Aqui vai meu último post do ano. Acabo de ler a autobiografia do filósofo norte-americano Cornel West intitulada Brother West Living and Loving Out and Loud: A Memoir publicada em 2009. Apesar de ser celebridade intelectual nos EUA, West é pouco conhecido no Brasil fora das rodas de intelectuais, pesquisadores e ativistas que se dedicam ao tema das relações raciais e outras áreas correlatas. Dos seus mais de vinte livros há apenas um traduzido para o português: o clássico Race Matters cuja publicação data de 1993. Há também um coletânea de artigos escritos em parceria com Roberto Mangabeira Unger. Race... foi publicado no Brasil em 1994 pela Companhia das Letras com o título de Questão de Raça. Ainda me lembro do prazer que tive ao ler essa obra pela primeira vez no distante ano de 1998, meu segundo ano de estudante de ciências sociais na USP, e o impacto que ela teve em minha formação.
Race Matters atirou West para o sucesso, mas a experiência de ler os ensaios coerentes, elegantemente bem escritos, engajados e apaixonados desse livro pouco se compara a ver essa figura, que é um misto de filósofo e teólogo, falar em público. Ano passado tive o prazer de pela primeira vez assisti-lô e trocar rápidas palavras com ele em um colóquio realizado na New York University (NYU) no qual participavam outros três intelectuais de peso: Jürgen Habermas, Judith Butler e Charles Taylor. Havia muita gente para ver Habermas e Butler, mas digo com certeza que a maior parte dos negros (eu me incluo nessa massa) estava lá interessada em ver a performance de Doctor West, maneira como o chamam por aqui (reverência que, apesar do título que todos possuem, poucos professores da área de humanas levam na vida cotidiana). Pois bem, Doctor West é um show! Fala de forma livre sem ter um texto escrito ou roteiro pré-determinado, usa toda a tradição dos pastores afro-americanos com entonações diferentes de voz, paradas estratégicas, caretas, corporalidade e piadas que levam o público ao delírio. Assista parte de uma entrevista do homem no vídeo aí embaixo. Nele West descreve um encontro que ele e sua família tiveram com o ex-presidente Ronald Reagan (1911-2004) quando esse era então governador da Califórnia, entre 1967 e 1975, e West tinha apenas 16 anos.
Feita a apresentação de West aos que nunca ouviram falar dele vamos ao que interessa. Devo dizer que prefiro biografias a autobiografias. Os dois formatos de obra sofrem sérios riscos, mas tendo a ver o segundo como mais problemático. Depois de mais uma centena de páginas lidas é quase impossível não ser arrebatado pela impressão de que o autor sofre de certo egocentrismo e que o livro não passa de um exercício radical de narcisismo. Isso ocorre não necessariamente porque os autores são de fatos narcisistas, mas devido a forma como a memória funciona. A memória é uma construção do passado a partir do presente. Isso significado que a leitura que fazemos do nosso passado é realizada de forma a dar coerência ao que somos e vivemos hoje. Assim sendo, quando reconstruímos nossa trajetória apagamos/esquecemos tudo o que havia de contraditório, problemático e que se postava como dilemas. Obviamente que determinadas biografias não podem se dar a esse luxo, uma vez que elas só nascem a partir da resolução de determinadas conflitos e rompimentos que estabelecem fins e inícios de períodos. Um grande exemplo aqui é a autobiografia de Malcolm X (1925-1965), escrita por Alex Haley (1921-1992) a partir de conversas com o líder negro. Haley usou outra estratégia que agradou o público leitor: ele construiu uma narrativa muito próxima da estrutura de um romance cujo o final todos já sabiam, ou seja, a fatídico assassinato de Malcolm. Há quatro rompimentos/fases essenciais na narrativa da vida de Malcolm: sua primeira infância marcada pela perda do pai e a desestruturação familiar; a adolescência de sucesso escolar e aspirações de ascensão social; a vida de criminoso e, por fim, a ascensão como líder religioso/político.
David Ritz, autor de várias biografias e autobiografias, tentou criar uma narrativa agradável ao trabalhar com West nesse projeto estabelecendo rompimentos e fases distintas a vida do filósofo. Contudo, o resultado deve desagradar um público mais especializado e que conhece minimamente o trabalho do professor enquanto é sucesso garantido entre o público leigo em questões intelectuais e que conhece West de suas aparições na TV ou lectures. A tese central do livro é que West é o resultado da tradição na qual sua família está inserida: cristã/batista, classe média baixa com antepassados de classe trabalhadora e com pais dedicados aos filhos. A família de West é a personificação da respeitabilidade negra construída pela classe média e elites afro-americanas para fazer frente ao racismo desumanizador norte-americano. Essa atitude, que era interiorizada pelos negros mais aquinhonhados, consistia em valorização da ética do trabalho, dos estudos, religiosidade, cuidados com a aparência pessoal, moralidade quase vitoriana e ativismo. West, que nasceu em 1953, é fruto disso tudo, mas viveu sua adolescência e juventude nos anos 1960 e 1970 momentos de transição na sociedade americana. Os pais de West eram sofisticados intelectualmente. A mãe era professora e o pai empregado numa base áerea do governo americano. Ambos haviam cursado universidade e estavam situados num lócus mediano na estratificação social de Sacramento, cidade onde moravam no estado da Califórnia. West cresceu nesse meio em companhia do irmão mais velho Cliff e duas irmãs mais novas. Logo depois de um curto período problemático na escola foi classificado como super-dotado indo estudar numa instituição especial. Hilário é ver o filósofo se referir a si mesmo na terceira pessoa afirmando que o garoto problemático, Little Ronie (ele com seu nome do meio), era um pequeno gangsta à época. O batismo na igreja que seus pais frequentavam, os primeiros livros lidos, a admiração, apreciação e influência da música negra e os primeiros contatos amorosos são descritos de forma detalhada pelo intelectual que vai enumerando autores, ativistas, canções com seus ou suas respectiv@s intérpretes além da sua atração pelo sexo feminino.
O garoto promissor da família foi aceito em Harvard com dezoito anos e cursou a graduação em filosofia em três (um recorde na instituição). O doutorado foi realizado em Yale com um período de bolsa em Harvard. Durante a graduate school o intelectual ainda casou (o primeiro dos seus três casamentos), teve o primeiro filho (posteriormente teria uma filha) e se divorciou. Aos poucos vai surgindo o Cornel West que poucos conheciam. Todos os dilemas e contradições que se colocaram a sua trajetória são explicadas pelo autor como resultado de sua opção de colocar a sua vocação à frente de tudo mais na sua vida. Sendo assim, o intelectual, professor e ativista carismático, talentoso e famoso é o mesmo que enfrentou três divórcios que o levaram a bancarrota financeira mesmo enquanto desfrutava o ápice do sucesso de Race Matters. Essa obra de West foi responsável por recolocar a centralidade de discussões raciais num momento em que explicações neo-liberais e conservadoras estavam cada vez mais em foca. O grande mérito do filósofo neste livro é de conseguir estabelecer uma conexão entre a América antes e depois dos movimentos pelos direitos civis e como raça se rearticula com a reestruturação do sistema capitalista. Constam ainda no livro a defesa da manutenção das ações afirmativas que se encontrava sobre ataque à época, uma discussão dos limites do pensamento racialista, a relação entre negros e judeus, reflexões sobre a sexualidade e niilismo dos afro-americanos, a tradição de intelectual conservadora negra além do legado de Malcolm X. Tudo isso numa linguagem simples e acessível a qualquer leitor. O livro teve como leitor célebre o presidente Bill Clinton e West foi convidado para um jantar na Casa Branca. By the way, seu nome também entrou para a lista de vários grupos racistas e sua casa em Harvard foi invadida em uma ocasião por um homem encapuzado que carregava uma pistola automática com silenciador. O resto é história...
Mas West é mais do que Race Matters e esse é ao mesmo tempo o ponto mais forte e fraco do livro. É válido conhecer o professor que por algum tempo viveu como homeless dormindo nos bancos e jardins do Central Park, que toma a música negra como inspiração para sua obra se afirmando como um "bluesman in the life of mind and a Christian jazzman in the world of ideas", o intelectual romântico que namorou a bela cantora de música erudita Kathleen Battle, o homem apaixonado que após uma cerimônia de casamento sultuosa em Adis Abeba, Etiópia, tem a sua vida e da amada ameaça por rebeldes que cercam o palácio onde se realizara o enlace, o intelectual que estende sua atuação as filmes, álbuns de hip-hop, talk shows, explica a inspiração de seu visual buscado em jazzmen e pastores negros, que leciona um curso com 700 calouros em Harvard e explica detalhadamente o motivo de sua saída daquela instituição depois de um conflito com o presidente da universidade à época Lawrence Summers, uma polêmica que ganhou as páginas dos principais jornais e revistas norte-americanos.
O problema é que todas essas histórias levam o livro para um pessoalismo excessivo no qual é difícil ver contradições ou uma relação mais conflituosa entre o homem e sua obra. West acaba sendo bonzinho e perfeito demais e, vamos e convenhamos, nenhum ser humano é assim. O ápice do pessoalismo é notado quando West afirma que deixou seus três casamentos porque era necessário que suas ex-esposas, como mulheres inteligentes e criativas que são, pudessem ter mais espaço e desenvolveram suas carreiras uma vez que a presença dele as obscurecia. Well well... Entretanto, essas são observações chatas que só um cara que resenha o livro (como eu!) deve fazer. Para leitore/as menos crític@s ou chatos as 275 páginas do livro podem ser apreciadas sem grande desconforto. Porém, Cornel West ainda necessita de uma biografia intelectual escrita com distanciamento pessoal e estabelecendo conexões entre texto e contexto, vida e obra. Talvez, outro West possa surgir dessas futuras páginas, um West nem melhor nem pior, apenas menos coerente e, consequentemente, mais humano.
Para saber mais sobre o Doutor West visite o site dele AQUI
Muita Paz e Bom Ano!
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Jabu versus Malcolm X
Não espere um post falando sobre líderes negros, mas sim com os respectivos nomes de meus futuros pets: Jabu (corruptela de "jaboticaba"), o "auau", e Malcolm X, o "miau". Pelos nomes não preciso nem mesmo dizer que cor eles terão, né? Pois é, não sou um grande fã/admirador de cachorros, mas admito que eles tem o seu charme e deve ser divertido levar o "auau" para passear todos os dias, o que te força a um mínimo de atividade física. Isso me aventa a possibilidade futura de arranjar um depositório ambulante de pulgas. Mas minha paixão mesmo são os gatos, esses fofos, preguiçosos, companheiros e simpáticos bichos.
Tempos atrás fiz um post sobre o livro do escritor norte-americano William Burrough (1914-1997) The Cat Inside (leia AQUI) e transcrevi uma parte do texto no qual Burrough tece suas comparações entre gatos e cachorros. Apesar de afirmar não odiar cachorros, ele é categórico em defender que os homens transferem suas qualidades para os cachorros e esses animais acabam sendo o veículo do seu ódio, nas palavras do autor: "A dog's rage is not his. It is dictated by his trainer."
Na literatura, Burroughs não está sozinho na categoria "admirador de gatos e detrator de cachorros." O argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) é outro escritor que vivia cercado de gatos e dedica uma passagem de seu O Livro dos Seres Imaginários (1967), que transcrevo abaixo, a descrever um cachorrinho bastante peculiar com o refinado humor típico de Borges (foto abaixo):
o cão cérbero
Se o inferno é uma casa, a casa de Hades, é natural que um cão a guarde; também é natural que esse cão seja imaginado como atroz. A Teogonia de Hesíodo lhe atribui cinqüenta cabeças; para maior comodidade das artes plásticas, esse número foi reduzido, e as três cabeças do cão Cérbero são de domínio público. Virgílio menciona suas três gargantas; Ovídio, seu tríplice latido; Butler comparas as três coroas da tiara da roupa do papa, que é porteiro do céu, com as três cabeças do cão que é porteiro dos infernos (Hudibras, IV, 2). Dante empresta-lhe características humanas que agravam sua índole infernal barba imunda e negra, mãos com grandes unhas, que desgarram, em meio à chuva, as almas do réprobos. Morde, ladra e mostra os dentes.
Obrigar o cão Cérbero a mostrar-se a luz do dia foi o último dos trabalhos de Hércules. Um escritor inglês do século XVIII, Zachary Grey, interpreta assim a aventura:
"Esse cão com três cabeças denota o passado, o presente e o futuro, que recebem e, por assim dizer, devoram todas as coisas. Que tenha sido vencido por Hércules prova que as ações heróicas são vitoriosas sobre o tempo e subsistem na memória da posteridade."
Segundo os texto mais antigos, o cão Cérbero saúda com o rabo (que é uma serpente) os que entram no inferno e devora os que procuram sair. Uma tradição posterior o faz morder os que chegam; para apaziguá-lo era costume por no ataúde um torta de mel.
Na mitologia escandinava, um cão ensangüentado, Garmr, guarda a casa dos mortos e lutará com os deuses quando os lobos infernais devorarem a Lua e o Sol. Alguns lhe atribuem quatro olhos; quatro olhos tem também os cães de Yama, deus bramânico da morte.
O bramanismo e o budismo contam com infernos de cães, que, a semelhança do Cérbero dantesco, são verdugos das almas.
Mesmo assim, cachorros são uns bobões/babões legais! Ainda continuo com a idéia do Jabu (o bobão) e do Malcolm X (o espertão).
Muita Paz!
Tempos atrás fiz um post sobre o livro do escritor norte-americano William Burrough (1914-1997) The Cat Inside (leia AQUI) e transcrevi uma parte do texto no qual Burrough tece suas comparações entre gatos e cachorros. Apesar de afirmar não odiar cachorros, ele é categórico em defender que os homens transferem suas qualidades para os cachorros e esses animais acabam sendo o veículo do seu ódio, nas palavras do autor: "A dog's rage is not his. It is dictated by his trainer."
Na literatura, Burroughs não está sozinho na categoria "admirador de gatos e detrator de cachorros." O argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) é outro escritor que vivia cercado de gatos e dedica uma passagem de seu O Livro dos Seres Imaginários (1967), que transcrevo abaixo, a descrever um cachorrinho bastante peculiar com o refinado humor típico de Borges (foto abaixo):
o cão cérbero
Se o inferno é uma casa, a casa de Hades, é natural que um cão a guarde; também é natural que esse cão seja imaginado como atroz. A Teogonia de Hesíodo lhe atribui cinqüenta cabeças; para maior comodidade das artes plásticas, esse número foi reduzido, e as três cabeças do cão Cérbero são de domínio público. Virgílio menciona suas três gargantas; Ovídio, seu tríplice latido; Butler comparas as três coroas da tiara da roupa do papa, que é porteiro do céu, com as três cabeças do cão que é porteiro dos infernos (Hudibras, IV, 2). Dante empresta-lhe características humanas que agravam sua índole infernal barba imunda e negra, mãos com grandes unhas, que desgarram, em meio à chuva, as almas do réprobos. Morde, ladra e mostra os dentes.
Obrigar o cão Cérbero a mostrar-se a luz do dia foi o último dos trabalhos de Hércules. Um escritor inglês do século XVIII, Zachary Grey, interpreta assim a aventura:
"Esse cão com três cabeças denota o passado, o presente e o futuro, que recebem e, por assim dizer, devoram todas as coisas. Que tenha sido vencido por Hércules prova que as ações heróicas são vitoriosas sobre o tempo e subsistem na memória da posteridade."
Segundo os texto mais antigos, o cão Cérbero saúda com o rabo (que é uma serpente) os que entram no inferno e devora os que procuram sair. Uma tradição posterior o faz morder os que chegam; para apaziguá-lo era costume por no ataúde um torta de mel.
Na mitologia escandinava, um cão ensangüentado, Garmr, guarda a casa dos mortos e lutará com os deuses quando os lobos infernais devorarem a Lua e o Sol. Alguns lhe atribuem quatro olhos; quatro olhos tem também os cães de Yama, deus bramânico da morte.
O bramanismo e o budismo contam com infernos de cães, que, a semelhança do Cérbero dantesco, são verdugos das almas.
Mesmo assim, cachorros são uns bobões/babões legais! Ainda continuo com a idéia do Jabu (o bobão) e do Malcolm X (o espertão).
Muita Paz!
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Da Série "Santos": 2 - São Benedito, Tietê e "Jay Z"
Há várias versões sobre a história de vida desse santo preto conhecido por vários nomes como Benê, Dito, Ditinho, Ditão ou Nego Dito e que é cultuado em várias partes do Brasil. São Benedito é pop! Há versões que contam que Benê era um negrão correria na Itália, para onde teria ido para jogar futebol na Internacional de Milão, que se converteu a vida religiosa e virou o cozinheiro de um convento. Sua especialidade era uma feijoada light com caipirinha e que todo sábado era acompanhada por um grupo de pagode que levava o nome de Diretoria de Benê (detalhe Benê mandava ver no reco reco puxando o samba!). Outra versão diz que São Benedito era um hustler morando numa project house do Brooklyn e que resolveu parar com as trambicagens depois que ouviu o chamado de Deus e passou a dedicar sua vida cozinhando soul food que era servida gratuitamente nas quebradas de Bed-Stuy!
(Soul food que Benê preparava em Bed-Stuy)
Outra versão que contam por aí é que Benê era filho de Cristovam Manasseri e Diana Larcan, negros de origem etíope descendentes de escravos. O pai fora cativo de um rico senhor na Itália, Vicente Manasseri, enquanto a mãe havia sido libertada por um cavalheiro da Casa de Lanza ou Larcan. Nosso futuro santinho nasceu livre na Itália em 1524 e foi batizado com o nome de Benedito cuja significado é bendito, abençoado. O casal ainda teve outr@s filh@s: Marcos, Baldassara e Fradella. O primeiro rebento do casal foi pastor de ovelhas e fez outros trabalhos até os 21 anos quando conheceu por acaso Frei Jerônimo Lanza que havia fundado a ordem dos Irmãos Eremitas Franciscanos, na qual os membros faziam votos de pobreza, jejuavam três dias por semana e mendigavam. Benê se juntou a essa ordem pela sua fé e permaneceu nela até 1562 quando entraria para a Ordem dos Franciscanos Menores Reformados e foi para o Convento de Santa Maria di Gesú, próximo a cidade de Palermo. Seu primeiro ofício no convento foi de cozinheiro, onde rolaram, segundo consta, as primeiras graças: certo dia a carne para o rango do convento chegou atrasada e os frades começaram reclamar e pedir a comida. Benê disse que a carne estava no fogo, mas que iria verificar e acelerar o processo. Quando foi checar a carne a mesma estava temperada, cozida e pronta (santo de negrão é firmeza total, já começa fazendo milagre com comida! Só falta o vinhozinho, tá ligado? Transformar o Chapinha num Bordeaux IX, safra de 1851). Benê também era um "hustler" nato, pois, mesmo sem saber ler e escrever, chegou a superior no convento administrando toda a parada sozinho. Nosso santo sangue bão faleceu em 4 de 1589 com 65 anos de idade depois de, pelo consta no registro de sua beatificação, ter realizado vários milagres. Seu corpo encontra-se exposto numa urna mortuária que pode ser visitada na igreja de Santa Maria em Palermo, Itália.
Sejam essas histórias verídicas ou não (o que você acha?), a verdade é que as festas que ocorrem em homenagem a esse santo no Brasil geralmente são regadas com muitos comes, bebes e uma batucadinha! Uma das mais famosas delas acontece sempre no último domingo do mês de setembro na cidade de Tietê, interior do estado de São Paulo. Como estou com preguiça de descrever a festa, remeto @s leitore/as desse post ao texto de minha amiga antropóloga Jaqueline Santos, que descreve muito bem a parada no Blog da Preta (clique AQUI). Pois é, mas que saudade da Festa de São Benedito lá de Tietê, hein?! Tomei muita pinga e beijei muitas pretas beiçudas nessa festa que sempre rola debaixo de um sol de rachar mamona.
(Vandão e Flávião "Jay Z", protagonistas da história abaixo!!!)
Vai vendo a cena: seis horas da manhã de domingo e a negraiada fazendo samba e bebendo cerveja na beira do rio enquanto ônibus cheios de maloqueiros e senhoritas prendadas nas suas melhores (e curtas!) vestes não param de chegar na cidade. Dá-lhe Tietê e salve São Benedito! Teve um ano que dormi bêbado na praça e perdi minha carona de volta pra Piracicaba. Essa festa não é pra amadores não, mano! Num outro ano (acho que 2001), meu truta Flávio "Jay Z" Francisco fez sua estréia na festa. Tanto ele como Vando, meu outro parceiro de pinga e discussões intelectuais, nunca haviam ido na festa e à época fazíamos parte do Dez Vezes Dez, um projeto de formação de pesquisadores na USP. No dia seguinte a festa deveríamos estar no Rio de Janeiro onde participaríamos naquela semana de um curso e seminário. Sendo assim, voltaríamos para São Paulo no domingo à noite e já embarcaríamos num busão em direção a Cidade Maravilhosa. Bem, a trumpe toda conseguiu voltar para SP e pegar o borracha em direção ao Rio com exceção de Jay Z que desapareceu minutos antes do horário combinado para o retorno. No dia seguinte já estavamos no Rio por 12 horas com mais de 24 horas sem notícias do negrão. Tal qual não foi nossa surpresa ao chegar num seminário que iríamos participar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e nos depararmos com Jay Z sentado na platéia com a mesma roupa que havia ido para a festa no dia anterior e com cara de ressaca. História surreal: o negrão tomou todas, dormiu numa cadeira de boteco, perdeu o busão de nossa excursão e acabou dormindo por Tietê mesmo. Voltou pra SP na segunda e nem passou na casa dos pais, mas foi direto pra sua agência bancária, retirou dinheiro e logo em seguida se dirigiu a Congonhas onde embarcou num avião em direção ao Rio (detalhe: Jay Z nunca havia viajado de avião) sem ter qualquer tipo de informação de onde estávamos. Ao chegar no aeroporto por sorte viu um cartaz que anunciava um seminário sobre cotas e solicitou a um taxista que o levasse aquele endereço. Já que pouca desgraça é bobagem, o táxi ainda quebrou a algumas quadras da UERJ e Jay Z teve que fazer o resto do percurso até a universidade, que fica ao lado do Maracanã, a pé.
Enfim, a festa de Benê em Tietê não é para amadores, mano!!!
Muita Paz!
domingo, 5 de dezembro de 2010
Finals em Ritmo de Jazz e Cornel West!
Queridas pessoas leitoras desse caderno eletrônico de anotações... Venho informar que ficarei ausente pelas próximas semanas. Motivo: final de semestre. Papers a fazer e muitas, muitas coisas para ler e ter idéias geniais, geniosas ou genitais... Whatever, tudo acaba nos genitais mesmo! De minha parte, além de um recesso do inbrog abandonarei o Facebook por algumas semanas e apenas tuitarei as notícias que ler e achar interessante.
Para aguentar o ritmo de fechamento, que esse semestre está todo zoado, e criar motivação estou ouvindo meus Coltranes, Miles e Mingus além de minhas Holidays, Fitzgeralds e Simones. Jazz para para esquentar meu coração e do frio que já bate a casa do zero. Entre uma leitura sociólogica chata, estéril e sem gosto vou devorando um livro que altamente recomendo à tod@s: Brother West: Living and Loving Out Loud, A Memoir, a deliciosa biografia do filósofo afro-americano Cornel West (foto/pintura acima e um cara fenomenal que consegue juntar Marx, Platão, Jesus, James Brown, Black Phanters Party e voodoo). É dele a frase com que fecho esse post além da linda música de John Coltrane e Johnny Hartman nessa maravilhosa parceria: "I'm a Christian bluesman in the life of mind and a Christian jazzman in the world of ideas."
Muita Paz e até dia 24 de dezembro, data em que volto a escrever por aqui!
Para aguentar o ritmo de fechamento, que esse semestre está todo zoado, e criar motivação estou ouvindo meus Coltranes, Miles e Mingus além de minhas Holidays, Fitzgeralds e Simones. Jazz para para esquentar meu coração e do frio que já bate a casa do zero. Entre uma leitura sociólogica chata, estéril e sem gosto vou devorando um livro que altamente recomendo à tod@s: Brother West: Living and Loving Out Loud, A Memoir, a deliciosa biografia do filósofo afro-americano Cornel West (foto/pintura acima e um cara fenomenal que consegue juntar Marx, Platão, Jesus, James Brown, Black Phanters Party e voodoo). É dele a frase com que fecho esse post além da linda música de John Coltrane e Johnny Hartman nessa maravilhosa parceria: "I'm a Christian bluesman in the life of mind and a Christian jazzman in the world of ideas."
Muita Paz e até dia 24 de dezembro, data em que volto a escrever por aqui!
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Os Últimos Dias Desse Blog!
Estive pensando e cheguei a conclusão/decisão que esse blog está em contagem regressiva para sair do ar. Sim, já decidi que o empreendimento aqui acaba logo após o término do doutorado. A razão? Simples. Provavelmente, depois de terminar essa nhaca de PhD me tornarei um professor doutor (que só tem de bonito o título!) sanguinário que assustará os alunos de graduação logo no primeiro dia de aula dizendo que pouquíssimas pessoas já conseguiram sobreviver ao curso dele. Para legitimar minha malvadeza não posso ter um blog bunda mole como o NewYorKibe, né? Vamos e convenhamos... Sendo assim, já sabe: lá por 2013 ou 2014 essa merda aqui acaba e todos os textos somem do ar... :)
Aproveite para xingar e falar mal de mim enquanto é tempo! :)
Muita Paz...
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