Não espere um post falando sobre líderes negros, mas sim com os respectivos nomes de meus futuros pets: Jabu (corruptela de "jaboticaba"), o "auau", e Malcolm X, o "miau". Pelos nomes não preciso nem mesmo dizer que cor eles terão, né? Pois é, não sou um grande fã/admirador de cachorros, mas admito que eles tem o seu charme e deve ser divertido levar o "auau" para passear todos os dias, o que te força a um mínimo de atividade física. Isso me aventa a possibilidade futura de arranjar um depositório ambulante de pulgas. Mas minha paixão mesmo são os gatos, esses fofos, preguiçosos, companheiros e simpáticos bichos.
Tempos atrás fiz um post sobre o livro do escritor norte-americano William Burrough (1914-1997) The Cat Inside (leia AQUI) e transcrevi uma parte do texto no qual Burrough tece suas comparações entre gatos e cachorros. Apesar de afirmar não odiar cachorros, ele é categórico em defender que os homens transferem suas qualidades para os cachorros e esses animais acabam sendo o veículo do seu ódio, nas palavras do autor: "A dog's rage is not his. It is dictated by his trainer."
Na literatura, Burroughs não está sozinho na categoria "admirador de gatos e detrator de cachorros." O argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) é outro escritor que vivia cercado de gatos e dedica uma passagem de seu O Livro dos Seres Imaginários (1967), que transcrevo abaixo, a descrever um cachorrinho bastante peculiar com o refinado humor típico de Borges (foto abaixo):
o cão cérbero
Se o inferno é uma casa, a casa de Hades, é natural que um cão a guarde; também é natural que esse cão seja imaginado como atroz. A Teogonia de Hesíodo lhe atribui cinqüenta cabeças; para maior comodidade das artes plásticas, esse número foi reduzido, e as três cabeças do cão Cérbero são de domínio público. Virgílio menciona suas três gargantas; Ovídio, seu tríplice latido; Butler comparas as três coroas da tiara da roupa do papa, que é porteiro do céu, com as três cabeças do cão que é porteiro dos infernos (Hudibras, IV, 2). Dante empresta-lhe características humanas que agravam sua índole infernal barba imunda e negra, mãos com grandes unhas, que desgarram, em meio à chuva, as almas do réprobos. Morde, ladra e mostra os dentes.
Obrigar o cão Cérbero a mostrar-se a luz do dia foi o último dos trabalhos de Hércules. Um escritor inglês do século XVIII, Zachary Grey, interpreta assim a aventura:
"Esse cão com três cabeças denota o passado, o presente e o futuro, que recebem e, por assim dizer, devoram todas as coisas. Que tenha sido vencido por Hércules prova que as ações heróicas são vitoriosas sobre o tempo e subsistem na memória da posteridade."
Segundo os texto mais antigos, o cão Cérbero saúda com o rabo (que é uma serpente) os que entram no inferno e devora os que procuram sair. Uma tradição posterior o faz morder os que chegam; para apaziguá-lo era costume por no ataúde um torta de mel.
Na mitologia escandinava, um cão ensangüentado, Garmr, guarda a casa dos mortos e lutará com os deuses quando os lobos infernais devorarem a Lua e o Sol. Alguns lhe atribuem quatro olhos; quatro olhos tem também os cães de Yama, deus bramânico da morte.
O bramanismo e o budismo contam com infernos de cães, que, a semelhança do Cérbero dantesco, são verdugos das almas.
Mesmo assim, cachorros são uns bobões/babões legais! Ainda continuo com a idéia do Jabu (o bobão) e do Malcolm X (o espertão).
Muita Paz!
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Jabu versus Malcolm X
2010-12-29T05:57:00-02:00
Márcio Macedo
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