O conflito que se instauro no campus da Universidade de São Paulo (USP) desde semana passada novamente catalizou discussões a respeito da universidade e do seu papel/função na sociedade. Infelizmente, devido a forma como o conflito entre alunos e a Polícia Militar (PM) explodiu e a maneira extremamente ruim e equivocada com que a impressa o vem cobrindo tem apenas contribuido para que velhos estereótipos e afirmações baseadas no senso comum prevaleçam sobre a universidade e seu corpo discente. Resumidamente, a mídia promove o grupo de estudantes que reinvidicam a saída da PM do campus como uma minoria que se utiliza de um argumento pretenciosamente político para preservar privilégios - uso de drogas - no interior do campus da universidade. Isso é uma inverdade. A imagem acima exemplifica um pouco a complexidade do problema. Nessa foto publicada no jornal Folha de São Paulo dias atrás um aluno participando de uma manifestação contrária ao grupo que exige a saída da PM do campus exibe um cartaz ironizando o grupo que invadiu a administração da faculdade de filosofia. O conflito deu vazão a uma série de problemas que a comunidade uspiana tem que discutir, mas que por uma série de motivos não o faz há anos. São eles: 1) estrutura de poder e democracia na universidade; 2) política de isolamento da universidade tomada pela reitoria da USP em relação a seu campus na cidade de São Paulo nos últimos 15 anos; 3) segurança do campus e formas de resolver problemas como roubos, latrocínios, assaltos, homicídios e estupros que acontecem cotidianamente na Cidade Universitária e, finalmente, 4) uma discussão séria e aberta sobre o uso de drogas no campus. Das coisas que li pela internet nos últimos dias, o melhor texto é de autoria de Raquel Rolnik, professora da FAU/USP (leia AQUI ).
Já José de Souza Martins, professor titular aposentado do departamento de sociologia da USP, publicou o artigo "Destinatário Desconhecido" no jornal O Estado de São Paulo desse domingo, 6 de novembro (leia AQUI ). Regorgitando autores clássicos da sociologia que trataram do tema da juventude e listando revoluções que ocorreram no decorrer da história mundial Martins, num sociologuês charmoso, acusa o movimento de estudantes da USP de não ter um objetivo ou alvo mais concreto. Ele termina o artigo afirmando que: "Mas, como agora aqui na USP, os jovens não sabiam o endereço do destinatário da revolta e do sonho pela simples razão de que o destinatário é difuso, está em todos os lugares, até mesmo e sobretudo no cenário bucólico e poluído do fumacê ao lado do prédio de História e Geografia, onde o sonho é cotidianamente comercializado por traficantes e mercenários." Ou seja, uma versão mais sofisticada e com a "carteirada" uspiana, mas que apenas reproduz o argumento da grande mídia: são jovens ingênuos e sem causa perdidos em conflitos geracionais que não sabem o que fazem. Será? Tenho minhas dúvidas!
Muita Paz!