
Sim, férias! Já descobri há mais de um ano que a melhor época para tirar férias das redes sociais é durante o período das finals (as duas semanas que antecedem o final do semestre escolar) aqui na gringa. Mas esse semestre acho que vou adiantar a parada. Fiquei, de uma hora pra outra, de saco cheio do Facebook e Twitter. Cansei das mudanças de status, quizzes, mensagens sem graça e outras paradas. Há questões pessoais de coisas que vem acontecendo com amig@s, mas não há necessidade de comentar esses fatos aqui.
Uso o Facebook (há uns quatro anos) e Twitter para manter contato com amig@s e divulgar o blog, mas de uns tempos pra cá tenho me injuriado com uma mudança no perfil e no uso dessas redes (ou talvez com a dinamização/aumento das minhas atividades nelas). Também não me refiro a debandada dos brasileiros que antes povoavam o Orkut em direção ao Facebook (isso já era previsto), mas acho que tô um pouco de saco cheio com o tempo gasto em coisas meio sem sentido. Pouca gente vem trocando/mandando links legais e a rede tem pegado aquele aspecto de passividade/privacidade com pessoas só atualizando status pessoais e outras variações do mesmo tema. Inclusive eu me pego fazendo isso muitas vezes. Nem vou entrar no assunto de demonstrações de preconceito, pois depois da polêmica em relação aos nordestinos e as mensagens escrotas que circularam na rede após a eleição de Dilma ficou claro como muitas pessoas ainda não tem a mínima de noção de que a Internet é, de certa forma, uma extensão do espaço público. É por isso que decidi que Facebook e Twitter terão pouco espaço no meu MacExu e no iKibePhone (nesse último estou pensando seriamente em desinstalar os aplicativos) nas próximas semanas. O Yogurt, como todos sabem, já faleceu! Só entro lá para apagar os zilhões de scraps de festas e eventos, mas que (por razões óbvias!) não posso ir.
Yes sir, é hora de voltar as algumas coisas muito básicas como ler um bom romance, revistas decentes, meus textos sociológicos chatos e gastar menos tempo na web. O blog continua, na medida do possível escrevo por aqui.
Muita Paz!
PS: em tempo, agradeço a tod@s que mandaram um alô no meu aniversário, dia 8 de novembro. Comemorei de uma forma bem peculiar dentro de um busão voltando de Boston debaixo de uma baita friaca. Life goes on!
Uso o Facebook (há uns quatro anos) e Twitter para manter contato com amig@s e divulgar o blog, mas de uns tempos pra cá tenho me injuriado com uma mudança no perfil e no uso dessas redes (ou talvez com a dinamização/aumento das minhas atividades nelas). Também não me refiro a debandada dos brasileiros que antes povoavam o Orkut em direção ao Facebook (isso já era previsto), mas acho que tô um pouco de saco cheio com o tempo gasto em coisas meio sem sentido. Pouca gente vem trocando/mandando links legais e a rede tem pegado aquele aspecto de passividade/privacidade com pessoas só atualizando status pessoais e outras variações do mesmo tema. Inclusive eu me pego fazendo isso muitas vezes. Nem vou entrar no assunto de demonstrações de preconceito, pois depois da polêmica em relação aos nordestinos e as mensagens escrotas que circularam na rede após a eleição de Dilma ficou claro como muitas pessoas ainda não tem a mínima de noção de que a Internet é, de certa forma, uma extensão do espaço público. É por isso que decidi que Facebook e Twitter terão pouco espaço no meu MacExu e no iKibePhone (nesse último estou pensando seriamente em desinstalar os aplicativos) nas próximas semanas. O Yogurt, como todos sabem, já faleceu! Só entro lá para apagar os zilhões de scraps de festas e eventos, mas que (por razões óbvias!) não posso ir.
Yes sir, é hora de voltar as algumas coisas muito básicas como ler um bom romance, revistas decentes, meus textos sociológicos chatos e gastar menos tempo na web. O blog continua, na medida do possível escrevo por aqui.
Muita Paz!
PS: em tempo, agradeço a tod@s que mandaram um alô no meu aniversário, dia 8 de novembro. Comemorei de uma forma bem peculiar dentro de um busão voltando de Boston debaixo de uma baita friaca. Life goes on!
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Hip-Hop: The Golden Era!
Os anos 1980 e parte dos 1990 são conhecidos dentro do hip-hop como a "golden era". Sim, boa música, diversão, tretas, batidas, canções e bandas que ficaram clássicas. Um das minhas bandas prediletas é Digable Planets. Por que? Simples: real hip-hop de New York, Brooklyn, com uma pitada de jazz e estilo! Ainda de quebra tinha a charmosa da Mary Ann Viera, a.k.a Ladybug Mecca (foto abaixo), primeira rapper brasileira de projeção internacional! Ladybug é filha de uma cantora e um músico de jazz brasileiros que migraram para os EUA. Molecada que gosta de Lil Wayne, Drake e a merda do Soulja Boy vai pensando aí na viagem desses videoclipes...
Digable Planets é minha viagem! Sempre que os ouço em meu iPod viajando de trem por NYC custo a acreditar que moro nessa merda chamada Big Apple...
Tentei disponibilizar o vídeo de Rebirth of Slick (Cool Like Dat), a clássica canção do primeiro disco, aqui mas o babaca que possui o clipe no YouTube não disponibilizou o embed code (assista AQUI mesmo assim, vale a pena!). Segue abaixo os vídeos de Where I'm From, do primeiro álbum, e 9th Wonder (Blackitolism), do segundo álbum. Sinta a sofisticação dos trutas!
Muitaz Paizis!
Digable Planets é minha viagem! Sempre que os ouço em meu iPod viajando de trem por NYC custo a acreditar que moro nessa merda chamada Big Apple...
Tentei disponibilizar o vídeo de Rebirth of Slick (Cool Like Dat), a clássica canção do primeiro disco, aqui mas o babaca que possui o clipe no YouTube não disponibilizou o embed code (assista AQUI mesmo assim, vale a pena!). Segue abaixo os vídeos de Where I'm From, do primeiro álbum, e 9th Wonder (Blackitolism), do segundo álbum. Sinta a sofisticação dos trutas!
Muitaz Paizis!
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
domingo, 31 de outubro de 2010
Quando o Tema é Aborto...
Hoje é Halloween nos EUA e tem eleição presidencial no Brasil. O debate nas semanas anteriores ao segundo turno acabou resvalando para a discussão sobre o aborto. É positivo que os candidatos discutam essa tema polêmico e controvertido, mas não da forma como tem se dado. Deixo de antemão avisado que esse blog é a favor da legalização do aborto. Ninguém tem o direito de decidir sobre o corpo de uma mulher senão ela própria. O texto que segue é de autoria de minha Francirosy Ferreira (foto abaixo): antropóloga, professora do Departamento de Psicologia da USP (campus Ribeirão Preto) e pesquisadora de comunidades muçulmanas. Saiba mais sobre a moça visitando a página pessoal dela AQUI O artigo foi originalmente publicado no Jornal da USP de Ribeirão Preto, n. 993, dia 25 de Outubro, de 2010. Leiam e discutam!
Muita Paz!
Anti Anti-Relativismo: Política, Religião e Saúde Pública, Quando o Tema é o Aborto
Francirosy Ferreira
O texto da aula de antropologia "Anti anti-relativismo" do antropólogo americano Clifford Geertz, que debati com os meus alunos de psicologia recentemente veio a calhar na discussão da semana que mistura política, religião e saúde pública: a questão do aborto.
Votar ou não votar em um candidato que é a favor do aborto? Será mesmo que esta é questão a ser colocada? Geertz escreve: "Aqueles de nós que nos opomos ao aumento das restrições legais ao aborto não somos, pelo o que eu entendo, pró-aborto, no sentido de o considerar uma coisa maravilhosa e achar que, quanto maior o índice de abortos, maior será o bem-estar social; somos 'anti-anti-pró-aborto', por razões bem diferentes, que não preciso enumerar?"
Portanto, não se trata de ser contra ou a favor do aborto, pois nenhum dos dois candidatos tem poder suficiente para implementar qualquer lei, sem a participação do Congresso e do Senado e, quiçá, da sociedade. Trata-se de uma questão de ética privada e simultaneamente de saúde pública. Atualmente a legislação brasileira prevê a prática do aborto em duas situações: quando há risco à vida da mulher (o chamado "aborto necessário") e/ou quando a gravidez resulta de estupro. Isto não quer dizer que basta mencionar que houve estupro ou que a mulher corre risco de vida. Ela tem que se submeter a inúmeras entrevistas com especialistas, exames médicos, etc. Tudo para consubstanciar o referido pedido.
Uma pesquisa nacional coordenada pela antropóloga Débora Diniz (UNB e Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero) e por Marcelo Medeiros (UNB, Anis), pergunta: Você já fez Aborto? Foram entrevistadas 2002 mulheres alfabetizadas, com idade entre 18 e 39 anos em 2010. Constatou-se que ao completar 40 anos cerca de uma em cada cinco (mais exatamente 22%) das mulheres já fez um abordo. Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorrem ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas ao aborto.
Construir superficialmente um debate contra ou a favor, é colocar por debaixo do tapete um tema caro à saúde da mulher e às questões de gênero. Novamente as mulheres não são ouvidas. Religiosos (interessante lembrar que são religiosos homens - padres e pastores - que se manifestam publicamente e não mulheres) e políticos opinam (igualmente são os homens que tomam a palavra), mas se esquecem a quem realmente interessa esta questão: A Mulher!
Se o tema é de fórum íntimo, cada pessoa deve poder decidir a partir do que acredita o que é melhor para si, mas é também, um tema que deve ser tratado no âmbito da saúde pública. A pesquisa de Diniz e Medeiros revela que boa parte das mulheres que já fizeram aborto se dizem católicas, evangélicas, etc. O fato de ser proibido pela religião católica e evangélica e pela lei não impede as mulheres de abortarem. A diferença é que as de classe média podem pagar clínicas de melhor qualidade e as mulheres pobres se submetem a procedimentos que colocam sua vida em risco.
Os candidatos à presidência apregoam um "novo discurso" para poderem ser eleitos, juntam-se ao discurso moralizante, acalorado pelas posições da igreja que até podem ser legítimas do ponto de vista da crença deles, mas o que está em jogo é a eleição de um presidente que deve ter uma visão muito mais ampla da sociedade e não usar um tema tão sério como moeda de troca de votos. Vale ainda lembrar que há muito tempo existe no Brasil a separação entre Estado e Igreja. O Estado no Brasil é laico e assim deve continuar. Ao colocar a Igreja determinando o Estado a sociedade caminha em sentido inverso ao das políticas públicas que pensam a saúde da mulher.
O candidato José Serra quando foi ministro da saúde em 1998, assinou norma técnica que orienta método de aborto em casos de estupro, mas em sabatina realizada pela Folha de São Paulo em 2002, lembrou que foi "muito atacado por isso". Hoje nega veemente aprovar o aborto. A candidata Dilma Rousseff é outra que se sentiu prejudicada nos votos obtidos no primeiro turno, por conta de supostamente defender o aborto. Em vários depoimentos dados à imprensa podemos constatar que a candidata não aprova a pratica, assim como o presidente da República. Ambos relativizam suas posições para angariarem votos, mas se esquecem das mulheres...
É fundamental neste momento não nos restringirmos a verdades caseiras, como bem, alerta Geertz, e pensarmos mais amplamente os problemas que afetam as mulheres. É fundamental nos sensibilizarmos com a situação que está posta, caso contrário, o melhor mesmo é ficar em casa.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Cornel West e Carl Dix Hoje no Harlem
Caso você esteja por NYC nessa sexta-feira, 29/10, não perca o debate ao lado que acontecerá entre Cornel West e Carl Dix no Harlem (rua 135, auditório da City College of New York).
Abaixo, videozinho do último encontro dos dois ocorrido em julho do ano passado.
Mais informações sobre o evento clique AQUI
Muita Paz!
Abaixo, videozinho do último encontro dos dois ocorrido em julho do ano passado.
Mais informações sobre o evento clique AQUI
Muita Paz!
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Dá-lhe Leci!
Tiririca foi o candidato a deputado federal mais votado nas eleições de 2010 com 1 milhão e 300 mil votos. Esse fato causou desde risos a decepção em certas pessoas, algumas críticas resvalaram o preconceito uma vez que o artista é analfabeto ou semi-analfabeto (na verdade, toda a polêmica atual sobre a sua elegibilidade gira em torno desse ponto), nordestino e oriundo das classes populares. De minha parte, não votaria em Tiririca (estou em New York City e justifiquei meu voto). Faria isso não pela pessoa que ele é ou por conta sua profissão e origem, mas por outros motivos. O principal seria relativado ao discurso utilizado na sua campanha o qual desqualificava a política em si ("Vote em Tiririca, pior que tá não fica!"). Contudo, é preciso fazer uma análise mais minuciosa do que a presença de figuras famosas e geralmente relacionadas ao mundo artístico e do entretenimento tem significado para a vida política e pública do Brasil. Adoraria ler uma tese de mestrado ou tese de doutorado que acompanhasse a trajetória política de cantores como Frank Aguiar e Aguinaldo Timóteo e, futuramente, do palhaço Tiririca.
Por outro lado, fiquei muito contente ao saber que Leci Brandão, sambista e personalidade engajada em várias causas políticas, foi eleita deputada estadual em São Paulo pelo PC do B. Acho que essa é uma vitória conjunta para a população negra, as mulheres e o samba. Assista AQUI um vídeo em que a cantora é entrevistada por jornalistas do Estadão.
Dá-lhe Leci!
Muita Paz e ótima semana para tod@s!
domingo, 24 de outubro de 2010
VotoSerraPq!
Vejam o ótimo vídeo de estímulo/apoio a campanha do candidato a presidência do Brasil, José Serra, que está circulando pela web. Eu peguei o mesmo no profile do Facebook de meu amigo de USP, Túlio Custódio.
VotoSerraPq!
Muita Paz!
sábado, 23 de outubro de 2010
Da Série "Santos": 1- Santo Antonio!
E aí vai uma simpatia de Santo Antonio para arranjar namorad@. Pegue na imagem do Santo Antonio e fale com ele. Diga-lhe que enquanto ele não lhe arranjar um@ namorad@ ele ficará no frigorífico, se demorar que irá para o congelador. Retire-o de lá quando o seu amor lhe bater à porta.
Carai, isso é simpatia ou tortura da C.I.A. em Guantanamo Bay? :)
Carai, isso é simpatia ou tortura da C.I.A. em Guantanamo Bay? :)
Muita Paz!
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Vai um Cabelinho Ruim Aí?
Well, o bicho anda pegando por aqui! Zilhões de coisas pra fazer, poucas horas de sono, minha renite/sinusite voltou devido a queda de temperatura, sem tempo de ir a academia combater o crescimento exponencial de minha barriga, mas a vida continua. O semestre tá osso, como dizem em Sampa!
Quero também pedir desculpas por não ter respondido aos comentários dos últimos posts do blog. Problemas técnicos, pessoal! Entretanto, logo logo volto a escrevinhar minhas impressões por lá.
E o assunto de hoje é cabelo! Já perdi a conta de posts aqui do inbrog que passam pela temática estética, mas tenho a impressão que esse é um tópico crucial quando lidamos com um tipo racismo - o brasileiro - no qual a questão da aparência é central. Cor de pele, formato de boca e nariz e textura do cabelo são elementos fenotípicos que constroem proximidade ou distanciamento, desejo ou repugnância e por aí vai. Muita gente me pediu para fazer um post sobre o filme do comediante afro-americano Chris Rock intitulado Good Hair (2009). Confesso que ainda não tive tempo de assistir, mas já discuti o filme com várias pessoas que o fizeram e as resenhas e posts sobre o filme abundam aí na rede.
Mas tô aqui na verdade pra mostrar um outro videozinho. Ele foi postado por minha amiga Twylla Rocha no Facebook ontem e dá uma boa noção de como as pessoas em geral encaram o cabelo crespo. Detalhe: estamos falando de gente comum, não de sociólogos (como eu), psicólogos, antropólogos e ativistas que tem treinamento e formação na área de relações raciais. O quadro é meio triste, mas evidencia um ângulo bastante real da parada.
Muita Paz!
Quero também pedir desculpas por não ter respondido aos comentários dos últimos posts do blog. Problemas técnicos, pessoal! Entretanto, logo logo volto a escrevinhar minhas impressões por lá.
E o assunto de hoje é cabelo! Já perdi a conta de posts aqui do inbrog que passam pela temática estética, mas tenho a impressão que esse é um tópico crucial quando lidamos com um tipo racismo - o brasileiro - no qual a questão da aparência é central. Cor de pele, formato de boca e nariz e textura do cabelo são elementos fenotípicos que constroem proximidade ou distanciamento, desejo ou repugnância e por aí vai. Muita gente me pediu para fazer um post sobre o filme do comediante afro-americano Chris Rock intitulado Good Hair (2009). Confesso que ainda não tive tempo de assistir, mas já discuti o filme com várias pessoas que o fizeram e as resenhas e posts sobre o filme abundam aí na rede.
Mas tô aqui na verdade pra mostrar um outro videozinho. Ele foi postado por minha amiga Twylla Rocha no Facebook ontem e dá uma boa noção de como as pessoas em geral encaram o cabelo crespo. Detalhe: estamos falando de gente comum, não de sociólogos (como eu), psicólogos, antropólogos e ativistas que tem treinamento e formação na área de relações raciais. O quadro é meio triste, mas evidencia um ângulo bastante real da parada.
Muita Paz!
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
NYC Crime Map: o Mapa da Correria na Gringa!
Tenho escrito pouco aqui. Falta de tempo, como já devem saber. O semestre começou de vez e fica difícil conciliar as milhares de páginas pra ler com o grande prazer que sinto em redigir textos pro blog. Paciência, na medida do possível vou escrevendo. Muita coisa rolou nessas últimas semanas aqui em New York Shit. Teve até a passagem de um tornado pela cidade responsável por derrubar centenas de árvores e, se não me engano, matar uma pessoa. New York New York... I love this shit!
Pois bem, vamos ao que interessa! Uma das perguntas mais recorrentes que fazem para mim sobre minha experiência de viver aqui na gringa é sobre violência. Meus/minhas trutas brasileir@s são extremamente curiosos para saber como o bicho pega nas quebradas da Big Apple. Ironicamente, respondo que não sei da violência, pois como negrão que sou é mais comum as pessoas me verem como perpetrador de violência. Não acredita? Bem, isso é assunto para outro post. Entretanto, semana passada tive um encontro com minha orientadora para conversamos sobre a minha pesquisa e outros assuntos acadêmicos e lembrei de algo que há tempo queria postar aqui no blog e que havia visto no curso de sociologia urbana que ela ministrou ano passado. O barato se chama crime map, mas ele poderia ser traduzido, via bom maloquês paulistano, como o "mapa da correria". A propósito de esclarecimento, "correria" é um termo que envolve vários significados na linguagem de rua de São Paulo. Quando alguém afirma que "o mano é correria", se está fazendo alusão a que ele está envolvido em algum tipo de atividade que pode ser ilícita ou não. Aqui nos referimos a correria como crime!
O NYC Crime Map (clique AQUI para visitar a página) mostra online as estatísticas relacionadas ao crime em New York City e o local onde eles ocorreram. É possível ver quais o tipo de crime (entre roubos, assaltos, agressões, apreensão de drogas, tiroteios e homícidios) que ocorrem em toda a ilha de Manhattan e nos outros quatro boroughs (áreas administrativas) que juntos compõem NYC (na imagem abaixo Manhattan [1], Brooklyn [2], Queens [3], Bronx [4] e Staten Island [5]).
Essa iniciativa também pode ser considerada parte da política que ficou conhecida como tolerância zero e que teve início na administração do prefeito Rudolph Giuliani, mais conhecido como "Rudy", entre 1994 e 2001. O tolerância zero é elogiado por alguns e criticado por outros. Basicamente, essa política de segurança se baseia naquilo que ficou conhecido como broken windows theory. Explico-me! Em 1982, James Wilson e George Kelling escreveram um influente artigo para a a revista The Atlantic (leia o esquema clicando AQUI) defendendo a idéia de que o combate a desordens vistas como menores (mendicância, não pagar metrô pulando a catraca, prostituição, urinar em via pública, etc.) e sinais de negligência no ambiente urbano (janelas quebradas, paredes e muros pixados/grafitados além de lixo) poderiam fazer uma significativa diferença no combate a crimes mais sérios. Acadêmicos e elaboradores de políticas públicas defendem que o ensaio catalizou uma revolução nas políticas urbanas de cidades européias e norte-americanas. No caso da Big Apple houve uma reestruturação da polícia novaiorquina com aumento do efetivo, combate a policiais corruptos e maior repressão a todo tipo de crime na cidade como um todo pari a passu ao estabelecimento de um processo de gentrification em diversas partes da cidade que substituía moradores pobres e diversificados do ponto de vista étnico/racial por outros majoritariamente brancos e oriundos das classes alta e média.
O resultado geral foi um queda considerável do índice de criminalidade em NYC, uma espécie de limpeza (étnica/racial e no que diz aos prédios reformados e livres de pixo/grafite) do aparelho urbano e um aumento na sensação de segurança dos indíviduos. Entretanto, críticos afirmam que a maneira como o tolerância zero funciona tende a penalizar comunidades pobres constituídas majoritariamente por negros e latinos, violar direitos individuais de privacidade (no caso de câmeras de vigilância instaladas em diversas áreas da cidade), expulsão/retirada da população de rua de áreas consideradas nobres além da privatização de áreas públicas como parques e praças (ver o famoso caso do Bryant Park em Midtown, Manhattan). Loïc Wacquant, sociólogo francês e professor na University of California at Berkeley, afirma que o tolerância zero se enquadra dentro de uma lógica neoliberal de administrar a pobreza pelo estado. Assim sendo, o estado que antes se caracterizava como um welfare state, ou seja, fornecendo um mínino de renda, bem estar e assistência aos mais pobres, tende a atuar agora como um penal state onde políticas de bem estar são retiradas e em seu lugar passa a ocorrer um grande investimento no aumento dos efetivos policiais e presídios que visam administrar a pobreza do capitalismo tardio ou a "marginalidade avançada" nos termos do autor (caso tenha interesse leia Urban Outcasts [2007] cuja tradução para o português leva o título de As Duas Faces do Gueto).
Manhattan é um lugar seguro. Você presencia coisas que são totalmente impensáveis para uma cidade como São Paulo como gente usando seu laptop ou iPad no metrô, turistas ou moradores locais carregando e usando câmeras fotográficas/vídeo profissionais ou semi-profissionais caríssimas na rua além de ser perfeitamente possível caminhar pela cidade de madrugada sem ter a mesma sensação de medo que aflige a maioria dos paulistanos e outros moradores de outras grandes e médias cidades no Brasil. Entretanto, esse clima de tranquilidade se restringe a ilha de Manhattan e é necessário saber qual o preço que se paga por essa segurança. Os números que apontam os Estados Unidos como contendo a maior população carcerária do mundo além da suprarepresentação nesse universo carcerário de negros e latinos são sintomáticos de algo, não?
Muita Paz!
Pois bem, vamos ao que interessa! Uma das perguntas mais recorrentes que fazem para mim sobre minha experiência de viver aqui na gringa é sobre violência. Meus/minhas trutas brasileir@s são extremamente curiosos para saber como o bicho pega nas quebradas da Big Apple. Ironicamente, respondo que não sei da violência, pois como negrão que sou é mais comum as pessoas me verem como perpetrador de violência. Não acredita? Bem, isso é assunto para outro post. Entretanto, semana passada tive um encontro com minha orientadora para conversamos sobre a minha pesquisa e outros assuntos acadêmicos e lembrei de algo que há tempo queria postar aqui no blog e que havia visto no curso de sociologia urbana que ela ministrou ano passado. O barato se chama crime map, mas ele poderia ser traduzido, via bom maloquês paulistano, como o "mapa da correria". A propósito de esclarecimento, "correria" é um termo que envolve vários significados na linguagem de rua de São Paulo. Quando alguém afirma que "o mano é correria", se está fazendo alusão a que ele está envolvido em algum tipo de atividade que pode ser ilícita ou não. Aqui nos referimos a correria como crime!
O NYC Crime Map (clique AQUI para visitar a página) mostra online as estatísticas relacionadas ao crime em New York City e o local onde eles ocorreram. É possível ver quais o tipo de crime (entre roubos, assaltos, agressões, apreensão de drogas, tiroteios e homícidios) que ocorrem em toda a ilha de Manhattan e nos outros quatro boroughs (áreas administrativas) que juntos compõem NYC (na imagem abaixo Manhattan [1], Brooklyn [2], Queens [3], Bronx [4] e Staten Island [5]).
Essa iniciativa também pode ser considerada parte da política que ficou conhecida como tolerância zero e que teve início na administração do prefeito Rudolph Giuliani, mais conhecido como "Rudy", entre 1994 e 2001. O tolerância zero é elogiado por alguns e criticado por outros. Basicamente, essa política de segurança se baseia naquilo que ficou conhecido como broken windows theory. Explico-me! Em 1982, James Wilson e George Kelling escreveram um influente artigo para a a revista The Atlantic (leia o esquema clicando AQUI) defendendo a idéia de que o combate a desordens vistas como menores (mendicância, não pagar metrô pulando a catraca, prostituição, urinar em via pública, etc.) e sinais de negligência no ambiente urbano (janelas quebradas, paredes e muros pixados/grafitados além de lixo) poderiam fazer uma significativa diferença no combate a crimes mais sérios. Acadêmicos e elaboradores de políticas públicas defendem que o ensaio catalizou uma revolução nas políticas urbanas de cidades européias e norte-americanas. No caso da Big Apple houve uma reestruturação da polícia novaiorquina com aumento do efetivo, combate a policiais corruptos e maior repressão a todo tipo de crime na cidade como um todo pari a passu ao estabelecimento de um processo de gentrification em diversas partes da cidade que substituía moradores pobres e diversificados do ponto de vista étnico/racial por outros majoritariamente brancos e oriundos das classes alta e média.
O resultado geral foi um queda considerável do índice de criminalidade em NYC, uma espécie de limpeza (étnica/racial e no que diz aos prédios reformados e livres de pixo/grafite) do aparelho urbano e um aumento na sensação de segurança dos indíviduos. Entretanto, críticos afirmam que a maneira como o tolerância zero funciona tende a penalizar comunidades pobres constituídas majoritariamente por negros e latinos, violar direitos individuais de privacidade (no caso de câmeras de vigilância instaladas em diversas áreas da cidade), expulsão/retirada da população de rua de áreas consideradas nobres além da privatização de áreas públicas como parques e praças (ver o famoso caso do Bryant Park em Midtown, Manhattan). Loïc Wacquant, sociólogo francês e professor na University of California at Berkeley, afirma que o tolerância zero se enquadra dentro de uma lógica neoliberal de administrar a pobreza pelo estado. Assim sendo, o estado que antes se caracterizava como um welfare state, ou seja, fornecendo um mínino de renda, bem estar e assistência aos mais pobres, tende a atuar agora como um penal state onde políticas de bem estar são retiradas e em seu lugar passa a ocorrer um grande investimento no aumento dos efetivos policiais e presídios que visam administrar a pobreza do capitalismo tardio ou a "marginalidade avançada" nos termos do autor (caso tenha interesse leia Urban Outcasts [2007] cuja tradução para o português leva o título de As Duas Faces do Gueto).
Manhattan é um lugar seguro. Você presencia coisas que são totalmente impensáveis para uma cidade como São Paulo como gente usando seu laptop ou iPad no metrô, turistas ou moradores locais carregando e usando câmeras fotográficas/vídeo profissionais ou semi-profissionais caríssimas na rua além de ser perfeitamente possível caminhar pela cidade de madrugada sem ter a mesma sensação de medo que aflige a maioria dos paulistanos e outros moradores de outras grandes e médias cidades no Brasil. Entretanto, esse clima de tranquilidade se restringe a ilha de Manhattan e é necessário saber qual o preço que se paga por essa segurança. Os números que apontam os Estados Unidos como contendo a maior população carcerária do mundo além da suprarepresentação nesse universo carcerário de negros e latinos são sintomáticos de algo, não?
Muita Paz!
domingo, 10 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
A Arte Marcial Praticada por Pierre Bourdieu: Sociologia!
Se você confunde cientista social com assistente social, precisa assistir o vídeo abaixo. Durante três anos o diretor Pierre Carles seguiu o sociólogo francês Pierre Bourdieu (foto acima) tentando entender o que o intelectual denominava de "théorie de la pratique". O resultado foi o filme La Sociologie est un Sport de Combat (2001) cujo título foi traduzido para o inglês como The Sociology is a Martial Art. Bourdieu, falecido em 2002, foi sem dúvida um dos maiores intelectuais franceses do século XX. Seu principal livro, La Distinction, foi lançado em 1979 e recebeu tanto aclamação quanto críticas (veja a tradução em português AQUI). De forma resumida pode-se dizer que Bourdieu mostra através de sua obra como se constrói a dominação e desigualdade na sociedade através de práticas sociais que muitas vezes se apresentam como banais.
O filme é interessante justamente por exibir situações do intelectual em interação com gente comum e na maioria das vezes explicando de forma didática sua complexa teoria social. Assista o filme e nunca mais confunda cientista social com assistente social. Nenhum dos dois profissionais gosta do equívoco! Estou postando a primeira parte do vídeo, mas ele pode ser assistido por inteiro no YouTube (falas em francês e legendas em inglês)
Muita Paz!
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
Neo-Soul Black Nerd!
Camas, lençóis, clubes noturnos, piscinas e pouquíssima roupa: o típico enquadramento de um vídeo de R&B ou neo-soul. Aqueles pretões e pretonas com corpo de modelo e pele impecável num roça roça que tira qualquer um do sério. Pois é, a fórmula é velha e garantida, mas já anda dando no saco. Foi por isso que o vídeo da gatíssima Sabrina Starke, dona de um beiço delicioso, pele preta linda e dreadlocks charmossérimos, me chamou a atenção. A sugestão veio de minha amiga de SP, Twylla Rocha. Pela primeira vez vi o ambiente de trabalho de um black nerd como eu, uma biblioteca, virar cenário de filmagem de um vídeo de R&B (pode deixar os catarrentinhos assistirem, não tem ninguém transando em cima de livros ou fazendo algo pervertido com eles). Starke nasceu em Paramaribo no Suriname em 1979 e vive em Roterdam, Holanda. A moça é dona de um álbum, Yellow Brick Road, lançado em 2008 pela Blue Note.
Divirta-se com o som da patrícia no vídeo Sunny Days. Pena estar assistindo algo assim no início do frio aqui em New York Shittt!...
Muita Paz!
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