sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Eu acho que vi um gatinho! (Estante de Maloqueiro 3)

http://images2.fanpop.com/images/photos/6300000/Top-Cat-Wallpaper-top-cat-6365763-1024-768.jpg

Primeiramente peço desculpas aos/as leitore/as do blog por não estar respondendo/agradecendo aos comentários que muitos tem feito. O tempo por aqui anda mais que escasso devido as milhares de coisas que tenho feito e/ou estão ainda por fazer. Textos para publicar, apresentações para fazer (em inglês, urgh!), zilhões de leituras para fazer (em inglês, urgh!), papers para escrever (adivinha a língua? urgh...), estudar para um exame medonho em fevereiro (em inglês, claro!...) e estou tentando evitar ficar muito tempo na frente do meu laptop (não, não é nenhum problema com distração, mas tendinite mesmo, minhas mãos andam doendo!). Vamos mudar de assunto, mas não se assustem caso eu sumir do blog por umas semanas.

Talvez o mais novos não saibam, mas a imagem acima é de uma turma que faz parte da minha infância (vivida em parte na frente da TV): A Turma do Manda-Chuva (nos EUA Top Cat). Gatinhos, gatinhos... Tão fofos! Gostar de gatos é odiar o Piu Piu (Tweety) e esperar que o pessoal da Warner Brothers ainda faça um episódio do desenho (curtinho, poder ser!) em que o Frajola (Sylvester) detona com ele numa sessão de tortura chinesa. Eu ia adorar... Sim, sou amante de gatos. Já comentei AQUI que meu antigo quarto na casa dos meus pais agora é moradia do gato de minha irmã, Katatau. Gosto de cachorros também, mas gatos são os melhores animais como companhia. Fofos, charmosos, inteligentes e extremamente ciumentos de seus donos. Quem tem ou já teve gatos sabe do que estou falando. Eles são vagabundos e dorminhocos (às vezes mal-humorados), mas adaptam o seu horário biológico ao do dono. Exemplo: se você trabalhar a noite e passar parte do dia em casa, seu gatinho estará acordado nas horas que você estiver no aconchego do lar e dormindo à noite. Gatos são manhosos, bagunceiros e extremamente limpos. Adoram rotina - odeiam quebra de rotina - e demandam atenção o tempo todo.

WilliamBurroughs-1981.jpg image by suzanneparadis

Dias atrás terminei de ler The Cat Inside (1985) [no Brasil O Gato Por Dentro L&PM, 2006, R$ 8, visite o link, é possível ler trechos] de William Burroughs (1914-1997), bonitão da foto acima. Para quem não conhece, o figura faz parte da "beat generation", grupo de escritores cujo o marco de surgimento é o lançamento do livro de Jack Kerouac (1922-1969) On the Road (1957). Burroughs é conhecido por livros como Junkie (1953) e Naked Lunch (1959). Os beats foram escritores que deram uma nova cara a literatura norte-americana nos anos 1950 trazendo para o centro de sua produção temas como homossexualidade, uso de drogas, criminalidade e muito sexo numa América extremamente conservadora à época.

On the Road, por exemplo, conta as aventuras de um grupo de amigos que cruzam os Estados Unidos com pouquíssimo ou nenhum dinheiro, dirigindo carros até destruí-los de tanto rodar, bebendo loucamente, fazendo sexo com quem estiver a fim e ouvindo jazz. Todos os personagens são pessoas reais. Kerouack, por exemplo, é Sal Paradise, Burroughs é Old Bull Lee e Neal Cassady (1926-1968) é Dean Moriarty. O termo beat se aplica aos dois primeiros, ou seja, jovens brancos de classe média, universitários, de sexualidade alternativa, com aspirações intelectuais/artísticas, boêmios e amantes de jazz. Já Cassady - assim como James Dean (1931-1955) - foi imortalizado como o hipster por natureza: jovem branco da classe trabalhadora, sexualidade alternativa, amante de jazz (o que fazia com que muitos fossem assíduos frequentadores de speakeasies no Harlem) e com uma atitude existencialista em relação à sociedade. O escritor judeu Norman Mailer (1923-2007) escreveu em 1957 o ensaio The White Negro onde aproximava a figura do hipster a experiência histórica/social dos afro-americanos. Mas isso já história para outro post...

http://static.sftcdn.net/br/scrn/83000/83608/3_frajola_1.jpg

The Cat Inside talvez não agrade nem um pouco os amantes de cachorros. Não, Burroughs não tem uma atitude negativa em relação ao "melhor amigo do homem", mas ele afirma que o grande problema é que o homem moldou os cachorrinhos de acordo com as suas próprias características, projetando nele qualidades que são caracteristicamente humanas: raiva, ódio e submissão. Leia passagem abaixo:

"I am not a dog hater. I do hate what man has made of his best friend. The snarl of a panther is certainly more dangerous than the snarl of a dog, but it isn't ugly. A cat's rage is beautiful, burning with a pure cat flame, all its hair standing up and crackling blue sparks, eyes blazing and sputtering. But a dog's snarl is ugly, a redneck lynch-mob Paki-basher snarl... snarl of someone got to a "Kill a Queer for Christ" sticker on his heap, a self-righteous occupied snarl. When you see that snarl you are looking at something that has no face of its own. A dog's rage is not his. It is dictated by his trainer. And lynch-mob rage is dictated by conditioning" (página 63).

“I’m not trying to brag. I’m just saying, I knew about Cat Power before anyone else did.”
Um Gatinho Hipster!

Assim, Burroughs usa a relação que teve com seus vários gatos para fazer digressões sobre sua vida. Gatos são associados com amigos, amantes, filhos e situações cômicas, tristes e emocionantes surgem dos seus relatos. É um livro escrito sem grandes pretensões, leve e ao mesmo tempo profundo. Nada mais do que fragmentos que surgem na página como flashbacks ou anotações de um diário. Obviamente que os amantes de gatos estão muito mais capacitados para entender as analogias de Burroughs. Vou comprar o livro em português e dar de presente a Mammys Joana Macedo, mulher que me ensinou a gostar de gatos e hoje vive às voltas com cinco para desespero de Pappys João Macedo!

Para fechar, mais uma do Simon's Cat, divirta-se... E, por favor, mesmo que não goste de gatos, não vá sair chutando nenhum felino preto caso encontrar algum nessa sexta-feira 13. Ao contrário do que se pensa, pode ser sinal de sorte e não azar... Muita Paz!