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(Zózimo filmando Abolição em 1988)
Chacrinha gostava de zoâ-lo o elegendo o negro mais bonito do Brasil, fato que o ator/modelo costumava não levar muito a sério. "Olha o Sidney Poitier brasileiro!", gritava uma fã ao ver Bulbul saindo de um carro e entrando no famoso restaurante Gigeto nos 1960, ponto de encontro de celebridades do mundo artístico e intelectual em São Paulo. O apelido vinha por conta da fama do patrício gringo devido ao filme To Sir With Love (Ao Mestre com Carinho), 1967. Naquele momento, Poitier era considerado o mais bem pago ator afro-americano e a atuação bem sucedida de Zózimo na novela Vidas em Conflito, da TV Excelsior em 1969, o equiparava para a comparação realizada pelas fãs.
Conheci o Poitier brazuca - pessoalmente, diga-se de passagem - e seus filmes acompanhando a pesquisa de doutoramento em sociologia de meu amigo Noel Carvalho. Um dos filmes mais legais que assisti sobre a questão racial produzido no Brasil é Em Compasso de Espera (1969), escrito e dirigido por Antunes Filho, e onde o personagem principal, Jorge, é interpretado por Bulbul. A história é instingante: um intelectual negro e ativista, morando em São Paulo nos anos 1960, em processo de ascensão social e renegando a família pobre vive dividido entre o amor de duas mulheres brancas - uma, mais nova, pela qual está apaixonado e outra, mais velha, que lhe dá estabilidade econômica e psicológica.
Nos anos 1970, quando o bicho pegou legal no Brasil com os milicos no poder, Zózimo se mandou pra cá, NYC, e ficou um tempo pela Big Apple tirando uma onda e se articulando com a galera do movimentos raciais e artísticos. Depois ainda circulou por Paris e Lisboa. Momentos antes ele tinha começado sua experiência cinematográfica no Brasil. Seu filme mais conhecido é um documentário bastante longo produzido e dirigido por ele em 1988 intitulado Abolição. Nele Zózimo entrevista diversas personalidades (como Gilberto Freyre e Abdias do Nascimento) sobre o Centenário da Abolição da Escravatura comemorado no Brasil em 1988. Em 2004, ele atuou no primeiro longa de Joel Zito Araújo, Filhas do Vento.
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(Cartaz de divulgação de Abolição, 1988)
Contudo, o filme que mais gosto de Bulbul é o primeiro que ele escreveu, produziu e dirigiu: Alma no Olho (1974). O título vem da influência do livro do Pantera Negra Eldridge Cleaver Soul on Ice (1968). No Brasil o livro saiu em 1971 com o título de Alma no Exílio e, como já disse no meu post sobre livros e Malcolm X, era leitura obrigatório entre os jovens envolvidos com o movimento negro. O diretor conseguiu fazer o filme com restos de material utilizados na filmagem de Em Compasso de Espera e, como era de se esperar devido a mensagem do filme, o diretor foi chamado a prestar contas aos milicos. Ficou dois dias detido explicando o motivo de ter feito o filme que você pode assistir abaixo. Destaque para a trilha sonora de John Coltrane, Kulu Se Mama (1965). Todas as informações contidas nesse post foram retiradas da tese Cinema e Representação Racial: o cinema negro de Zózimo Bulbul defendida no departamento de sociologia da USP em 2006. Informações entre em contato com Noel Carvalho: noelsantoscarvalho@yahoo.com.br
Enjoy o filme...
Paz!
6 comentários:
Newyorkibe é cultura!!!!
E maloqueragem também, Clebão!
zozimo anda sumidão, ele era o rei do som direto nos anos 60, 70.
vou procurar ler a tese do noel
abraço, Léo
Caraca, o cara é sensacional e eu nunca tinha ouvido falar dele! Que bsurdo. Vou procurar os títulos indicados aí no post. Mudando de assunto: Kibe, sexta fui no Green Express e numa Jam Session que teve na Rua 24 Maio que tocou muito soul e funk dos anos 70, estou entrando no clima dos bailes blacks dos anos 70 e já já eu te "ligo" (conecto, na realidade) pra gente conversar, hein!? Não vai pensando que vou te deixar em paz ... Axé!
Tamo nas pista, meu povo!
Léo vejo você em setembro em NYC e Thaís converso com você qualquer hora pelo Skype, aviso: sou um ser noturno, durmo de dia e vago à noite por bibliotecas e na frente do computador.
Beijo pras mina a abraço pros mano, word?!
just dropping by to say hello
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