Por indicação de minha amiga carioca radicada em Salvador, Fabiana Lima, fui assistir Medicine for Melancholy (remédio para melancolia), o primeiro filme do diretor Barry Jenkis, 29. A revista The New Yorker avaliou o filme como superficial enquanto o jornal The New York Times deu nota 4.5 (numa escala que vai de 0 a 5). Quanto a mim, fiquei encantado!
A película retrata 24 horas de um casal negro que vive em São Francisco, Califórnia. Ok., mas bloqueie sua mente e esqueça as produções de Spike Lee e outros filmes que seguem a estética nascida com o blaxploitation, coisas a la Love Jones (1996), The Best Man (1999), Love and Basketball (2000) ou Brownsugar (2002). Aliás, talvez esse seja um filme que a maioria das pessoas negras não vá assistir. Medicine não segue o esquema manjado de cenas bem trabalhadas e personagens buppies que vivem um romance cuja a trilha sonora é recheada de R&B ou neo-soul. Muito pelo contrário! Também não há piadas fáceis, escrachadas e estereotipadas como as vistas nos filmes dos The Wayans Brothers ou Tyler Perry (esse último com um filme novo no pedaço, Madea Goes to Jail).
Mika (Wyatt Cenac) e Jo (Tracey Heggins) vivem um one night stand - termo para sexo casual com estranhos - e acordam numa cama alheia, numa casa que não é de propriedade de nenhum dos dois e com ressaca de uma festa que não tinha relação com ambos. Todo mundo - eu acho?! - já deve ter passado por isso e o primeiro pensamento que vem a cabeça nessas horas geralmente é do tipo: "what a fuck I am doing here?" Tentando lidar com a situação embaraçosa, Mika sugere café da manhã a moça e, logo depois, ambos dividem um táxi de volta para casa. Um imprevisto seguido de uma forcinha de Mika faz com que ambos passem todo o dia e a noite juntos discutindo sobre raça (o namorado de Jo é branco enquanto Mika é pro Black), classe e o processo de gentrification que afeta a cidade de São Francisco como um todo. Ainda há tempo para um delicioso sexo vespertino. Uma das frases questionadoras de Mika é bastante eloquente: “Everything about being indie is tied to not being black.” E é justamente essa a sensação que Jenkins, ex-estudante de cinema na Florida International University, consegue causar no público uma vez que praticamente não se vê negros no filme além do casal. Segundo consta, dentre os grandes centros, SF é tida como a que tem a menor população negra: 7%.
Apesar do filme retratar muito bem os dilemas que se colocam aos jovens negros de vinte e poucos anos na América "pós-racial", na entrevistada dada ao The New York Times Jenkins afirma que o roteiro foi escrito há dois anos, antes da obamania tomar conta do país. O diretor gosta de brincar ao ser perguntado sobre o orçamento do filme, produzido e filmado de forma independente: "Provavelmente custou menos que o valor do seu carro", responde ele de forma irônica. Assistindo o filme percebe-se que as referências utilizadas remetem ao cinema europeu, principalmente La Nouvelle Vague francesa devido ao enquadramento e a fotografia. A película tem início muito próximo do preto e branco e vai se colorindo aos poucos com close ups silenciosos e demorados sobre o rosto e ações dos personagens. Também não há como deixar de notar a referência icônica do neorealismo italiano de Vittorio de Sica em Ladri di Biciclette (1948) uma vez que Mika e Jo exploram a cidade em suas bikes. As imagens de SF são de uma sutileza e beleza à parte, contrastando com a fala de ativistas numa discussão sobre os gentrifiers que não param de chegar a cidade, expulsando os moradores mais pobres e acabando com a diversidade anteriormente existente.
Duvido que o filme entre em circuito comercial no Brasil, mas tente vê-lo em alguma mostra ou sequestre-o logo que chegar nas locadoras ou Netflix. Medicine é, definitivamente, algo para ser visto... Enjoy the trailer:
A película retrata 24 horas de um casal negro que vive em São Francisco, Califórnia. Ok., mas bloqueie sua mente e esqueça as produções de Spike Lee e outros filmes que seguem a estética nascida com o blaxploitation, coisas a la Love Jones (1996), The Best Man (1999), Love and Basketball (2000) ou Brownsugar (2002). Aliás, talvez esse seja um filme que a maioria das pessoas negras não vá assistir. Medicine não segue o esquema manjado de cenas bem trabalhadas e personagens buppies que vivem um romance cuja a trilha sonora é recheada de R&B ou neo-soul. Muito pelo contrário! Também não há piadas fáceis, escrachadas e estereotipadas como as vistas nos filmes dos The Wayans Brothers ou Tyler Perry (esse último com um filme novo no pedaço, Madea Goes to Jail).
Mika (Wyatt Cenac) e Jo (Tracey Heggins) vivem um one night stand - termo para sexo casual com estranhos - e acordam numa cama alheia, numa casa que não é de propriedade de nenhum dos dois e com ressaca de uma festa que não tinha relação com ambos. Todo mundo - eu acho?! - já deve ter passado por isso e o primeiro pensamento que vem a cabeça nessas horas geralmente é do tipo: "what a fuck I am doing here?" Tentando lidar com a situação embaraçosa, Mika sugere café da manhã a moça e, logo depois, ambos dividem um táxi de volta para casa. Um imprevisto seguido de uma forcinha de Mika faz com que ambos passem todo o dia e a noite juntos discutindo sobre raça (o namorado de Jo é branco enquanto Mika é pro Black), classe e o processo de gentrification que afeta a cidade de São Francisco como um todo. Ainda há tempo para um delicioso sexo vespertino. Uma das frases questionadoras de Mika é bastante eloquente: “Everything about being indie is tied to not being black.” E é justamente essa a sensação que Jenkins, ex-estudante de cinema na Florida International University, consegue causar no público uma vez que praticamente não se vê negros no filme além do casal. Segundo consta, dentre os grandes centros, SF é tida como a que tem a menor população negra: 7%.
Apesar do filme retratar muito bem os dilemas que se colocam aos jovens negros de vinte e poucos anos na América "pós-racial", na entrevistada dada ao The New York Times Jenkins afirma que o roteiro foi escrito há dois anos, antes da obamania tomar conta do país. O diretor gosta de brincar ao ser perguntado sobre o orçamento do filme, produzido e filmado de forma independente: "Provavelmente custou menos que o valor do seu carro", responde ele de forma irônica. Assistindo o filme percebe-se que as referências utilizadas remetem ao cinema europeu, principalmente La Nouvelle Vague francesa devido ao enquadramento e a fotografia. A película tem início muito próximo do preto e branco e vai se colorindo aos poucos com close ups silenciosos e demorados sobre o rosto e ações dos personagens. Também não há como deixar de notar a referência icônica do neorealismo italiano de Vittorio de Sica em Ladri di Biciclette (1948) uma vez que Mika e Jo exploram a cidade em suas bikes. As imagens de SF são de uma sutileza e beleza à parte, contrastando com a fala de ativistas numa discussão sobre os gentrifiers que não param de chegar a cidade, expulsando os moradores mais pobres e acabando com a diversidade anteriormente existente.
Duvido que o filme entre em circuito comercial no Brasil, mas tente vê-lo em alguma mostra ou sequestre-o logo que chegar nas locadoras ou Netflix. Medicine é, definitivamente, algo para ser visto... Enjoy the trailer:
7 comentários:
Pô, já deu vontade de assistir.
Não vai se arrepender!
esse filme nao ta em cartaz aqui ainda nao. qdo chegar vou checkout.
Po, acho que pela primeira vez indiquei um filme só porque vi o lindo trailer. Pelo visto valeu a pena, né? Assim que der, assistirei.
Bjs
Hey Soul Sista,
Trocas no Atlântico Negro! Valeu muito a pena, obrigado!
Beijos carinhosos,
Kibe.
Fiquei muito a fim de assistir o filme... provavelmente, não vai entrar no circuito comercial por aqui...vamos aguardar!!!
beijinhos, valeu!!!
Célia Querida,
Também acho difícil disso acontecer (entrar no circuito comercial no Brasil), mas logo logo ele deve estar disponível em DVD e aí é só comprar pelo Amazon.
Beijos carinhosos,
Kibe.
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