quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Vai Samba Aí?

Fique esperto/a com as datas: o Dia Nacional do Samba é na sexta-feira, 2 de dezembro, mas o show ocorrerá no sabadão, 3 de dezembro.  Maiores informações clique AQUI

Muita Paz, Muito Amor!


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Literatura e Afrodescendência no Brasil


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Arte e a Rua



Madrugada de segunda e eu com preguiça de escrever. Mesmo assim passei por aqui para deixar o toque da estréia do documentário A Arte e a Rua que retrata a transformação sofrida pelos elementos do hip-hop  no bairro de Cidade Tiradentes, São Paulo.  O filme foi dirigido por Carolina Caffé e Rose Satiko Hikiji, professora do departamento de antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e tem seu pré-lançamento marcado para o dia 7/12, às 20h, no Matilha Cultural (rua Rêgo Freitas, 542, Centro), em São Paulo. Assista o trailer logo abaixo.

Muita Paz!

 

domingo, 20 de novembro de 2011

20 de Novembriz!

Café preto Wallpaper Download

"Um café preto, por favor: é 20 de novembro."

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Barack Obama: Desapontamento ou Ainda Esperança?


A corrida eleitoral para a presidência norte-americana já começou. Barack Obama, nas últimas semanas, saiu numa viagem por vários estados do país (principalmente os chamados "swing states", ou seja, aqueles que não tem uma posição definida se são tradicionalmente democratas ou republicados) tentando reconquistar a confiança de seu eleitorado e daqueles que, mesmo não sendo democratas abertamente, depositaram sua confiança nele em 2008. No lado republicano há um frenesi sobre quem será o pré-candidato que conseguirá ser indicado nas primárias que devem acontecer no início do ano. A grande novidade é Herman Cain: um self-made man negro que nas duas últimas semanas vem enfrentando acusações de ter cometido assédio sexual contra subordinadas e ex-funcionárias. Mas deixando de lado as encrencas de Cain e voltando ao atual comand in chief fica a pergunta: Obama tem sido um bom presidente?  Há avanços e problemas. O principal problema é que a economia norte-americana ainda "patina" com uma taxa de desemprego alta que afeta principalmente os mais pobres e com pouca qualificação profissional e determinados setores da classe média. Há pessoas que se declaram abertamente desapontadas com Obama, como o filósofo afro-americano Cornel West e o Nobel de economia Paul Krugman (ambos professores em Princeton).  No vídeo abaixo Jake Lamar (foto acima), um escritor afro-americano residente em Paris, diz que não se encontra desapontado com Barack Obama e expõe os seus argumentos para isso. Vale a pena assistir. E você, está ou não desapontado com Obama?

Muita Paz e Ótimo Feriado e Semana!

domingo, 13 de novembro de 2011

VIII Marcha da Consciência Negra

Eu vou. E você?...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Niver, USP, Coisas...

Meio sem saco pra escrever. Especialmente depois de ter bebido uma garrafa de vinho. Sim, foi meu aniversário e meus amigos reclamaram porque não podiam deixar mensagens no meu mural no Facebook. Eu nem lembrava disso e muito menos o porquê de ter restringido a postagem de mensagens no meu mural. Provavelmente isso ocorreu em alguma crise de chatice minha ou devido a algum/a mala que começou a postar coisas que me desagradavam. Enfim, hoje/ontem foi meu niver. Nada demais. Depois de certa idade não se faz grandes festejos e alardes. Enquanto caminhava do supermercado (onde fui comprar um vinho) de volta para a casa de meus pais, lembrava dos meus últimos aniversários. Em 2008 meu aniversário foi num sábado e minha namorada à época me levou para jantar num restaurante caribenho. Em 2009 meu aniversário foi numa quarta e reuni meus amigos no meu restaurante jamaicano preferido em NYC para comer. Em 2010 meu niver foi numa segunda e eu estava em Boston para visitar amigos que estudam em Harvard e um date. 2011... Well, nada demais. Limeira, ouvindo Bob Dylan, Ramones, John Coltrane, Beatles e Santogold enquanto bebo um vinho português e fuço na web vendo as notícias sobre a USP e respondendo salves de amig@s.  A parte boa é que acabei me presenteando com 12 livros que sairam absolutamente por um pechincha considerando os títulos. Estou especialmente animado com três deles: Homem Comum de Philip Roth; O Fantasma do Rei Leopoldo de Adam Hochschild e Malagueta, Perus e Bacanaço de João Antonio (na linda edição da Cosaf Naify). Obrigado a todo/as que me enviaram felicitações pelo Facebook e email. Com certeza vou demorar alguns dias para responder a todo/as, mas com certeza o farei. É isso, só mais um ano. Nada mais.

Muita Paz!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Sociologia de Jay-Z

Tradução do texto Hoyas and Hova — Georgetown sociology course focuses on rap star Jay-Z publicado em 2 de novembro de 2011 no jornal The Washington Post por Chris Richards.

 
 
É segunda de manhã na Universidade Georgetown (Washington DC) e Michael Eric Dyson está na página 176 de Decoded, o livro de memórias da super estrela do rap Jay-Z.

Andando pela classe no seu terno quadrado azul royal, o professor de sociologia empurra seus óculos acima do nariz e mergulha numa passagem que é uma meditação do rapper sobre raça e auto-imagem: "Jay-Z está falando sobre a concepção imagética da negritude que é evocada em um mundo branco pensando sobre cultura negra." Estudantes, abarrotados na sala de aula, tomam nota desta idéia em seus cadernos espirais e outros a digitam em seus laptops. Essa é uma das incontáveis afirmações que joram da mente do professor durante o que tem se tornado um dos cursos mais populares do campus - SOCI-124-01 ou Sociologia do Hip-Hop - Teodicéia Urbana de Jay-Z. Talvez seja o único curso da Georgetown que possa ser discutido na MTV.

A super estrela do rap, que escapou de uma juventude pobre no Marcy Projects, Brooklyn, e ascendeu a linha de frente da consciência pop americana, está sendo agora examinado nas torres de marfim da academia. Todos o conhecem como Hova. Shawn Carter. O marido de Beyoncé. O cara de 41 anos que borrou a linha separadora entre artista e empreendedor e ajudou a cultura sobre a qual eles cresceram. Mas Dyson está pedindo a seus alunos que pensem maior: "Qual é o predicado intelectual, teológico e filosófico para o argumento de Jay-Z?"

Jay-Z estará no Verizon Center na quinta-feira para um show com Kanye West e lá também estarão um punhado de alunos de Dyson. Mas apenas ser um fã não se traduz numa aprovação imediata no curso. "Esta não é uma classe do tipo sentar na cadeira e lançar um 'Cara, essas rimas são foda!', diz Dyson, um autor formado em Princeton, apresentador de rádio sindicalizado e ministro batista ordenado. "Nós estamos lidando com tudo que é importante em uma classe de sociologia: raça, gênero, etnicidade, classe, desigualdade econômica, injustiça social... O corpo do seu trabalho provou ser poderoso, efetivo e influente. E é tempo de lidar com ele."

Em suas aulas, Dyson defende a idéia da gravidade inadvertidamente política da música rap. "O hip-hop globalizou uma concepção de negritude que tem tido um impacto político, independente do fato de se existia ou não um intento político," diz ele exaltado.

Ele desenvolve paralelos entre os escritos do pioneiro dos movimentos pelos direitos civis W.E.B. Du Bois e as rimas da 'lenda do rap dos anos 90, Notorious B.I.G. Ele examina a adolescência de trambiqueiro de rua de Jay-Z como um pequeno exemplo das dinâmicas do capitalismo tardio que o sociólogo Max Weber descreveu em seu trabalho de 1905, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Ele examina como as lutas de classe da América do século vinte e um promoveram a ascensão dos protestos Ocupe Wall Street - tudo tendo como pano de fundo a ascensão do rapper que foi do fundo dos noventa e nove por cento ao topo do um por cento (referência a uma das afirmações do movimento Ocupe Wall Street de que a elite econômica constituída de um por cento da população norte-americana concentra oitenta por cento da riqueza em detrimento dos noventa e nove restantes que dividem apenas vinte por cento da riqueza).

Tudo isso é típico do que tem acontecido na sala de aula de Dyson às segundas e quartas de manhã deste semestre - um auditório cheio de idéias e corpos. 

Quando as oitenta vagas do curso foram preenchidas na primeira semana de matrículas do semestre, Dyson o realocou para uma sala maior que pudesse acomodar cento e quarenta estudantes. Esta é a contagem oficial, de qualquer modo.

"Eu não tinha espaço no meu horário para fazer essa aula," diz a aluna de última ano Jackie Steves, que tem assistido as aulas como penetra, com a permissão de Dyson. "Mas eu venho sempre que eu posso." Depois da aula, ela aglomera a frente da sala de aula junto de uma dezena de outros alunos que ajudam a compor uma das mais diversificadas reuniões em Georgetown, uma universidade onde as minorias são vinte e um por cento do corpo discente da graduação.

"Apenas o fato dessa classe existir já mostra que há opções não ortodoxas nas universidades mais tradicionais e estruturas sociais da América," diz Tate Tucker, um estudante de segundo ano também esperando para falar com o professor. "Então, com muita esperança eu estarei preparado para forgar meu próprio caminho, muito da mesma forma que ele fez."

Tucker não está falando sobre Jay-Z. Ele está falando de Dyson que tem sido uma estrela no campus desde sua chegada em 2007. "O boca a boca sobre os cursos de Michael é enorme," diz Timothy Wickham-Crowley, chefe do departamento de sociologia da Georgetown. Wickham-Crowley afirma que este estudo do trabalho de Jay-Z é valioso de uma perspectiva sociológica porque ele ressoa com um larga porção de humanidade e gera discussão. "Quando [Dyson] sai da sala de aula, ele traz os alunos a reboque e há essas discussões animadas, conversas engajadas acontecendo," ele diz. 

O curso sobre Jay-Z da Georgetown tem também gerado conversas entre estudantes e os pais que assinam os cheques das suas mensalidades - US$ 40,920 pelo ano acadêmico 2011-2012. Ryan Zimmerman, um último anista se formando em governança e sociologia, diz que a sua família não estava tão excitada quando ele se matriculou. "Hip-hop não existia quando meus pais estavam crescendo com Billy Joel, Van Morrison e os Rolling Stones," diz Zimmerman. "Meu pai agiu tipo,  'Com licença, filho? O que?'"

Dyson entende. "Eu estou certo que há um certo puxa-empurra de alguns pais de estudantes," ele diz. "Mas eu digo a eles, 'Tragam seus pais aqui. Deixe-os ver o que nós estamos fazendo. Isso pode mudar a mente deles.' " Esta é a especialidade de Dyson -  buscar lacunas geracionais em busca de pontes. Ele é um desavergonhado auto-promotor que aparece regularmente em canais de notícias, rádios públicas e programas como Real Time With Bill Maher (Em Tempo Real Com Bill Maher). Parte da sua contínua missão tem sido fazer a bagunçada diplomacia entre a geração hip-hop e sua frequentemente desdenhosa geração mais velha.

"Eu sou um ala [posição intermediária no basquete], cara! Eu não pude marchar com o Doutor King e seus comparsas. E eu sou muito velho para ser um hip-hopper," diz o professor de 53 anos durante seu horário de atendimento extra classe. "Mas eu ganhei um status honorário em cada geração... Eu vejo a minha língua como uma ponte sobre a qual ideias podem viajar de um lado para o outro."

Dyson ofereceu sua primeira classe sobre hip-hop em nível universitário em 1995 na Universidade da Carolina do Norte. Desde então ele tem ensinou em Columbia, DePaul e na Universidade da Pennsylvania, onde ele ofereceu uma classe sobre Tupac usando o seu livro de 2002, Holler if You Hear Me: Searching for Tupac Shakur (Passe Adiante Se Você Me Ouvir: Em Busca de Tupac Shakur).
 
Em anos recentes, a Boston University ensinou sobre Bob Dylan e a New York University sobre Beatles, mas cursos de faculdade sobre rappers são raros. Cursos sobre rappers contemporâneos são praticamente inexistentes.

Dyson vê o seu curso como outro passo em diração a validar o hip-hop para uma geração mais velha que frequentemente desdenha da música por sua violência e misoginia. "Isto não significa que eles não tenham críticas legítimas," Dyson diz. "Mas a forma de arte em si não pode ser descartada."

Para fortalecer essa mensagem em Georgetown, ele pontilhou seu programa com professores convidados, incluindo acadêmicos como Mark Anthony Neal e James Peterson, e Zack O'Malley Greenburg, escritor do staff da revista Forbes cujo livro Empire State of Mind: How Jay-Z Went from Street Corner to Corner Office está também na lista de leituras do curso. Textos sociológicos tradicionais não estão listados, mas Dyson espera que os alunos façam referência aos teóricos que ele cita durante as aulas nos seus trabalhos e provas. 

E Dyson está ainda tentando trazer uma aparição ainda maior na sua sala de aula: Jay-Z em pessoa. Ele é amigo do rapper e o tem cortejado a vir ao campus, frequentemente enviando raps a ele via mensagens de texto. "Eu mando algumas rimas pra ele via texto," Dyson diz. "Vê como eu sou doido?"

Na segunda, Jay-Z respondeu a sua mensagem: "Tenho ouvido ótimas coisas sobre a aula! Obrigado e se mantenha representando a poesia! Respeito, J." (O rapper se recusou a ser entrevistado para este artigo.) "Seria uma honra e um golpe," Dyson diz da visita em potencial. "Ele sabe o que está acontecendo." E os estudantes sabem que ele sabe. Dyson gosta de gabar-se de sua amizade com famosos em classe referindo-se a recentes conversas que teve com o cantor de R&B Trey Songz e o Reverendo Jesse Jackson - tema de um pequeno seminário que Dyson está também ensinando em Georgetown esse semestre. (Jackson visitou a turma.)

A única aparição na aula de segunda foi Omekongo Dibinga, o assistente de ensino de Dyson que também é DJ de iPod na aula. Ele solta Minority Report, um dolorido canto fúnebre de 2006 que Dyson descreve como "uma das mais pungentes e poderosas canções sobre o Furação Katrina."

Lamentando a impotência dos pobres e perscrutando fundo na própria consciência do rapper, ela é uma das mais duras críticas de Jay-Z ao sistema - e a si mesmo.

"Sure, I ponied up a mill, but I didn't give my time (Claro, eu contribui com um milhão, mas eu não dei meu tempo)/ So in reality, I didn't give a dime, or a damn (Então, na real, eu não dei sequer 10 centavos, or qualquer  droga)/ I just put my monies in the hands, of the same people that left my people stranded (Eu apenas coloquei o meu dinheiro nas mãos, das mesmas pessoas que deixaram meu povo encalhado)"
 
Cabeças balançam sobre o sensível efeito da batida da música. Lábios silenciosamente se movem acompanhando a letra. Mesmo os estudantes sentados imóveis em suas cadeiras estão ouvindo cuidadosamente, tentando aprender o que um garoto negro dos conjuntos habitacionais de Marcy, Brooklyn, pode nos ensinar sobre a América e nós mesmos.

Para assistir uma vídeo/entrevista com Michael Eric Dyson, clique AQUI

domingo, 6 de novembro de 2011

Reitoria X Estudantes X PM X Sociedade = USP


O conflito que se instauro no campus da Universidade de São Paulo (USP) desde semana passada novamente catalizou discussões a respeito da universidade e do seu papel/função na sociedade. Infelizmente,  devido a forma como o conflito entre alunos e a Polícia Militar (PM) explodiu e a maneira extremamente ruim e equivocada com que a impressa o vem cobrindo tem apenas contribuido para que velhos estereótipos e afirmações baseadas no senso comum prevaleçam sobre a universidade e seu corpo discente. Resumidamente, a mídia promove o grupo de estudantes que reinvidicam a saída da PM do campus como uma minoria que se utiliza de um argumento pretenciosamente político para preservar privilégios - uso de drogas - no interior do campus da universidade.  Isso é uma inverdade. A imagem acima exemplifica um pouco a complexidade do problema. Nessa foto publicada no jornal Folha de São Paulo dias atrás um aluno participando de uma manifestação contrária ao grupo que exige a saída da PM do campus exibe um cartaz ironizando o grupo que invadiu a administração da faculdade de filosofia. O conflito deu vazão a uma série de problemas que a comunidade uspiana tem que discutir, mas que por uma série de motivos não o faz há anos. São eles: 1) estrutura de poder e democracia na universidade; 2) política de isolamento da universidade tomada pela reitoria da USP em relação a seu campus na cidade de São Paulo nos últimos 15 anos; 3) segurança do campus e formas de resolver problemas como roubos, latrocínios, assaltos, homicídios e estupros que acontecem cotidianamente na Cidade Universitária e, finalmente, 4) uma discussão séria e aberta sobre o uso de drogas no campus. Das coisas que li pela internet nos últimos dias, o melhor texto é de autoria de Raquel Rolnik, professora da FAU/USP (leia AQUI ).
 
José de Souza Martins, professor titular aposentado do departamento de sociologia da USP, publicou o artigo "Destinatário Desconhecido" no jornal O Estado de São Paulo desse domingo, 6 de novembro (leia AQUI ). Regorgitando autores clássicos da sociologia que trataram do tema da juventude e listando revoluções que ocorreram no decorrer da história mundial Martins, num sociologuês charmoso, acusa o movimento de estudantes da USP de não ter um objetivo ou alvo mais concreto. Ele termina o artigo afirmando que: "Mas, como agora aqui na USP, os jovens não sabiam o endereço do destinatário da revolta e do sonho pela simples razão de que o destinatário é difuso, está em todos os lugares, até mesmo e sobretudo no cenário bucólico e poluído do fumacê ao lado do prédio de História e Geografia, onde o sonho é cotidianamente comercializado por traficantes e mercenários." Ou seja, uma versão mais sofisticada e com a "carteirada" uspiana, mas que apenas reproduz o argumento da grande mídia: são jovens ingênuos e sem causa perdidos em conflitos geracionais que não sabem o que fazem. Será? Tenho minhas dúvidas!
Muita Paz!

sábado, 5 de novembro de 2011

A História do "Lover's Rock"

 
Sábadão de preguiça total e calorzinho mediano. Como estou na casa de mamãe e papai no interior de São Paulo vou ler um livrinho básico, mas se estivesse em Londres iria tentar assistir o documentário The Story of Lover's Rock  que descreve o surgimento e desenvolvimento desse estilo de reggae de características românticas surgido na Inglaterra dos anos 1970. No filme há entrevistas com os artistas Denis Bovell, UB40, Levi Roots Linton Kwesi Johnson, Angie La Mar, Maxi Priest, Mykaell Riley dentre outros. Fica a dica. Veja o trailer da parada logo abaixo.



Muita Paz!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Filme de Negrão em Destaque: Mostra de Blaxploitation em SP e RJ

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/d/d0/Shaftposter.jpg
"Filme de Negrão" é uma expressão que eu e meus amigos usávamos nos anos 1990 e parte dos 2000 para se referir a películas focadas na experiência dos negros afro-americanos. O primeiro "filme de negrão" que assisti foi Do The Right Thing (1989) de Spike Lee que foi seguido por New Jack City (1991) de Mario Van Peebles e Boys n the Hood (1991) de John Singleton. A lista foi crescendo com o passar dos anos e envolvia desde os bangue bangues sanguinolentos urbanos da dupla de diretores The Hughes Brothers exemplificados em Menace II Society (1993) e Dead Presidents (1995) chegando até as comédias românticas pretas na pegada de The Best Man (1999) de Malcolm D. Lee.  O que eu e meus amigos não sabíamos à época é que todos esses filmes, e seus respectivos diretores, foram influenciados por uma tradição de cinema negro do final dos anos 1960 e parte dos 1970: o blaxploitation.  Entre 1 e 24 de novembro ocorrerá no Rio de Janeiro e em São Paulo a mostra de filmes Tela Negra: O Cinema do Blaxploitation (consulte a programação AQUI). É uma oportunidade única de assistir filmes históricos na telona.



Blaxploitation são filmes norte-americanos de “produção B”, ou seja, realizados com poucos recursos, e que exploram temáticas e atores negros em suas tramas e enredos. O termo blaxploitation é uma junção das palavras black (negro) e exploitation (exploração) tendo sido criada no começo dos anos 1970 por Junius Griffin: publicitário e diretor da Associação Para Avanço dos Homens de Cor (NAACP) de Los Angeles. A película que deu origem ao movimento foi o filme manifesto de Melvin Van Peebles, Sweet Sweetback’s Baadasssss Song (1971), sendo, posteriormente, seguido por outras películas que já tinham um apelo mais comercial. Uma boa explicação do que consistem esses filmes e do porquê deles terem sido tão populares a sua época pode ser captada ao descrevermos o filme de Peebles, considerado como a película mais política e responsável por lançar os marcos fundantes de uma estética utilizada até a exaustão (clique sobre os links para ver os trailers dos filmes citados abaixo).
 
Sweet Sweetback's Baadasssss Song foi produzido com recursos do próprio diretor e outra parte (US$ 50 mil) emprestada do ator Bill Cosby já deveras famoso à época. Peebles utilizou atores que receberam quase nada para atuarem e a edição/montagem foi realizada pelo próprio diretor que quase ficou cego no processo. Peebles ainda atuou como personagem principal e enfrentou barreiras burocráticas para lançar o filme que foi classificado na mesma categoria de filmes pornográficos devido as cenas de sexo e conteúdo polêmico o que, junto com outras questões, fez com que a maior parte dos cinemas se recusassem a exibí-lo. Mesmo assim o longa de Peebles estourou fazendo a maior bilheteria de um filme independente nos EUA naquele período e lucrando em torno de US$ 10 milhões. Isso se deu em muito devido a aprovação do conteúdo da película pelos Black Panthers Party que o viram como uma espécie de resumo da sua ideologia.

O filme conta a história de um cafetão negro perseguido pela polícia após matar, com as próprias algemas, dois policiais que espancavam um jovem negro na sua presença. A história é repleta de uma iconografia entendida como subversiva e transgressora à época, pois negros são vistos em papéis que exageram estereótipos aos quais estavam submetidos, exemplo disso pode ser visto na forma como a sexualidade é retratada no filme. Ao mesmo tempo, o filme coloca no centro da trama um negro que atua desafiadoramente na tela agredindo policiais brancos e fazendo sexo com mulheres brancas. Sweet foi o filme que forjou a fórmula utilizada pelos filmes blaxploitation mais comerciais dos anos 1970 como Shaft (1971), Super Fly (1972) Cleopatra Jones (1973), Foxy Brown (1974) dentre outros. Em todos esses filmes os personagens principais são espécies de heroínos negros nada ortodoxos que usam e abusam de violência, virilidade, malandragem, técnicas de caratê e capacidade de sedução para chegar aos seus objetivos.
 
Outro aspecto digno de nota diz respeito as trilhas sonoras dos filmes. Produzidos num momento de ascensão dos ritmos soul e funk determinadas canções se tornariam tão ou mais famosas do que os filmes para os quais foram criadas. Esse é o caso do tema de abertura de Shaft,  escrita e interpretada por Isaac Hayes (ouça AQUI), assim como o mesmo ocorreu com a trilha sonora de Superfly, que levou a assinatura de Curtis Mayfield (ouça AQUI). A propósito, o diretor dos dois filmes citados é Gordon Parks, famoso fotográfo afro-americano que nos anos 1960 ao visitar o Brasil a trabalho para a Life Magazine acabou se envolvendo numa polêmica devido ao teor das fotos tiradas por aqui e publicadas na revista norte-americana (leia mais AQUI).

Os quinze filmes que compõem a mostra fornecem um bom panorama do que foi o movimento. Entretanto, faltou um olhar mais focado no sentido de entender qual é a contribuição do blaxploitation para a indústria do cinema, em geral, e o cinema negro, em específico. É esperado que os debates programados para acontecer cumpram esse papel ao trazer diretores de cinema e outros especialistas no assunto. Porém, a exibição de alguns filmes poderiam suprir essa lacuna. Esse  o caso do documentário Baadasssss Cinema - A Bold Look At 70's Blaxpoitation Films dirigido pelo inglês Isaac Julien em 2003. Julien entrevista as principais estrelas que atuaram em filmes blaxploitation e evidencia como o gênero foi responsável por influenciar a obra de um dos mais importante diretores norte-americanos contemporâneos: Quentin Tarantino. Em sua entrevista Tarantino diz ter sido um grande fã dos filmes a ponto de ter tido a idéia de realizar um remake de Foxy Brown, Jackie Brown, filmado em 1997 e que contou com a participação da atriz Pam Grier numa parceria incrível com Samuel L. Jackson.
 http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/1/1d/Wattstax_poster_1973.jpg
Outra faceta que fica faltando a mostra são os filmes blaxploitation que fazem paródias escrachadas de gêneros clássicos do cinema americano como o filme de "terror" Blacula (1972) e o bangue bangue Boss Niger (1975). Algo que também nunca tivemos a chance de ver aqui no Brasil é Dolemite (1975): uma espécie de Charles Bronson negrão pra lá de engraçado. Dolemite é um cafetão (pimp) negro barra pesada lutador de kung fu interpretado pelo comediante Rudy Ray Moore (1927-2008). O sucesso do primeiro filme rendeu várias outras continuações que se extenderam até 1982 num total de quatro.  Recentemente, uma comédia intitulada Black Dynamite (2008) foi produzida nos EUA tendo como inspiração os filmes de Moore e seu personagem clássico Dolemite. Penitentiary (1979) de Jamaa Fanaka e Baadasssss! (2003) de Mario Van Peebles, que conta a história da produção do filme de seu pai, Sweet..., também seriam bem-vindos a mostra.

Por fim, rola uma certa forçação de barra da produção da mostra ao enquadrar o documentário Wattstax (1973) como um blaxploitation. O filme tem valor inestimável para entender os vínculos entre música e ativismo nos EUA dos anos 1960, contudo, ele não se enquadra de forma alguma numa estética e proposta blaxploitation. O título Wattstax é uma brincadeira juntando os nomes do bairro de Los Angeles Watts com Stax, legendária gravadora de soul norte-americana. Em 1972 foi realizado o Wattstax Music Festival no Los Angeles Coliseum reunindo artistas da gravadora para uma apresentação que ficaria conhecida como a Black Woodstock e que celebrava o sétimo aniversário dos riots (revoltas) ocorridos em Watts em 1965. O filme intercala os shows realizados com a fala de moradores do bairro sobre racismo, violência policial e perspectivas de vida. O ponto alto do filme é a condução do mesmo pelas piadas de Richard Pryor, o primeiro comediante negro a incluir ácidas críticas sociais ao racismo e relação entre negros e brancos nas suas piadas (boa aulinha para os amadores da comédia stand up brasileira), antecipando o estilo em que Chris Rock faz tanto sucesso hoje.

Mesmo considerando essas omissões e escorregões, a mostra é imperdível. As imagens exibidas acima são de Richard Roundtree, Melvin Van Peebles, a fabulosa Tamara Dobson, Ron O'Neal, a linda Pam Grier, cartaz de divulgação do filme Wattstax e, por fim, Rudy Ray Moore.

Muita Paz!

PS: agradeço a meu truta Vandão por me avisar da mostra e sugerir o post!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ser Pret@ em Novembro É...


1- Ser convidado por dez universidades, vinte e cinco colégios privados e quarenta escolas públicas para  falar da sua experiência de ter sido vítima de discriminação racial. O que é muito comum acontecer também é que, mesmo você dizendo que é um engenheiro preto e católico, continuem insistindo para que você seja a presença principal numa mesa sobre candomblé na Bahia no século XIX, pois o historiador que iria teve que cancelar na última hora.

2- É mês de aumentar as suas milhagens aéreas participando de mais eventos do que shows feitos pela rapaziada do Fundo de Quintal.

3- É mês que todo mundo abre um sorrissinho amarelo pra você na padaria, no boteco, no supermercado e até os seguranças do shopping resolvem não pegar tanto no seu pé. "E aí negrão?! Firmeza total?", diz o guardinha do estacionamento.

4- É o mês que todos seus trutas - brancos e pretos - colam no seu apartamento querendo assistir só "filme de negrão" e uns DVDs que você mantêm guardado bem lá no fundo da sua videoteca. Coisas como Raízes, Biko, Amistad, Quilombo, Chica da Silva e, obviamente, todos as películas do Spike Lee (são quase 40... Urgh!) a começar por Malcolm X. Anos atrás tive que cancelar um sessão de última hora já que um dos meus amigos apareceu lá em casa com um sorrisso de escárnio no rosto querendo assistir um filme que achava ótimo para a ocasião: O Nascimento de uma Nação!

5- É o mês que todas aquelas velhas discussões que você evita tanto surgem logo que você se senta na mesa do boteco às 18 horas da sexta-feira: "Porra, Juvenal, por que negrão só gosta de loira, hein?", "Juvenal, mas diz pra nóis como foi pra você chegar até aqui: lutou muito negrão?", "Juvenal, mas você não acha que esse negócio de cotas é racismo ao contrário? Porra, todo mundo é igual, cara! Tem que ter as mesmas oportunidades!", "O Juvenal, porque a maioria dos craques de futebol são pretos?", "Juvenal, eu gosto de samba, mas samba samba, não essa merda de pagode, tá ligado?", "Juvenal, vou falar um negócio pra você, mas não conta pra ninguém: no fundo fundo eu sou é chegado numa negona, sabe? É...", "Juvenal... Juvenal... Juvenal..." Enquanto você fala e/ou escuta, sua cerveja - loira ou preta - esquenta!

6- É o mês que todo mundo reclama que o Brasil tem feriados em excesso e que esse último aí, que querem estipular no tal do 20 de novembro, não tem muito sentido de existir!

7- É a época mais difícil para se arrumar um/a namorado/a preto/a (seja você preto ou branco). Nessa época a negraiada é uma mercadoria super escassa, pois todo mundo quer um/a PRETINHO/A para ir aos eventos, tirar uma foto ao seu lado e parecer descolado/a. As chances de ser dar entrevista para a TV aumentando muito. Se você fizer o tipo "preto/a descolado/a hipster moderno/a retrô MTV" então vai ter gente saindo no tapa pra marcar um cineminha contigo! 

8- É o mês que os donos de livraria ficam super contentes por que todos os livros sobre candomblé, umbanda, África, relacões raciais, samba e as biografias de Obama e Nelson Mandela vendem rapidinho! 

9- É o mês que você vai na sua passeatinha na Paulista e fica com invejinha da comunidade GLBTS e dos evangélicos!

10- É o mês que você, surpreendentemente, descobre assistindo a TV que você e sua nega véia ganham menos do que a família branca que é sua vizinha, que a polícia te para constantemente na rua por conta do seu carro, que a maior parte dos pobres no Brasil é constituída por pretos e outras coisinhas menores que você não tinha a mínima idéia de que ocorriam. 

Mas é divertido ser PRETO/A em novembro. É tão divertido que minha mãe resolveu dar a luz a mim nesse mês. Eis aí, Márcio Macedo: Preto, Curinthiano e Escorpiano! 

Muita Paz e que Venha Mais um Novembro!