sábado, 21 de março de 2009

Angry Black men! Bailes e Noites Blacks de SP (Part. 3)

Imagine esse post numa sequência cinematográfica...

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(The Boondocks, 2005)

Take 1 – Flashback
Numa sexta-feira já perdida no fluir do tempo estava tomando uma cerveja no centro velho de Sampa no reduto da pretaiada, mais especificamente entre as ruas Marconi e 7 de Abril. Conversa vai conversa vem, um truta vira e diz o seguinte: "A coisa mais louca que já vi numa balada black foi um maluco rasgando dinheiro e xingando a gerente do Blen Blen bem na frente do clube”. Corta!

Take 2 – Contextualização
Em 2003 resolvi realizar minha festa de aniversário no Blen Blen Black. Tudo seria perfeito uma vez que o dia 8 de novembro caia justamente num sábado naquele ano. Liguei para a casa e acertei tudo, teria direito a entrar na faixa junto a um acompanhante. Mandei um mensagem de email coletiva para meu amigo(a)s convidando todo(a)s e fiz ligações para os mais chegados. Corta!

Take 3- A "Festa"
Comecei a comemoração já na noite anterior indo ao Sambarylove com minha namorada da época. Dancei, bebi, pulei e me diverti. Cheguei em casa às 8 da manhã de sábado e por volta das 14 horas já estava de pé fazendo preparativos: me presenteando comprando roupas e sapatos novos além de dar uma passada no Cebola – meu grande truta do salão 4P – para dar um trato no belo. A noite prometia!

Por volta, das 21:30 estávamos todos reunidos na Padoca, um lugar misto de padaria, lanchonete e boteco que fica localizado na esquina rua Cardeal Arco-Verde com a Fradique Coutinho na Vila Madalena. Eu, minha amiga Milena “Maloqueira”, Mury Barbosa, Flávio Jay-Z e Vandão numa alegria só! Minha namorada iria chegar mais tarde e encontraria o resto do povo dentro do clube. O mesmo esquema de sempre: tomar várias brejas mais em conta no boteco, MMs, caipirinhas e por volta da 1 da manhã se dirigir para a frente do clube. Bem, é aí que começa a confusão...

Na mesma noite em que eu estava reunindo meus amigos para festejar meu aniversário no Blen, Grandmaster Ney, DJ residente da clube, estava fazendo o mesmo. Ao chegarmos na frente do clube, havia uma fila enorme, como nunca tínhamos visto antes. “No problem”, eu pensei, "Sou um dos aniversariantes da noite e devo ter prioridade"... Doce ilusão! Tentei argumentar com a nossa amiga Fátima, o general gerente, e a mesma foi intransigente: só entrariam mais pessoas conforme outras fossem saindo, a lotação máxima da casa tinha sido atingida. Só alegria, afinal ainda era cedo! Fomos pra fila e enquanto esperávamos íamos nos empanturrando de breja. Minha namorada ainda não havia chegado e minha ansiedade começava a crescer. Depois de uma hora na fila resolvi ir conversar de novo com a gerente, mas a mesma foi inflexível: só entraria mais gente conforme outras saíssem! Comecei a ficar meio puto, já que todos os convidados de Grandmaster Ney chegavam e nem pegavam fila e várias outras pessoas saiam, mas ninguém da fila de “comuns” entrava...

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(cena de Do The Right Thing, 1989)

Cerveja vai cerveja vem e já chegava às 3 da manhã. Tentei conversar de novo com a gerente, mas a mesma nem mesmo chegou a falar comigo. Todos os meus amigos, que não eram poucos, vinham até a entrada e pelas portas de vidro perguntavam o que acontecia que o aniversariante ainda estava do lado de fora da festa. Pelo celular de um amigo, pedi a meu truta Uirá Garcia que falasse com a gerente e explicasse que eu era um dos aniversariantes da noite e todos aguardavam por mim dentro da festa. Ele bem que argumentou, mas nada feito!

Às 3:30 eu estava literalmente no limite. Encontrei um pouco antes com DJ Hum que saía da festa e expliquei minha situação. Ele disse que eu deveria ter calma, mas a minha resposta foi clara e decidida: “Vai baixar a favela”...

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(cena de Do The Right Thing, 1989)

Cheguei em frente a porta de vidro e pedi para falar com a gerente de novo. Os seguranças me enrolaram mais uma vez e disseram que ela estava ocupada. Percebi que não teria a chance de conversar com a fulana, mas minha vontade era de jogar o restante da cerveja que bebia na mesma. Como a vaca já tinha ido pro brejo e vi que ia não entrar na mesma resolvi botar um terror no esquema. Afastei-me dos seguranças que estavam na entrada da casa e arremessei a garrafa de long neck na porta de vidro. Nem a garrafa nem o vidro quebraram, mas os seguranças ficaram assustados e reforçaram a segurança da entrada. O público que estava do lado de fora do clube, e que não era pouco por não ter conseguido entrar, vibrou. Eu, bêbado, gostei do palquinho e resolvi alongar a palhaçada. Tava me sentindo como Radio Rahim (angry Black man da foto acima), personagem do filme de Spike Lee Do The Right Thing (1989), incitando a quebradeira na Pizzaria do Sal (quem assistiu ao filme, sabe do que estou falando!).

Parado no meio da rua em frente ao clube xingava o Blen e a gerente. A essa altura do campeonato muita gente que estava dentro do clube, na pista de dança, veio para o bar/lounge para ver o que pegava. Continuei xingando o Blen e a gerente, dizendo que exploravam a negrada e faltavam com o respeito à clientela. O apogeu se deu quando me baixou o espírito Corinthiano e resolvi agir como os membros da Gaviões da Fiel agem quando querem chamar o jogador de mercenário: “Vocês querem dinheiro??? Eu tenho dinheiro... Quanto é pra entrar nessa merda??? R$ 20??” Nesse momento saquei de minha carteira duas notas de R$ 10... “É R$ 20 para entrar nessa merda?? Eu tenho dinheiro pra entrar nessa merda!! Mas o Blen não vai ter o meu dinheiro...” Num acesso de raiva – e muita palhaçada performática! – rasguei os R$ 20 no meio da rua e joguei no chão (na verdade o pessoal da Gaviões joga notas de R$1 no campo). A galera que assistia tudo foi ao delírio. Gritos, uivos e eu com a alma quase lavada. Ao meu lado, acompanhava tudo de perto meu fiel escudeiro, Flávio Jay-Z, igualmente bêbaço!

Depois de toda a comédia, resolvemos ir embora, ou melhor, voltar para a Padoca, que funciona 24 horas, para tomar mais umas e outras. Ao dar não mais do que uns quinze passos fomos parados na esquina por uma viatura da PM. Os coxinhas já saíram do carro de armas em punho e bradando que colocássemos as mãos pro alto. Eu e Jay-Z fomos jogados dentro da viatura e pela primeira vez na noite voltei a razão: havia feito uma grande merda! Mas uma frase vinda de Jay-Z me fez cair na gargalhada... Sentado comigo no banco de trás da viatura ele esticou a mão e me cumprimentou no estilo black dizendo com um entonação e cara de bêbado: “Kibe, foi lindo!”...

No outro dia acordei com um puta dor de cabeça e só tinha flashes na memória do que tinha de fato acontecido. Lembro de ter levado um capote na delegacia, feito uma denúncia por discriminação contra o clube e obrigado a gerente a comparecer na delegacia – que diga-se de passagem era na esquina do clube – e voltado pra casa sem minha jaqueta nova. Luana, namorada de Flávio Jay-Z, passou um sabão em mim e nele. Comecei a sentir uma imensa vergonha misturada a depressão (estava na reta final do mestrado e o bicho pegava também)... Pra completar, levei outro sabão de minha namorada que não tinha conseguido ir a “festa”, mas que já estava sabendo de tudo por terceiros (os “terceiros” são foda, como dizia meu amigo Morango: “Festival da Denúncia!”). Jurei que nunca mais colocaria os pés no Blen Blen novamente... Três meses depois nós – eu e Flávio Jay-Z – estávamos lá novamente... *rs*
Corta!

Take 4- Redenção
Durante muito tempo morri de vergonha dessa história. Isso rolou até descobrir – encontrando esse maluco no centro da cidade – que todo mundo no meio black andava comentando a palhaçada que eu tinha aprontado com um complemento: “Porra, ele fez o que eu tinha mó vontade de fazer, ó?!” Foi assim que eu soube que meu acesso de raiva tinha virado uma lenda no meio black. O cara que jogou uma garrafa na porta, xingou a gerente e rasgou dinheiro na frente do Blen Blen Black!

The-Boondocks-02.jpg


Vai encarar???!!!

Corta!

FIM

9 comentários:

Unknown disse...

Dá-lhe Kibe! Mano, tu tá com um filme nas mãos! Li o texto como se fosse um script mesmo. Capriche na cena do dinheiro avanço e dos canas te "panhando". Vai ser sucesso total podes crer! Abs. Marcio

Clebão Tierno disse...

É Sem dúvidas, e esse mano tem mais histórias pra contar pelo jeito ein...eu mesmo fui segurança de casa noturna, manga-Rosa, Mondo, Maria Joana, o foda lá é que tinha muita gente "indinheirada" e os mesmos não se valiam de acessos de raiva pra nos quebrar, mas sim de "carteiradas", tipo "eu sou filho do vereador fulano de tal..."aí o preju pro dono era sempre maior,rsrsrs.

Unknown disse...

pois é kibe,~pulando a parte de rasgar a grana, (pode me ouvir gargalhando) eu faria a mesma coisa. do tipo tirar a roupa na frente do itaú da pedroso e descobrir q todo mundo q te conhece vê o datena.

abs.

Léo.

(primeira vez aqui e cara, bom mesmo.)

Unknown disse...

Nossa Kibe dei tanta risada agora!!!!
Lembro-me como se fosse hoje,como fiquei nervosa e irritada.Na verdade sabíamos como a casa funcionava na questão de entra quem tem QI( conhecidos), só é duro ver ocorrer conosco.Vocês ligando no meu celular pedindo para falar com a gerente amarga.Ai que nervoso.... Depois só me lembro do Flávio falando que tinha ido parar na delegacia.
O bom de tudo é que há muita história pra contar!!!!

Raphael Neves disse...

Cara, acho legal que você não consegue "escrever" apenas, tem sempre uma imagem e o som na sua cabeça. Influência do hip-hop aguçando todos os sentidos? É a receita certa pra dar nisso aí: cinema.

Vai fundo, Kibe!

Abraço,
Rapha

lafayette hohagen disse...

Kibe, fala sério.Esse texto é demais cara. Estou chorando de tanto rir. Isso é a sinopse de um puta roteiro que Spike Lee que anda atualmente sem idéias com certeza ia amar. Muito bom,espirituoso,criativo e verdadeiro!Bom,bom,bom!

Thais Folego disse...

Huahuahuahua, muito bom, Kibe! Rasgaria uma nota de 50 para ter visto a cena!

Juju Denden disse...

Era vc!!!!???

hehehhehehe

Lucia disse...

kkkkkkkkkkkkkk
muito boa essa história Kibe... fui imaginando as cenas como um filme mesmo rssss... mas o Flávio consegue ser o melhor e o pior ao mesmo tempo "foi lindo" foi foi ótemoooo rsss