New York City, 12 de outubro de 2009.
São 8:40 da manhã e estou no metrô voltando para minha casa depois de uma noite de trabalho na Bobst Library (NYU). Após algumas estações em que subi o vagão começa a lotar. É feriado na Big Apple, Columbus Day, mas em NYC há sempre alguém indo ou voltando do trabalho. Em uma das paradas do trem, já lotado, uma senhora negra aparentando seus quase 50 anos entra no vagão. É franzina e carrega uma sacola de loja de departamentos e uma bolsa. Ela senta-se à minha frente...
Seu olhar é tão triste que imediatamente captura minha atenção a ponto me fazer deixar de lado o romance que comprara no dia anterior e estava tão ansioso em começar a ler. Seu olhar é tão amargurado que dá a assustadora impressão que aquela mulher, franzina e carregando sacolas, irá explodir em lágrimas a qualquer momento. Meus olhos se enchem d'água! Em meu iPhone ouço despreocupadamente Maxwell, mas quero compartilhar da tristeza daquela senhora negra que senta à minha frente e cujo o olhar é talvez o mais triste que eu já tenha visto em toda a minha vida... Ao trocar de música acho, incidentalmente, Gil Scott-Heron...
Did you hear what they said,
Did you hear what they said,
Did you hear what they said,
They said another brother's dead,
They said he's dead...but he can't be buried,
They said he's dead...but he can't be buried,
Come on, come on,come on,come on
This can't be real.
Did you hear what they said,
Did you hear what they said,
Did you hear what they said,
They said,they shot him in his head,
A shot in the head to save his country,
A shot in the head to save his country,
Come on, come on,come on,come on
This can't be real.
Did you hear what they said,
Yeah did you hear what they said,
Did you hear what they said,
About his mother and how she cried,
They said she cried,'cause her only son was dead
They said she cried,'cause her only son was dead
Woman,could you imagine if your only son was dead
And somebody told you,he couldn't be buried,
Hey,hey,come on,come on,come on,come on
This can't be real.
As estações passam rápido enquanto ouço a música e noto os detalhes do rosto daquela senhora negra franzina. Tranças rentes a cabeça no cabelo crespo, os dentes irregulares, a pele enrugada, os lábios disformes. Agora tenho certeza que seus olhos estão cheios de lágrimas, mas nenhuma delas surge sobre a sua face. Minha estação chega e continuo a olhar para ela enquanto saio do vagão em direção a plataforma. Ela me fita e eu, mediante um acordo feito no silêncio de olhares, me sinto livre para compartilhar da sua dor. Entretanto, ela, por força moral ou qualquer outra razão, não derramou nem uma lágrima sequer ao ponto que eu, parado na plataforma, via o trem indo embora enquanto minhas faces sentiam algo úmido que despencava de meus olhos...
Ouça Did You Hear What They Said?, de Gil Scott-Heron (foto abaixo), AQUI
Muita Paz!
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
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3 comentários:
É irmão, fui de metrô/
Aquele frio na espinha que eu tinha, então voltou/
A
cada estação ele aumentava/
Eu não sabia se descia ou
se eu continuava/ A procura de uma distração/
Olhava o
vagão lotado, a movimentação/
Aquele povo indo pra
algum lugar/
Trabalhar, estudar, passear, roubar, sei
lá/ Vi uma mina bonita, discreta/
Pinta de modelo,
corpo de atleta/
Eu vi um cara lendo concentrado/
Naipe de estudante,
daqueles filhos dedicados/ Vi uma
tia crente em pé cansada/
De cor escura com a pele
enrugada/ Ela me fez lembrar/
Parece a mãe da vítima,
José Luiz/Griot
Fala Zé Luiz!!
Captaste de maneira magnífica meus sentimentos via Racionais!
Abraço com saudades,
Márcio/Kibe.
Prezad@s,
Algumas pessoas reclamaram que o link da música não está funcionando. Caso alguém saiba de outro endereço no qual seja possível ouvi-lá, por favor, disponibilize o mesmo aqui, right?
Thanks a lot pela leitura!
Abraço do Márcio/Kibe.
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