Na sexta-feira minha noite terminou com idas a algumas festas. A primeira foi uma espécie de recepção aos undergrad e grad students da New School. Um porre! Nada de bebida alcoólica e um clima de bailinho de oitava série. Eu mais uma galera resolvemos nos mandar e procurar outro local para beber. Achamos uma espécie de pub no Village onde havia cachaça, mas a música era horrível e mesmo assim havia um casal quase fazendo sexo com roupa enquanto dançava no meio da pista. Novamente nos mandamos e acabamos em outro bar, esse num estilo rock and roll, tomando cerveja meio quente, comendo asa de frango e discutindo política em inglês. Ao sair de lá, por volta da uma e quinze da manhã, caminhei com Raphael até a 14th ST onde peguei a linha 2 (vermelha) do metrô sentido Uptown indo para o Harlem. É nessas horas que não sinto saudades de SP. Quantas noites eu tive que passar frio na rua e voltar para casa às cinco da manhã por que havia perdido o último ônibus para o Butantã ou para a Vila Madalena. Até hoje não consigo entender como numa cidade como São Paulo não há metrô e ônibus funcionando durante a noite toda. Inconcebível considerando o preço que se paga pela passagem.
Hoje rolou o Brazilian Day em NYC e já sabem: não fui! Estava cansado de fazer a viagem Stamford-NYC-Stamford, com vontade de dormir e precisando descansar para o começo das aulas na terça. Além do mais, o show principal seria de Jorge Benjor e, particularmente, apesar de ser um grande fã, não tenho o menor de saco de assistir a apresentação desse flamenguista ilustre. As músicas que mais gosto de Benjor são aquelas da época em que ele era Ben e, infelizmente, ele não canta mais essas canções nas suas performances ou, quando o faz, apresenta as mesmas em forma de pout-pourri (como muito bem lembrou certa vez o meu amigo Flávio “Jay-Z” Francisco). Aprecio canções como Negro é lindo, Veruska, O telefone tocou novamente, O namorado da viúva, Menina mulher da pele preta, Domenica e tantas outras que aprendi a gostar ouvindo nos bailes black freqüentados desde a minha adolescência ou na casa de meus primos que são DJs e aos quais sou muitíssimo grato por apurar meu gosto musical. Mas o Benjor (e não o Ben!) está mais preocupado com um público que o descobriu depois dos anos 1980, mas especificamente no início dos anos 1990 em que ele, depois de uma época de ostracismo no cenário musical brasileiro, ressurgiu como um grande vendedor de discos emplacando sucessos como W-Brasil, canção na qual ele faz uma homenagem a Tim Maia afirmando que vai “chamar o Síndico”, apelido pelo qual o cantor de Brazilian soul era conhecido devido a ter sido por um tempo síndico do prédio em que morava. Em seus shows atuais, Benjor canta essa e outras músicas – Gostosa é mais uma delas – (que em minha opinião são bem inferiores as que ele produziu na década de 60 e 70) numa apresentação que qualquer negrão paulista chato como eu não iria gostar nem um pouco.
Outra coisa que eu acho extremamente estranho nesse país é essa celebração do país de origem de cada pessoa. Ninguém (com poucas exceções) é totalmente americano, já que esse lugar se trata de um país de imigrantes, e você observa o tempo todo demonstrações de orgulho pátrio relacionados à Jamaica, Cuba, Porto Rico, México, Irlanda, Itália, Barbados entre outros países fornecedores de mão de obra barata hoje ou no passado. Por enquanto, ainda não senti nada parecido – o orgulho pátrio – relacionado ao Brasil e esse foi mais um motivo para não ir ao Brazilian Day. Posso dizer que sinto certo banzo de São Paulo e dos meus amigos. Ontem mesmo (30/8) rolou a saudosa Rua do Samba na Terra da Garoa e ficava aqui imaginando como seria bom tomar uma cerveja (na rua, sem medo de ser preso por beber em público) com o bando de vagabundos que por lá aparecem mensalmente.
Já que estamos falando de Brasil numa perspectiva americana (talvez fosse melhor dizer “Brazil”, então!), há algo interessante sobre os imigrantes tupiniquins na América (deles!). Brasileiros por aqui buscam se distanciar da categoria “latino”. Já sabia disso ao ler algumas reportagens de jornal e assistir a exposição da pesquisa de uma brasilianista que estuda imigrantes brasileiros nos Estados Unidos ainda quando morava em SP. Contudo, esse assunto veio à tona numa conversa que tive com Dionne na qual ela disse que tinha visto um rapaz brasileiro no programa da Tyra Banks (é, de novo ela!) que afirmava não ser latino devido as diferenças existentes entre os imigrantes vindos de países de fala espanhola e os brasileiros. Segundo o rapaz, que era branco para os padrões brasileiros e possivelmente de classe média, nosso querido país foi colonizado por europeus, tem como idioma o português e era majoritariamente branco se comparado aos outros países latino americanos. Segundo Dionne, a apresentadora Tyra Banks questionava indignada o fulano sobre a porcentagem negro/mestiça da população brasileira que era praticamente desconsiderava pela narrativa do rapaz. Sem entrar no mérito do que somos por aqui (latinos ou não latinos) é interessante observar como essas categorias são políticas e alocadoras dos indivíduos no espaço social. Basicamente o que alguns brasileiros por aqui tentam fazer ao fugir do rótulo “latino”, é escapar do lugar de “subclasse” ou “cidadão de segunda categoria” que muitas vezes os indivíduos pertencentes a essa categoria social são situados na sociedade americana. É incrível, mas a maior parte dos funcionários de supermercados, lojas, lanchonetes, carregadores, funcionários da limpeza, motoristas de táxi e vários outros empregos subalternos por aqui são ocupados por latinos que, não raramente, entraram no país ilegalmente fazendo a travessia do deserto mexicano que faz fronteira com os EUA na calada da noite e sendo perseguidos pela polícia de fronteira americana. O termo para esses indivíduos (não preciso dizer que pejorativo) é busty boys, ou seja, aqueles que fazem o trabalho que os americanos se recusam a fazer.
Okay, mas minha mina foi a festinha brasileira em NYC patrocinada pela Rede Globo e se divertiu. Tirou fotos, encontrou amigo(a)s e sambou ao som de uma batucada brasileira. Nada mau para a Big Apple! Ah, hoje no New York Times há uma página inteira dedicada ao Brasil falando dos ritmos musicais, casas de NYC dedicadas a comida e música tupiniquim além das festas que rolariam esse final de semana em clima verde e amarelo. Welcome to Braziliness in an American way of life!
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
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5 comentários:
comentei como Galdino! "já vejo a imagem do Marcio no Brazilian Day reclamando do povo". Ele, "mas ele não foi..." eu disse "LÓGICO Q NÃO"... hahahaha previsível...bjs
Bem, mas eu tinha bons argumentos para não ir! *rs*
Brazilian day, deve ser uma festa escrota do caralho. Imagine ir para Nova Iorque para assistir Ivete Sangalo.
Flávio, não fui porque fiquei lembrando da sua experiência com o Benjor na festa do chopp do Vai Vai. Deus me livre!!!
Eu acho que a marca do Brazilian Day é o mal gosto musical, mas pelo jeito ninguém vai lá pra ouvir nada mesmo... o importante é pular bastante e sentir o calor humano tão característico do nosso país... Quanto a migração de brasileiros para os Estados Unidos, o problema é que ela é composta predominantemente por uma classe média bastante afoita por reivindicar sua branquitude (daí a negação da origem latina)tendo como trunfo uma suposta descendência italiana ou portuguesa... Itália e Portugal...rsrsrs....Quem sabe a segunda geração comece a aprender espanhol e passse a disputar algum cargo político em Miami....
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