domingo, 6 de novembro de 2011

Reitoria X Estudantes X PM X Sociedade = USP


O conflito que se instauro no campus da Universidade de São Paulo (USP) desde semana passada novamente catalizou discussões a respeito da universidade e do seu papel/função na sociedade. Infelizmente,  devido a forma como o conflito entre alunos e a Polícia Militar (PM) explodiu e a maneira extremamente ruim e equivocada com que a impressa o vem cobrindo tem apenas contribuido para que velhos estereótipos e afirmações baseadas no senso comum prevaleçam sobre a universidade e seu corpo discente. Resumidamente, a mídia promove o grupo de estudantes que reinvidicam a saída da PM do campus como uma minoria que se utiliza de um argumento pretenciosamente político para preservar privilégios - uso de drogas - no interior do campus da universidade.  Isso é uma inverdade. A imagem acima exemplifica um pouco a complexidade do problema. Nessa foto publicada no jornal Folha de São Paulo dias atrás um aluno participando de uma manifestação contrária ao grupo que exige a saída da PM do campus exibe um cartaz ironizando o grupo que invadiu a administração da faculdade de filosofia. O conflito deu vazão a uma série de problemas que a comunidade uspiana tem que discutir, mas que por uma série de motivos não o faz há anos. São eles: 1) estrutura de poder e democracia na universidade; 2) política de isolamento da universidade tomada pela reitoria da USP em relação a seu campus na cidade de São Paulo nos últimos 15 anos; 3) segurança do campus e formas de resolver problemas como roubos, latrocínios, assaltos, homicídios e estupros que acontecem cotidianamente na Cidade Universitária e, finalmente, 4) uma discussão séria e aberta sobre o uso de drogas no campus. Das coisas que li pela internet nos últimos dias, o melhor texto é de autoria de Raquel Rolnik, professora da FAU/USP (leia AQUI ).
 
José de Souza Martins, professor titular aposentado do departamento de sociologia da USP, publicou o artigo "Destinatário Desconhecido" no jornal O Estado de São Paulo desse domingo, 6 de novembro (leia AQUI ). Regorgitando autores clássicos da sociologia que trataram do tema da juventude e listando revoluções que ocorreram no decorrer da história mundial Martins, num sociologuês charmoso, acusa o movimento de estudantes da USP de não ter um objetivo ou alvo mais concreto. Ele termina o artigo afirmando que: "Mas, como agora aqui na USP, os jovens não sabiam o endereço do destinatário da revolta e do sonho pela simples razão de que o destinatário é difuso, está em todos os lugares, até mesmo e sobretudo no cenário bucólico e poluído do fumacê ao lado do prédio de História e Geografia, onde o sonho é cotidianamente comercializado por traficantes e mercenários." Ou seja, uma versão mais sofisticada e com a "carteirada" uspiana, mas que apenas reproduz o argumento da grande mídia: são jovens ingênuos e sem causa perdidos em conflitos geracionais que não sabem o que fazem. Será? Tenho minhas dúvidas!
Muita Paz!

Comentários (9)

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Achei bastante pertinente a sua síntese. Gostei!!
Interessante o seu comentário sobre a farra do boi na USP, nem tanto ao mar nem tanto à pedra. Qual é a mensagem, afinal? Gostei que você, aí de tão longe, tenha se preocupado com o assunto. Bom que tenha indicado o link para o texto da Rolnik. Por que não indicou, também, o link para o texto do Martins? Censura? Os leitores podem compreendê-lo de outro modo.

Afrodescendente, estranhei que não tenha feito qualquer indicação sobre a ausência de negros na ocupação. Examinando as abundantes fotografias divulgadas pelo UOL e pelos jornais e nelas nesgas de rostos, mãos, braços e pernas não vi um único indício de negros no movimento. Seria a revolta juvenil apenas um movimento de brancos bem nutridos e saciados? Talvez. Os negros da USP, provavelmente, estavam nas salas de aula, fazendo bom uso dos 4 milhões de dólares que a USP custa ao povo de São Paulo, aí incluídos os moradores das duas favelas adjacentes, a do Jaguaré e a de São Remo, pois esse dinheiro vem do ICMS, pago também por pobres e favelados.
1 resposta · ativo 699 semanas atrás
Concordo plenamente...se o q fazem é tão certo como dizem, pq cobrir o rosto? Tbm sou negra e pobre e por várias vezes tentei um lugar nessa universidade mas ñ conseg..de repente os baderneiros estão lá com a faca e o queijo na mão e no rolo deles, qm acabou com os pulsos cortados fomos nós!
[CORRIGIDO] Interessante o seu comentário sobre a farra do boi na USP, nem tanto ao mar nem tanto à pedra. Qual é a mensagem, afinal? Gostei que você, aí de tão longe, tenha se preocupado com o assunto. Bom que tenha indicado o link para o texto da Rolnik. Por que não indicou, também, o link para o texto do Martins? Censura? Os leitores podem compreendê-lo de outro modo.

Afrodescendente, estranhei que não tenha feito qualquer indicação sobre a ausência de negros na ocupação. Examinando as abundantes fotografias divulgadas pelo UOL e pelos jornais e nelas nesgas de rostos, mãos, braços e pernas não vi um único indício de negros no movimento. Seria a revolta juvenil apenas um movimento de brancos bem nutridos e saciados? Talvez. Os negros da USP, provavelmente, estavam nas salas de aula, fazendo bom uso dos 4 milhões de dólares que a USP custa por dia ao povo de São Paulo, aí incluídos os moradores das duas favelas adjacentes, a do Jaguaré e a de São Remo, pois esse dinheiro vem do ICMS, pago também por pobres e favelados.
Prezado Josemar Sotins,

Muitíssimo obrigado pelo comentário! O link para o texto não foi colocado porque não o lembrei de fazê-lo uma vez que o li na versão impressa do jornal, dei uma verificada agora e vi que ele está disponível online e logo será incluído um link para o mesmo. Respondendo ao seu questionamento, se o meu blog tivesse censura eu nem mesmo teria os comentários liberados.

Meu interesse pela USP, mesmo morando em NYC e sendo aluno de doutorado na New School for Social Research, é que me sinto honrado em ter sido aluno de graduação e pós-graduação nesta universidade paulista.

A questão do número de alunos negros na universidade de SP é um ponto importante a ser debatido, mas acho que ela não é um ponto central levantado pelos conflitos. Mas já que você tocou no assunto, seria interessante perguntar a alguns desses negros e negras que compöem o universo afrodescendente discente da USP se eles se sentem mais ou menos seguros com a presença da PM no campus. Historicamente essa corporação militar é vista como extremamente truculenta para com a população negra, cumprindo a função de capitães do mato modernos. Vide o caso do dentista negro assassinado anos atrás pela PM paulista, o caso do menino Juan no Rio de Janeiro e as constantes abordagens de moradores - de maioria negra e nordestina - da favelas que compõem o entorno da USP.

O ponto central de minha observação é que, diferente da sua perspectiva, não acho que o conflito entre alunos e PMs seja necessariamente uma farra do boi. Sem retirar o lado festivo e alegre da manifestação (que todo movimento social tem), as reinvindicações são legitímas tanto do lado que exige a saída da PM como do lado oposto que se posiciona contra a saída do efetivo. Mas o que o conflito fez, de forma clara, foi expor uma série de problemas que a universidade não discute de forma aberta e clara com o seu corpo discente e a sociedade em geral.

Tendo a discordar do meu ex-professor Martins em sua interpretação dos conflitos. Movimentos sociais em geral são difusos e embebidos em contradições. A claridade que as análises sociológicas fornecem não conseguem captar a complexidade e dinâmica cotidiana dos movimentos uma vez que elas são sempre construídas a posteriore. Atores sociais envolvidos em lutas políticas nunca tem 100% certeza de quais são os seus objetivos e métodos a serem adotados. É por isso que a sociologia nunca foi nem é uma disciplina do presente.

Grande abraço,

Márcio/Kibe.
Ah, seu Kibe, lá na USP tá assim de cheio de problemas, num é mesmo? Li o Texto da Rolnik (e o seu). Hum, porque que cada vez que a barra aperta, e os do lado de cá fazem besteira (da grossa), sempre se vê gente apelando para problemas maiores, hein? Tá certo o que vc apontou, mas, cá prá mim, no momento, embora não irrelevante, não é o principal. A questão é bem outra: quem faz as coisas num deve se reportar a ninguém mais? Ou, concretamente, quem participa de assembléia e não gosta dos resultados pode fajutar uma outra logo depois? Se pode, então nem vale a pena querer começar a discutir as tais sinucas que vc apontou. Para quê perder tempo? Percebo, eu cá comigo, nas manifestações públicas dos inavasores da Reitoria e apoiadores, um menoscabo (boa essa!) cada vez maior com a opinião, não pública, mas as de seus colegas universitários uspianos. E não é com aqueles que são a favor da PM, não. Se a coisa vai por aí, então o quadro é bem outro. E essa discussão toda sobre a autoritária e passadista estrutura de poder da USP fica para outro momento....
Concordo com você. Gostei.
´só existem quatro países no mundo que mantem policia militar na segurança das pessoas:Brasil, Somália, Vietnã e Gabão (os três últimos não são filiados a ONU).
O nome Policia Militar é meramente simbolico, as policias estaduais no Brasil são efetivamente do tipo Gendarmaria, assim como Argentina, Chile, Itália, França, Portugal, Suiça...

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