segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Da Série "Santos": 2 - São Benedito, Tietê e "Jay Z"

 

Há várias versões sobre a história de vida desse santo preto conhecido por vários nomes como Benê, Dito, Ditinho, Ditão ou Nego Dito e que é cultuado em várias partes do Brasil. São Benedito é pop! Há versões que contam que Benê era um negrão correria na Itália, para onde teria ido para jogar futebol na Internacional de Milão, que se converteu a vida religiosa e virou o cozinheiro de um convento. Sua especialidade era uma feijoada light com caipirinha e que todo sábado era acompanhada por um grupo de pagode que levava o nome de Diretoria de Benê (detalhe Benê mandava ver no reco reco puxando o samba!). Outra versão diz que São Benedito era um hustler morando numa project house do Brooklyn e que resolveu parar com as trambicagens depois que ouviu o chamado de Deus e passou a dedicar sua vida cozinhando soul food que era servida gratuitamente nas quebradas de Bed-Stuy!


 (Soul food que Benê preparava em Bed-Stuy)

Outra versão que contam por aí é que Benê era filho de Cristovam Manasseri e Diana Larcan, negros de origem etíope descendentes de escravos. O pai fora cativo de um rico senhor na Itália, Vicente Manasseri, enquanto a mãe havia sido libertada por um cavalheiro da Casa de Lanza ou Larcan. Nosso futuro santinho nasceu livre na Itália em 1524 e foi batizado com o nome de Benedito cuja significado é bendito, abençoado. O casal ainda teve outr@s filh@s: Marcos, Baldassara e Fradella. O primeiro rebento do casal foi pastor de ovelhas e fez outros trabalhos até os 21 anos quando conheceu por acaso Frei Jerônimo Lanza que havia fundado a ordem dos Irmãos Eremitas Franciscanos, na qual os membros faziam votos de pobreza, jejuavam três dias por semana e mendigavam. Benê se juntou a essa ordem pela sua fé e permaneceu nela até 1562 quando entraria para a Ordem dos Franciscanos Menores Reformados e foi para o Convento de Santa Maria di Gesú, próximo a cidade de Palermo. Seu primeiro ofício no convento foi de cozinheiro, onde rolaram, segundo consta, as primeiras graças: certo dia a carne para o rango do convento chegou atrasada e os frades começaram reclamar e pedir a comida. Benê disse que a carne estava no fogo, mas que iria verificar e acelerar o processo. Quando foi checar a carne a mesma estava temperada, cozida e pronta (santo de negrão é firmeza total, já começa fazendo milagre com comida! Só falta o vinhozinho, tá ligado? Transformar o Chapinha num Bordeaux IX, safra de 1851). Benê também era um "hustler" nato, pois, mesmo sem saber ler e escrever, chegou a superior no convento administrando toda a parada sozinho. Nosso santo sangue bão faleceu em 4 de 1589 com 65 anos de idade depois de, pelo consta no registro de sua beatificação, ter realizado vários milagres. Seu corpo encontra-se exposto numa urna mortuária que pode ser visitada na igreja de Santa Maria em Palermo, Itália.

Sejam essas histórias verídicas ou não (o que você acha?), a verdade é que as festas que ocorrem em homenagem a esse santo no Brasil geralmente são regadas com muitos comes, bebes e uma batucadinha! Uma das mais famosas delas acontece sempre no último domingo do mês de setembro na cidade de Tietê, interior do estado de São Paulo. Como estou com preguiça de descrever a festa, remeto @s leitore/as desse post ao texto de minha amiga antropóloga Jaqueline Santos, que descreve muito bem a parada no Blog da Preta (clique AQUI). Pois é, mas que saudade da Festa de São Benedito lá de Tietê, hein?! Tomei muita pinga e beijei muitas pretas beiçudas nessa festa que sempre rola debaixo de um sol de rachar mamona.


 (Vandão e Flávião "Jay Z", protagonistas da história abaixo!!!)
  
Vai vendo a cena: seis horas da manhã de domingo e a negraiada fazendo samba e bebendo cerveja na beira do rio enquanto ônibus cheios de maloqueiros e senhoritas prendadas nas suas melhores (e curtas!) vestes não param de chegar na cidade. Dá-lhe Tietê e salve São Benedito! Teve um ano que dormi bêbado na praça e perdi minha carona de volta pra Piracicaba. Essa festa não é pra amadores não, mano! Num outro ano (acho que 2001), meu truta Flávio "Jay Z" Francisco fez sua estréia na festa. Tanto ele como Vando, meu outro parceiro de pinga e discussões intelectuais, nunca haviam ido na festa e à época fazíamos parte do Dez Vezes Dez, um projeto de formação de pesquisadores na USP. No dia seguinte a festa deveríamos estar no Rio de Janeiro onde participaríamos naquela semana de um curso e seminário. Sendo assim, voltaríamos para São Paulo no domingo à noite e já embarcaríamos num busão em direção a Cidade Maravilhosa. Bem, a trumpe toda conseguiu voltar para SP e pegar o borracha em direção ao Rio com exceção de Jay Z que desapareceu minutos antes do horário combinado para o retorno. No dia seguinte já estavamos no Rio por 12 horas com mais de 24 horas sem notícias do negrão. Tal qual não foi nossa surpresa ao chegar num seminário que iríamos participar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e nos depararmos com Jay Z sentado na platéia com a mesma roupa que havia ido para a festa no dia anterior e com cara de ressaca. História surreal: o negrão tomou todas, dormiu numa cadeira de boteco, perdeu o busão de nossa excursão e acabou dormindo por Tietê mesmo. Voltou pra SP na segunda e nem passou na casa dos pais, mas foi direto pra sua agência bancária, retirou dinheiro e logo em seguida se dirigiu a Congonhas onde embarcou num avião em direção ao Rio (detalhe: Jay Z nunca havia viajado de avião) sem ter qualquer tipo de informação de onde estávamos. Ao chegar no aeroporto por sorte viu um cartaz que anunciava um seminário sobre cotas e solicitou a um taxista que o levasse aquele endereço. Já que pouca desgraça é bobagem, o táxi ainda quebrou a algumas quadras da UERJ e Jay Z teve que fazer o resto do percurso até a universidade, que fica ao lado do  Maracanã, a pé.

Enfim, a festa de Benê em Tietê não é para amadores, mano!!!

Muita Paz!