terça-feira, 27 de outubro de 2009
O Agente do Serviço Secreto no Jantar de Bacana!
Sempre que recebo emails das organizações que administram minha bolsa fico de cabelo pé. Já começo a pensar no que foi que fiquei devendo ou qual deadline perdi. Creiam: sou uma pessoa extremamente desorganizada que se encontra na sua bagunça, mas às vezes me perco nela e fica difícil de me encontrar novamente. Quando morava no Brasil, Dona Joana, senhora minha mãe, era a responsável por lembrar datas de coisas importantes como imposto de renda, justicativas por ter deixado de votar entre outras coisitas.
Há um mês atrás recebi um email da instituição que administra minha bolsa aqui nos EUA e pensei duas vezes antes de abrir o mesmo. Entretanto, relaxei bastante quando li a mensagem. Tratava-se de um convite para participar de um jantar de gala em comemoração aos 90 anos de existência da instituição. De acordo com a mensagem, eu era considerado um proeminente fellow e seria um prazer contar com minha presença no evento. Por fim, solicitavam confirmação de minha presença e, no caso de resposta positiva, a mensagem deveria ser encaminhada com um texto de uma página com informações sobre minha trajetória. O code dress da festa seria black tie e eu compartilharia a mesa de jantar com outros convidados me dispondo a conversar com os mesmos passando informações sobre o programa de bolsa a que estou vinculado, sobre meu país e meus interesses acadêmicos/profissionais. Pois é, quando a esmola é demais, já sabe, né?... Mas se há alguma coisa que um estudante duro não recusa é boa comida e bebida na faixa. Mandei minha mensagem de confirmação quase na mesma hora!
A noite chegou... Tirei meu costume do armário, comprei um camisa e gravata novas, engraxei o sapato e cortei o cabelo. Showtime! Deveria estar no Mandarim Hotel, Midtown Manhattan, por volta das 18 horas para participar do coquetel que rolaria até às 19 horas precedendo o jantar e entrega dos prêmios. Porém, difícil perder o costume de me atrasar. Peguei o metrô (vestindo terno, gravata, barbeado e perfumado) por volta das 17:50 e ainda na dúvida sobre qual baldeação deveria fazer. Sentei num banco e ao meu lado havia um rapaz com claros tiques nervosos. Primeiro, ele me perguntou se aquele trem passava em determinada estação. Respondi que sim e voltei a checar meus emails no celular. Entretanto, notei que o rapaz - alto, branco e usando óculos de grau - continuava a me observar. Depois de alguns minutos ele me olhou detidamente e perguntou: "Are you service secret?" "What?..." Respondi meio incrédulo do que tinha ouvido e ele repetiu, "I'm asking if are you in service secret?" Dei uma risada meio sem querer do absurdo da pergunta e respondi, "No sir, I'm not from service secret!"... Voltei a mim e fiquei pensando que mesmo que fosse do serviço secreto não faria sentindo me identificar. Entretanto, a situação me fez admitir que passei por um processo de mobilidade social ascendente, já que no Brasil iriam me confundir com segurança de casa noturna.
Cheguei em Midtown por volta das 18:25, mas ainda demorei mais uns cinco minutos para localizar o Mandarim Hotel. Carros de polícia, carros do serviço secreto (os verdadeiros!) e confusão de gente na frente do hotel. A confusão toda se dava devido a presença de representantes do corpo diplomático de alguns países. Entrei, me identifiquei e ganhei um crachá ridículo (odeio crachás, nunca uso...). O evento seria no 35 andar do prédio e já no elevador procurei por alguma face conhecida, mas nada. Continuaria por não encontrar nenhum rosto conhecido pelo resto da noite.
Ao chegar no andar do jantar e ver a porta do elevator se abrir dei de cara com uma multidão que se apertava numa espécie de lounge. Como não conhecia ninguém resolvi agarrar uma taça de vinho e simplesmente observar o ambiente. Ao chegar no barman, mudei de idéia diante da pergunta do rapaz: "What are you want sir?" Havia de tudo no esquema desde um suquinho de laranja, passando por água, vinho (branco e tinto), uísque e... Foi aí que lembrei de meu truta Mano Brown "...Champanhe pra abri nossos caminho!..." A propósito, acho que não havia cerveja disponível. Festa de bacana tem corte de classe sutil. Tomei umas duas taças de champanhe e umas duas de vinho e finalmente as portas do salão onde seria servido o jantar foram abertas.
O salão era circundado por janelas de vidro que iam do chão ao teto. Dali era possível ver parte do Central Park e vários prédios da Midtown Manhattan. O palco foi montado tendo como pano de fundo essa vista. Enquanto apreciava a paisagem troquei umas palavras com um senhor que me explicou as mudanças que haviam ocorrido naquela região da cidade nos últimos 10 anos e ainda tivemos tempo de falar sobre a economia do Brasil (todo mundo quer saber ou conhecer o Brasil). Todas as mesas eram numeradas e cada convidado tinha um lugar reservado. Achei a minha, 18, na qual sentei com um empresário americano que, ao saber que eu era brasileiro, disse ter ido a uma recepção em homenagem a Lula na noite anterior (nosso presidente estava de rolê pela cidade devido a um encontro de pica grossas na ONU), dois bolsistas - uma moça da Indonésia e um rapaz russo - de um outro programa e mais uma senhora que fazia parte da burocracia de alta escalão da instituição aniversariante.
Pois é, e lá se foram duas horas de premiações, discursos que reconstruiam histórias de vida, palmas e solicitações de contribuições filantrópicas. Cada convidado tinha junto a seu nome na mesa um pequeno formulário pelo qual era possível fazer doações com cartão de crédito. Como sou estudante, decidi que seria melhor esperar me formar para começar minha carreira na filantropia. Além do mais, não sei como a instituição reagiria a uma contribuiçao de US$ 5 e o abatimento deles na minhas taxes seria ridículo. No problem, outros já haviam cobrido a minha parte. Fiquei surpreso, feliz e aliviado ao ouvir o anúncio pela hostess do jantar que já haviam atingido a pequena soma de US$ 900.000 em doações naquela noite. E olha que estamos em crise!
E esse foi o jantar de bacana. A comida não foi aquelas coisas, mas se tratando de algo na faixa, já dizia o velho e bom Tim: vale-tudo! E na volta de casa, felizmente, ninguém me confundiu com um agente do serviço secreto novamente. Vai ver porque eu já estava bêbado e agentes do serviço secreto nunca bebem em serviço e/ou demonstram estar chapados!
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6 comentários:
Kibe, seu sem costume! O cara era imigrante? "Sevice secret"? Ehehe... E não tinha nenhuma gostosona do cinema pra fazer uma cena de ação com você?!
Se vc tivesse sotaque britânico, poderia se passar por um James Bond preto.
Kibe, agora é fato: vc está subindo na vida - rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
cara, pelos comentários já vi que eu gostei tb agradou a muito! Serviço secreto é demais!! Amei!! Tazvez serviço secreto da segurança de casas noturnas! kakaka
céus!
Não tirou nenhuma foto com o "costume"?Cara vc devia estar se sentindo sufocado não ?
Ah, Kibão, inventando estórias...Melhor tomar cuidado da próxima vez. Ninguém perguntou para você nada em inglês sobre "service secret"...Num se fala assim em ingreis, mano. Secret service, sim...Próxima vez que quiser enrolar seus assíduos leitores, tenha mais cuidado...
(obviamente, longe de mim pensar que não ocorreu a recepção, nem que, tendo ocorrido, você não tenha comparecido. Longe de mim...)
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