sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Brasil Mostra a Sua Cara... Machista e Preconceituosa!
(Feminist Art Base: Helen Redman)
"Coitadinha da moça, ela tava com calorzinho....ha, ha, ha, ha, o problema é que tem uns panacas infelizmente que acham que tem o direito de fazer o que querem, eu por mim olharia dava uma babadinha se fosse gostosa (o que não é o caso, pois é feia pra cacete!!!), mas deixava pra lá, nós gostamos de olhar mas na hora de escolher uma mulher sempre escolhemos uma mais séria que realmente queira fazer uma parceria pra vida toda, essas aí a gente usa só como objeto como latrina mesmo, bom pra olhar mas depois de um tempo enjoa, e também as vezes tem outros problemas tipo ela devia estar ovulando, tava com coceirinha, ou esta desesperada pra arrumar macho (que acho que não seja o caso), enfim elas podem se vestir do jeito que quiserem, problema delas, quem quer dar uma de diferente sempre vai pagar o pato, que esteja preparado pra isso e assuma os riscos."
“Eu só quero mulher desnuda ou com roupa realçando as curvas da bunda perto de mim quando vou na zona, pois lá vou quando quero tratar de sexo. Fora de lá, seja na escola, na rua , no ônibus, no metrô, no trabalho, etc., não quero e não admito. Mulher que faz isso será sempre odiada e se tiver uma oportunidade eu agrido mesmo."
“Quis ser puta, quis mostrar pra todos que é puta, foi tratada como tal. Absolutamente normal. Tem que esculachar mesmo, se o frouxo e inútil do pai não teve a competência pra ensinar valores e educação pra sua filha, outros lá fora se encarregarão disto. Foi muito bem feito, essas vadias acham que por serem mulheres podem tudo, podem andar e pisar a vontade que tudo está a mercê delas, que isso sirva de exemplo pra todos. Inconscientemente (ou não) quer sexo; e é mulher, ou seja, por instinto quer dar pra alguém, é uma vagabunda a mais, só isso. A culpada é ela." (ÊNFASES EM NEGRITO MEUS)
Às vezes é difícil acreditar nas coisas que lemos pela web, mas a parada é real. O formato da rede mundial de computadores tem possibilitado que muitas vezes identifiquemos o verdadeiro pensamento de parte da população sobre determinado tema, já que é possível se expressar livremente sem ser idenficad@. O trecho acima - nojento e misôgino - foi retirado de um comentário num site que veiculou a notícia da aluna hostilizada numa universidade de São Paulo, mas li o mesmo em um blog, o Escreva Lola Escreva (muito bom e que recomendo!). Pois é, a história toda começou no dia 22 de outubro, quando uma aluna da Universidade Bandeirantes (UNIBAN) do campus localizado em São Bernardo do Campo resolveu ir à aula usando um vestido curto. No decorrer das aulas a aluna, cujo apelido seria “Loirão”, foi hostilizada pelos colegas ao ir ao banheiro e, posteriormente, sofreu uma espécie de linchamento moral de uma turba de universitários por conta de sua roupa. Os seguranças da universidade, em número reduzido, não conseguiam controlar a situação e a PM foi chamada para garantir a integridade da aluna que ficou trancada numa sala até a chegada dos policiais. A turba, pelo que consta, bradava termos como “puta” e “vagabunda”, e alguns ameaçavam estuprá-la no momento que a mesma foi escoltada da sala para fora do prédio vestindo o avental branco de um professor sobre o vestido curto que usava. Havia imagens no YouTube que registram a confusão até ontem à tarde, mas a notícia que leio nesse momento no site UOL, leia AQUI, acompanhada de um trecho de vídeo, afirma que a UNIBAN solicitou a retirada dos vídeos ao site.
O que o ocorrido nos ensina? Nada mais do que confirmar o que o feministas brasileiras vem repetindo durante muito tempo e a exaustão: que o machismo e a discriminação de gênero continuam firmes e fortes em nosso país. Lola, no post em seu blog, tente a desqualificar um pouco a ação da turba que incentivou o linchamento moral da aluna. Peço licença para discordar apenas nesse ponto da análise da blogueira. De minha parte, penso que interpretar a formação e ação da turba nos ajuda a entender questões/problemas inerentes a sociedade brasileira atual.
O francês Émile Durkheim (1858-1917), um dos pais fundadores da sociologia, cunhou o termo “efervescência coletiva” para classificar estados nos quais indivíduos perdem a sua individualidade para algo maior e, assim, participam e experimentam formas de pertencimento coletivo afirmando valores e a reforçando a união do grupo. Isso pode ser visto em comoções nacionais, em rituais religiosos e linchamentos. Em certa medida, um bom exemplo disso são os linchamentos de negros que ocorriam em estados do sul dos Estados Unidos durante a existência nessa região do Jim Crow (conjunto de leis vigentes entre 1876 e 1965 que estabeleciam a segregação racial e separação entre negros e brancos). Homens, mulheres e crianças brancos afirmavam valores de pertencimento e superioridade racial participando desses eventos que eram um misto de festa e lócus de aprendizado e afirmação de valores.
(Foto de linchamento no sul dos EUA)
A turba que insultou e linchou moralmente a colega de classe na UNIBAN afirma valores retrógrados, conservadores e preconceituosos da sociedade brasileira. Somos uma população que se apresenta como simpática, possuidora de uma cultura flexível que tem uma relação peculiar com o corpo e uma forma de lidar com o sexo que nos distinguiria do puritanismo visto em lugares como os Estados Unidos. Entretanto, esse identidade, construída em parte de estereótipos sobre o corpo e sexualidade da mulher brasileira, mestiçagem e outros elementos esconde uma faceta extremamente hierarquizadora e preconceituosa no que diz respeito ao trato com as mesmas mulheres que podem ser nossas mães, irmãs, esposas, namoradas, amigas e, até mesmo, colegas de trabalho ou de classe numa universidade. O recado que a turba, que se comportou como se estivesse numa grande festa, deu é de que uma mulher, no Brasil, que saia a rua vestindo roupas curtas ou algo que, de algum modo, seja interpretado como provocativo “merece” ser insultada, xingada e, por mais absurdo que soe, ESTUPRADA!
Essas são cenas contemporâneas de um país que tem como um dos seus grandes objetivos entrar no seleto hall dos países classificados como democráticos e desenvolvidos. Fica aqui o recado: democracia e desenvolvimento devem andar de mãos dadas com igualdade (de gênero, racial e de orientação sexual). Para isso é necessário a transformação/mudança dos valores disseminados na sociedade que enfatizam e olham para a desigualdade e desrespeito as diferenças como algo “legal” e tolerável!
MUITA PAZ E INDIGNAÇÃO!
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6 comentários:
Marcio, não estou negando de jeito nenhum o machismo (e a homofobia, porque há gritos de "bicha! bicha!", e agora estão chamando a Uniban de Unibambi, dizendo que tal escândalo foi "coisa de viado", e todos esses clichês que conhecemos) do episódio. Mas uma turba é uma turba, e pra ela qualquer coisa serve. Dei o meu exemplo, o que aconteceu comigo na faculdade, e que não teve nada a ver com machismo. Mas foi parecido: um monte de gente do lado de fora da minha sala, gritando, chutando, e querendo invadir a sala.
Mas não há dúvida que esse linchamento moral (que não foi o primeiro nem será o último), quando acontece com mulheres, é relacionado a algo sexual em 90% das vezes. No domingo vou falar de um outro caso, mais antigo, e que considero ainda mais sério.
Abração!
Fala, Kibão! Como bom antropólogo e punk antropófago, também fiz meu comentário, ehehe... Confira comigo no meu blog!
Mas tem um lance festivo nisso mesmo, que você ressaltou bem.
Pois é, além dessas coisas acontecerem ao vivo e em corês, ainda se pode ler comentários a favor na internet...
Engraçado que anos atrás uma então moradora do Crusp tirou uma fotos para a Playboy. Num deu outra, foi forçada a se mudar do pedaço...
E num tem essa que é coisa de gay, não, é coisa de machistinha mesmo, que acha que mulher menos vestida tá mexenmdo com ele, o pulha. Em outro lugar, a menina teria sido currada... Como ali´s aconteceu há pouco numa festa escolar nos USA...
Eu acompanhei os vídeos feitos em celulares, câmeras e etc. Foda é saber que as pessoas tornam a falta de bom senso de uns justificável pela liberdade de outros de fazerem e mostrarem o que quizerem. Moralismo é uma merda.
Sexta-feira to partindo pro Brasil e estou pensando em ir de BURKA... less strunggle =(
Roupa curta mode on...
Brilhante análise meu irmão. Outros tentam "resolver" a questão com burkas. Retifico. Seu Blog não está fazendo bem só para nossa comunidade e sim para a "futura Pátria Amada" (Sendo otimista). Orgulho vc já ter contribuido com a Griot.
abraço
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