O Brasil dos anos 1960 era tão inverossímel em algumas coisas que hoje, olhando de forma retrospectiva, soa super engraçado. O maior temor do poder estabelecido era que algo do tipo dos Panteras Negras surgisse aí pelas terras tupiniquins, lugar supostamente privilegiado pela existência de uma democracia racial, ou seja, a ausência de problemas de origem étnica/racial. Leia a reportagem abaixo:
“FBI procura líder negro que estaria em São Paulo. O líder do poder negro americano Eldridge Cleaver está sendo procurado pelo FBI e Interpol e estaria no Brasil. A Secretaria de Segurança da Guanabara acha que ele pode estar em São Paulo trabalhando como motorista de táxi. No sindicato dos motoristas de táxi não há nenhum associado com o nome de Eldridge Cleaver. Os parentes do líder negro garantiram à policia americana, há um mês, que ele tinha vindo para o Brasil” - "FBI procura líder negro em SP", jornal Última Hora, 31 de Maio de 1969.
Esse foi um dos achados de Noel Carvalho na pesquisa para elaboração de sua tese de doutorado sobre a qual já falei no post anterior. Aposto que Carvalho deu, assim como eu dei, várias risadas quando leu essa parada. Contudo, isso é sintomático da neurose que existia no Brasil da ditadura militar em relação aos movimentos revolucionários negros nos Estados Unidos dos anos 1960. Negrão que curtia soul, usava black (afro) e andava gingando com calça boca de sino e sapato plataforma, era caso de "segurança nacional".
A vida de Cleaver (1935-1998) é bem interessante. Ele foi preso em 1966 por roubos e posse de drogas. Durante o período na prisão escreveu uma série de ensaios que em 1968 seriam reunidos sobre a forma de livro intitulado Soul on Ice (no Brasil o livro saiu em 1971 com o título de Alma no Exílio) e que serviria, junto com o livro de Stokely Carmichael - Black Power: the politics of liberation, 1967 -, como uma espécie de fundamentação filosófica e teórica do movimento Black Power. Em um dos ensaios - extremamente polêmico - o ativista negro defende o estupro de mulheres brancas como uma forma de insurreição à dominação de brancos sobre negros. Em 1966, Cleaver ajudou a fundar o Black Panther Party e em 1968 se lançou a candidato a presidência dos Estados Unidos concorrendo pela coalização Freedom and Peace Party, mas deixou a disputa depois de se envolver num tiroteio com a polícia de Oakland, motivo pelo qual era procurado do FBI e da Interpol em 1969. Daí ele veio para São Paulo e se disfarçou de motorista de táxi, não?!...
Bem, a história é um pouco diferente. O patrício Cleaver foi mandado pelo Black Panther Party para um exílio na Argélia, posteriormente para França e Cuba, voltando para os EUA somente no final dos anos 1970. Entretanto, muita gente jura ter feito uma corrida de táxi com ele em SP ou visto o negrão curtindo em algum baile da Chic Show...
Muita Paz!
segunda-feira, 30 de março de 2009
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3 comentários:
Porreta esse Mr. Cleaver! Abços
O negrão era perigoso nessa época, Lafa! Pena que depois do desmantelamento do Black Panther Party, numa ação conjunta da CIA e do FBI, ele acabou desandando envolvendo com drogas e se tranformando num junkie em crack. Após liberta-se do vício, renegou as idéias do ativismo radical dos anos 1960 e tentou fazer política e ativismo com uma plataforma mais conservadora, mas nunca mais engrenou. Faleceu em 1998 um pouco esquecido e cheio de problemas financeiros e pessoais. Triste!
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