quarta-feira, 25 de julho de 2012

Meus 10 Livros “Mais Mais” de 2011: Post Número 10


10- Black Sexual Politics: African Americans, Gender and the New Racism (2005). Patricia Collins. Routledge. New York. US$ 33.57 (em média). Minha última leitura preferida de 2011 foi o livro de Patricia Collins, uma famosa socióloga negra feminista afro-americana. No Brasil Collins é mais conhecida por outro livro intitulado Black Feminist Thought (1999) e no qual ela traça um quadro histórico e teórico do pensamento negro feminista nos EUA. Já em Black Sexual Politics, Collins foca sua atenção a questões relacionadas a gênero, sexualidade e a representação dos negros na mídia e na cultura popular norte-americanas. De acordo com Coolins, a sexualidade dos negros é em geral retratada como “wild” (selvagem) e “out of control” (fora de controle). Ao dedicar atenção especial aos marcadores de gênero (na verdade, uma abordagem inter-seccionada das categorias raça, classe, gênero e sexualidade), a autora se capacita a afirmar que desde da época de Sarah "Saartjie" Baartman (1790-1815), a mais famosa das Vênus Hotentotes, e Josephine Baker (1906-1975), o corpo das mulheres negras tem sido visto como elemento de diferenciação racial e objeto de desejo sexual. Atualmente, cantoras de R&B como Jennifer Lopez, ou as integrantes da antigo grupo de Beyoncé Knowles, o Destiny’s Child, além de rappers femininas como Missy Eliot e outras celebridades da cultura popular negra tem explorado mais e mais em suas canções ou no conteúdo de seus mais diversos produtos culturais tópicos relacionados ao formato e tamanho de seus próprios corpos e preferências sexuais. Canções como Bootylicious (2001), do Destiny’s Child, Get Your Freak On, de Missy Elliot (2001), e o fato de Jennifer Lopez ter segurado suas nádegas em um milhão de dólares seriam claros exemplos de como a sexualidade é explorada na indústria musical e no aparato midiático estadunidense. Collins afirma que há um “novo racismo” nos Estados Unidos contemporâneo que é, em grande parte, fruto de três diferentes mas inter-relacionadas mudanças na estrutura da sociedade norte-americana. Primeiro, há o estabelecimento de um novo capitalismo global que separa a sociedade entre dois grupos de indivíduos: 1) aqueles vinculados a corporações internacionais e/ou elites econômicas e políticas com alto poder de mobilidade e acesso a informação e 2) uma classe de indivíduos pobres, em sua maioria negros, com empregos precários, pouco ou nenhum poder de mobilidade e ausente de informação. Ao mesmo tempo, há uma mudança na estrutura política da sociedade norte-americana que destitui os cidadão de vários direitos, mesmo quando ele aparentam estar incluídos.  Por fim, no contexto do novo racismo, o aparato midiático cresce em importância e tem um papel chave na reprodução e disseminação de idéias que legitimam e justificam o novo racismo que é explicado através de falsos argumentos culturalistas.  Nas palavras da autora, “os filmes, revistas, vídeos de música, shows de televisão do entretenimento global, a publicidade e as novas indústrias que produzem super estrelas como Jennifer Lopez ajudam a forjar o consenso que faz o novo racismo parecer natural, normal e inevitável” (Collins, 2005: 34). Nesse sentido (e de forma paradoxal), os EUA são um lugar onde sexualidade, em geral, e sexualidade negra, em particular, tem alta visibilidade mas, ao mesmo tempo, são uma sociedade repressiva onde se evita o engajamento em discussões sobre sexualidade em perspectivas políticas e educacionais. O resultado imediato desse processo é uma ausência de debate sobre sexualidade fazendo com a que a mesma seja normativamente entendida (sem questionamentos) como heterosexismo e levando a que outras práticas e orientações sexuais sejam vistas como tabu e consideradas desviantes. O silêncio do “política afro-americana em questões de gênero e sexualidade” cria um cenário onde descrições estereotipadas da sexualidade negra são normalizadas/naturalizadas e entendidas como desviantes. Um dos grandes méritos da análise de Collins nesse livro é mostrar como as questões de gênero afetam tanto homens como mulheres (gênero não é uma “questão apenas de mulheres”, como muitos acreditam), sejam ele/as hetero, homo ou transexuais. Para aqueles que se deliciam com a cultura popular negra vista em ritmos musicais (hip hop, R&B, funk, soul, jazz, etc.), filmes (blaxploitation, hood movies e comédias românticas negras), stand ups de comediantes e séries de TV com personagens negro/as, o livro é uma oportunidade única de ver essas manifestações esmiuçadas numa análise sociológica complexa e bem feita. Em suma, depois de ler livro você vai entender porque algumas mulheres afro-americanas se referem a si mesmas ou a colegas femininas como bitches , porque alguns afro-americanos se auto-definem ou se referem a amigos próximos como dogs, porque negros gays são vistos como negando a identidade negra ao assumirem sua homossexualidade dentre outras questões polêmicas.
Muita Paz, Muito Amor!