Esse post é uma continuação do anterior, mas não importa muito se você o ler primeiro. Assim como existem os rótulos modinha e underground para os sons que ouvimos em SP, também há aquilo que meu amigo Fábio Galdino gosta de chamar rap consciente. Em outras palavras, o tipo de rap que tem preocupações sociais que vão além das já banalizadas pretas lindas seminuas, carrões e bling bling jewerly (ontem vi uma reportagem na qual um rapper afirmava ter US$ 500.000 nos dentes). Artistas na pegada de Guru, Public Enemy, KRS-1, Dead Prez, Arrested Development e, para o meu desespero, Black Eyed Peas, fazem parte do time dos conscientes. O mais novo cidadão que deve entrar nesse grupo - se já não está! - é Keinan Warsame of Mogadishu, a/k/a K'NAAN (bonitão da foto abaixo e se pronuncia "keineian").
De nacionalidade somaliana, K'NAAN parece ser a mais nova sensação politicamente correta no mundo do hip-hop. É algo bem vindo, pois já não aguento mais a cara imbecil de Lil Wayne cantando Lollipop e enchendo o bolso da Cash Money Records com álbuns que são puro lixo. Pois bem, deixemos Wayne em paz e voltemos a K'NAAN. Pois é, com esse nome bíblico, o rapaz de cara bonitinha e jeito de bom moço levou uma vida atribulada até sair da Somália no último vôo comercial no início da década de 1990. Sua mãe teve que escolher entre ele e a prima, já que não havia dinheiro suficiente para comprar passagens para ambos, situação que o rapper descreve na canção People Like Me: "There was enough money mone for the plane tickets/How bitter when my mother had to choose who to take with her/So my cousin got left in the war/And that's just hard to record." Talvez os leitores de meu blog sejam muito novos para lembrar disso, mas a letra da canção de Sade, Pearls, que KL Jay usou como sampler na música Capítulo 4 Versículo 3 do penúltimo álbum dos Racionais MCs, descreve a situação de penúria da população somaliana nos anos 1980 vítima de guerras entre grupos étnicos e fome. Uma vez no Harlem em 1991, o pouco inglês que K'NAAN sabia vinha dos raps de Nas e Rakim que o moleque era fã. Depois de passar um ano em Minneapolis, o jovem mudou-se com a mãe para Toronto, Canadá, onde estabeleceu moradia.
Nas últimas semanas li duas reportagens sobre o rapper, uma na The Source e outra no Village Voice, e ambas preparavam o público americano para a turnê que o somaliano começaria nos EUA essa semana. Aliás, ele se apresentou ontem no S.O.B.s aqui em NYC e enquanto escrevo esse post sua performance em Washington DC deve estar acontecendo! Um dos artigos afirma que nos shows K'NAAN "dresses like a rude-boy Sgt. Pepper, beautiful with his Afro and soft-focus eye." Deve ser por isso que aposto no sucesso do garoto com toda a rapaziada neo-hippie paz e amor. As influências musicais do artista são interessantes como, os já citados, Nas, Rakim além dos já finados Tupac, Luke Dube e Bob Marley. A referência da estrela do reggae jamaicano é tão forte que o rapaz fez questão de gravar parte do seu álbum nos estúdios enfumaçados da ilha caribenha do No problem, man! Porém, as canções de K'NAAN não soam como as dos Jamaican bad boys do dancehall ou dos pais fundadores do reggae. O garoto tem estilo e consciência social, gosta de rimar sua situação precária de imigrante num país de primeiro mundo como o Canadá além dos traumas que passou no seu país de origem ainda criança numa levada bastante diferente do que há no mercado.
Sua primeira demo foi lançado em 2004 e levava o título sugestivo de My Life Is a Movie. Ano passado os americanos sentiram o gostinho do rapaz com o lançamento de seu álbum de estréia por aqui, The Dusty of Foot Philosopher. Agora o somaliano excursiona pelos EUA promovendo seu segundo álbum: Troubadour. Há participações de peso no disco como Chubb Rock na canção ABC's e Damian Marley em I Come Prepared. Resumindo, o garoto promete! Ouçam o som e os vídeos do figura no MySpace dele. É interessante como o artista resume sua experiência de exilado/imigrante em busca de um lar através da fala de um amigo na mesma situação. O truta do rapper diz que "é engraçado porque eu não me sinto mais como um somaliano, mas eu não me sinto como nenhuma outra coisa também. O exílio tem a sua própria bandeira. Ela é do tipo que, eu acho, todos nós sentimos". Algo para se pensar!... Para os preguiçosos segue um vídeo abaixo...
Paz!
K'NAAN - ABC's Featuring Chubb Rock
sábado, 28 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
The Roots and K'NAAN
Já tive infindáveis discussões com meus amigos sobre os rótulos que são criados no universo da música negra americana para dar conta dos ritmos que por aqui são criados ou aportam. Funk, soul, R&B (tem o velho e o novo), gangsta rap, world music, jazz-rap, acid-jazz, new jack swing, dirty south, neo-soul, raggamufin, dancehall, reggaeton e alguns já falam até em hipster hip-hop. Mas minha intenção não é dar uma explicação do que se trata cada um, afinal basta ir ao Wikipedia e você terá uma definição - talvez não muito confiável!
No Brasil, mais especificamente São Paulo, meus trutas envolvidos com o mundo das baladas black/hip-hop gostam de fazer uma distinção entre o que é "modinha" e o que é underground nos sons tocados nas festas. O primeiro é o tipo de som já "batido", que tomo mundo anda ouvindo enquanto que o outro diz respeito a algo novo (fresh, como dizem por aqui!), diferente, descolado e não conhecido por muitos. Contudo, essas definições não são rígidas, uma vez que o que é undergound em um dia pode ser modinha no outro. As baladas, consequentemente, também seguem esse esquema: o Sambarylove, no Bexiga, de propriedade do meu amigo Carlos Família, é modinha enquanto que o Sintonia, festa de meu brother KL Jay às quintas-feiras na Alameda Itu, é underground. Nem preciso dizer que atrás dos termos modinha e underground se encontra um juízo de valor sobre o que é de boa ou má qualidade. Okay, mas toda essa enrolação foi só uma introdução besta e longa para falar de dois grupos, na verdade uma banda e um rapper, que podem ser classificados como underground: The Roots (rapazes da foto acima) e K'NAAN.
O primeiro grupo dispensa apresentações, mas como nem todos que leem meu querido blog pertencem ao mundo do hip-hop falarei rapidinho deles. Para quem afirma que o rap não é música de verdade por não usar - tanto na produção como nas apresentações - aparelhos acústicos, The Roots tapa a boca. Eles são o grupo de rap acústico mais famoso e bem sucedido na história do hip-hop. Com 15 anos de estrada, 8 álbuns lançados e ainda levarem a fama por ser a banda na qual a atual diva do neo-soul, Jill Scott, fazia backing vocal, os caras estão numa nova fase: banda de palco do programa Late Night With Jimmy Fallon! Ahhhh???... Yup, não faça essa cara de quem não acredita, é isso mesmo! Os caras vão fazer o mesmo trampo do Bira no programa do Jô Soares, não sei se com as risadas imbecis daquele preto sem noção, mas, sinceramente, espero que Questlove (baterista da banda cuja imagem ficou conhecida por sempre usar o cabelo afro com um garfo) não se preste a essa papel. Segundo Black Thought, MC leader do grupo, os negrões estão numa pegada diferente e querem tentar algo novo, mas o que parece mesmo é os rappers estão meio cansados dessa vida de artista em tour o tempo todo. Pode soar legal para quem nunca experimentou isso, mas imagine fazer show numa noite em Londres e depois voar para Tóquio e três dias depois ter uma apresentação em Berlim? Os caras estão ficando "nego véio" e querem, já dizia o grande e sábio Tim, sossego! A rapaziada é da Filadélfia e não vai gastar mais do que uma hora de ônibus até NYC para trabalhar, vai dar tempo até de levar as crianças na escola antes. Mas se você é fã e tá vindo para Manhattan por esses dias aproveite e vá ver os caras no Highline Ballroom entre março e abril. Abaixo uma fotinha da banda no seu novo visual e ambiente de trabalho junto ao novo chefe.
E o K'NAAN?!... Bem, K'NAAN fica pra amanhã, pois estou capotando de sono em cima do meu laptop!
Paz!
No Brasil, mais especificamente São Paulo, meus trutas envolvidos com o mundo das baladas black/hip-hop gostam de fazer uma distinção entre o que é "modinha" e o que é underground nos sons tocados nas festas. O primeiro é o tipo de som já "batido", que tomo mundo anda ouvindo enquanto que o outro diz respeito a algo novo (fresh, como dizem por aqui!), diferente, descolado e não conhecido por muitos. Contudo, essas definições não são rígidas, uma vez que o que é undergound em um dia pode ser modinha no outro. As baladas, consequentemente, também seguem esse esquema: o Sambarylove, no Bexiga, de propriedade do meu amigo Carlos Família, é modinha enquanto que o Sintonia, festa de meu brother KL Jay às quintas-feiras na Alameda Itu, é underground. Nem preciso dizer que atrás dos termos modinha e underground se encontra um juízo de valor sobre o que é de boa ou má qualidade. Okay, mas toda essa enrolação foi só uma introdução besta e longa para falar de dois grupos, na verdade uma banda e um rapper, que podem ser classificados como underground: The Roots (rapazes da foto acima) e K'NAAN.
O primeiro grupo dispensa apresentações, mas como nem todos que leem meu querido blog pertencem ao mundo do hip-hop falarei rapidinho deles. Para quem afirma que o rap não é música de verdade por não usar - tanto na produção como nas apresentações - aparelhos acústicos, The Roots tapa a boca. Eles são o grupo de rap acústico mais famoso e bem sucedido na história do hip-hop. Com 15 anos de estrada, 8 álbuns lançados e ainda levarem a fama por ser a banda na qual a atual diva do neo-soul, Jill Scott, fazia backing vocal, os caras estão numa nova fase: banda de palco do programa Late Night With Jimmy Fallon! Ahhhh???... Yup, não faça essa cara de quem não acredita, é isso mesmo! Os caras vão fazer o mesmo trampo do Bira no programa do Jô Soares, não sei se com as risadas imbecis daquele preto sem noção, mas, sinceramente, espero que Questlove (baterista da banda cuja imagem ficou conhecida por sempre usar o cabelo afro com um garfo) não se preste a essa papel. Segundo Black Thought, MC leader do grupo, os negrões estão numa pegada diferente e querem tentar algo novo, mas o que parece mesmo é os rappers estão meio cansados dessa vida de artista em tour o tempo todo. Pode soar legal para quem nunca experimentou isso, mas imagine fazer show numa noite em Londres e depois voar para Tóquio e três dias depois ter uma apresentação em Berlim? Os caras estão ficando "nego véio" e querem, já dizia o grande e sábio Tim, sossego! A rapaziada é da Filadélfia e não vai gastar mais do que uma hora de ônibus até NYC para trabalhar, vai dar tempo até de levar as crianças na escola antes. Mas se você é fã e tá vindo para Manhattan por esses dias aproveite e vá ver os caras no Highline Ballroom entre março e abril. Abaixo uma fotinha da banda no seu novo visual e ambiente de trabalho junto ao novo chefe.
E o K'NAAN?!... Bem, K'NAAN fica pra amanhã, pois estou capotando de sono em cima do meu laptop!
Paz!
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Short one...
"Perhaps everybody has a garden of Eden, I don't know; but they have scarcely seen their garden before they see the flaming sword. Then, perhaps, life only offers the choice of remembering the garden or forgetting it. Either, or: it takes strength to forget, it takes a hero to do both. People who remember court madness through pain, the pain of the perpetually recurring death if their innocence; people who forget court another kind of madness, the madness of the denial of pain and the hatred of innocence; and the world is mostly divided between madmen who remember and madmen who forget. Heroes are rare."
"Giovanni's room" - James Baldwin
"Giovanni's room" - James Baldwin
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
O USPior em ação...
Xeretando no YouTube achei uma pérola! Anos atrás, quando ainda estudava na USP, tínhamos o nosso grupo de "ação": o USPior (uspianos, pretos, intelectuais e bocas de litro, obviamente!). Na verdade, o grupo surgiu de um projeto bastante sério, elaborado pelo professor Antonio Sérgio Guimarães em 2001 e intitulado Dez Vezes Dez, que visava a formação de pesquisadores negros. Boa parte dos estudantes que participaram do projeto estão hoje na pós-graduação - no Brasil ou exterior - e alguns já são professores. O USPior era o "lado B" do Dez e era formado por alguns monitores e bolsistas que gostavam de tomar umas e outras em lugares não muito convencionais. Tínhamos alguns locais de encontro como a Cela 11 (trocadilho com Sala 11, um laboratório de pesquisa no departamento de sociologia da USP) e a Barraca do Bigode (um lanche de propriedade do nosso amigo Roberto que é montado em frente ao clube Sambarylove no Bexiga às sextas).
O documentário produzido e dirigido por Guiomar Ramos, Café com Leite (água e leite?), 2007, registra uma de nossas antigas reuniões semanais que acontecia todas as noites de sexta num terceiro point, um boteco sujo do centro velho de SP: o saudoso Escritório (apelido que dávamos ao local). Lugar agradável! O garçom, chato até umas horas, sempre nos maltratava jogando água nos nossos pés por volta das 23:00 horas - uma estratégia visando nos expulsar do lugar - sempre aparecia algum bêbado amigo do Batista para nos encher o saco e chegamos até a testemunhar - junto de duas amigas afro-americanas, para o desespero de uma delas - uma briga em que um dos brothers corria atrás de outro armado com um facão de cortar cana. Bons tempos!
Intelectual tem mania de inventar tradição, já diria o historiador inglês Eric J. Hobsbawn. Nós, como bons e tradicionais negros paulistanos, estávamos fazendo jus a ocupação negra e intelectual do centro velho de SP. O Samba de Bandido, que acontecia há duas quadras dali na rua Dom José de Barros, seria a continuação das festas de moçambique ocorridas triângulo central no começo do século, dos footings da negrada na Rua Direita nos anos 1940, dos encontros no Viaduto do Chá nos anos setenta da pretaiada que frequentava os bailes soul, das rodas de break e points de bater lata dos rappers no Largo São Bento nos anos 1980/1990, enfim, nós éramos a tradição viva e bêbada!
Guiomar registrou uma de nossas animadas discussões regadas a cerveja, batatas fritas e idéias para o seu documentário. No mesa de boteco do vídeo encontram-se eu (Márcio Macedo/Kibe), João Batista Félix (Batistão), Uvanderson Vítor (Vandão), Paulo Henrique (Xuxa), Flávio Ribeiro Francisco (Jay Z) e outros trutas que, infelizmente, não lembro o nome. Estou postando a segunda parte do vídeo aqui, mas ele pode ser visto por inteiro no YouTube e está dividido em mais cinco partes. É um bom retrato do que são as relações raciais na Capital da Garoa! Enjoy it:
O documentário produzido e dirigido por Guiomar Ramos, Café com Leite (água e leite?), 2007, registra uma de nossas antigas reuniões semanais que acontecia todas as noites de sexta num terceiro point, um boteco sujo do centro velho de SP: o saudoso Escritório (apelido que dávamos ao local). Lugar agradável! O garçom, chato até umas horas, sempre nos maltratava jogando água nos nossos pés por volta das 23:00 horas - uma estratégia visando nos expulsar do lugar - sempre aparecia algum bêbado amigo do Batista para nos encher o saco e chegamos até a testemunhar - junto de duas amigas afro-americanas, para o desespero de uma delas - uma briga em que um dos brothers corria atrás de outro armado com um facão de cortar cana. Bons tempos!
Intelectual tem mania de inventar tradição, já diria o historiador inglês Eric J. Hobsbawn. Nós, como bons e tradicionais negros paulistanos, estávamos fazendo jus a ocupação negra e intelectual do centro velho de SP. O Samba de Bandido, que acontecia há duas quadras dali na rua Dom José de Barros, seria a continuação das festas de moçambique ocorridas triângulo central no começo do século, dos footings da negrada na Rua Direita nos anos 1940, dos encontros no Viaduto do Chá nos anos setenta da pretaiada que frequentava os bailes soul, das rodas de break e points de bater lata dos rappers no Largo São Bento nos anos 1980/1990, enfim, nós éramos a tradição viva e bêbada!
Guiomar registrou uma de nossas animadas discussões regadas a cerveja, batatas fritas e idéias para o seu documentário. No mesa de boteco do vídeo encontram-se eu (Márcio Macedo/Kibe), João Batista Félix (Batistão), Uvanderson Vítor (Vandão), Paulo Henrique (Xuxa), Flávio Ribeiro Francisco (Jay Z) e outros trutas que, infelizmente, não lembro o nome. Estou postando a segunda parte do vídeo aqui, mas ele pode ser visto por inteiro no YouTube e está dividido em mais cinco partes. É um bom retrato do que são as relações raciais na Capital da Garoa! Enjoy it:
domingo, 22 de fevereiro de 2009
The new and the old thing...
Last night I was on my way to meet some friends and suddenly I saw myself stopped at Union Square Station watching these amazing guys of Hypnotic Brass Ensemble. Their music is so so so great (my favorite soundtrack of these last times), but unfortunately, for personal reasons, it does not bring me good memories... Listen to it here and watch them below:
Anyway, after some time there - I was trying to buy their CDs, but I didn't have enough money - I took the 1 train going to West Harlem (122 Street and Broadway) to see a concert of some Charles Mingus' themes that would be presented by Manhattan School of Music students. Funny, but the contrast smacked my face: at Union Square a bunch of Black guys were trying make some money with fresh jazz music and wearing hip-hop clothes. At the stage of Manhattan School, a band formed just for White dudes, wearing suit and ties, was playing classics of hard bop and free jazz composed by a man who almost got crazy as a result of racism in the US.
Man, crazy things happen in NYC... Shit!
If you are coming to NYC, try to find out what station Hypnotic is playing and go there to see them. The experience of enjoying great music at subway is crazy! Don't forget give your tip (US$ 1 or more) or buy their CDs (1 for US$ 15 and 2 for US$ 20). They worth each cent!
Anyway, after some time there - I was trying to buy their CDs, but I didn't have enough money - I took the 1 train going to West Harlem (122 Street and Broadway) to see a concert of some Charles Mingus' themes that would be presented by Manhattan School of Music students. Funny, but the contrast smacked my face: at Union Square a bunch of Black guys were trying make some money with fresh jazz music and wearing hip-hop clothes. At the stage of Manhattan School, a band formed just for White dudes, wearing suit and ties, was playing classics of hard bop and free jazz composed by a man who almost got crazy as a result of racism in the US.
Man, crazy things happen in NYC... Shit!
If you are coming to NYC, try to find out what station Hypnotic is playing and go there to see them. The experience of enjoying great music at subway is crazy! Don't forget give your tip (US$ 1 or more) or buy their CDs (1 for US$ 15 and 2 for US$ 20). They worth each cent!
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Sweet Medicine
Por indicação de minha amiga carioca radicada em Salvador, Fabiana Lima, fui assistir Medicine for Melancholy (remédio para melancolia), o primeiro filme do diretor Barry Jenkis, 29. A revista The New Yorker avaliou o filme como superficial enquanto o jornal The New York Times deu nota 4.5 (numa escala que vai de 0 a 5). Quanto a mim, fiquei encantado!
A película retrata 24 horas de um casal negro que vive em São Francisco, Califórnia. Ok., mas bloqueie sua mente e esqueça as produções de Spike Lee e outros filmes que seguem a estética nascida com o blaxploitation, coisas a la Love Jones (1996), The Best Man (1999), Love and Basketball (2000) ou Brownsugar (2002). Aliás, talvez esse seja um filme que a maioria das pessoas negras não vá assistir. Medicine não segue o esquema manjado de cenas bem trabalhadas e personagens buppies que vivem um romance cuja a trilha sonora é recheada de R&B ou neo-soul. Muito pelo contrário! Também não há piadas fáceis, escrachadas e estereotipadas como as vistas nos filmes dos The Wayans Brothers ou Tyler Perry (esse último com um filme novo no pedaço, Madea Goes to Jail).
Mika (Wyatt Cenac) e Jo (Tracey Heggins) vivem um one night stand - termo para sexo casual com estranhos - e acordam numa cama alheia, numa casa que não é de propriedade de nenhum dos dois e com ressaca de uma festa que não tinha relação com ambos. Todo mundo - eu acho?! - já deve ter passado por isso e o primeiro pensamento que vem a cabeça nessas horas geralmente é do tipo: "what a fuck I am doing here?" Tentando lidar com a situação embaraçosa, Mika sugere café da manhã a moça e, logo depois, ambos dividem um táxi de volta para casa. Um imprevisto seguido de uma forcinha de Mika faz com que ambos passem todo o dia e a noite juntos discutindo sobre raça (o namorado de Jo é branco enquanto Mika é pro Black), classe e o processo de gentrification que afeta a cidade de São Francisco como um todo. Ainda há tempo para um delicioso sexo vespertino. Uma das frases questionadoras de Mika é bastante eloquente: “Everything about being indie is tied to not being black.” E é justamente essa a sensação que Jenkins, ex-estudante de cinema na Florida International University, consegue causar no público uma vez que praticamente não se vê negros no filme além do casal. Segundo consta, dentre os grandes centros, SF é tida como a que tem a menor população negra: 7%.
Apesar do filme retratar muito bem os dilemas que se colocam aos jovens negros de vinte e poucos anos na América "pós-racial", na entrevistada dada ao The New York Times Jenkins afirma que o roteiro foi escrito há dois anos, antes da obamania tomar conta do país. O diretor gosta de brincar ao ser perguntado sobre o orçamento do filme, produzido e filmado de forma independente: "Provavelmente custou menos que o valor do seu carro", responde ele de forma irônica. Assistindo o filme percebe-se que as referências utilizadas remetem ao cinema europeu, principalmente La Nouvelle Vague francesa devido ao enquadramento e a fotografia. A película tem início muito próximo do preto e branco e vai se colorindo aos poucos com close ups silenciosos e demorados sobre o rosto e ações dos personagens. Também não há como deixar de notar a referência icônica do neorealismo italiano de Vittorio de Sica em Ladri di Biciclette (1948) uma vez que Mika e Jo exploram a cidade em suas bikes. As imagens de SF são de uma sutileza e beleza à parte, contrastando com a fala de ativistas numa discussão sobre os gentrifiers que não param de chegar a cidade, expulsando os moradores mais pobres e acabando com a diversidade anteriormente existente.
Duvido que o filme entre em circuito comercial no Brasil, mas tente vê-lo em alguma mostra ou sequestre-o logo que chegar nas locadoras ou Netflix. Medicine é, definitivamente, algo para ser visto... Enjoy the trailer:
A película retrata 24 horas de um casal negro que vive em São Francisco, Califórnia. Ok., mas bloqueie sua mente e esqueça as produções de Spike Lee e outros filmes que seguem a estética nascida com o blaxploitation, coisas a la Love Jones (1996), The Best Man (1999), Love and Basketball (2000) ou Brownsugar (2002). Aliás, talvez esse seja um filme que a maioria das pessoas negras não vá assistir. Medicine não segue o esquema manjado de cenas bem trabalhadas e personagens buppies que vivem um romance cuja a trilha sonora é recheada de R&B ou neo-soul. Muito pelo contrário! Também não há piadas fáceis, escrachadas e estereotipadas como as vistas nos filmes dos The Wayans Brothers ou Tyler Perry (esse último com um filme novo no pedaço, Madea Goes to Jail).
Mika (Wyatt Cenac) e Jo (Tracey Heggins) vivem um one night stand - termo para sexo casual com estranhos - e acordam numa cama alheia, numa casa que não é de propriedade de nenhum dos dois e com ressaca de uma festa que não tinha relação com ambos. Todo mundo - eu acho?! - já deve ter passado por isso e o primeiro pensamento que vem a cabeça nessas horas geralmente é do tipo: "what a fuck I am doing here?" Tentando lidar com a situação embaraçosa, Mika sugere café da manhã a moça e, logo depois, ambos dividem um táxi de volta para casa. Um imprevisto seguido de uma forcinha de Mika faz com que ambos passem todo o dia e a noite juntos discutindo sobre raça (o namorado de Jo é branco enquanto Mika é pro Black), classe e o processo de gentrification que afeta a cidade de São Francisco como um todo. Ainda há tempo para um delicioso sexo vespertino. Uma das frases questionadoras de Mika é bastante eloquente: “Everything about being indie is tied to not being black.” E é justamente essa a sensação que Jenkins, ex-estudante de cinema na Florida International University, consegue causar no público uma vez que praticamente não se vê negros no filme além do casal. Segundo consta, dentre os grandes centros, SF é tida como a que tem a menor população negra: 7%.
Apesar do filme retratar muito bem os dilemas que se colocam aos jovens negros de vinte e poucos anos na América "pós-racial", na entrevistada dada ao The New York Times Jenkins afirma que o roteiro foi escrito há dois anos, antes da obamania tomar conta do país. O diretor gosta de brincar ao ser perguntado sobre o orçamento do filme, produzido e filmado de forma independente: "Provavelmente custou menos que o valor do seu carro", responde ele de forma irônica. Assistindo o filme percebe-se que as referências utilizadas remetem ao cinema europeu, principalmente La Nouvelle Vague francesa devido ao enquadramento e a fotografia. A película tem início muito próximo do preto e branco e vai se colorindo aos poucos com close ups silenciosos e demorados sobre o rosto e ações dos personagens. Também não há como deixar de notar a referência icônica do neorealismo italiano de Vittorio de Sica em Ladri di Biciclette (1948) uma vez que Mika e Jo exploram a cidade em suas bikes. As imagens de SF são de uma sutileza e beleza à parte, contrastando com a fala de ativistas numa discussão sobre os gentrifiers que não param de chegar a cidade, expulsando os moradores mais pobres e acabando com a diversidade anteriormente existente.
Duvido que o filme entre em circuito comercial no Brasil, mas tente vê-lo em alguma mostra ou sequestre-o logo que chegar nas locadoras ou Netflix. Medicine é, definitivamente, algo para ser visto... Enjoy the trailer:
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Black Porn Movies and Hip-Hop
É bem interessante notar como praticamente tudo na cultura norte-americana nos últimos 15 anos foi influenciado ou transformado pelo hip-hop. Cinema, moda, linguagem, comportamento, nada passou incólume a essa manifestação artística, cultural e política que já ficou trintona. A única coisa realmente comparável ao hip-hop talvez seja o rock and roll que, diga-se de passagem, de acordo com as mentes negras mais rebeldes foi roubado dos negros. Alguém aí se lembra de uma canção do Living Colour intitulada "Elvis is Dead" (1991) ou do Public Enemy chamando Elvis de racista na letra de "Fight the Power" (1990)? Pois é, ecos dessa raiva!
Mas voltemos ao hip-hop, para uns uma cultura contestadora e para outros uma fábrica de dinheiro. A verdade é que o hip-hop sempre foi polêmico uma vez que é algo criado por minorias (negros e latinos) num contexto de transição tecnológica, política e financeira (anos 70 e 80) falando de festas, drogas, violência policial e pobreza aqui em NYC. Outro elemento que sempre esteve presente na temática de letras de raps também é algo controverso (ao menos nos EUA), mas que todo mundo gosta e, na medida do possível, faz: sexo.
Há uns oito anos atrás uma edição da The Source, a revista de cultura hip-hop mais importante dos EUA, caiu a minha mão em SP. Folheando a revista li um artigo sobre a relação que se construia aquela época entre a indústria de filmes para adultos - o termo politicamente correto para filmes pornográficos - e o hip-hop. O texto mostrava como essa indústria via no hip-hop algo que poderia alavancar as vendas de seus filmes uma vez que rappers (especialmente os gangstas) falavam de sexo o tempo todo em suas letras além de explorar a imagem de mulheres seminuas em seus vídeos e capas de discos. Outro fato que era levado em conta pelos executivos dizia respeito a experiência de Snoop Dogg que a época tinha lançado o vídeo pornô Doggystyle no qual o artista de Los Angeles fazia uma espécie de apresentação das cenas todas enquadradas numa estética gangsta/hip-hop. O trabalho tinha vendido incrivelmente bem, o que animava a indústria de entretenimento adulto. A existência à época de rappers femininas que incorporavam o papel de mulher sexy/fatal/gangsta tão glamorizado por cantores como Notorious BIG (Big Poppa) também era um fator considerado. A referência aqui eram artistas como Lil Kim (a senhorita da foto) e Trina. Por fim, a reportagem ainda afirmava que uma série de atrizes pornôs preparavam-se para se lançar na carreira de rappers disputando o controle do microfone com as senhoritas anteriormente citadas.
Muita água rolou de lá pra cá. Talvez a maior mudança sofrida pela indústria de filmes pornôs esteja relacionada a expansão da internet, local onde todas as modalidades de pornografia hoje podem ser encontradas. Caso dúvide, vá até ao site xvideos e comprove por conta própria. Mas a verdade é que a estética hip-hop possibilitou que os vídeos envolvendo atores/atrizes negro(a)s e latino(a)s nos EUA ficassem muito diferentes em relação aos dos seus comparsas brancos. Nos vídeos não há apenas atores/atrizes vestindo roupas oversize, mas a trilha sonora de fundo é recheada de rap, alguns deles elaborados especialmente para o vídeo. Alguns ex-rappers, como é o caso de DJ Yella, ex integrante do lendário grupo gangsta de Los Angeles N.W.A. (Niggers With Atittude), se tornaram produtores de filmes para adultos. Até hoje não soube de nenhuma rapper que afirme ser ex-atriz pornô, mas quem sabe no futuro, não?
Entretanto, a relação entre pornografia e hip-hop é extremamente controversa devido a fama não muito boa que parte dos rappers tem na relação com as mulheres. Sexismo, misôginia e promoção de violência física e simbólica contra a mulher são apenas algumas das acusões que muitos rappers e alguns músicos de R&B sofrem vindo principalmente das feministas negras. Paralelo a isso, há um imaginário social disseminado entre a população negra masculina que valoriza a figura do pimp (cafetão) e player, uma versão gringa do malandro brasileiro que sai com várias mulheres mas não se compromete com ninguém. Bakari Kitwana, ex-editor da The Source, chamou esse fenômeno de "guerra dos sexos" em seu livro The Hip-Hop Generation . O autor argumenta que os problemas na relação entre homens e mulheres negras atuais é algo ainda tributário da geração do movimento pelos direitos civis, até hoje não resolvido e agravado devido a uma série de circunstâncias históricas como, por exemplo, a desigualdade de gênero existente entre homens e mulheres negras nos Estados Unidos mesmo com os avanços trazidos pelo movimento feminista.
E o Brasil não ficou de fora dessa história. Em fins dos anos 1990 Ja Rule gravou um dos vídeos de sua canção Holla Holla no Rio de Janeiro utilizando do clássico modelo de clipe no hip-hop, a saber, carrões, mulheres de biquini e praia. Mas quem colocou a Cidade Maravilhosa na trilha dos cenários propícios para vídeos de hip-hop foram nossos amigos Snoop Dogg (ele de novo!) e Pharell que, pegando carona no sucesso internacional do filme Cidade de Deus, gravaram o vídeo da canção Beautiful (2004) nas quebradas cariocas. Eles exploraram todo o imaginário gringo sobre Brasil: mulheres bonitas de biquini, paisagens estupendas misturadas as favelas, praias e escola de samba.
Depois dessa data o mercado de filmes pornôs foi bombardeado de vídeos estrelando homens afro-americanos que vão ao Rio em busca de sexo com mulheres brasileiras. Ano passado em uma festa na The New School, conversava com uma estudante negra e, ao dizer que era do Brasil, ela me indagou se eu sabia do comércio de sexo que havia se estabelecido entre EUA e Rio de Janeiro. Segundo ela, existem agências especializadas em levar homens negros americanos a capital carioca com o intuito de fazer turismo sexual. Não sei se a história confere, mas que é polêmica é!
Para terminar (não sei se essa notícia já rolou no Brasil) Chris Brown, garotinho prodígio do pop para adolescentes, está sendo acusado de agredir Rihanna, a moça do guarda-chuva. Pra se ter uma idéia, a polêmica estava sendo coberta pela CNN em cadeia nacional há uma semana e meia atrás. Será que ele quer o posto do ex de Whitney Houston, Bob Brown? E assim caminha o mundo do entretenimento negro nos EUA, já perdi a conta de artistas que já foram presos por assédio, agressão ou estupro!
Mas voltemos ao hip-hop, para uns uma cultura contestadora e para outros uma fábrica de dinheiro. A verdade é que o hip-hop sempre foi polêmico uma vez que é algo criado por minorias (negros e latinos) num contexto de transição tecnológica, política e financeira (anos 70 e 80) falando de festas, drogas, violência policial e pobreza aqui em NYC. Outro elemento que sempre esteve presente na temática de letras de raps também é algo controverso (ao menos nos EUA), mas que todo mundo gosta e, na medida do possível, faz: sexo.
Há uns oito anos atrás uma edição da The Source, a revista de cultura hip-hop mais importante dos EUA, caiu a minha mão em SP. Folheando a revista li um artigo sobre a relação que se construia aquela época entre a indústria de filmes para adultos - o termo politicamente correto para filmes pornográficos - e o hip-hop. O texto mostrava como essa indústria via no hip-hop algo que poderia alavancar as vendas de seus filmes uma vez que rappers (especialmente os gangstas) falavam de sexo o tempo todo em suas letras além de explorar a imagem de mulheres seminuas em seus vídeos e capas de discos. Outro fato que era levado em conta pelos executivos dizia respeito a experiência de Snoop Dogg que a época tinha lançado o vídeo pornô Doggystyle no qual o artista de Los Angeles fazia uma espécie de apresentação das cenas todas enquadradas numa estética gangsta/hip-hop. O trabalho tinha vendido incrivelmente bem, o que animava a indústria de entretenimento adulto. A existência à época de rappers femininas que incorporavam o papel de mulher sexy/fatal/gangsta tão glamorizado por cantores como Notorious BIG (Big Poppa) também era um fator considerado. A referência aqui eram artistas como Lil Kim (a senhorita da foto) e Trina. Por fim, a reportagem ainda afirmava que uma série de atrizes pornôs preparavam-se para se lançar na carreira de rappers disputando o controle do microfone com as senhoritas anteriormente citadas.
Muita água rolou de lá pra cá. Talvez a maior mudança sofrida pela indústria de filmes pornôs esteja relacionada a expansão da internet, local onde todas as modalidades de pornografia hoje podem ser encontradas. Caso dúvide, vá até ao site xvideos e comprove por conta própria. Mas a verdade é que a estética hip-hop possibilitou que os vídeos envolvendo atores/atrizes negro(a)s e latino(a)s nos EUA ficassem muito diferentes em relação aos dos seus comparsas brancos. Nos vídeos não há apenas atores/atrizes vestindo roupas oversize, mas a trilha sonora de fundo é recheada de rap, alguns deles elaborados especialmente para o vídeo. Alguns ex-rappers, como é o caso de DJ Yella, ex integrante do lendário grupo gangsta de Los Angeles N.W.A. (Niggers With Atittude), se tornaram produtores de filmes para adultos. Até hoje não soube de nenhuma rapper que afirme ser ex-atriz pornô, mas quem sabe no futuro, não?
Entretanto, a relação entre pornografia e hip-hop é extremamente controversa devido a fama não muito boa que parte dos rappers tem na relação com as mulheres. Sexismo, misôginia e promoção de violência física e simbólica contra a mulher são apenas algumas das acusões que muitos rappers e alguns músicos de R&B sofrem vindo principalmente das feministas negras. Paralelo a isso, há um imaginário social disseminado entre a população negra masculina que valoriza a figura do pimp (cafetão) e player, uma versão gringa do malandro brasileiro que sai com várias mulheres mas não se compromete com ninguém. Bakari Kitwana, ex-editor da The Source, chamou esse fenômeno de "guerra dos sexos" em seu livro The Hip-Hop Generation . O autor argumenta que os problemas na relação entre homens e mulheres negras atuais é algo ainda tributário da geração do movimento pelos direitos civis, até hoje não resolvido e agravado devido a uma série de circunstâncias históricas como, por exemplo, a desigualdade de gênero existente entre homens e mulheres negras nos Estados Unidos mesmo com os avanços trazidos pelo movimento feminista.
E o Brasil não ficou de fora dessa história. Em fins dos anos 1990 Ja Rule gravou um dos vídeos de sua canção Holla Holla no Rio de Janeiro utilizando do clássico modelo de clipe no hip-hop, a saber, carrões, mulheres de biquini e praia. Mas quem colocou a Cidade Maravilhosa na trilha dos cenários propícios para vídeos de hip-hop foram nossos amigos Snoop Dogg (ele de novo!) e Pharell que, pegando carona no sucesso internacional do filme Cidade de Deus, gravaram o vídeo da canção Beautiful (2004) nas quebradas cariocas. Eles exploraram todo o imaginário gringo sobre Brasil: mulheres bonitas de biquini, paisagens estupendas misturadas as favelas, praias e escola de samba.
Depois dessa data o mercado de filmes pornôs foi bombardeado de vídeos estrelando homens afro-americanos que vão ao Rio em busca de sexo com mulheres brasileiras. Ano passado em uma festa na The New School, conversava com uma estudante negra e, ao dizer que era do Brasil, ela me indagou se eu sabia do comércio de sexo que havia se estabelecido entre EUA e Rio de Janeiro. Segundo ela, existem agências especializadas em levar homens negros americanos a capital carioca com o intuito de fazer turismo sexual. Não sei se a história confere, mas que é polêmica é!
Para terminar (não sei se essa notícia já rolou no Brasil) Chris Brown, garotinho prodígio do pop para adolescentes, está sendo acusado de agredir Rihanna, a moça do guarda-chuva. Pra se ter uma idéia, a polêmica estava sendo coberta pela CNN em cadeia nacional há uma semana e meia atrás. Será que ele quer o posto do ex de Whitney Houston, Bob Brown? E assim caminha o mundo do entretenimento negro nos EUA, já perdi a conta de artistas que já foram presos por assédio, agressão ou estupro!
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Books, books and Malcolm...
Caso você não goste de ler, esse post não lhe será de muita utilidade. Contudo, se você é daquele(a)s que lê esporadicamente ou que não lê, mas tem intenção de deixar o sendetarismo mental de lado, ou é simplesmente curioso, seja bem-vindo! Pergunta: você alguma vez já elaborou uma lista dos seus 10 livros favoritos? Favorito nesse contexto significa algo como ir até a estante da sua casa ou a uma livraria nesse exato momento, pegar ou comprar um desses livros listados, sentar num sofá comfortável e sentir prazer em lê-lo mesmo o já tendo feito uma, duas, três ou sei lá quantas vezes e sempre se lembrando da primeira vez que o fez. Pois bem, eu tenho a minha lista. Aí vai...
1- A Autobiografia de Malcolm X - Alex Haley/Malcolm X (1965)
2- Questão de raça - Cornel West (1992)
3- Dom Casmurro - Machado de Assis (1899)
4- Pérola Negra - Toni Morrison (1981)
5- Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Marquez (1967)
6- Recordações do Escrivão Isaías de Caminha - Lima Barreto (1909)
7- O Atlântico Negro - Paul Gilroy (1993)
8- Casa Grande & Senzala - Gilberto Freyre (1933)
9- Mozart: sociologia de um gênio - Nobert Elias (1991)
10- If Beale Street Could Talk - James Baldwin (1974)
Um livro realmente te agrada quando você se sente transformado após a leitura dele. Seu humor melhorou, piorou, resolveu prestar vestibular ou dar um basta na sua vida?... Bang! O livro tocou em pontos cruciais da sua biografia, personalidade e subjetividade! Todos os livros acima fizeram isso comigo e posso relatar em detalhes o que acontecia na época da leitura de cada um. Vou fazê-lo rapidamente com apenas um...
Li A Autobiografia de Malcolm X quando estava saindo da adolescência. O livro era leitura obrigatória para todos que naquela época ouviam o primeiro álbum dos Racionais MCs, Holocausto Urbano (1991), e ainda aguardavam o lançamento do filme de Spike Lee sobre a vida dele. Coisa parecida ocorreu com o pessoal do movimento negro dos anos 1970 que leu Alma no Exílio (1968) do Eldridge Cleaver (outro livro polêmico para a época!) e devia se esbaldar dançando Jorge Ben (e não Benjor, pelo amor de Deus!). Um dia desses atrás li uma reportagem antiga de revista onde Mano Brown afirma que quase fez umas merdas depois de ler o livro. Pois é, eu também fui "atropelado" por aquelas páginas: parei de comer carne de porco, beber e me tornei um jovem carrancudo, revoltado com o racismo da sociedade pensando seriamente em deixar de lado o meu querido São Benedito me tornando muçulmano. Foi minha época de querer matar um branco por dia (meus amigos brancos fiquem tranquilos que hoje não faço mais isso, aventuras da juventude!) *rs*. Na verdade, há vários Malcolms nesse livro: o orfão, o jovem promissor, o bandido, cafetão e traficante, o ministro revolucionário que defende o uso da violência no contexto de legítima defesa e o homem que pede a união de grupos e pessoas diferentes. Você escolhe o seu: fiquei com o último da lista! Mas foi um processo, pois como dizia Florestan Fernandes: todo negro para tomar consciência de sua negritude deve ser tornar, num primeiro momento, um anti-branco! Malcolm fez isso comigo, mas hoje sou pelo arco-íris e uso a mensagem da última parte da sua biografia.
Vamos lá, faça sua lista de 10 livros, escolha dentre eles um e relembre a época em que o leu descrevendo como a obra mexeu com você. Infelizmente, quem se suicidou devido a influência de algum livro não vai poder dar o seu testemunho! *rs* Se quiser compartilhar comigo e os leitores do blog, joga aqui no comments a sua lista e descrição do livro. Vou adorar saber...
Esse post também tem uma pegada de homenagem já que aqui nos EUA vivemos o mês da história negra e ninguém melhor para representar essa história do que o homem lá da foto, não?!
Paz!
1- A Autobiografia de Malcolm X - Alex Haley/Malcolm X (1965)
2- Questão de raça - Cornel West (1992)
3- Dom Casmurro - Machado de Assis (1899)
4- Pérola Negra - Toni Morrison (1981)
5- Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Marquez (1967)
6- Recordações do Escrivão Isaías de Caminha - Lima Barreto (1909)
7- O Atlântico Negro - Paul Gilroy (1993)
8- Casa Grande & Senzala - Gilberto Freyre (1933)
9- Mozart: sociologia de um gênio - Nobert Elias (1991)
10- If Beale Street Could Talk - James Baldwin (1974)
Um livro realmente te agrada quando você se sente transformado após a leitura dele. Seu humor melhorou, piorou, resolveu prestar vestibular ou dar um basta na sua vida?... Bang! O livro tocou em pontos cruciais da sua biografia, personalidade e subjetividade! Todos os livros acima fizeram isso comigo e posso relatar em detalhes o que acontecia na época da leitura de cada um. Vou fazê-lo rapidamente com apenas um...
Li A Autobiografia de Malcolm X quando estava saindo da adolescência. O livro era leitura obrigatória para todos que naquela época ouviam o primeiro álbum dos Racionais MCs, Holocausto Urbano (1991), e ainda aguardavam o lançamento do filme de Spike Lee sobre a vida dele. Coisa parecida ocorreu com o pessoal do movimento negro dos anos 1970 que leu Alma no Exílio (1968) do Eldridge Cleaver (outro livro polêmico para a época!) e devia se esbaldar dançando Jorge Ben (e não Benjor, pelo amor de Deus!). Um dia desses atrás li uma reportagem antiga de revista onde Mano Brown afirma que quase fez umas merdas depois de ler o livro. Pois é, eu também fui "atropelado" por aquelas páginas: parei de comer carne de porco, beber e me tornei um jovem carrancudo, revoltado com o racismo da sociedade pensando seriamente em deixar de lado o meu querido São Benedito me tornando muçulmano. Foi minha época de querer matar um branco por dia (meus amigos brancos fiquem tranquilos que hoje não faço mais isso, aventuras da juventude!) *rs*. Na verdade, há vários Malcolms nesse livro: o orfão, o jovem promissor, o bandido, cafetão e traficante, o ministro revolucionário que defende o uso da violência no contexto de legítima defesa e o homem que pede a união de grupos e pessoas diferentes. Você escolhe o seu: fiquei com o último da lista! Mas foi um processo, pois como dizia Florestan Fernandes: todo negro para tomar consciência de sua negritude deve ser tornar, num primeiro momento, um anti-branco! Malcolm fez isso comigo, mas hoje sou pelo arco-íris e uso a mensagem da última parte da sua biografia.
Vamos lá, faça sua lista de 10 livros, escolha dentre eles um e relembre a época em que o leu descrevendo como a obra mexeu com você. Infelizmente, quem se suicidou devido a influência de algum livro não vai poder dar o seu testemunho! *rs* Se quiser compartilhar comigo e os leitores do blog, joga aqui no comments a sua lista e descrição do livro. Vou adorar saber...
Esse post também tem uma pegada de homenagem já que aqui nos EUA vivemos o mês da história negra e ninguém melhor para representar essa história do que o homem lá da foto, não?!
Paz!
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Arte multicultural ou a renovação do exótico?
Na terça passada li uma reportagem bastante interessante no New York Times intitulada A shaper of talent for a changing art world. O texto relatava a renovação do perfil de pessoas que trabalham no mercado de arte em New York City em meio a crise econômica seguindo a trajetória de Nicola Vassell, 30, uma ex-modelo jamaicana que atualmente é uma das diretoras da Deitch Project, uma renomada galeria de arte localizada no SoHo. Ms. Vassell, que começou trabalhando em 2005 como estagiária e dois anos depois chegou a posição de diretora, seria o resumo das mudanças que o mundo das artes em NYC sofrera nos últimos anos: negra, jovem e mulher.
Ms. Vassel trabalhou por dez anos como modelo de agências famosas e após se aposentar do trabalho na frente das câmeras de fotógrafos resolveu estudar história da arte na New York University. A arte, segundo ela, era uma paixão desde criança. Sua rotina agora é dividida entre o auxílio a artistas jovens, questões burocráticas da galeria, viagens aos grandes centros de arte mundial promovendo exposições entre outras responsabilidades. Num dos exemplos fornecidos do seu trabalho, a diretora se preparava para participar de uma reunião entre um grupo de designers da Puma e um artista de Los Angeles radicado em NYC cujo trabalho se resume a pinturas subversivas de jovens negros em porta-retratos clássicos. Tudo soa glamour e sofisticação no trabalho da diretora que na entrevista discorre sobre as possibilidades de sua carreira, sua nova família no mundo das artes, a ascendência jamaicana, a crise econômica, arrematando da seguinte forma: "If you cut out the excess and extravagance, what you'll have is a return to personal creativity, a rich creativity that has nothing to do with how much money you have. It's what many of us came into this business for."
Várias coisas vieram a minha cabeça durante minha leitura da reportagem. A primeira foi o filme Basquiat (1996), película sobre a trajetória do artista de pop arte Jean Claude Basquiat (1960-1988). Fiquei pensando nas festas, futilidades e discussões banais que assombravam o mundinho da arte nos anos oitenta e envolta do grupo de Andy Warhol (1928-1987), mentor de Basquiat. A segunda coisa que me veio a cabeça foi o livro que ganhei de uma amiga anos atrás intitulado O que eu amava, de Siri Hustvedt (Companhia das Letras, 2004). O romance é um thriller psicológico que tem como personagens principais indivíduos ligados ao mundo das artes em NYC e parte dele se passa no SoHo descrevendo o processo de gentrification dessa área. Por fim, lembrei do último livro de Paul Gilroy traduzido para o português: Entre campos: culturas, nações e o fascínio da raça (Annablume, 2007). Bem, aí você deve estar se perguntando: mas o que arte tem haver com Paul Gilroy? Explico-me...
Na minha opinião tanto Ms. Vassell como Basquiat fazem parte dessa atração e curiosidade que o senso comum e as artes possuem pelo exótico e diferente (nas palavras de Gilroy, seria o subtítulo de seu livro: "o fascínio da raça"). Se no começo do século XX negros eram trazidos de regiões distantes do continente africano para serem exibidos em zoológicos europeus, as posições de artista renomado e diretora de galeria ocupadas por negros de certa maneira ainda refletem um resquício desse imaginário. Nada mais descolado para uma galeria do que uma diretora negra. Nada é dito, mas a mensagem subliminar é interpretada pelos mais antenados. Mais: Vassell não é uma negra qualquer. Ela faz parte desse grupo dos super negros que falam inglês como primeira língua, moram em cidades globais como NYC ou Londres, foram educados em universidades renomadas, tem acesso à toda tecnologia disponível no mundo desenvolvido indo de laptops à iPhones, são cosmopolitas e viajados, possuem um gosto refinado e se enquadram num perfil mercadológico de negritude vendida para o resto do mundo facilmente encontrada nos filmes do cineasta Spike Lee. Há até um termo para se referir a eles: buppies (a versão black dos yuppies, jovens urbanos, na casa dos 20 aos 30 anos e bem sucedidos profissionalmente).
Digamos que a negritude de Vassell é tão perfeita que não passa de um charmoso acidente no mundo das artes. É sintomático que as afirmações da moça não tenham citado nem de longe a questão racial, algo que também foi evitado o tempo todo por Obama durante sua campanha presidencial. Mais sintomático ainda é o fato de haver um poster do atual presidente no escritório da diretora. Espero que, diferente dela, a negritude de Obama não seja um acidente, mesmo ele sendo de um charme sem fim!
Várias coisas vieram a minha cabeça durante minha leitura da reportagem. A primeira foi o filme Basquiat (1996), película sobre a trajetória do artista de pop arte Jean Claude Basquiat (1960-1988). Fiquei pensando nas festas, futilidades e discussões banais que assombravam o mundinho da arte nos anos oitenta e envolta do grupo de Andy Warhol (1928-1987), mentor de Basquiat. A segunda coisa que me veio a cabeça foi o livro que ganhei de uma amiga anos atrás intitulado O que eu amava, de Siri Hustvedt (Companhia das Letras, 2004). O romance é um thriller psicológico que tem como personagens principais indivíduos ligados ao mundo das artes em NYC e parte dele se passa no SoHo descrevendo o processo de gentrification dessa área. Por fim, lembrei do último livro de Paul Gilroy traduzido para o português: Entre campos: culturas, nações e o fascínio da raça (Annablume, 2007). Bem, aí você deve estar se perguntando: mas o que arte tem haver com Paul Gilroy? Explico-me...
Na minha opinião tanto Ms. Vassell como Basquiat fazem parte dessa atração e curiosidade que o senso comum e as artes possuem pelo exótico e diferente (nas palavras de Gilroy, seria o subtítulo de seu livro: "o fascínio da raça"). Se no começo do século XX negros eram trazidos de regiões distantes do continente africano para serem exibidos em zoológicos europeus, as posições de artista renomado e diretora de galeria ocupadas por negros de certa maneira ainda refletem um resquício desse imaginário. Nada mais descolado para uma galeria do que uma diretora negra. Nada é dito, mas a mensagem subliminar é interpretada pelos mais antenados. Mais: Vassell não é uma negra qualquer. Ela faz parte desse grupo dos super negros que falam inglês como primeira língua, moram em cidades globais como NYC ou Londres, foram educados em universidades renomadas, tem acesso à toda tecnologia disponível no mundo desenvolvido indo de laptops à iPhones, são cosmopolitas e viajados, possuem um gosto refinado e se enquadram num perfil mercadológico de negritude vendida para o resto do mundo facilmente encontrada nos filmes do cineasta Spike Lee. Há até um termo para se referir a eles: buppies (a versão black dos yuppies, jovens urbanos, na casa dos 20 aos 30 anos e bem sucedidos profissionalmente).
Digamos que a negritude de Vassell é tão perfeita que não passa de um charmoso acidente no mundo das artes. É sintomático que as afirmações da moça não tenham citado nem de longe a questão racial, algo que também foi evitado o tempo todo por Obama durante sua campanha presidencial. Mais sintomático ainda é o fato de haver um poster do atual presidente no escritório da diretora. Espero que, diferente dela, a negritude de Obama não seja um acidente, mesmo ele sendo de um charme sem fim!
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Back to life!
Nos anos 90 a banda de soul inglês Soul II Soul fez muito sucesso com a canção intitulada Back to life e eu nas últimas duas semanas tenho a ouvido bastante como se ela fosse uma trilha sonora de minha volta para os EUA. Back to life, back to reality of a new America with Obama!
Não, eu não estava em Washington, DC, no Inauguration Day! Cheguei na cidade no dia seguinte, 21/1, vindo direto de SP para passar alguns dias na casa de um amigo e peguei a ressaca da festa. Mesmo não estando lá, sei nos mínimos detalhes o que aconteceu já que quase todos os meus amigos por aqui aportaram pela capital federal nesse dia. A maioria negros que não queriam deixar de participar do momento histórico, mas havia gente de todos as raças, classes e backgrounds presente. Contudo, não quero falar de Obama aqui pois vou disputar assunto com jornais, revistas e outros blogs além de não ter mais saco para emitir opiniões sobre os poucos dias de governo do neguinho. Vamos deixar ele em paz por algumas semanas para que comece seu job da melhor maneira possível!
Não, eu não estava em Washington, DC, no Inauguration Day! Cheguei na cidade no dia seguinte, 21/1, vindo direto de SP para passar alguns dias na casa de um amigo e peguei a ressaca da festa. Mesmo não estando lá, sei nos mínimos detalhes o que aconteceu já que quase todos os meus amigos por aqui aportaram pela capital federal nesse dia. A maioria negros que não queriam deixar de participar do momento histórico, mas havia gente de todos as raças, classes e backgrounds presente. Contudo, não quero falar de Obama aqui pois vou disputar assunto com jornais, revistas e outros blogs além de não ter mais saco para emitir opiniões sobre os poucos dias de governo do neguinho. Vamos deixar ele em paz por algumas semanas para que comece seu job da melhor maneira possível!
Pois bem, voltemos então a rotina de horas na biblioteca (onde estou agora!) lendo textos, seminários, papers, resenhas, conferências, congresssos e discussões acadêmicas. Às vezes eu ainda tenho a lucidez de me perguntar como os intelectuais (grupo no qual humildemente me incluo) acham graça nisso tudo... *rs* E não esperem nada muito profundo nos próximos posts desse blog....
Para quem quiser curtir Soul II Soul o vídeo da canção segue abaixo.
Para quem quiser curtir Soul II Soul o vídeo da canção segue abaixo.
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