Alegria por saber que finalmente justiça seria feita a esse grande artista que faleceu em 2000 esquecido e na pobreza, resultado de mal-entendidos e problemas maiores relacionados a repressão na época da ditadura no Brasil com um plus do racismo brasileiro - pode ser que alguns de vocês acharão que isso é encanação minha, mas tá valendo! A tristeza vinha obviamente por Simonal já estar morto e não poder desfrutar dessa homenagem a sua obra e um pedido de desculpas tardio. Por estar em NYC, também fiquei triste por saber que não teria a chance de assistir o filme brevemente.
Sou fã de Simona há muitos anos. Comprei minhas duas compilações das suas músicas há mais ou menos 12 anos atrás. Na época fiquei encantado com a qualidade de suas canções e surpreso pelo seu sumiço. Devo adiantar que não quero explorar essa parte da história em meu post, já que boa parte das pessoas sabe mais ou menos o que aconteceu e esse é um detalhe crucial de sua biografia que, possivelmente, o documentário deve abordar - nem que seja de passagem.O que mais me chama a atenção na carreira de Simonal é que ele, assim como Zózimo Bulbul, foi um dos primeiros negros tidos como símbolos sexuais no Brasil. Simona tem para o samba-soul brasileiro a mesma importância que Marvin Gaye teve para o soul norte-americano. Sua marca eram performances cheias de swingue e demonstrações de virilidade que flertavam com o mito da masculinidade negra. Basta ler a biografia de Tim Maia, escrita por Nelson Motta, para entender porque esse lugar não poderia ser ocupado por Tim Maia, nem Cassiano, nem Hyldon e muito menos Jorge Ben (me recuso a falar "Benjor"!).
Simona era o típico "negrão pegador": alto, bonito, carioca e sempre com alguma piada ou comentário sarcástico a ser lançado. O sucesso de Simonal se explica também, para além do seu talento, devido a valorização da estética negra nos anos 1960 trazida pela soul music norte-americana e pela exposição maciça na mídia televisionada e escrita dos movimentos de contestação negra nos EUA: penteados afro (black power), sapatos plataforma e calças boca de sino em que o pessoal fazia a famosa pizza misturadas a gritos de ordem dos Black Panthers. Ser ou parecer preto(a) estava na moda e Simonal era a nossa versão tupiniquim de uma mistura entre Marvin Gaye, Cassius Clay (posteriormente Muhammad Ali) e Sidney Poitier. Detalhe: Simonal incorporava um termo que aqui nos EUA muitos usam para qualificar o que chamamos no Brasil de "negro metido": o uppity negro. Esse posicionamento quebra com a etiqueta do racismo brasileiro que reserva um lugar de subserviência as pessoas negras, quem se não se conforma ou aceita essa posição encarava e ainda encara muitos problemas como os vividos por Simona.
Pois bem, depois de já ter me conformado em deixar para assistir o filme quando ele caísse no YouTube, no Netflix ou na minha visita anual ao Brasil, recebi um email de uma amiga americana me convidando para um evento sobre a negritude francófona que rolará nos próximos meses numa galeria de artes de NYC. Surpresa maior foi ver que haveria uma mostra de filmes brasileiros e um dos selecionados era justamente o documentário sobre Simona. Bingo!
Amanhã escrevo mais falando sobre esse evento e o movimento de poetas negros radicados na França nos anos 1940 que viria a ser conhecido como Négritude. Cheque o trailer do filme de Simonal abaixo e vá ver o documentário e prestigiar postumamente a carreira de um ícone da MPB injustiçado pela história.
Paz e muito amor à todo(a)s!
6 comentários:
Muito bom o post como de costume. É muito bom te-lo de volta .Terminou a temporada de estudos?
Queria ter feito um comentário no post abaixo mas não consegui ,então faço aqui mesmo.
Cara , voce é um exemplo pra muitos brasileiros.Essa tua gana pelo saber,pela cultura, é simplesmente invejável.Parabéns e um abraço do admirador Lafa
Mano, tu deixou de lado a parte mais política da coisa, (e a viadagem do cara, giletismo, vamos lá, mas que Millor Fernandes pos numa peça sua). Num dá para esquecer o momento, a situação em que o negócio rolou. Pegaram o cara prá cristo, ok, mas por ele ser negro? E o que aconteceu depois com o célebre cantor revolucionário, Geraldo Vandré, num vale. Simonal caiu de cima, do topo da montanha, mas num creio que a campanha posterior contra ele tenha algo a ver com a cor do cara, um dois melhores cantores da época, sem dúvida. Isso é leitura desfocada. Vc mesmo percebeu, e mesmo assim continuou. Kibe, a continuar assim, vc vai acabar achando racismo em coisas como "Omo lava mais branco"...Take care, brother.
Só quem sabe como o racismo funciona no Brasil percebe que a fala do TIo Tony Tornado explica muito. O Simonal não era o tipo de negro " sim senhor, não senhor". NEgro quando dá pra ser metido... Quem é preto bem sucedido e não conhece essas dos brancos incomodados? Ainda pra completar o cara batia "O Rei" exibindo três carros importados, frente ao único que o Roberto Carlos tinha.
Na boa, to querendo entender, porque quando a gente cai, tem mais gente comemorando do que gente pra dar a mão?!!!
Sucesso traz incômodos, sempre, inveja e críticas mesquinhas, e num país racista o sucesso de quem é visto como inferior incomoda muito mais, certamente. Mas teria sido o caso de Simonal? Antes do escândalo, havia algum movimento contra ele? O cara era um sucesso incrível, apesar sim de haver comentários racistas contra o então rapaz. Eu me lembro, ninguém me contou, como os seus shows na Record eram populares, e de como as pessoas (brancas como eu) famílias, assistiam e gostavam dos shows, apreciando, como se dizia, a malemolência do artista. Agora, penso que não se entendeu bem uma coisa, o show ewra show, aparência, e o artista fora da telinha não era nenhum momunento de integridade. Ninguém vira dedo-duro por alguma característica heróica. Na hora do vamos ver, ameaçado, sim, e sem ideologia (compare-se com Gilberto Gil na época, caramba!), o cara piscou. Humano, mas também humano o não perdão que o perseguiu o resto da vida. Simonal foi destruído pelo sucesso, talvez. Mas ele ajudou nessa destruição. Tentar por o cara como mártir, putz, se é assim que se vê a história, tamos fritos. Melhor ver Simonal como um grande artista que se deu mal (à força, não devemos nos esquecer) por causa do momento político, e não por ser especificamente negro. Afinal, Tim Maia era negro carrancudo, brigão, e teve toda outra história na ditadura.
Prezado(a)s,
Antes de emitir outras opiniões quero assistir ao filme. De qualquer modo, acho difícil separar todos os vários fatores que teriam contribuído para a queda de Simona e apontar apenas um como determinante.
Paz à todo(a)s,
Kibe.
mesmo antes do documentário sair, já se é sabido sobre o fato de Simonal ter muito sucesso na época e esse fato incomodar muitas pessoas. Outra, por algumas vezes antes de sua morte participou de Talk Shows ( em seu começo no Brasil ) e em um especificamente o apresentador perguntou sobre o fato e ai ele falou abertamente de que foi injustiçado...procure pelo programa do Clodovil acho q na Gazeta. eu assisti mas era muito novo para lembrar perfeitamente de tudo , mas lembro de meu pai dizer q foi injustiçado , minha mãe emocionada dizendo q pelo menos uma pessoa deixou ele desabafar. Um negro que dominava massa? Não é legal até hj imagina há algumas decadas atrás
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