sábado, 28 de fevereiro de 2009

Finally K'NAAN

Esse post é uma continuação do anterior, mas não importa muito se você o ler primeiro. Assim como existem os rótulos modinha e underground para os sons que ouvimos em SP, também há aquilo que meu amigo Fábio Galdino gosta de chamar rap consciente. Em outras palavras, o tipo de rap que tem preocupações sociais que vão além das já banalizadas pretas lindas seminuas, carrões e bling bling jewerly (ontem vi uma reportagem na qual um rapper afirmava ter US$ 500.000 nos dentes). Artistas na pegada de Guru, Public Enemy, KRS-1, Dead Prez, Arrested Development e, para o meu desespero, Black Eyed Peas, fazem parte do time dos conscientes. O mais novo cidadão que deve entrar nesse grupo - se já não está! - é Keinan Warsame of Mogadishu, a/k/a K'NAAN (bonitão da foto abaixo e se pronuncia "keineian").

http://www.nxew.ca/uploaded_images/knaan-756030.jpg

De nacionalidade somaliana, K'NAAN parece ser a mais nova sensação politicamente correta no mundo do hip-hop. É algo bem vindo, pois já não aguento mais a cara imbecil de Lil Wayne cantando Lollipop e enchendo o bolso da Cash Money Records com álbuns que são puro lixo. Pois bem, deixemos Wayne em paz e voltemos a K'NAAN. Pois é, com esse nome bíblico, o rapaz de cara bonitinha e jeito de bom moço levou uma vida atribulada até sair da Somália no último vôo comercial no início da década de 1990. Sua mãe teve que escolher entre ele e a prima, já que não havia dinheiro suficiente para comprar passagens para ambos, situação que o rapper descreve na canção People Like Me: "There was enough money mone for the plane tickets/How bitter when my mother had to choose who to take with her/So my cousin got left in the war/And that's just hard to record." Talvez os leitores de meu blog sejam muito novos para lembrar disso, mas a letra da canção de Sade, Pearls, que KL Jay usou como sampler na música Capítulo 4 Versículo 3 do penúltimo álbum dos Racionais MCs, descreve a situação de penúria da população somaliana nos anos 1980 vítima de guerras entre grupos étnicos e fome. Uma vez no Harlem em 1991, o pouco inglês que K'NAAN sabia vinha dos raps de Nas e Rakim que o moleque era fã. Depois de passar um ano em Minneapolis, o jovem mudou-se com a mãe para Toronto, Canadá, onde estabeleceu moradia.

Nas últimas semanas li duas reportagens sobre o rapper, uma na The Source e outra no Village Voice, e ambas preparavam o público americano para a turnê que o somaliano começaria nos EUA essa semana. Aliás, ele se apresentou ontem no S.O.B.s aqui em NYC e enquanto escrevo esse post sua performance em Washington DC deve estar acontecendo! Um dos artigos afirma que nos shows K'NAAN "dresses like a rude-boy Sgt. Pepper, beautiful with his Afro and soft-focus eye." Deve ser por isso que aposto no sucesso do garoto com toda a rapaziada neo-hippie paz e amor. As influências musicais do artista são interessantes como, os já citados, Nas, Rakim além dos já finados Tupac, Luke Dube e Bob Marley. A referência da estrela do reggae jamaicano é tão forte que o rapaz fez questão de gravar parte do seu álbum nos estúdios enfumaçados da ilha caribenha do No problem, man! Porém, as canções de K'NAAN não soam como as dos Jamaican bad boys do dancehall ou dos pais fundadores do reggae. O garoto tem estilo e consciência social, gosta de rimar sua situação precária de imigrante num país de primeiro mundo como o Canadá além dos traumas que passou no seu país de origem ainda criança numa levada bastante diferente do que há no mercado.

Sua primeira demo foi lançado em 2004 e levava o título sugestivo de My Life Is a Movie. Ano passado os americanos sentiram o gostinho do rapaz com o lançamento de seu álbum de estréia por aqui, The Dusty of Foot Philosopher. Agora o somaliano excursiona pelos EUA promovendo seu segundo álbum: Troubadour. Há participações de peso no disco como Chubb Rock na canção ABC's e Damian Marley em I Come Prepared. Resumindo, o garoto promete! Ouçam o som e os vídeos do figura no MySpace dele. É interessante como o artista resume sua experiência de exilado/imigrante em busca de um lar através da fala de um amigo na mesma situação. O truta do rapper diz que "é engraçado porque eu não me sinto mais como um somaliano, mas eu não me sinto como nenhuma outra coisa também. O exílio tem a sua própria bandeira. Ela é do tipo que, eu acho, todos nós sentimos". Algo para se pensar!... Para os preguiçosos segue um vídeo abaixo...
Paz!
K'NAAN - ABC's Featuring Chubb Rock

8 comentários:

Anônimo disse...

Hello Kybe!

I´ve already asked you, but I forgot again: did you give me back my SoulFly CD? lol

Just kidding, I stopped giving money to the Music Industry.

E aí, negão, como andam as coisas por aí?

Ah, se puder, vai juntando umas moedas estadunidenses aí pra mim. Pode juntar um punhado de moedas diversas (se der, é claro), que eu te pago de volta (se der, é claro! Hehe...).

Grande abraço pra você e pra esposa.

Raphael Neves disse...

Kibe, você quando escreve sobre essa porra, simplesmente destrói! Informativo, bem redigido e crítico. Legal, cara!

Abraço,
Rapha

lafayette hohagen disse...

O Rapha foi curto e grosso em sua analise sobre seu texto. É muito bom. Curto muito. Gostaria de ter essa facilidade...by the way, no meu modesto blog postei Sammy Davis. Abraço do Lafa

lafayette hohagen disse...

Marcio,como não tenho seu e-mail ,mando minha mensagem por aqui mesmo. Primeiro fiquei lisonjeado com sua leitura e observações. Uma vírgula a mais fez com que meu pai tivesse imposto minha ida aos "states". Com a correção, perceberá que a imposição era para que deixasse por aqui meu acervo de lps. Se vc tiver paciência para ler um de meus primeiros "posts" vai perceber minha felicidade quando ai cheguei em abril de 57.Abraço do Lafa

Márcio Macedo disse...

Grande Petrônio,

Em dezembro, quando estive ana casa dos meus pais, topei com seu CD do Soulfly lá!... Ele está guardado, não se preocupe!

Também vou juntar as moedinhas, mas logo vou dizendo que isso, colecionar coisas, me cheira mania de gente velha!

Abraço forte e com saudades,

Kibe.

Márcio Macedo disse...

Prezados Rapha e Lafa,

Desse jeito vocês vão me deixar encabulados. Mas a verdade é que o blog, depois de muito tempo, trouxe de novo minha alegria e animação em escrever. Algo que tenho perdido lendo e escrevendo textos chatérrimos de sociologia.

Abraços e obrigado pelos elogios! Continuem lendo e espero que se divertindo com o NewYorkibe!

Abraços,

Kibe.

Cristiano Rodrigues disse...

Opa,

como é bom esse cara, e o texto tá ótimo mr Kibe, muito bom. Salam Aleik.

Anônimo disse...

Nice, acabei de conhecer as musicas desse cara, atraves de um video do grande Matisyahu... good feelings! dont hurry!