sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Brazilian Day, Dirty Soca e West Indian-American Parade

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O outono chegou, as aulas voltaram e o meu ritmo de produção irá, consequentemente, diminuir. Não esperem mais posts diários, pois já estou até o pescoço de coisas para ler. Bom! Aqui vale a máxima "cabeça vazia, oficina do Diabo" (outra coisa boa também! :). Mas enfim, há duas semanas rolaram as últimas festas de rua em NYC com um climazinho de verão. Vamos a algumas delas.

Brazilian SHIT Day...

Desculpem por ser direto, mas o Brazilian Day em Nova York é uma m...! Muvuca, shows e comida ruim. Fiquei duas horas no esquema que rolou há dois domingos atrás, 6/9, e levei pisões no pé, ouvi música ruim (Victor e Léo, Marcelo D2, Elba Ramalho, Carlinhos Brown dentre outros) e comi um pastel seco e sem gosto por, acreditem, US$ 4. Nessas horas é fácil entender como existem várias representações do país onde nascemos. A representação de Brasil do Brazilian Day é o Brasil da Rede Globo! Ou seja, não tem absolutamente nada haver comigo...



A festa também não ajuda muito. O palco fica longe do público e o que se ouve é barulheira e gente andando de um lado pro outro com bandeiras do Brasil além de camisetas e outros peças de roupa nas cores do país. Há várias barracas vendendo produtos relacionados ao país, comidas típicas (e ruins!) além de stands de empresas como companhias de turismo e empresas aéreas. Cheguei meio tarde na festa, encontrei dois amigos, andei pra lá e pra cá no meio da bagunça (urgh!) e acabei indo embora com a sensação que não havia absolutamente nada para fazer. Entretanto, muita gente deve se sentir de forma diferente em relação a essa festa. Há caravanas de pessoas que vem de outras partes dos Estados Unidos curtir a festa e NYC tem um final de semana temático em clubes e restaurantes que promovem festas relacionadas ao país. A comemoração completou 25 anos em 2009 e nos últimos anos vem sendo organizada pela Rede Globo. Desculpem folks, mas essa foi minha primeira e última experiência com o Brazilian Day...


Eu e meus irmãos Espeto de Frango, Coxinha e Rizolis marcando presença na festa!

Dirty Soca!


Entrada do salão Roseland Ballroom na West 52nd Street, Manhattan, em 7/9.

Identidades nacionais sempre devem ser relativizadas, pois, são construções ideológico-políticas que possuem seus limites. Felizmente, além de brasileiro, sou preto e minha nacionalidade é relativizada diante dos laços que me ligam a um certo sentimento de pertencimento negro/preto diaspórico. Senti isso de maneira forte ao ir a uma dirty soca com meu amigo Calvin na noite de domingo, 6/9.

Soca, para quem não sabe, é um ritmo caribenho mais especificamente de Trinidad e Tobago. Neste final de semana rolou o West Indian American Day, uma comemoração das populações caribenhas residentes em NYC. Há dois grandes eventos que marcam a data: a J' Ouvert Parade - que rola na madrugada de segunda - e a Parade and Carnival - que acontece no segunda das 8 da manhã às 6 da noite. Entretanto, pipocam festa dos caribenhos por toda a cidade. Eu e Calvin resolvemos colar nessa, já que haveria a apresentação de um artista bastante popular em Trinidad, Machel Montano, e conseguiríamos entrar no vasco devido a uma promoção.

Cheguei na esquina da 52nd Street por volta das 23 horas e já havia uma fila que virava a esquina. Preta bonita era o que não faltava! A maioria do público era constituído de pessoas entre 21 e 35 anos, mas mesmo assim era possível encontrar gente na faixa dos 40 e até 50 anos. Calvin estava atrasado. Fiquei na fila não mais do que 10 minutos e, devido a boa organização, em pouquíssimo tempo já estava dentro do salão. O Roseland Ballroom é um salão de baile enorme, com um pista de dança, área de descanso extra pista, sofás ao fundo do salão, palco, mezanino com área VIP, dois american bars e banheiros no subsolo. Enquanto esperava meu amigo comprei uma cerveja e fui explorar mais o salão. Em um canto do mesmo comida caribenha era servida, bastava pagar US$ 13 e se servir à vontade de jerk ou curry chicken, shrimp (camarão), Jamaican patty (empanada de carne apimentada), black beans com arroz entre outras delícias. É óbvio que eu tomava uma Red Stripe, a clássica cerveja jamaicana.

Calvin chegou por volta da meia-noite. O salão, que estava quase vazio no momento em que cheguei, agora começava a lotar. Os DJs variavam sessões de soca, reggae, hip-hop, R&B e dancehall. Muitas pessoas traziam consigo pequenas bandeiras de seus respectivos países ou vestiam roupas com as cores nacionais. Não havia dress code e a parada se parecia a um baile black paulistano mistura de Musicaliando na Casa de Portugal com alguma balada da Vila Madalena. Algo a ser notado era a enfâse em roupas curtas e sexys da senhoritas... Muitos shorts que seriam um escandalo até mesmo no carnaval baiano, vestidos colados no corpo, saltos altos em mulheres já nada muito baixas e calças justas marcando o bumbum já avantajado. O mais legal de tudo é que esse parece ser uma espécie de estilo incorporado pelas mulheres, tudo na maior naturalidade. Eu e Calvin estávamos bem a pampa... Dançando, bebendo e curtindo. Aliás, Calvin mostrou suas habilidades como dançarino de grind dance (já expliquei aqui do que se trata a dita cuja no meu post sobe a baladinha que fui em Bed Stuy, Brooklyn): basicamente é um estilo de dança bem sensual em que o rapaz se posiciona atrás de sua parceria e ambos praticamente simulam um ato sexual. Entretanto, apesar do grau de sensualidade da dança, ela pode ser feita entre estranhos e ninguém se sente constrangido ou obrigado a algum tipo de compromisso após a dança. Para quem é de fora, fica difícil entender... Aliás, o apelido dado a essas festas, dirty soca, vem justamente desse ambiente sexy criado pelos ritmos e danças caribenhas. Calvin (que deve estar lendo esse post), me corrija se estiver equivocado...

Pois bem, não se assuste se caso você, homem, for ao banheiro numa festa dessa e ver, de repente, o local invadido por mulheres. Isso foi justamente o que aconteceu quando eu estava tranquilamente fazendo um "pipis" no restroom! Garotas entravam no banheiro masculino para usá-lo e aproveitavam para um rápido flerte ou paquera. Só pouco tempo depois, prestando atenção nas falas de um segurança, notei que os mesmos liberam o uso para as senhoritas devido a fila do banheiro feminino ser muito maior (diferenças no tempo de uso entre quem faz xixi de pé e sentado! :). Mas pensando bem, adorei a idéia do banheiro unisex!

Voltando ao salão a casa está totalmente cheia. Já passa das 1:30 e a coisa começa a esquentar. Os DJ saudam as comunidades com seus respectivos países. A maior delas é a de Trinidad e Tobago uma vez que a atração principal da noite, Machel Montano, é de lá além da festa ter como tema a cor do país: vermelho. Bandeiras e lenços são agitados no ar enquanto todo mundo dança freneticamente. Impossível ficar parado, truta! Quando a primeira atração entre em cena, Serani, um ragga man jamaicano, a galera já está no ponto. O show do rapaz não é dos mais empolgantes uma vez que ele faz uma espécie de abertura do show de Montano e toca com playback, meio frustante! Outros trutas se revezam no palco. As músicas falam basicamente de balada e sexo (quer coisa melhor?!)... Depois de muita enrolação chega a vez de nosso truta Montano (foto abaixo)!

http://www.toronto-lime.com/wallpaper/2008_machel_montano.jpg

Incrível! É a única palavra que tenho para descrever a energia que o artista caribenho, acompanhado de cinco deliciosas dançarinas mais uma banda, mostra no palco. Danças com passos compassados de maneira frenética, ritmo alucinante e contínuo além de brincadeiras com a platéia que vai ao delírio, dança, chacoalha bandeiras e lenços no ar, grita, pula e não para um maldito segundo. Machel Montano para o show e conta a história de uma canção que, para variar, fala de sexo e todo mundo se diverte e ri. Canta trechos de músicas de outros artistas famosos - Buju Banton e Beenie Man -, um reggae que toda a platéia sabe a letra e acompanha. Para de novo, conversa com o público mais um pouco e, depois de alguns minutos, recomeça a cantar suas músicas de forma alucinada (aliás, a sequência do show parece mesmo uma transa!). A performance de Montano dura quase uma hora nessa pegada e o público ainda pede mais ao final da apresentação. Nunca fui ao carnaval de Salvador, mas acho que acho que o pique de lá deve ser parecido ao que vi no Roseland Ballroom nessa noite. Tento tirar fotos, mas a câmera de meu iPhone me deixa na mão uma vez que ela é uma porcaria em ambientes escuros por não possuir flash.


Curta um videozinho de Machel Montano

Por volta das 4 da manhã a festa chega ao fim. Todo mundo com cara de cansado, com fome, bêbado, mas alguns trutas mais corajosos - e não muito sóbrios - ainda dão os últimos "tiros" na tentativa de descolar um "cobertor de orelha". Eu e Calvin nos arrastamos para a Times Square em busca de um lugar pra comer algo. Naquele dia que nascia, 7/9, ainda rolaria o carnaval caribenho no Brooklyn. Será que eu teria pique pra ir?!...

West Indian American Parade and Carnival



Acabei indo pro Brooklyn e a foto aí de cima dá uma idéia do que é a West Indian Parade and Carnival. Cheguei por volta das 18 horas e o ambiente me fez lembrar minhas idas a festa de São Benedito em Tietê, interior de SP, sempre no último domingo de setembro. Gente preta andando pra todos os lados, alguns vestindo fantasias, animação, paquera, (re)encontros, azaração, senhoras gordas dando esporros n@s filh@s, comida, gente bêbada - aqui não se vê a cachaça, só o efeito dela -, molecada brincando na rua, tiozões/tiazonas com cara de que já deram muito trabalho quando eram mais novos sentados na calçada com cadeiras de praia vendendo comida caribenha, adolescentes com roupas de cores berrantes, pret@s gostos@s de todos os tipos, espécies, tamanhos e estilos, caixas de som tocando reggae, dancehall e hip-hop no talo, vagabundos contando alguma mentira para impressionar garotas, trutas fumando um baseado básico nas ruas em que não rola tanta vigilância da polícia. Aliás, como polícia é uma "espécie" abundante em NYC, eles estavam em peso na festa. Enfim, festa mano!

No meio de toda essa bagunça pensei rapidamente. "Porra, se existir reencarnação, quero nascer preto de novo! É mó divertido e uma maloqueragem só..."

Muita Paz à Tod@s!

PS: many thanks to my brotha Calvin for this very cool weekend!

12 comentários:

lafayette hohagen disse...

Meu Deus!! Que narrativa de deixar qualquer mortal,mesmo às vésperas de completar 71,com vontade de estar no próximo evento no Roseland Ballroon.
Agora,o Brazilian Day organizado pela Globo? Tô fora! Abços do Lafa.

Curso de História - Miguel Maluhy disse...

O que vale a pela é a experiência de entrar em contato com o ambiente caribenho-americano. Mas soca sucks!

Márcio Macedo disse...

Meu caro amigo Lafa,

Basta você perder essa folia de avião e vir pra Big Apple com a sua senhora que vamos, nós três, fazer ótimos programas. Deixa de medo, ômi!


Jay Z, o que você prefere: soca ou forró??? :) Eu fico com a primeira...

Abraços fortes,

Márcio/Kibe.

Dany disse...

Pelo tanto que você se dispos a escrever do Brazilian Day já deu pra imaginar que não vai passar nem perto ....hehhehehe

Márcio Macedo disse...

Acertou Dany, no way!

Michele disse...

Oi Kibe! Adorei seu texto, eu sempre gosto da maneira como você se refere às mulheres, sem julgamentos de valor machista... Adorei este post!

Um bom "segundo semestre" para você!

Márcio Macedo disse...

Thanks Michele!

Sobre o lance do machismo acho que estou nesse constante processo de reeducação que os homens entraram pós anos 1960 com a revolução sexual e a ascensão do feminismo. Mas não se esquive de me puxar a orelha quando der alguma escorregada.

Beijos com saudades,

Márcio/Kibe.

Jaqueline disse...

Muito bom, rsrs!
Se você não falasse que é em New York eu iria achar que era a festa de Tietê, inclusive sexta-feira estou indo pra lá.
Abs

silvia a. disse...

fiquei com invejinha, hein!
beijocas

Márcio Macedo disse...

Jac,

By the way, bom trabalho de campo em Tietê esse final de semana.

Beijos do Kibe.

Márcio Macedo disse...

Aguião,

Os pret@s gays de NYC estão esperando você pra uma pesquisazinha! De quebra, você ainda vai a essas festinhas...

Beijos,

Márcio/Kibe.

Elias Oliveira disse...

Infelizmente, aqui em Portugal foi decepcionante, mal chegamos, fomos revistados, pela policia, ate minha filha de 8 anos, parecíamos que íamos para uma guerra campal, obrigaram-nos a jogar as tampas das garrafinha de água fora, não sei qual o motivo, o local escolhido, péssimo local e uma pobre infra-estrutura, o apresentador com uma linguagem de desrespeito às famílias com crianças no local tais Como (quem é corno aqui? e outras...). Em um encontro como este deve se convir que pessoas de respeito, e nem todos tem uma cabeça porca como tais indivíduos. Como uma organização como essa permite estes comunicadores, grande falta de respeito.