domingo, 24 de janeiro de 2010

Ficando Branquinh@ na Inglaterra e nos EUA

Estava eu ontem estudando e recebi de minha amiga Gisele Neres (campineira atualmente radicada em New Jersey), via Twitter, o link para um vídeo feito pela rede de TV inglesa Channel 4. Intitulado The White Beauty Myth  (O Mito da Beleza Branca) o filme discute a obsessão de alguns indivíduos pertencentes a minorias étnicas na Inglaterra em moldarem seus corpos a traços brancóides (ou "caucasianos" ou "ocidentais", termos utilizados no filme). Os três personagens acompanhados são uma jovem negra que deseja fazer uma operação para mudar o formato do nariz, um rapaz descendentes de indianos que trabalha como modelo e pretende realizar mais uma intervenção cirúrgica (já havia feito duas ou três) para mudar o formato do rosto e uma dona de casa oriunda de Blangladesh que usa cremes para clarear a pele. O mais divertido é ver um dos médicos entrevistados dizer que não se trata de uma busca por seus clientes de ficar mais branco ou mais ocidentalizado, mas sim o que ele chama de globalização, um processo no qual os traços étnicos irão cada vez menos visíveis.

 

Não darei minha opinião sobre o vídeo, deixarei que os leitores tirem suas próprias conclusões (infelizmente o mesmo encontra-se em inglês e sem legendas em português). Meu único comentário diz respeito ao tom sensacionalista desses documentários que buscam sempre apresentar indíviduos que aparentam estar próximos de um comportamento patológico. Entretanto, a busca por cirurgias plásticas para "corrigir" traços étnicos e cremes de clareamento de pele é uma prática largamente conhecida dentro dos grupos não brancos. Muitos anos atrás li na Vibe Magazine uma reportagem que listava figuras proeminentes no mundo do entretenimento negro norte-americano que haviam realizado cirurgias plásticas como foi o caso do truta rapper e ator LL Cool J.

Os cremes para clarear a pele, por sua vez, foram assunto de uma matéria publicada no jornal New York Times na semana passada. Intitulado Creams Offering Lighter Skin May Bring Risks o texto discute os perigos para a saúde resultantes do uso contínuo desses cremes que são vendidos livremente em farmácias e/ou lojas de produtos de cosméticos geralmente localizadas em bairros de maioria negra e/ou latina. A foto acima é de Sammy Sosa, ex jogador de beisebol dominicado naturalizado americano, que clareou a pele entre 2007 e 2009 usando esse tipo de produto. Abaixo uma foto das "belezinhas" que contêm na sua composição uma série de substâncias que podem causar até câncer de pele.

 

Para quem se interessou pela discussão sugiro a leitura de um clássico das ciências sociais: Pele Negra Máscaras Brancas do psiquiatra e filósofo de esquerda martinicano Frantz Fanon (1925-1961). Esse trabalho é a tese de doutorado do médico caribenho apresentada e reprovada numa universidade francesa em Lyon e cujo título original era The Disalienation of Black Man. Em 1952 Fanon decidiu publicá-la como livro e o texto acabou se tornando uma das obras percusoras de uma corrente acadêmica conhecida hoje como estudos culturais e pós-coloniais que inclui outras figuras famosas do mundo acadêmico como Edward Said (1935-2003), Stuart Hall, Paul Gilroy, Homi Bhabha, Gayatri Spivak dentre outr@s. O intelectual caribenho discute nesse livro - relativamente curto - o processo pelo qual povos colonizados negros incorporam uma subjetividade que estabelece formas de pensamento e uma relação com o corpo baseada numa rígida dicotomia entre negro e branco no qual o primeiro é interpretado de forma negativa e o segundo positiva. Veja a foto do negrão sangue no zóio aí embaixo...

capa de Pele Negra, Máscaras Brancas


Assista o vídeo da rapaziada louca por uma pele branquinha ou um nariz menos largo e deixe sua opinião aí pra nóis! De minha parte, vou continuar com meu beiço, meu nariz em formato de batata e minha pele cor de feijão preto. Aproveito o ensejo para avisar meu querido público leitor que deixarei de escrever no blog por algumas semanas devido a correria com outras paradas em NYC. Volto a ativa assim que der...

Muita Paz, Feliz Niver Para São Paulo - minha cidade querida - e Bom Carnaval!




sábado, 23 de janeiro de 2010

Da Cor da Pele...

Estou cá envolto com um texto do meu amigo Carlos Marcos, como se referem os portugueses ao truta Karl Marx, lutando para entender como a religião é vista na perspectiva do fundador do materialismo histórico e, para isso, brigando com as idéias de Friedrich Hegel criticadas por Ludwig Feuerbach quando me chega uma mensagem de minha amiga Bibi Lima comentando a atuação da tenista afro-americana Venus Williams no Australia Open.

http://www.bet.com/Assets/BET/Published/image/jpeg/c831206a-ab38-8e6c-1d44-b44808f58ee9-news_fb_bhm2_venus_williams.jpg

Williams vai bem no campeonato, ganhando as partidas e fazendo belas apresentações. Mas o frênesi na Internet não está relacionado ao seu desempenho no torneio e sim as roupas que a tenista vem usando nas partidas. Vestida com um mini vestido verde em sua última partida, Williams tem sido alvo de comentários e até montagens no YouTube e em sites pornográficos. O motivo é que a parte de baixo da roupa utilizada pela tenista é da mesma tonalidade de pele da atleta o que em muitas imagens dá a impressão que ela não está utilizando nada embaixo do vestido. Provavelmente Williams irá mudar o tipo de roupa nas próximas partidas ou ao menos irá usar um vestido que tenha a parte de baixo de outra cor, uma vez que aposto que ela não quer se fazer conhecida por suas formas sexys, mas sim por suas conquistas no tênis. Abaixo, uma fotinha da tenista com a roupa polêmica....

Photo of Venus Williams playing tennis Commando or Underwear scandal

Mas aí eu pergunto: e se fosse a Maria Sharapova, iria causar todo esse rebuliço? Por que as patrícias Wiliams nunca receberam elogios relativos a sua beleza como a tenista russa freqüentemente recebe?  A polêmica de Venus parece enfatizar mais traços relativos a sua sexualidade (ou atrativos sexuais) do que propriamente beleza, ou seja, há diferenças entre chamar uma mulher de "gostosa" e "bonita" e esses termos alocam mulheres em posições sociais distintas pelo que percebo. Dê sua opinião aí pra nóis!

Muita Paz!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Revista Ponto Urbe Número 5

 [capaPU.gif]
Já está no ar o mais novo número da revista Ponto Urbe. O periódico on line é uma publicação do Núcleo de Antropologia Urbana (NAU/USP) e a coordenação é realizada pelo meu ex professor José Guilherme Cantor Magnani.  A publicação chega a sua quinta edição contando com artigos, resenhas de livros lançados recentemente, traduções além de updates e relatos etnográficos de pesquisas conduzidas por pesquisadores do NAU. Alguns destaques são a entrevista realizada com a antropóloga carioca Alba Zaluar - figura conhecida por seu trabalho sobre violência no contexto urbano -, a tradução de um artigo de Bruno Latour discutindo a cidade de Paris, o texto de Enrico Spaggiari sobre escolinhas de futebol na periferia de São Paulo, a resenha do livro de Érica Peçanha Nascimento, escrita por Alexandre Barbosa Pereira, sobre literatura marginal, textos apresentados no evento Graduação em Campo realizado pelo NAU em setembro do ano passado além de um artigo do sujeito que vos escreve sobre consumo e comércio informal/ilegal em NYC.

 Urban Planner Clearly Depressed When She Came Up With Street Names

Outro detalhe importante é que a revista está com layout novo facilitando a leitura (mesmo na tela do computador) e também permitindo que os textos possam ser baixados no formato PDF. Confira a paradinha clicando AQUI
 
http://dryicons.com/files/graphics_previews/urban_landscape.jpg

Por hoje é só!
 
Boa leitura e Muita Paz!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Maloqueragem do Bexiga: Vai-Vai

 http://cristianaarcangeli.virgula.uol.com.br/media/images/vai-vai-web.jpg

Fiquei sabendo pelo blog de Mila Felix que deve estreiar ainda no primeiro semestre de 2010 um documentário sobre a escola de samba paulistana Vai-Vai. Intitutado Vai-Vai: 80 Anos nas Ruas o filme é a primeira película do diretor Fernando Capuano. A Vai-Vai faz parte, assim como Camisa Verde e Branco, Nenê de Vila Matilde e Peruche, do grupo das escolas mais tradicionais e "pretas" de São Paulo e é, possivelmente, a escola de samba paulista mais conhecida nacionalmente. Ela é também a escola do meu coração e local onde já fiquei inumeras vezes bêbado tomando brejas e MMs, conheci futuras namoradas e rolos, presenciei brigas e vibrei com a bateria do "forgado" Mestre Tadeu que dá esporro em todos os componentes. A tradição maloquera, quando ainda morava na Terra da Garoa, era ir ao último ensaio antes do desfile e após seu término ficar num bar ao lado da quadra cujo o samba se extendia até de manhã. Em minha última aventura desse naipe estava acompanhado de meu truta mor Flávio "Jay Z" Francisco e dividíamos o espaço do mesmo boteco sujo com nada mais nada menos do que Mano Brown. 

 Escola de Samba Vai-Vai by _ambrown.

No filme são entrevistadas pessoas que possuem algum tipo de relação com a escola como artistas (Mano Brown, Leci Brandão, Beth Carvalho dentre outros), celebridades que desfilam pela escola e pessoas importantes no contexto e história da instituição como passistas, diretores de ala e os velhinhos da velha guarda. Ao que parece, considerando o trailer abaixo, o tom do documentário será festivo devido a comemoração dos 80 anos da Saracura (termo pelo qual a escola também é conhecida). Nada contra esse aspecto, mas trabalhos audiovisuais que vão além do tom de honraria apresentando impasses e problemas vividos pelo objeto documentado tem um plus que os torna mais agradáveis. A Vai-Vai apresenta um leque enorme de problemas e polêmicas que podem ser fartamente abordados no filme como a relação conflituosa com o moradores do entorno a sua quadra situada na Bela Vista (Bexiga), as relações obscuras de que vem sendo acusada de manter com organizações criminosas como o PCC, os prós e contras resultantes do processo de institucionalização do carnaval em São Paulo dentre outras questões delicadas. Mas enfim, uma versão mais festiva de filme é mais segura e vendável. Veremos no que irá apostar o senhor Capuano.

Assista o vídeo abaixo com o trailer do documentário.

Muita Paz!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MMs: Martin e Malcolm, a Dupla Dinâmica

 http://www.jhs1968.com/web_images/84ec2b56d17a5e528d1ab371da7ef5.jpg

Hoje (escrevo na segunda) é dia de Martin Luther King Jr. aqui nos EUA. Porém, penso em Malcolm X (1925-1965). Para ser justo, penso nos dois, Martin e Malcolm juntos, um MMs. Somente os dois homens eram capazes de reunir a população afro-americana, com suas diferenças e heterogeneidade, em torno de si.  Havia muitas diferenças - políticas, ideológicas e religiosas -  entre as duas lideranças, mas ambos compartilhavam entre si um profundo e inabalável amor por seu povo.

 http://traceyricksfoster.files.wordpress.com/2009/05/nm_malcolm_x_081104_ssh.jpg

Martin era o preferido da classe média negra, dos políticos e religiosos. Um homem culto, calmo e de boa índole que pregava a não violência como forma de ação política. Malcolm era a liderança vinda do submundo negro. Seu passado criminoso trazia legitimidade entre prostitutas, drogados, miseráveis, bandidos e trambiqueiros das mais diversas ordens que não se identificavam ou colocavam pouca credibilidade no discurso de Martin. Essa era a negrada mais "sangue no zóio" ou "fio descapado" que estava pronta para o que desse e viesse (eu me me incluo mais nessa daí!). O lema do negrão era "By all means necessary" e "I don't call it violence when it's self-defense, I call it intelligence".

http://technostudies.files.wordpress.com/2008/12/20xmartinjr9.jpg

Essa dupla poderosa se encontrou pessoalmente apenas uma vez e o encontro foi imortalizado na foto acima. Ambos eram carismáticos, inteligentes, sagazes e prontos a dedicar sua vida a missão com que estavam comprometidos. Infelizmente foi o que acabou aconteceu nos dois casos. Tanto Malcolm como Martin foram covardemente assassinatos numa tentativa desesperada de brecar a revolução negra que caminhava a passos largos nos EUA dos anos 1960. Imagino se eles estivessem vivos hoje... Vivos para presenciarem a posse do primeiro presidente negro dos EUA e assistirem várias outras conquistas dos patrícios afro-americanos. Ao mesmo tempo me pergunto o que eles diriam da suprarepresentação de negr@s nas prisões da América, da persistência de guetos que promovem a manutenção da pobreza com suas mais diversas mazelas e empurra negr@s para a criminalidade, da violência policial, do sexismo e misoginia. O que diriam? Não sei, mas tenho certeza de que não estariam calados...

Muita Paz!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um Gatão Firmeza!

Meow!
Garfield deve andar bem "P" da vida com o inglês Simon Tofield. O ilustrador é o criador do gatinho mais divertido da Internet nos últimos tempos, o Simon's Cat ("Gato do Simon" em português), que vem ameaçando o trono de Garfield como o grande representante da classe felina em charges e desenhos. Postei todos os cinco vídeos do novo astro disponíveis no YouTube aqui no NewYorKibe (já que esse blog é totalmente pró felinos!). A demanda pelos vídeos do gatinho foi tamanha que hoje ele tem um canal próprio no YouTube onde consta a marca de 53 milhões de visitas desde novembro de 2007. Como já disse anteriormente, qualquer pessoa que tenha tido ou convivido com gatos saca logo de cara verossimilhança do desenho. Ainda não tive a oportunidade de ler o livro cujo título é Simon's Cat In His Very Own Book  e que foi lançado em setembro de 2009 (ver imagem abaixo), mas o farei logo logo.  São 240 páginas de aventuras com o bichinho!
http://laughingsquid.com/wp-content/uploads/simons-cat-20091215-070752.jpg
Na entrevista abaixo Tofield afirma que a inspiração para criar o cartoon veio, como era de se esperar, da observação e convivência com seu gato. É ele que faz os miados e ruidinhos (que em inglês denomina-se pur) charmosos do gatinho. Preste atenção no vídeo para as imagens do gatinho pensativo, como jornalista tomando notas, pedindo comida e feliz da vida no final da entrevista ao lado do cartunista.



Já o vídeo abaixo foi encomendado a Tofield pela Sociedade Real Para Prevenção de Crueldade aos Animais e faz parte da campanha Give Animals A Voice. Lançada em 2008 o objetivo da mesma foi de alertar proprietários de animais de estimação sobre o problema da obesidade animal. O cachorrinho levou o nome de Simmon's Sister Dog.



Por fim, assista abaixo o mais novo vídeo do gatinho e visite o site dele clicando AQUI

Muita Paz!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Inquérito Sobre Blogs, Começando Pelo Meu...

http://www.terraviva.com.br/G-100/images/calendario.jpg

Creia, blogs são chatos e narcisistas por natureza. Quer algo mais fútil do que blog de celebridade? "Ontem fui numa recepção em minha homenagem no Fasano. Gente, foi tão legal! Obrigado a todos que compareceram, viu? Eu amo muito vocês!" Urgh!... Tem também aquela mensagem clássica cheia de fotos mal tiradas num celular: "O show foi mó vibe, só gente bonita! Obrigado povo de Tabatinguéra do Arraial!"... Entretanto, há maneiras de tornar blogs mais digestivos, desde que não sejam de celebridades meio sem cérebro (a esses, recomendo o Twitter). Lia poucos (ou nenhum!) blogs antes de iniciar o meu e caso alguém me perguntasse o que eu achava deles a uns dois anos atrás, eu responderia sem pestanejar: "chatos", "sem graça" e, de forma triunfante arrematava, "PERDA DE TEMPO".

Mordi a língua em agosto de 2008 ao abrir o NewYorKibe. O motivo para tal atitude foi o mesmo de milhares de pessoas que abrem blogs diariamente: a mudança para uma cidade estranha de um país com língua e cultura diferentes da minha e, ao mesmo tempo, a possibilidade de manter contato com o/as amig@s. Taí, um ano e meio e um pouco mais de 200 posts, 100 seguidores e mais de 5000 visitas registradas pelo Blogspot (ok, todo mundo sabe que não ele registra xeretadas rápidas que eu pego no Stat Counter). O blog sofreu uma mudança radical nessa semana e isso é fruto do trabalho de minha amiga Mila Félix que fez vários trampos tipo navegar na Internet atrás dessa imagem do artista e ex black panther Emory Douglas, ficar me perguntando o que eu queria colocar aqui e ali, dar idéias e agüentar minhas viagens e rabugice. Milíssima fez um ótimo trabalho deixando o layout mais clean o que facilita a leitura, já que o que realmente importa aqui mesmo são os textos e algumas imagens (que às vezes somem, pois só arrasto as mesmas e não as salvo em meu computador). Se você tá precisando de um webdesigner entra em contato com a negona que ela manda super bem!

http://www.kaushik.net/avinash/wp-content/uploads/2007/08/to_blog_or_not_to_blog.jpg

Muita gente deve se perguntar para que serve um blog. A resposta é simples: nada. Tem blog pessoas que gostam de ESCREVER sobre assuntos que dominam (ou não!) e dar palpites sobre outros tantos que não tem a mínima idéia do que se trata.  O NewYorKibe não é diferente! Sou um cara burro cercado de gente e amig@s inteligentes e me sinto um dos sujeitos mais sortudos da face da terra por conta disso. Não estou brincando quando digo isso. Quer diminuir o seu nível de ignorância? Basta fazer duas coisas: 1) ler e 2) cercar-se de pessoas interessantes e sacadas.  Aquilo que aprendo com meus amigos e minhas leituras entra no blog. Como já perceberam, o que dá certo fio condutor aos posts são as várias identidades do bonitão aqui: preto, maloqueiro, ex-rapper, ex-office boy, ex- vendedor de parafusos, ex-metalúrgico, ex-uspiano, ex-cruspiano, ex-morador da Vila Madalóca e aprendiz de sociólogo.

Dicas. Caso você esteja prestes a abrir um blog faça um favor aos seus amigos e leitores (possivelmente os dois são os mesmos), ESCREVA TEXTOS PENSANDO E FACILITANDO O TRABALHO DE QUEM VAI LER! Acho que esse é um ponto fundamental que muitas pessoas se esquecem quando abrem um blog. Apesar de estar na Internet, você não está conversando no messenger onde todos os seus amigos sabem o que significa  ...lol... (laughing)  ou ...brb... (be right back), então evite as abreviações. Seja rigído com seu português. Escreve bem quem lê e escreve todo dia, mas, ao mesmo tempo, é crítico com o que lê e escreve. Já dizia muito corretamente o negrão sangue no zóio Frederick Douglas (1818-1895) há mais de cem anos atrás, "sem esforço não há progresso", trutão! E como diz Howard Becker, sociólogo norte-americano, a escrita é uma forma de pensamento, consequentemente, quem escreve mal ou não é muito claro demonstra um pensamento pouco organizado, right?!

 http://blogs.worldbank.org/files/governance/image/blog%20board.jpg

COLOQUE UMAS IMAGENS NO BARATO. Já ouviu aquela máxima de uma imagem vale mais do que mil palavras? Pois é, não concordo inteiramente com a parada, mas vale a pena incrementar os posts com umas imagenzinhas legais. Deixa bonitinho e a leitura feita menos cansativa.

LEMBRE-SE, VOCÊ ESTÁ ESCREVENDO UM POST NÃO UMA TESE DE DOUTORADO. Não tem coisa mais chata do que pegar uns blogs no maior estilo Bourdieu ou Florestan Fernandes, ou seja, textos imprenetráveis que você precisa gastar horas tentando interpretar e o que o trabalho nunca é feito sem a ajuda de dois dicionários (um comum e outro sociológico). O seu blog é público e qualquer pessoa, seja qual for o nível educacional, deve estar capacitada a lê-lo. Então pare de bancar o espertão que acha que ser inteligente é falar em jargão!

POSTE COISAS COM REGULARIDADE! Nada pior para matar um blog do que postagens mensais, bimestrais ou semestrais.


SEJA CORTEZ COM SEUS LEITORE/AS MESMO QUE ELES DISCORDAM DE VOCÊ!

DESENCANA DE GANHAR GRANA COM BLOGO máximo que rola é dar mais visibilidade para o seu trabalho ou outra atividade que você tenha o que, num segundo momento, pode até viabilizar propostas de trabalho e/ou grana.

ESCREVA SOBRE ALGO QUE GOSTA, LHE DÁ PRAZER DISCUTIR E SEM OBRIGAÇÃO!

Para terminar, vale esclarecer que o escrevo aqui na NewYorKibe é somente 30% das idéias de post ou dos vários textos que estão rascunhados no arquivo do blog. Há tempos estou para escrever sobre a série mais legal da TV norte-americana nos últimos tempos The Wire, minha sugestão de rolês e compras pelo Harlem, a aula que assisti com Jürgen Habermas,  Judith Butler e Cornel West, a conferência de meu professor Terry Williams na Columbia University falando sobre etnografia e sexo em NYC, o estado penal de Loïc Wacquant, a sociologia de Bourdieu, o processo de gentrification do Harlem que o está transformado num bairro branco, os cremes de clarear a pele usados por homens e mulheres negros nos EUA e oferecem riscos a saúde, os vários livros que li e deveria ter resenhado para a seção Estante de Maloqueiro, a entrevista dada por Mano Brown à revista Rolling Stone Brasil, o documentário de Chris Rock Good Hair (2009), o disco do sambista paulistano Rodrigo Campos dentre outras coisas, mas infelizmente não dá tempo. Mas enfim, qualquer hora sai...

Obrigado pela leitura e apoio ao blog!


Muita Paz e Mais Uma Vez Obrigado Mila Félix Pelo Trampo...

sábado, 16 de janeiro de 2010

Eu Pergunto Você Responde

chanel_barbie_400

É época de São Paulo Fashion Week e só para não perder o costume de criar uma polêmicazinha com o lance de modelos negr@s segue aqui o questionamento do blog.  Seguinte, alguém aí do outro lado pode responder uma dúvida minha: não querendo ser chato, mas por que uma mulher preta bonita é sempre chamada de "exótica"? Leia o texto que segue a foto acima publicada em um blog de moda do jornal O Estado de São Paulo na sexta 15/1: "É de ficar com a boca aberta mesmo, Herchcovitch: Chanel Iman parece uma boneca. A supertop americana é tão magrinha, acinturadinha e bonita que parece uma Barbie. Das mais exóticas: a garota que não completou nem 20 anos tem descendência afro e coreana. Ela desfila na SPFW pela Rosa Chá, no dia 17. Herchcovitch é quem assina os looks"

Mande sua resposta nos comentários. Apreciamos sua opinião sendo ela exótica ou não, viu?!

Muita Paz!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Teddy Pendergrass (1950-2010)

 Singer Teddy Pendergrass in Los Angeles on July 20, 1978.

Teddy Pendergrass, carinhosamente chamado de Teddy P, nos deixou. O negrão voz de veludo faleceu na última quarta-feira aos 59 anos vítima de câncer. Desde 1982 ele encontrava-se numa cadeira de rodas paralizado da cintura para baixo como resultado de ferimentos em um acidente de carro.  P é dono de vários sucessos na soul e R&B norte-americana e se enquadra na mesma linha de cantores famosos como Marvin Gaye, Barry White e Isaac Hayes.

 Teddy Pendergrass performs in 1979.

Fico aqui pensando quantos brothers and sisters amigos meus foram "feitos" ao som da sua Turn Off The Lights (de bobeira, até eu, né Dona Joana e Seo João?!). Preste atenção na pegada da letra "... Apague as luzes e acenda uma vela/...Vamos tomar um banho, um banho juntos/Eu lavo o seu corpo e você lava o meu...". Porém, o xaveco em cima da nega já devia ter começado com outra canção tipo Come Go With Me.  Devo a esse vagabundo a trilha sonora de vários momentos especiais de minha curta vida. Realmente o negrão era foda!

Teddy P, obrigado por tudo pretão! Descanse em PAZ que daqui celebraremos a sua memória.

Ouça Turn Off The Lights no vídeo abaixo e sinta o drama!


Muito Teddy P e Muito Amor Para Nós Tod@s!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Haiti: O Luto da Diáspora Africana

 

As imagens que temos visto do Haiti desde ontem são tristes e chocantes. O terremoto que abalou sua capital, Porto Príncipe, destruiu a maior parte da cidade e previsões preliminares apontam que o número de mortos irá ultrapassar os 100 mil.  São mais de 100 mil vidas que se vão em mais uma catásfrofe que coloca o país próximo ao colapso. Um dos países mais pobres do planeta e lidando regularmente com outros desastres como enchentes e furacões, ditaturas, impasses políticos, corrupção e pobreza o Haiti vive, desde terça-feira à tarde, sua mais séria crise de todos os tempos. O terremoto de ontem tem um aspecto crítico porque ocorreu em sua capital, ou seja, no centro de operações burocráticas e logísticas da ilha. A imagem do palácio do governo em destroços veiculada por vários sites e jornais apontava o grau de destruição da tragédia.

Minha sensação é de tristeza, luto e impotência. Tenho acompanhado as notícias pelo New York Times e outros veículos da imprensa brasileira. Tentei fazer minha doação, mas ainda não consegui devido a problemas no meu cartão de crédito. Desespero maior é daqueles que possuem parentes e amigos morando e/ou trabalhando no país caribenho. Nesse aspecto, o Brasil encontra-se intimamente envolvido ao ocorrido devido a existência da missão brasileira no país. Já foi confirmada a morte de mais de dez brasileiros, dentre elas a da médica e ativista pelos direitos humanos Zilda Arns. New York City é a cidade com o maior número de expatriatos haitianos nos EUA e fora do Haiti. Em entrevistas dadas ao periódico nova-iorquino todos os entrevistados apontavam sua sensação de impotência em lidar com esse novo e inesperado problema (ouça os mesmos AQUI). Não basta reunir dinheiro, roupas, cobertores e alimentos fazendo uma transferência ou shipping para o país. A situação agora é mais complicada. Telefones celulares não respondem, não há Western Union disponível e dinheiro na mão das pessoas nesse momento faria pouca ou nenhuma diferença, não há vôos comerciais para Porto Principe e as informações são desencontradas. O que fazer? A quem recorrer?

Países de todo mundo prometeram ajuda seja com dinheiro, remédios, máquinas e pessoal especializado em buscas e salvamento como bombeiros e médicos. Estima-se que 90% da população de Porto Principe esteja desabrigada nesse momento como resultado da destruição de suas casas ou medo de retornar a elas devido ao receio de novos tremores. Corpos estão espalhados pelas calçadas e são velados ali mesmo sobre as orações de gente desesperada. O principal hospital da capital encontra-se sobre ruínas e não há espaço apropriado, energia elétrica, remédio e nem médicos suficientes para realizar cirurgias e tratar dos feridos.

Um grupo de estudantes brasileiros que viajou ao país com fins acadêmicos vitimou o terremoto.  Liderado pelo professor da UNICAMP e pesquisador do CEBRAP Omar Ribeiro Thomaz, antropólogo especialista em conflitos armados e nacionalismo tendo realizado pesquisas em Moçambique, Uganda e Haiti, o grupo tem postado notícias sobre a situação deles e da cidade no seu blog (leia AQUI ). O relato de um dos estudantes afirma que no momento do terremoto o grupo estava divivido em dois e a sensação sentida "foi como se uma onda passasse pelos nossos pé e tudo começou a tremer". Ao sair a rua era possível ver as pessoas levantarem os braços gritando Jesus e Bon Dieu, um posto de gasolina próximo explodiu e feridos começaram a surgir dos escombros e fora deles.

 File:Toussaint L'Ouverture.jpg

No meio de tanta dor ainda há espaço para demonstrações de ignorância. Este foi o caso do Reverendo Pat Robertson que em seu culto transmitido pela TV culpou os desastres e problemas sofridos pelo Haiti como resultado de um pacto com o demônio que o país teria feito no século XIX como forma de libertar do julgo da França (assista a palhaçada no vídeo abaixo). De acordo com Robertson, o país teria se libertado de seus colonizadores, mas o preço estaria sendo cobrado através do sofrimento visto em todas as tragédias e pobreza vivenciada pela nação haitiana contemporânea. O exemplo dado para confirmar seu argumento seria a prosperidade vivida pelo país vizinho, a República Dominicana que fora colônia da Espanha. Com certeza, os mais ingênuos e cegos em relação a história, aceitarão essa explicação barata, ignorante e cercada de preconceito. A verdade é que o Haiti, assim como Cuba, são pedras no sapato de grandes potências. O primeiro país tem um lugar próprio e glorioso na história da Diáspora Africana uma vez que se libertou do julgo colonial num processo doloroso que transcorreu entre 1791 e 1804 que aboliu a escravidão e declarou a independência em relação a França. No Brasil colonial do século XIX, o grande número de escravos negros geravam receios em senhores e até no governo imperial de que algo similar a Revolta de São Domingo, nome pelo qual a ilha era conhecida à época, pudesse ocorrer em terras nacionais. Um relato histórico do processo de independência haitiano pode ser lido no livro clássico de C.L.R James intitulado Os Jacobinos Negros e traduzido para o português em 2000.  Em seu texto James registrou e celebrizou os atos de uma das maiores figuras do panteão de líderes negros da Diáspora Africana: Toussaint L'ouverture (1743-1803) - imagem acima -, responsável por conduzir boa parte do processo revolucionário na antiga colônia francesa.



Desde então o Haiti, antiga Colônia de São Domingos, tem sofrido o impacto do bloqueio de apoio econômico de outras nações, é fantoche do interesse de grandes potências - dentre eles o Brasil - e vítima de parte de suas elites políticas autóctones corruptas. A Diáspora Africana está de luto e as perguntas a serem feitas são: até quando iremos pensar e rezar pelo Haiti, parafraseando a canção? Rezar é suficiente? Acho que não! Então, faça a sua doação...

Banco do Brasil
SOS Haiti 
Agência 1606-3
Conta Corrente 91000-7
 


Muita Paz e Comforto ao Povo Haitiano!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pobre Luciraldo!

323

O criador dessa ótima tira é Carlos Ruas. Visite o site dele AQUI e se divirta com Deus, Luciraldo, Caim, Eva, Adão e o Mundo.

Uma Paz Demoníaca à Tod@s!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Olho Mais Azul!

http://www.listsergeant.com/blog/wp-content/uploads/2009/05/blue-eyed-baby1.jpg

Aposto que alguém aí do outro lado da tela ao ver a imagem acima deve ter dito, "Ai que fofura!", "Gracinha!", "Que lindinho!",  "Biiiiito", "Coisa linda!" e por aí vai. Errei?... Não, acho que não.  Pois bem, o catarrentinho da parada se chama Laren Galloway e, segundo informações que recolhi aqui na Internet, seus pais são afro-americanos que fugiram de New Orleans após (ou durante!) a ocorrência do furacão Katrina em 2006. Galloway foi fotografado por Terry Green e há uma galeria de fotos somente do garotinho (veja AQUI ) Caso você se lembre bem de suas aulas de biologia na escola, deve saber que os genes para os olhos azúis e verdes são recessivos e não dominantes como no caso dos castanhos. Assim sendo, ter "zóio azur" e ser negrão é como ter o número sorteado na loteria da genética!

Mas dá pra se pensar várias outras coisas diante da imagem de Galloway e uma delas é sobre a junção de idéias opostas criando o que, quando falamos bonito querendo impressionar alguém, chamamos de paradoxo. Os olhos azúis, cujo representante mais famoso talvez tenha sido o ator norte-americano Paul Newman (1925-2008), são mais freqüentes em populações nórdicas e anglo-saxãs e foram muitas vezes associados a uma espécie de síntese do racismo segregacionista norte-americano. Um dos livros mais conhecidos de Toni Morrison, escritora afro-americana laureada com o Nobel de literatura em 1992, leva o título de The Bluest Eye (O Olho Mais Azul) e narra o drama de uma garota negra chamada Claudia MacTeer. Vivendo nos EUA dos anos 1930/1940 Claudia se martiriza por não possuir os olhos azúis de sua boneca, réplica de uma das grandes estrelas de Hollywood da época Shirley Temple. A personagem subjetivamente supõe que, caso possuísse olhos azúis, não sofreria o racismo do qual sua família é vítima.

 http://www.clancycavnar.com/images/art/8_02/Anastacia.jpg

Obviamente, não poderia deixar de pensar em Escrava Anastácia (imagem acima), figura de devoção no catolicismo popular brasileiro. Segundo conta a lenda, Anastácia viveu no Brasil no século XIX, pouco antes do final da escravidão, mas tinha nascido na continente africano, mais especificamente na Nigéria. A escravizada tinha olhos azúis e sua beleza era motivo de inveja por parte da mulher de seu senhor. A história diz que Anastácia lutou e não permitiu que seu senhor a estuprasse. Como castigo, foi forçada a utilizar um colar e uma espécie de mordaça que a impedia de falar. Anastácia começou a fazer milagres curando doentes e, antes de morrer vítima de tétano, teria curado o filho de seu senhor de uma enfermidade.  Quem tiver interesse deve ler o livro lançado em 1998 pelo meu amigo antropólogo John Burdick, Blessed Anastacia: Women, Race and Popular Christianity in Brazil.

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Finalmente veio a mente o documentário Eye of Storm produzido e exibido pelo canal de televisão ABC em 1970Nos anos 1960 uma professora primária branca, Janet Elliot, chocada e preocupada com as consequências do então recente assassinato do líder afro-americano Martin Luther King Jr (1929-1968) sobre seus alunos, submeteu seus pupilos a uma experiência. Ela separou o grupo (foto acima) de acordo com a cor dos olhos, de modo que, os detentores de olhos azúis recebiam privilégios e, arbitrariamente, idéias que os associavam a mais inteligentes, bonitos,  disciplinados dentre outras qualidades positivas. O outro grupo, cuja maioria possuia olhos com várias tonalidades de castanho (brown) e verde era associado a qualidades negativas. A professora atuava ainda de modo ativo sobre os dois grupos gerando e mediando conflitos que eram sempre resolvidos de forma parcial em favor do grupo de olhos azúis, de modo que, os argumentos apresentados pelo grupo ou alunos de olhos castanhos e verdes eram rebatidos até que eles se convencessem que estavam errados. O resultado é surpreendente. Dentro de alguns dias havia uma clara hierarquia na classe que era dominada por alun@s de olhos azúis. Antes de gravar o documentário Elliot já tinha realizado o experimento três vezes, mas com classes diferentes.  A versão do documentário que assisti é de 1996 e leva o título de Blue Eyed com Elliot aplicando seu experimento num grupo composto por brancos e negros. Fui apresentado a esse vídeo no curso de meu ex-professor Kabenguele Munanga na graduação em ciências sociais na USPAssista samples dos outros vídeos AQUI Confira, ao final do post, um trecho do filme Blue Eyed e tire suas próprias conclusões (a imagem está meio ruim, mas o aúdio okay).

Por fim, diria que o olhinho azul do piralho Galloway é bonito pacas, mas representa muita treta na história e, caso não tenha a assistência dos pais e psicólogos, um problema em potencial para o moleque! Galloway terá que aprender a lidar com esse seu traço singular, já que ele - criança, adolescente ou adulto - sempre chamará a atenção onde quer que for e será alvo de curiosidade, dúvida ("será que é de verdade ou o maluco está usando lentes?"), inveja e atração.  O exotismo dos olhos do garoto poderão ser, num futuro breve, sua fortuna e/ou desgraça. O que acham?????

Como sempre, Muita Paz!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Gerson King Combo na Parada!

Conversando com minha amiga Mila Félix descobri que está prestes a estrear um documentário sobre a vida e obra do soulman brasileiro, Gerson King Combo. Para quem não sabe, Combo é o autor daquele velho som Mandamentos Black... "Dançar como dança um black... Amar como ama um black... "  e por aí vai. Mila fez um post sobre a parada no blog dela, o Miss Milissima, e estou pegando carona no embalo da negona.

 http://2top4pop.files.wordpress.com/2009/05/gerson-king-combo-1978-vol-ii.jpg

A película registra os depoimentos de várias figuras da cena musical brasileira (na maioria cariocas!) como Elza Soares, Fernanda Abreu, Marcelo D2 (urgh!), DJ Marlboro, a Marrom Alcione (tomando um "negocinho" enquanto dá a entrevista), Max de Castro, Jairzinho (urgh!) entre outros. Levando o título de Viva Black Music o filme foi dirigido por David Obadia. Assista o trailer abaixo.

Muita Paz!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Mulheres, Brasileiras e Lésbicas

Acontece no próximo dia 14 de janeiro no Rio de Janeiro o lançamento do documentário Sou Mulher, Sou Brasileira, Sou Lésbica (2009) cuja direção é de Vagner de Almeida e que estará presente a sessão.

 http://senale.files.wordpress.com/2009/11/docmentariolgbt.jpg

O local do evento é o Cinema Nosso localizado na Rua do Resende, Lapa (19:30 h).

Assista o trailer do filme abaixo.

Muita Paz!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Carnaval em Trinidad?

 http://www.aeroflight.co.uk/waf/americas/trinidad/Trinidad+Tobago-flag.gif

Meu truta Calvin A., pretão originário de Trinidad e Tobago e meu futuro sócio empreendedor no Brasil, me convidou para passar o carnaval 2010 nessa maravilhosa ilha caribenha. Entretanto, como não gosto de calor, nem cerveja gelada, pretas lindas, soca - o ritmo local -, maloqueragem e balada vou ficar aqui em NYC com a minha bunda congelando na Bobst Library. Ano que vem talvez eu mude meus gostos, não?!...

Abaixo, imagens da "festinha" no ano passado!

 http://photos.igougo.com/images/p366202-Trinidad_and_Tobago-Carnival_Girls.jpg

http://www.bet.com/Assets/BET/Published/image/jpeg/7d919697-cb8d-168b-7ed4-199ac8306b78-news_FB_WorldLens_TrinidadTobagoCarnivalDancer.jpg

Muita Paz e um salve pro Calvin que a essa hora está torrando debaixo do sol caribenho!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Money Shot: A Indústria Pornográfica Negra nos EUA

 

Uma das coisas que fiz durante os últimos suspiros de 2009 foi ler (para variar!). Viajei nuns poemas e contos de Paulo Leminski (1944-1989), uns textos meio sem pé nem cabeça de Norbert Elias (1897-1990), flertei com umas coisas bem velhas de Joseph Schumpeter (1883-1950) devido a sugestão de meu truta Rogério Acca e devorei a pontinha que faltava de um livro de bell hooks com a qual cheguei a conclusão que as mulheres (e homens!) precisam recuperar o feminismo radical, mas tudo isso é história pra um outro post. Quero falar aqui de outra leitura de final/início de ano: Money Shot: The Wild Nights and Lonely Days Inside The Black Porny Industry (2007) do escritor Lawrence Ross. Conheci Ross, que mora em Los Angeles, em 2001 quando ele me entrevistou para um livro que estava escrevendo na época sobre pessoas negras vivendo em diferentes partes do mundo. Desde então mantemos contato por email e, recentemente, via Facebook. Há tempos já sabia desse livro, mas não tinha tido tempo de lê-lo ainda devido a corrreria. Quando me livrei de meus afazeres acadêmicos no último mês, não pensei duas vezes em fazê-lo.

Money shot é uma expressão usada na indústria pornográfica norte-americana para fazer referência ao fechamento de uma cena e, na maioria das vezes, o momento em que o ator masculino chega ao orgasmo ejaculando em alguma parte do corpo de sua/seu parceir@. Em suma, o momento em que todos sabem que a parte  central de um filme porno está terminado e todos receberão seus cheques. Durante três anos Ross entrevistou entre 35 e 40 pessoas como atores, atrizes, diretores, swinguers, empresários, fãs e acadêmicos estudiosos do tema. O resultado são quase 300 páginas nas quais o escritor apresenta, através de sua escrita leve, as histórias dessas pessoas e as questões envolvidas na existência e funcionamento de uma indústria pornográfica negra nos EUA.



De acordo com Ross, os primeiros filmes pornográficos negros da América foram feitos nos anos 1970 (acima imagem do filme Lialeh, 1974) pegando carona na onda blaxploitation onde sexo estava presente, mas não era algo central. Contudo, esse segmento do mercado se desenvolveu com força somente nos anos 1990. Ver (ou ler sobre) as entranhas da indústria porno é um misto de estranhamento e mal-estar. Não sou um leitor moralmente inclinado, mas muitas vezes é difícil lidar com representações que nos dizem muito a respeito de verdades presentes na sociedade como um todo. Em outros termos, a indústria pornográfica negra reproduz as lógicas de desigualdade, racismo e imaginário que a população afro-americana está submetida na América do Norte.  Além do mais, tendo a entender que mesmo estando já há quarenta anos da revolução sexual, sexo ainda é um tema controvertido (pense na discussão sobre pedofilia e/ou prostituição).

Por outro lado, um detalhe importante na indústria pornográfica é que, devido a ser algo para ser consumido privadamente, as películas para consumo adulto são um campo fértil para a reposição de todos os estereótipos que há séculos se constrõem sobre os corpos de homens e mulheres negras e sua sexualidade. Caso emblemático disso é o contado por Ross a partir do encontro com a atriz pornô Melodee Bliss. Nos seus vinte e poucos anos, Bliss havia acabado de entrar no mercado de produções pornô. De acordo com ela, sua motivação para ingressar nesse ramo se deu devido a possibilidade de ganhar dinheiro ao mesmo tempo que se fazia algo que ela aprecia: sexo.  Bliss começou fazendo escort, uma espécie de prostituição de luxo contratada por artistas, atletas entre outros endinheirados, antes de fazer suas primeiras cenas. Seu objetivo, assim como se vê na maioria dos depoimentos das atrizes/atores, é ganhar popularidade através de um site próprio e subir ao next level da indústria: dirigir filmes. Mas Bliss tem uma objeção em suas cenas, em suas palavras... "Nobody's going to fuck me in my ass, because I think I'm too cute for that", "I have a diferent look. But I would do an anal movie for my company, so I get all the benefit". Na ocasião do encontro, a atriz deu ao escritor uma fita com seu último filme. A mesma garota que não aceita fazer sexo anal por se achar too cute transa no vídeo com três homens brancos num gênero muito específico do pornô norte-americano: interracial entre homens brancos e mulheres negras no qual essas últimas são humilhadas, espancadas e abusadas.  Durante trinta minutos Bliss, vestindo apenas um top com os dízeres Boy Toy, é "forçada" a fazer sexo oral de forma brusca e violenta até ficar sem ar, leva tapas e cuspidas no rosto e seios, é penetrada de quase todas as formas possíveis, e tem todo o rosto coberto pelo esperma dos três homens além de ser "obrigada" a rastejar de joelhos sobre saliva e esperma. Como afirma Ross, "remember, it's not what you say you won't do in porn, but what you will do, that counts".

A maioria dos atores e atrizes entrevistados pelo escritor afirma ter entrado no ramo atraídos pelo dinheiro e devido a necessidades financeiras. Homens recebem entre US$ 250 e 400 por uma cena simples (homem/mulher que envolva sexo oral e penetração vaginal)  enquanto os valores pagos para mulheres variam entre US$ 500 e 900.  Entretanto, atrizes e atores negros geralmente recebem menos. Uma atriz branca em início de carreira começa recebendo por volta de US$ 800 por cena enquanto uma negra nas mesmas condições irá receber 500.  A possibilidade de fazer várias cenas durante o dia (às vezes até três) e a flexibilidade do horário de trabalho atrai os novatos cujo o faturamento gira em torno de US$ 6000 a 8000 mensais. Para se ter uma idéia, uma professora de ensino fundamental numa escola pública de NYC recebe em torno de US$ 3800 mensais. Boa parte dos entrevistados também possuem educação superior e família estruturada algo que se contrapõe ao estereótipo do ator/atriz de filmes pornográficos como desviantes.

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A quase totalidade de produtoras estão localizadas na Califórnia, numa área próxima a Hollywood chamada San Fernando Valley e conhecida como Porn Valley. A maioria dos atores/atrizes mora nas redondezas de modo a diminuir custos de transporte e mostrar-se disponíveis a realizar vários trabalhos num curto espaço de tempo. É ali que também reside Lexington Steele (foto acima).  Steele é um dos mais famosos, requisitados e caros atores da indústria e em 2004, época do início da produção do livro de Ross, estava iniciando sua própria produtora, a Mercenary Pictures.  O empresário/ator tem uma história diferenciada de seus coworkers. Lexington era um stockbrocker (corretor de valores) trabalhando em Wall Street antes de se tornar ator.  Os valores pagos no emprego lhe proporcionavam ter um estilo de vida comfortável, mas o ritmo de trabalho - em torno de 60 a 70 horas semanais - não lhe permitiam tirar proveito do dinheiro que ganhava. Foi então que resolveu pedir demissão do emprego e se aventurar por outros ramos. Após perambulações chegou a indústria pornográfica onde seu pênis de 11 polegadas de comprimento (27.94 centímetros) e boas performances em cenas lhe garantiram um lugar de destaque. De acordo com Lexington, atores que mostram ter uma boa performance são mais requisitados e mantem-se por mais tempo na indústria. Atrizes tem uma carreira mais curta devido a alta rotatividade. Uma boa performance, para atores, significa ter ereções e mantê-las no decorrer do processo de gravação das cenas. Muitos atores quando tem uma carga elevada de trabalho - de duas a três cenas num mesmo dia - confessam usar drogas para dar conta dos compromissos utilizando Viagra e outros estimulantes sexuais.

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Uma das questões delicadas envolvendo o trabalho na indústria pornográfica diz respeito ao risco do HIV e o uso de preservativos. O uso da camisinha em filmes não agrada boa parte da audiência heterossexual e majoritariamente masculina. Isso força a que a quase totalidade dos filmes seja produzido/filmado sem o uso de preservativos. Atores/atrizes devem testar-se a cada 30 dias e apresentam seus testes antes de cada cena. Todo esse aparato é controlado e administrado pela AIM (Adult Industry Medical Care), mas mesmo assim há falhas e perigos. Foi o que aconteceu em 2004 no caso Darrem James, um ex ator negro (foto acima).  Nosso país entra no mapa da indústria pornográfica devido ao baixo custo da produção e dos atores - quando comparado aos EUA - e ao imaginário que gira em torno da beleza não só da mulher brasileira, mas gays e travestis também.  Entretanto, no Brasil não há - ao menos de acordo com Ross - nenhum orgão responsável por controlar/admnistrar as condições de saúde e exames dos profissionais atuando na indústria pornô.  Darren James e Mark Anthony, outro ator negro,  trabalharam no Brasil por duas semanas e ao voltar para os EUA fizeram seus testes de HIV cujo o resultado foi negativo. Voltaram ao trabalho e filmaram, dentre outras performances, uma cena juntos na qual faziam uma dupla penetração anal numa atriz canadense novata na indústria, Lara Roxx. No dia seguinte Lara acordou com febre e infecções. Após fazer o exame Roxx foi diagnosticada positivo para HIV o que gerou pânico na indústria e forçou a AIM a decretar a suspensão de todas as filmagens no Porn Valley por 60 dias até que se rastreasse quais e quantos eram os atores infectados e como o furo tinha ocorrido. No total 4 pessoas foram infectados (três atrizes além de James) e a suspensão das atividades foi reduzidas para 30 dias.

File:Sinnamon Love 6.JPG

A pornografia negra representa um mercado pequeno no universo da indústria pornográfica norte-americana majoritariamente branca. Entretanto, os estereótipos e imaginário sexual relacionado aos negros nos EUA potencializam as possibilidades de lucro. Ross mostra como a indústria já manteve relações bem sucedidas com o hip-hop. O vídeo Snoop Doog's Doggystlyle (2001)  do rapper Snoop Dog deu o pontapé inicial nessa tendência que foi seguida por outros rappers. O filme foi gravado  na mansão de Snoop em Los Angeles e o rapper apresenta as performances e canta no intervalo entre as mesmas.  Sinnamon Love (foto acima), uma das mais conhecidas e bem pagas atrizes negras, tem investido num universo pouco explorado por atores/atrizes negros: bondage (sadismo/dominação). Em um dos seus filmes, Love explorou uma técnica japonesa intitulada shibari.  Shibari é um verbo em japonês que significa "amarrar" e, nessa técnica, os genitais são envoltos com corda e/ou barbante e apertados causando prazer e dor. Danny Blaq - ator que mora em Washington DC - está envolvido na produção de vídeos caseiros e amadores. Ele filma a si mesmo tendo performances com casais ou apenas mulheres cujo os maridos o contratam e depois posta o material em seu site. Blaq afirma que muitos de seus clientes são casais brancos que tem fantasias sobre ter sexo com homens negros e resolvem fazê-lo de forma segura e que possam apreciar a parada na internet posteriormente.

Vale ressaltar que o avanço da Internet renovou de maneira exorbitante os lucros da indústria pornográfica e, ao mesmo tempo, pornografia é o negócio mais lucrativos da web como vários estudos tem mostrado.  Isso ocorre porque o material produzido pela indústria pornográfica é para ser consumido de forma privada e a internet fornece tanto privacidade como descrição. A Mercenary Pictures, de Lexington Steele, passou até mesmo a produzir uma linha voltada somente para mulheres uma vez que as mesmas, por conta das facilidades vigentes na rede mundial de computadores, se sentem mais à vontade para consumirem pornografia ao mesmo tempo que não encontram material que satisfaça seu gosto diferenciado dos homens.

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Por fim, a fala de todos os atores e atrizes pornos entrevistados por Ross tem um eco de solidão e noção de que ocorre um processo de desumanização de seus corpos tanto por parte da audiência como da indústria.  Essa percepção surge quando os entrevistados afirmam ter poucos amigos e dificuldades de se relacionar afetivamente uma vez que poucos entendem, respeitam ou simpatizam com seu trabalho. Outras vezes namorad@s estabelecem uma relação de fã com seus/suas parceir@s reproduzindo estereótipos e criando falsas expectativas. A fala de Love resume a ponto ao qual me refiro: "People tend to think that porn people are sitting in a mansion in Beverly Hills in stilletos and a Brazilian G-string (espécie de biquini) waiting for someone to yell action. And that comes from them thinking that we're nonpersons. A lot of porn fans think we're beneath them in some sort of way". E essa percepção dos fãs, de acordo com Love, é responsável por fazer que a indústria heterrosexual de filmes adultos, diferente da indústria gay, não torne obrigatório o uso de preservativos. "Unfortunatelly, it's the fans' fault. They don't see us as human beings and instead see us as being the dregs of society, so they don't care what happens to us". A propósito, Love tem um diploma em psicologia pela University of Southern California.

Muita Paz!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Merda e Ouro

Merda é veneno
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.

http://unisinos.br/blog/ihu/files/2009/06/paulo-leminski-lotus.jpg

"Merda e Ouro", Paulo Leminski (1944-1989), em Distraídos Venceremos (1987), página 30.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Humor Tonto Para Gente Inteligente