Já faz 12 anos que não moro mais com meus pais. Meu quarto, desde então, já se transformou em várias coisas: depósito de quinquilharias da minha mãe, quarto que abriga as visitas, o lugar que a coroa vai dormir quando briga com meu pai ou quando se enche de ouvir o velho roncar e, finalmente, nos últimos três anos, a moradia do Katatau. Quem é Katatau? A fofura do gato de minha irmã caçula, Renata. Assim sendo, toda vez que vou para a casa dos meus pais, Katatau fica extremamente mau humorado, com uma expressão do tipo: "Você não poderia ficar num hotel, não?" Não quero incomodar Katatau nem ferir seus sentimentos felinos, afinal ele é o novo proprietário do que um dia foi meu quarto. Sendo assim, entramos num acordo de dividir o espaço de forma amigável durante minhas curtas estadias em "Lixeira". Ah, o acordo também envolve o meu comprometimento em ler o livro de William Burroughs (1914-1997), The Cat Inside, com o intuito de entender melhor a natureza felina. Tempos modernos, viva as diferenças! Abaixo segue a foto de Lilica, um dos cinco gatos que habitam a casa da família Macedo. Katatau não permitiu que sua imagem fosse veiculada uma vez que ele é low profile não gostando de exposição pública, diferente de Lilica que até paga para sair numa fotinha... Na debaixo ela se encontra no seu spot predileto: a pia do banheiro.
A coisa mais divertida que faço quando estou na casa dos velhos, além de ouvir as histórias da família Macedo (quem morrreu, quem brigou com quem, quem casou e quem veio pedir dinheiro emprestado!), é fuçar nas minhas coisas velhas. Em meu antigo armário, agora do Katatau e onde ele gosta de tirar uma soneca durante o dia, há uma caixa de sapatos - aposto que boa parte das pessoas deve ter uma também - de no mínimo uns quinze anos onde guardo as mais diversas lembranças: cartas e fotos de amigo(a)s e ex-namoradas, convites de formatura, lembrancinhas das mais diversas, cartões postais enviados por brothers, santinhos, livrinhos religiosos ganhos na primeira comunhão e/ou crisma de minhas antigas catequistas e até minhas primeiras carteirinhas da USP. Há ainda outras coisas velhas que guardo e que não cabem na caixa como agendas, blocos de anotações antigos e diários (sim, eu escrevia diários!), um rádio velho que desde mil novecentos e bolinha tenho a idéia de restaurar, discos de vinil, CDs e exemplares antigos de revistas e reportagens de jornal que guardo porque inconscientemente sei que usarei para algo um dia (o dia nunca chega, mas é bom relê-las!).
Sim, tenho problema de me desfazer de coisas velhas. Recentemente li um livro de entrevistas com escritores famosos (Os Escritores 2: As Históricas Entrevistas do Paris Review, Companhia das Letras, 1989) e descobri que Ernest Hemingway (1899-1961) tinha o mesmo problema. Seu quarto de trabalho era forrado de livros, mas ainda havia espaço para presentinhos de amigos, lembracinhas de suas viagens e caçadas além de fotos e outros objetos que tinham apenas valor sentimental. Contudo, a campeã em guardar bugigangas da minha família é a matriarca da casa, Dona Maria Joana Macedo (não, minha mãe não tem idéia do que o nome dela significa em espanhol). Até bem pouco tempo ela guardava um móvel enorme que não tinha utilidade nenhuma, mas qualquer iniciativa no sentido de se desfazer do "troço" era motivo de muita briga e discussão entre meus pais. A coisa toda se resolveu quando meu coroa, sem dizer nada a ninguém, sequestrou o "barzinho" de minha mãe o levando para um cativeiro desconhecido de todos onde desovou o móvel. Contudo, o velho encarou a cara feia da coroa por umas boas semanas...
(Hemingway, mandando ver em alguma pérola. Ele começava seus textos sempre a mão e só depois que o mesmo pegava ritmo passava para a máquina de escrever. Outro hábito seu era escrever de pé, jogando o peso do corpo de uma perna para a outra e suando freneticamente quando ficava animado com o que produzia)
Mas realmente me divirto com minhas coisas velhas. Releio cartas, vejo fotografias, analiso minhas provas e trabalhos de faculdade dentre outros joguinhos que acabo por inventar com os olhos cheios d'água de emoção. O último que descobri foi de, armado do convite para a cerimônia de minha formatura de oitava séria, começar a googar o nome de meus colegas de classe para saber o que andavam fazendo da vida. Tempos atrás eu escrevia cartas a ex-namoradas nos seus antigos endereços e esperava por respostas, nunca recebi nenhuma e aposto que o conteúdo das cartas deve ter causado algum tipo de problema a elas.
Em minha última visita a casa dos meus pais, encanei de arrumar meus livros que estão todos encaixotados desde de minha mudança para NYC. Fuça daqui e de lá e de repente acho as velhas/novas tecnologias de armazenamento de quinquilharias: disquetes e um CD antigo cheio de arquivos de fotos, textos e até a versão em Word de minha dissertação de mestrado defendida em 2006. Resultado: estou há vários dias relendo textos que pensei que havia perdido, enchendo meu profile no Yogurt e Facebook com fotos nas quais eu não me preocupava com a barriga de cerveja e ressuscitando velhos projetos.
Ao retornar para NYC, Katatau finalmente teve a paz reestabelecida por conta do quarto voltar a ser de sua inteira e exclusiva propriedade, eu ter liberado espaço do armário trazendo livros que pretendo reler ou jóias acadêmicas - ao menos para mim - que nem lembrava que lá estavam como o exemplar de minha dissertação lida por ninguém menos do que Dona Lilia Schwarcz junto com suas anotações e que foram gentilmente cedidas por ela a mim após sua participação em minha banca de mestrado. Mas Katatau prometeu tomar conta da minha caixa de sapatos e de todos os pertences guardados dentro dela, coisas que guardam segredos e sentimentos congelados no tempo que, de seis em seis meses, são trazidos à tona por minha ânsia de reviver o passado.
A coisa mais divertida que faço quando estou na casa dos velhos, além de ouvir as histórias da família Macedo (quem morrreu, quem brigou com quem, quem casou e quem veio pedir dinheiro emprestado!), é fuçar nas minhas coisas velhas. Em meu antigo armário, agora do Katatau e onde ele gosta de tirar uma soneca durante o dia, há uma caixa de sapatos - aposto que boa parte das pessoas deve ter uma também - de no mínimo uns quinze anos onde guardo as mais diversas lembranças: cartas e fotos de amigo(a)s e ex-namoradas, convites de formatura, lembrancinhas das mais diversas, cartões postais enviados por brothers, santinhos, livrinhos religiosos ganhos na primeira comunhão e/ou crisma de minhas antigas catequistas e até minhas primeiras carteirinhas da USP. Há ainda outras coisas velhas que guardo e que não cabem na caixa como agendas, blocos de anotações antigos e diários (sim, eu escrevia diários!), um rádio velho que desde mil novecentos e bolinha tenho a idéia de restaurar, discos de vinil, CDs e exemplares antigos de revistas e reportagens de jornal que guardo porque inconscientemente sei que usarei para algo um dia (o dia nunca chega, mas é bom relê-las!).
Sim, tenho problema de me desfazer de coisas velhas. Recentemente li um livro de entrevistas com escritores famosos (Os Escritores 2: As Históricas Entrevistas do Paris Review, Companhia das Letras, 1989) e descobri que Ernest Hemingway (1899-1961) tinha o mesmo problema. Seu quarto de trabalho era forrado de livros, mas ainda havia espaço para presentinhos de amigos, lembracinhas de suas viagens e caçadas além de fotos e outros objetos que tinham apenas valor sentimental. Contudo, a campeã em guardar bugigangas da minha família é a matriarca da casa, Dona Maria Joana Macedo (não, minha mãe não tem idéia do que o nome dela significa em espanhol). Até bem pouco tempo ela guardava um móvel enorme que não tinha utilidade nenhuma, mas qualquer iniciativa no sentido de se desfazer do "troço" era motivo de muita briga e discussão entre meus pais. A coisa toda se resolveu quando meu coroa, sem dizer nada a ninguém, sequestrou o "barzinho" de minha mãe o levando para um cativeiro desconhecido de todos onde desovou o móvel. Contudo, o velho encarou a cara feia da coroa por umas boas semanas...
(Hemingway, mandando ver em alguma pérola. Ele começava seus textos sempre a mão e só depois que o mesmo pegava ritmo passava para a máquina de escrever. Outro hábito seu era escrever de pé, jogando o peso do corpo de uma perna para a outra e suando freneticamente quando ficava animado com o que produzia)
Mas realmente me divirto com minhas coisas velhas. Releio cartas, vejo fotografias, analiso minhas provas e trabalhos de faculdade dentre outros joguinhos que acabo por inventar com os olhos cheios d'água de emoção. O último que descobri foi de, armado do convite para a cerimônia de minha formatura de oitava séria, começar a googar o nome de meus colegas de classe para saber o que andavam fazendo da vida. Tempos atrás eu escrevia cartas a ex-namoradas nos seus antigos endereços e esperava por respostas, nunca recebi nenhuma e aposto que o conteúdo das cartas deve ter causado algum tipo de problema a elas.
Em minha última visita a casa dos meus pais, encanei de arrumar meus livros que estão todos encaixotados desde de minha mudança para NYC. Fuça daqui e de lá e de repente acho as velhas/novas tecnologias de armazenamento de quinquilharias: disquetes e um CD antigo cheio de arquivos de fotos, textos e até a versão em Word de minha dissertação de mestrado defendida em 2006. Resultado: estou há vários dias relendo textos que pensei que havia perdido, enchendo meu profile no Yogurt e Facebook com fotos nas quais eu não me preocupava com a barriga de cerveja e ressuscitando velhos projetos.
Ao retornar para NYC, Katatau finalmente teve a paz reestabelecida por conta do quarto voltar a ser de sua inteira e exclusiva propriedade, eu ter liberado espaço do armário trazendo livros que pretendo reler ou jóias acadêmicas - ao menos para mim - que nem lembrava que lá estavam como o exemplar de minha dissertação lida por ninguém menos do que Dona Lilia Schwarcz junto com suas anotações e que foram gentilmente cedidas por ela a mim após sua participação em minha banca de mestrado. Mas Katatau prometeu tomar conta da minha caixa de sapatos e de todos os pertences guardados dentro dela, coisas que guardam segredos e sentimentos congelados no tempo que, de seis em seis meses, são trazidos à tona por minha ânsia de reviver o passado.
6 comentários:
Que texto mais fofo .. eu tb sou cheia de quinquilharias... Ms os trabalhos e e xerox da faculdade, já joguei fora ( e olha que nem saí da facul).
Ms as cartinhas, alguns bilhetes, os manuscritos das minhas poesias, crachás de conferências.. teho tudo guardado. E adoro.
O Katatau agradeceu a sua visita semestral!!! E aguarda você no fim do ano para duelarem quem mais manda mais no quarto...
Essa foi boa!! Eu li o texto para o meu filho.
Hi Allyne,
Guardei da faculdade só as provas e trabalhos. Os textos, principalmente em xerox, foram todos pro lixo, assim como os seus!
Recordar é viver...
Obrigadinho pela leitura!
Beijos do Kibe.
Sista,
O Katatau que se prepare!
Kibe.
Nossa! Afasia é o que sinto depois de ler este post. Estou sem palavras mesmo! Emocionante sua relação com as coisas do passado...
Tomara que Katatu cuide bem de tudo mesmo, para que novas velhas histórias saiam das caixas de sua memória.
Um fortíssimo abraço!
Querida Bibi Lima,
Ainda não explorei quase nada do material guardado pelo Katatau, futuramente a coisa vai rolar. Eu só espero que o guardião felino não tenha mesma mania que Chiquita, a gata de minha outra irmã, de comer fotos. Ela não podia ver uma foto dando sopa que mordia a mesma até que sobrassem somente farelos. Gatos, bichinhos estranhos!
Para terminar, tive que ir no dicionário para descobrir o que "afasia" significa! ...hahahahaha...
Beijos mais que carinhosos,
Márcio Macedo (Kibe)
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