quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tristeza por estar em NYC? Passa indo ver o filme de Simonal!

Algumas semanas atrás, ao comentar um post no blog de um amigo citei a necessidade de elaboração de biografias de algumas figuras importantes do mundo das artes negras e da MPB (música preta brasileira). Estavam nesse pacote finados e vivos: Elza Soares, Grande Otelo, Clara Nunes, Mestre Didi, Bispo do Rosário e... Wilson Simonal! Desse modo, foi com alegria e tristeza que recebi a notícia do lançamento do documentário Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei (2007) em 15 de maio no Brasil.

Alegria por saber que finalmente justiça seria feita a esse grande artista que faleceu em 2000 esquecido e na pobreza, resultado de mal-entendidos e problemas maiores relacionados a repressão na época da ditadura no Brasil com um plus do racismo brasileiro - pode ser que alguns de vocês acharão que isso é encanação minha, mas tá valendo! A tristeza vinha obviamente por Simonal já estar morto e não poder desfrutar dessa homenagem a sua obra e um pedido de desculpas tardio. Por estar em NYC, também fiquei triste por saber que não teria a chance de assistir o filme brevemente.
b00008o7dr01lzzzzzzztx3.jpg
Sou fã de Simona há muitos anos. Comprei minhas duas compilações das suas músicas há mais ou menos 12 anos atrás. Na época fiquei encantado com a qualidade de suas canções e surpreso pelo seu sumiço. Devo adiantar que não quero explorar essa parte da história em meu post, já que boa parte das pessoas sabe mais ou menos o que aconteceu e esse é um detalhe crucial de sua biografia que, possivelmente, o documentário deve abordar - nem que seja de passagem.

O que mais me chama a atenção na carreira de Simonal é que ele, assim como Zózimo Bulbul, foi um dos primeiros negros tidos como símbolos sexuais no Brasil. Simona tem para o samba-soul brasileiro a mesma importância que Marvin Gaye teve para o soul norte-americano. Sua marca eram performances cheias de swingue e demonstrações de virilidade que flertavam com o mito da masculinidade negra. Basta ler a biografia de Tim Maia, escrita por Nelson Motta, para entender porque esse lugar não poderia ser ocupado por Tim Maia, nem Cassiano, nem Hyldon e muito menos Jorge Ben (me recuso a falar "Benjor"!).

Simona era o típico "negrão pegador": alto, bonito, carioca e sempre com alguma piada ou comentário sarcástico a ser lançado. O sucesso de Simonal se explica também, para além do seu talento, devido a valorização da estética negra nos anos 1960 trazida pela soul music norte-americana e pela exposição maciça na mídia televisionada e escrita dos movimentos de contestação negra nos EUA: penteados afro (black power), sapatos plataforma e calças boca de sino em que o pessoal fazia a famosa pizza misturadas a gritos de ordem dos Black Panthers. Ser ou parecer preto(a) estava na moda e Simonal era a nossa versão tupiniquim de uma mistura entre Marvin Gaye, Cassius Clay (posteriormente Muhammad Ali) e Sidney Poitier. Detalhe: Simonal incorporava um termo que aqui nos EUA muitos usam para qualificar o que chamamos no Brasil de "negro metido": o uppity negro. Esse posicionamento quebra com a etiqueta do racismo brasileiro que reserva um lugar de subserviência as pessoas negras, quem se não se conforma ou aceita essa posição encarava e ainda encara muitos problemas como os vividos por Simona.


Pois bem, depois de já ter me conformado em deixar para assistir o filme quando ele caísse no YouTube, no Netflix ou na minha visita anual ao Brasil, recebi um email de uma amiga americana me convidando para um evento sobre a negritude francófona que rolará nos próximos meses numa galeria de artes de NYC. Surpresa maior foi ver que haveria uma mostra de filmes brasileiros e um dos selecionados era justamente o documentário sobre Simona. Bingo!

Amanhã escrevo mais falando sobre esse evento e o movimento de poetas negros radicados na França nos anos 1940 que viria a ser conhecido como Négritude. Cheque o trailer do filme de Simonal abaixo e vá ver o documentário e prestigiar postumamente a carreira de um ícone da MPB injustiçado pela história.

Paz e muito amor à todo(a)s!

6 comentários:

lafayette hohagen disse...

Muito bom o post como de costume. É muito bom te-lo de volta .Terminou a temporada de estudos?
Queria ter feito um comentário no post abaixo mas não consegui ,então faço aqui mesmo.
Cara , voce é um exemplo pra muitos brasileiros.Essa tua gana pelo saber,pela cultura, é simplesmente invejável.Parabéns e um abraço do admirador Lafa

Ari disse...

Mano, tu deixou de lado a parte mais política da coisa, (e a viadagem do cara, giletismo, vamos lá, mas que Millor Fernandes pos numa peça sua). Num dá para esquecer o momento, a situação em que o negócio rolou. Pegaram o cara prá cristo, ok, mas por ele ser negro? E o que aconteceu depois com o célebre cantor revolucionário, Geraldo Vandré, num vale. Simonal caiu de cima, do topo da montanha, mas num creio que a campanha posterior contra ele tenha algo a ver com a cor do cara, um dois melhores cantores da época, sem dúvida. Isso é leitura desfocada. Vc mesmo percebeu, e mesmo assim continuou. Kibe, a continuar assim, vc vai acabar achando racismo em coisas como "Omo lava mais branco"...Take care, brother.

Anônimo disse...

Só quem sabe como o racismo funciona no Brasil percebe que a fala do TIo Tony Tornado explica muito. O Simonal não era o tipo de negro " sim senhor, não senhor". NEgro quando dá pra ser metido... Quem é preto bem sucedido e não conhece essas dos brancos incomodados? Ainda pra completar o cara batia "O Rei" exibindo três carros importados, frente ao único que o Roberto Carlos tinha.
Na boa, to querendo entender, porque quando a gente cai, tem mais gente comemorando do que gente pra dar a mão?!!!

Ari disse...

Sucesso traz incômodos, sempre, inveja e críticas mesquinhas, e num país racista o sucesso de quem é visto como inferior incomoda muito mais, certamente. Mas teria sido o caso de Simonal? Antes do escândalo, havia algum movimento contra ele? O cara era um sucesso incrível, apesar sim de haver comentários racistas contra o então rapaz. Eu me lembro, ninguém me contou, como os seus shows na Record eram populares, e de como as pessoas (brancas como eu) famílias, assistiam e gostavam dos shows, apreciando, como se dizia, a malemolência do artista. Agora, penso que não se entendeu bem uma coisa, o show ewra show, aparência, e o artista fora da telinha não era nenhum momunento de integridade. Ninguém vira dedo-duro por alguma característica heróica. Na hora do vamos ver, ameaçado, sim, e sem ideologia (compare-se com Gilberto Gil na época, caramba!), o cara piscou. Humano, mas também humano o não perdão que o perseguiu o resto da vida. Simonal foi destruído pelo sucesso, talvez. Mas ele ajudou nessa destruição. Tentar por o cara como mártir, putz, se é assim que se vê a história, tamos fritos. Melhor ver Simonal como um grande artista que se deu mal (à força, não devemos nos esquecer) por causa do momento político, e não por ser especificamente negro. Afinal, Tim Maia era negro carrancudo, brigão, e teve toda outra história na ditadura.

Márcio Macedo disse...

Prezado(a)s,

Antes de emitir outras opiniões quero assistir ao filme. De qualquer modo, acho difícil separar todos os vários fatores que teriam contribuído para a queda de Simona e apontar apenas um como determinante.

Paz à todo(a)s,

Kibe.

Anônimo disse...

mesmo antes do documentário sair, já se é sabido sobre o fato de Simonal ter muito sucesso na época e esse fato incomodar muitas pessoas. Outra, por algumas vezes antes de sua morte participou de Talk Shows ( em seu começo no Brasil ) e em um especificamente o apresentador perguntou sobre o fato e ai ele falou abertamente de que foi injustiçado...procure pelo programa do Clodovil acho q na Gazeta. eu assisti mas era muito novo para lembrar perfeitamente de tudo , mas lembro de meu pai dizer q foi injustiçado , minha mãe emocionada dizendo q pelo menos uma pessoa deixou ele desabafar. Um negro que dominava massa? Não é legal até hj imagina há algumas decadas atrás