terça-feira, 30 de abril de 2013

Rihanna, Chris Brown e a Violência Doméstica

 
O diário The New York Times publicou na sua edição impressa de ontem um artigo intitulado Stormy Relationship, Forgiving Followers (Relação Tempestuosa, Seguidores Perdoam, leia AQUI) comentando a relação entre os artistas Rihanna e Chris Brown. Em 2009 a mídia americana e fãs de ambos os artistas, a época namorados, foram pegos de surpresa pela caso de espancamento de Rihanna por Brown. Na sequência o público acompanhou, atentamente, o rompimento, os pedidos de desculpas públicos e midiáticos além do julgamento de Brown que declarou-se culpado e foi condenado a uma pena de cinco anos (em liberdade assistida).  Quatro anos após o ocorrido, o casal se reconciliou e voltou a ser foco de flashes das câmeras de paparazis. A grande dúvida é saber o que toda essa história nos ensina a respeito de violência doméstica contra mulheres e qual a mensagem que a reconciliação de Rihanna e Brown podem passar a mulheres jovens em situações similares.


Esse é o foco do artigo do Times, que chega a rotular o caso como emblemático da "hip-hop generation" (geração hip-hop), termo que dá título ao livro de 2002 do jornalista e crítico cultural Bakari Kitwana e explora as questões sociais e políticas vivenciadas pela geração de indivíduos afro-americanos nascidos entre a partir dos anos 1970 e que sofreram a influência da cultura hip-hop. O autor afirma que há um conflito de gênero aberto dentro da população afro-americana devido a um gap cultural e econômico entre homens e mulheres. Para exemplificar seu argumento e mostrar a desconexão entre os avanços feministas e a misoginia e representações de gênero incutidas em jovens da hip-hop generation, Kitwana analisa os casos em que o rapper Tupac Shakur e o boxista Mike Tyson (ídolos da hip-hop generation) foram condenados por estupro. Voltando a Rihanna e Brown, diria que o grande problema é a mensagem implicitamente enviada de que "perdoar" significa estar aberta/o a um retorno da relação. Casos de violência doméstica entre estrelas da música negra são conhecidos de longa data. Billie Holiday (foto acima) sempre esteve envolvida em relações nas quais seus parceiros abusavam física e financeiramente dela. Parte desse sofrimento é registrada na letra da canção My Man (ouça AQUI) onde a mesma diz que:

"He's not much on looks
He's no hero out of books
But I love him
Yes, I love him

Two or three girls
Has he
That he likes as well as me
But I love him

I don't know why I should
He isn't true
He beats me, too
What can I do?
"


Tina Turner (foto abaixo) também teve sua própria história de abuso e violência doméstica nas mãos de seu parceiro musical, marido e empresário Ike Turner.  Após romper com Ike (que chegou a ameaçar matá-la, com arma em punho), em fins dos anos 1970, Tina conseguiu refazer sua carreira com sucessos como What's Love Got To Do With It, lançado em 1984 (ouça/assista AQUI), cujo nome também dá o título do filme de 1993 que cobre a carreira de Tina, passando pelos anos de relacionamento conturbado com Ike (assista o trailer do filme AQUI). Tina nunca reatou seu relacionamento com Ike.


De acordo com o artigo do Times, fãs de Rihanna não se importam com o relacionamento, Brown teria até sido perdoado por eles. O receio é que essa história tenha um desfecho parecido a de muitas outras histórias de abuso/violência doméstica e que foi encenada num episódio recente da série Law & Order SVU que teve inspiração direta do caso Rihanna/Brown: uma artista de R&B é espancada pelo namorado, um rapper famoso, que consegue, mesmo sobre o escrutínio da mídia, dos fãs e da polícia reatar o relacionamento exibindo uma dupla personalidade. O desfecho é a morte da cantora pelas mãos do rapper numa ilha do Caribe para onde os mesmos fogem (assista o episódio Funny Valentine AQUI).

Muita Paz, Muito Amor e Diga Não a Violência!