Estava eu ontem estudando e recebi de minha amiga Gisele Neres (campineira atualmente radicada em New Jersey), via Twitter, o link para um vídeo feito pela rede de TV inglesa Channel 4. Intitulado The White Beauty Myth (O Mito da Beleza Branca) o filme discute a obsessão de alguns indivíduos pertencentes a minorias étnicas na Inglaterra em moldarem seus corpos a traços brancóides (ou "caucasianos" ou "ocidentais", termos utilizados no filme). Os três personagens acompanhados são uma jovem negra que deseja fazer uma operação para mudar o formato do nariz, um rapaz descendentes de indianos que trabalha como modelo e pretende realizar mais uma intervenção cirúrgica (já havia feito duas ou três) para mudar o formato do rosto e uma dona de casa oriunda de Blangladesh que usa cremes para clarear a pele. O mais divertido é ver um dos médicos entrevistados dizer que não se trata de uma busca por seus clientes de ficar mais branco ou mais ocidentalizado, mas sim o que ele chama de globalização, um processo no qual os traços étnicos irão cada vez menos visíveis.
Não darei minha opinião sobre o vídeo, deixarei que os leitores tirem suas próprias conclusões (infelizmente o mesmo encontra-se em inglês e sem legendas em português). Meu único comentário diz respeito ao tom sensacionalista desses documentários que buscam sempre apresentar indíviduos que aparentam estar próximos de um comportamento patológico. Entretanto, a busca por cirurgias plásticas para "corrigir" traços étnicos e cremes de clareamento de pele é uma prática largamente conhecida dentro dos grupos não brancos. Muitos anos atrás li na Vibe Magazine uma reportagem que listava figuras proeminentes no mundo do entretenimento negro norte-americano que haviam realizado cirurgias plásticas como foi o caso do truta rapper e ator LL Cool J.
Os cremes para clarear a pele, por sua vez, foram assunto de uma matéria publicada no jornal New York Times na semana passada. IntituladoCreams Offering Lighter Skin May Bring Risks o texto discute os perigos para a saúde resultantes do uso contínuo desses cremes que são vendidos livremente em farmácias e/ou lojas de produtos de cosméticos geralmente localizadas em bairros de maioria negra e/ou latina. A foto acima é de Sammy Sosa, ex jogador de beisebol dominicado naturalizado americano, que clareou a pele entre 2007 e 2009 usando esse tipo de produto. Abaixo uma foto das "belezinhas" que contêm na sua composição uma série de substâncias que podem causar até câncer de pele.
Para quem se interessou pela discussão sugiro a leitura de um clássico das ciências sociais: Pele Negra Máscaras Brancasdo psiquiatra e filósofo de esquerda martinicano Frantz Fanon (1925-1961). Esse trabalho é a tese de doutorado do médico caribenho apresentada e reprovada numa universidade francesa em Lyon e cujo título original era The Disalienation of Black Man. Em 1952 Fanon decidiu publicá-la como livro e o texto acabou se tornando uma das obras percusoras de uma corrente acadêmica conhecida hoje como estudos culturais e pós-coloniais que inclui outras figuras famosas do mundo acadêmico como Edward Said (1935-2003), Stuart Hall, Paul Gilroy, Homi Bhabha, Gayatri Spivak dentre outr@s. O intelectual caribenho discute nesse livro - relativamente curto - o processo pelo qual povos colonizados negros incorporam uma subjetividade que estabelece formas de pensamento e uma relação com o corpo baseada numa rígida dicotomia entre negro e branco no qual o primeiro é interpretado de forma negativa e o segundo positiva. Veja a foto do negrão sangue no zóio aí embaixo...
Assista o vídeo da rapaziada louca por uma pele branquinha ou um nariz menos largo e deixe sua opinião aí pra nóis! De minha parte, vou continuar com meu beiço, meu nariz em formato de batata e minha pele cor de feijão preto. Aproveito o ensejo para avisar meu querido público leitor que deixarei de escrever no blog por algumas semanas devido a correria com outras paradas em NYC. Volto a ativa assim que der...
Muita Paz, Feliz Niver Para São Paulo - minha cidade querida - e Bom Carnaval!