Esse post tem um irmãozinho mais velho nascido ano passado, em meados de janeiro daquele ano, quando escrevi sobre todos os livros que havia lido por diversão em 2010. É claro que li mais de dez livros durante o ano de 2011. Entretanto, diferente do que ocorreu ano passado, não quero me estender numa lista longa de pequenas resenhas (sendo alguns livros muito pouco interessantes, diga-se de passagem). Sendo assim, escolhi as dez obras mais legais – na minha humilde opinião – que tive o prazer de desfrutar da leitura em 2011. Escreverei sobre um livro a cada dia. Vamos lá…
1- Black Skins White Masks (2008 [1952]) de Frantz Fanon. Grove Press. New York. Preço de US$ 14.33 (em média). Frantz Fanon (1925-1961) - foto acima - não precisa de apresentações, mas caso você ainda não tenha ouvido falar nesse psiquiatra, filósofo e revolucionário martiniquense vale a pena comprar esse livro (que possui tradução para o português) e lê-lo de cabo a rabo. Peles Negras Máscaras Brancas publicado em 1952 é fruto da tese de doutorado reprovada de Fanon. Sim, ela foi reprovada quando apresentada a banca e, anos depois, Fanon publicou o texto na íntegra em forma de livro. O texto traça um panorama psiquiátrico das relações entre negros e brancos mostrando como as duas categorias são construções sócio-políticas que possuem uma relação dialética e afetam/conduzem a ação dos indivíduos no que diz respeito a interações das mais diversas, informando a construção de desejos (sexuais e outros), expectativas, hesitações, pré concepções etc. Fanon estabelece um diálogo entre teorias psiquiátricas com a tradição do marxismo francês forjando críticas ao movimento de escritores negros francófonos (negritude) e despindo as engrenagens de funcionamento do colonialismo na sua terra natal, a Martinica. Nesse movimento ele constrói um diálogo crítico com a obra do também martiniquense Aimé Césaire (1913-2008), seu ex-professor e mentor intelectual, ao mesmo tempo que elabora os primeiros passos teóricos do que viria a ser os estudos pós-coloniais que tem como alguns dos livros fundadores (além de Peles Negras) Os Condenados da Terra (1961), também de autoria de Fanon, e Orientalismo escrito por Edward Said em 1978. Os escritos de Fanon, especialmente Condenados... e Toward the African Revolution (1964), foram fontes de influência para a ideologia vigente nos grupos radicais afro-americanos dos anos 1960 como o Black Panthers Party por discutirem a relação classe, raça, exploração econômica e uso da violência como estratégia política e meio revolucionário. Por fim, para Fanon tanto “negro” como “branco” são categorias que devem ser implodidas no caminho de um novo humanismo, pois as mesmas tiranizam tanto negros como brancos em suas inter-relações ao estabelecer uma inferioridade negra correspondida por uma superioridade branca. Um grande exemplo de como a proposta de Fanon presente em Peles Negras... continua contemporânea pode ser visto no livro Entre Campos: Nações, Culturas e o Fascínio da Raça, onde o sociólogo britânico Paul Gilroy tenta conciliar os conceitos de Fanon de crítica a noção de raça e busca por um novo humanismo com as propostas trazidas pelo filósofo francês Michel Foucault sumarizadas em categorias como biopoder, técnicas disciplinares e o aspecto discursivo da racialização vigente no mundo contemporâneo. Fanon faleceu prematuramente vítima de leucemia em 1961 nos EUA - país que se negava terminantemente a visitar, devido sua posição imperialista - onde veio tratar de sua doença e após tornar-se revolucionário no processo de independência da Argélia.
Muita Paz, Muito Amor!
1- Black Skins White Masks (2008 [1952]) de Frantz Fanon. Grove Press. New York. Preço de US$ 14.33 (em média). Frantz Fanon (1925-1961) - foto acima - não precisa de apresentações, mas caso você ainda não tenha ouvido falar nesse psiquiatra, filósofo e revolucionário martiniquense vale a pena comprar esse livro (que possui tradução para o português) e lê-lo de cabo a rabo. Peles Negras Máscaras Brancas publicado em 1952 é fruto da tese de doutorado reprovada de Fanon. Sim, ela foi reprovada quando apresentada a banca e, anos depois, Fanon publicou o texto na íntegra em forma de livro. O texto traça um panorama psiquiátrico das relações entre negros e brancos mostrando como as duas categorias são construções sócio-políticas que possuem uma relação dialética e afetam/conduzem a ação dos indivíduos no que diz respeito a interações das mais diversas, informando a construção de desejos (sexuais e outros), expectativas, hesitações, pré concepções etc. Fanon estabelece um diálogo entre teorias psiquiátricas com a tradição do marxismo francês forjando críticas ao movimento de escritores negros francófonos (negritude) e despindo as engrenagens de funcionamento do colonialismo na sua terra natal, a Martinica. Nesse movimento ele constrói um diálogo crítico com a obra do também martiniquense Aimé Césaire (1913-2008), seu ex-professor e mentor intelectual, ao mesmo tempo que elabora os primeiros passos teóricos do que viria a ser os estudos pós-coloniais que tem como alguns dos livros fundadores (além de Peles Negras) Os Condenados da Terra (1961), também de autoria de Fanon, e Orientalismo escrito por Edward Said em 1978. Os escritos de Fanon, especialmente Condenados... e Toward the African Revolution (1964), foram fontes de influência para a ideologia vigente nos grupos radicais afro-americanos dos anos 1960 como o Black Panthers Party por discutirem a relação classe, raça, exploração econômica e uso da violência como estratégia política e meio revolucionário. Por fim, para Fanon tanto “negro” como “branco” são categorias que devem ser implodidas no caminho de um novo humanismo, pois as mesmas tiranizam tanto negros como brancos em suas inter-relações ao estabelecer uma inferioridade negra correspondida por uma superioridade branca. Um grande exemplo de como a proposta de Fanon presente em Peles Negras... continua contemporânea pode ser visto no livro Entre Campos: Nações, Culturas e o Fascínio da Raça, onde o sociólogo britânico Paul Gilroy tenta conciliar os conceitos de Fanon de crítica a noção de raça e busca por um novo humanismo com as propostas trazidas pelo filósofo francês Michel Foucault sumarizadas em categorias como biopoder, técnicas disciplinares e o aspecto discursivo da racialização vigente no mundo contemporâneo. Fanon faleceu prematuramente vítima de leucemia em 1961 nos EUA - país que se negava terminantemente a visitar, devido sua posição imperialista - onde veio tratar de sua doença e após tornar-se revolucionário no processo de independência da Argélia.
Muita Paz, Muito Amor!