domingo, 11 de setembro de 2011

Nine Eleven


Desci do circular da USP naquela manhã ensoralada no ponto ao lado do prédio de história e geográfica da faculdade de filosofia, um prédio cuja arquitetura e formato podem ser comparados a de uma antiga rodoviária dessas de cidade do interior.  Estava acompanhado de minha americana Uju Anya que à época morava em São Paulo. Naquela manhã eu havia ido com ela até o hospital da Cidade Universitária onde a mesma havia feito um pequeno procedimento cirúrgico e necessitava de alguém que a assistisse na volta para casa.  Ao passar pelo prédio da história topamos com um aluno que corria e gritava de forma evasiva "Os Estados Unidos estão sendo bombardeados, os Estados Unidos estão sendo bombardeados." Para quem conheceu o cotidiano da USP nos anos 1990 e 2000, comportamentos como esse não eram de surpreender: mais um doido andando pela faculdade e gritando absurdos. Não levei a parada muito a sério, mas percebi o olhar de preocupação de minha amiga e resolvemos nos dirigir até o centro acadêmico de ciências sociais (CEUPES) para ver o que estava de fato acontecendo. Ao chegarmos na sala minúscula que abrigava o centro acadêmico nos deparamos com um grupo de 30 pessoas entre alunos, professores e funcionários olhando atentamente para o aparelho de TV que era basicamente usada para transmitir jogos de futebol nas noites de quarta-feira, pronunciamentos políticos esporádicos ou propaganda política na época de eleição (ciências socias USP, sacou?). Foi então que vimos imagens de aviões se chocando contra o World Trade Center: era o nine eleven. Minha amiga ficou desesperada. Sua família não era de Nova York, mas ela tinha um primo que trabalhava e morava na Big Apple. Durante dias ninguém conseguiu localizar seu primo e apenas depois de algum tempo ele reapareceu dizendo que no dia dos ataques estava fora da cidade passando férias do trabalho. Em alguns lugares da faculdade de filosofia, muita gente (maioria aluno/as) comemorava os ataques como se os mesmos se equiparassem a uma partida de futebol. Muitos entendiam aquilo como um claro sinal do declínio da hegemonia político/econômica norte-americana ao redor do mundo. Não é necessário ser gênio para descobrir que numa faculdade de ciências humanas, onde o clima é extremamente politizado/ideologizado, a aversão ao papel e a figura dos EUA é altíssima. Nove anos depois, já morando em Nova York, eu assistiria pela Internet num domingo à noite uma euforia muito parecida a que vi nos alunos da FFLCH em 2001: norte-americanos, em frente à Casa Branca, comemorando o assassinato de Osama Bin Laden. Em ambas as situações/comemorações lembrei de um comentário de um professor amigo ao saber da atitude dos alunos da USP em 2001: "Eles estão comemorando os atentados?... É muita ingenuidade!"

Paz!