sábado, 18 de abril de 2009

É Primavera!

Quando era criança ouvia abobado a beleza da canção É Primavera (1970), cantada pelo síndico Tim Maia, que sempre tocava no rádio de casa (era a chamada de um programa diário) minutos antes de sair para a escola nos meus primeiros anos de estudante (vida da qual não me livrei até hoje!). Mesmo admirando a beleza do arranjo e da letra da música, morando no Brasil e não tendo a experiência de um inverno rigoroso, sempre foi difícil para mim ter um noção mais clara da que significa a chegada da primavera.

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(Washington Square - NYC)

Algo diferente acontece por aqui pelas bandas da América do Norte. Devido a friaca que assola parte do país entre dezembro e abril, passo a entender a quantidade de canções que falam de dias ensoralados e primaveris. Na verdade, começo até a achar que, apesar da autoria da letra ser de Cassiano e Sílvio Rochael, Tim "escolheu" ou "aceitou" gravar essa canção - teria que voltar ao livro de Nelson Motta para ser mais preciso - devido a ter vivido cinco bons invernos aqui na Big Apple e entender bem da coisa.

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(Tim Maia: estilosão na juventude!)

A primavera definitivamente chegou em NYC! Hoje - ainda não dormi, então continua sendo hoje - fez um dia pra lá de bonito com sol e uma brisa leve que acariciava o rosto das pessoas como se fosse o cafuné de um(a) amante apaixonado(a). A última coisa que dava vontade era de se exilar na biblioteca para estudar. Brothers jogando streetball nas quadras públicas se tornaram o espetáculo dos transeuntes na Sixth Avenue, assim como os vestidos curtos e pernas femininas eram apreciados por aqueles que tinham um tempinho para sentar e relaxar fumando um cigarro - mesmo que dê câncer! - ou tomando um copo de café/chá nos bancos da Washington Square. Até o cachorros de todos os tamanhos e raças pareciam mais alegres nas coleiras conduzidas por seus donos que compravam sorvetes nos carros de ice cream.

Enquanto isso, tirarei férias do blog por um mês. Como já disse num tópico anterior, começaram as finals e o bicho está pegando. Volto lá pelo dia 19/5 com mais besteiras e histórias. Contudo, não deixem de fazer comentários aos posts e ouvir minha rádio na Last.FM. Quando voltar respondo a todos os recados! Abaixo segue a letra - a propósito, com alguns errinhos - e canção de É Primavera!

Muita paz e amor à todo(a)s!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A Stevie Wonder Album

A Stevie Wonder Album
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I was running faster and faster… The streets were totally empty and, the scariest thing was, I didn’t know where I was and how to get out of there. Voices, people laughing, police sirens and Halloween masks passed by me. I could not see any live soul. Gangsta rap beats were coming from the black Cadillac parked at the corner. It was the only car parked in a huge avenue and I couldn’t see if there was anyone inside. A few seconds more and I started to recognize the place where I was: Harlem, but, maybe not. It could be Queens or even the Bronx...

Where is my fucking gun? Suddenly, the door of Cadillac opened and the music coming from inside it was getting louder and louder. I couldn’t see its interior yet, but just the reflection of silver… Man, I know my stuff because they are always especials! Any vinyl record, any clothe, anything which it’s mine, I can recognize just with a glance. Shit, that mother-fucking Glock 30 was mine! Someone was pointing my own gun at me and glare from the barrel made me blind…

When I woke up, my heart was beating fast and my black t-shirt was soaked with sweat. And it took several seconds to understand I was in my bed. The sheets were a little messy. There was music coming from some place in the apartment. I got up, dressed some clean underwear and walked to living room… Issy was sitting down on the floor in front of my stereo. And I watched the curve of her nude back. The Miles Davis’ track was almost over and there were other records on the floor: Stevie Wonder, Al Green, and Teddy P. While I enjoyed the last chords of Kind of Blue, I wondered how long this girl would stick around. I didn’t like people fucking with my records, especially a chick I picked up in some club for an one-night stand. Anyone who came near them usually incurred my wrath…

But I didn’t do any thing of this sort with Issy. All I managed to get out was, “Are you a jazzy or old school ma?” She turned around toward me a little surprised, probably because she thought she was alone and I had just disturbed a private moment. “Both,” she replied. “My daddy used to be a musician and, you know, I was always listening to some song over here and there…” “Used to be? Once musician, always musician,” I said ironically. She offered a small smile, but did not say a word. At that moment, I realized how incredible beautiful she was: green eyes, long blond hair and shapely legs that supported her petite frame. For a moment, I had the feeling I smelled trouble. We talk a little bit about trivial things. She was a teacher, whose students I thought probably knew me from my CDs or music magazines. Nah, this/she wouldn’t work/do. The reason was simple. Teachers don’t sleep with hip-hop producers because hip-hop producers fuck whores and gold diggers. This was going nowhere.

Finally the sun showed up, bringing sadness and fucking reality with it. I asked her if she wanted to grab some breakfast because I never eat breakfast – hip-hop producers are like vamps sleeping during the day and working at night – but she told me she had promised to visit a friend of hers that morning. I could tell she was a little uneasy thanks to the sun that brought clarity, sadness and maybe shame. A few minutes later, already dressed she yelled from the bathroom if I would like to come with her to a party next weekend. I didn’t have time to respond because, after I got out of bathroom she said if I wanted, I should call her. And then she picked up a pen from the table and wrote her phone number on the cover of Stevie Wonder’s record, kissed my lips and was gone. I was paralyzed. But I didn’t know whether it was this girl or the fact that she just wrote her number on my Stevie Wonder album and I didn’t say anything.

Final weeks are coming: tremei!

Dias atrás recebi a resposta de um email enviado por mim a uma grande amiga minha professora da USP. Na mensagem eu reclamava do ritmo sobre humano da academia americana e ela respondia de maneira irônica e certeira: "Os deuses nos sacaneiam exatamente quando atendem nossos desejos!"

Ser grad student por aqui não é bolinho, já começo a sentir saudades da moleza da USP. Não que as pessoas não estudem duro na universidade menina dos olhos das famílias quatrocentonas paulistas, mas tudo aí é bem mais tranquilo do que pelas bandas da América do Norte. Explico-me...

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O calendário escolar americano está organizado de forma a propiciar que as férias mais longas, que celebram o final do ano escolar, ocorram conjuntamente ao verão, ou seja, entre junho e agosto. Sendo assim, o primeiro semestre se inicia no outono e termina no início do inverno enquanto que o segundo se estende do inverno a metade da primavera. Estamos agora entrando numa fase chamada de finals: as quatro ou três semanas que antecedem o final do semestre.

Bem, nessa época todo mundo começa a literalmente pirar! Geralmente o volume de assignments (tarefas) para cada curso é grande, uma vez que a especialização dos americanos se dá na pós-graduação já que a graduação é bastante generalizante. Nesse semestre estou fazendo quatro cursos. Três deles envolvem leituras semanais e volume é bastante alto, de 70 a 100 páginas para cada um. Além disso, em quase todos o cursos você fica responsável pelo preparo e apresentação de um seminário referente a um texto presente no programa e que consta como parte da avaliação. Dependendo do professor ainda é solicitado que os alunos redigam memos das leituras realizadas, elaborem mini projetos de pesquisa, realizem exames, escrevam ensaios curtos e, obrigatoriamente, papers, que nada mais são do que os trabalhos finais e que devem conter de 15 a 30 páginas.

Alguns professores, mais exigentes, tem datas rígidas para entregas dos trabalhos e para evitar o famoso "perdido" ou desculpas esfarrapadas - conversinhas do tipo "meu computador deu pau" - dadas por alunos na deadline estabelecem outras datas para apresentação de outlines e rascunhos dos papers. A maior diferença que sinto em relação a USP é o fato de ter que entregar o paper no mesmo dia em que o curso termina, uma vez que na minha querida ex-universidade paulista você geralmente tem um tempo extra de um a dois meses após o término do curso para elaborar o seu trabalhinho. Outra coisa que é avaliada por aqui é a participação em sala de aula, quem é tímido(a) se fode! A coisa boa é que as aulas aqui duram apenas 1h e 50 min, bem diferente das 3 h 30 min da USP, urgh!!!!

Minha situação atual é uma maravilha! O que me separa das férias, que teoricamente se iniciam em 19 de maio, são dois memos, duas apresentações, dois exames, um projeto de pesquisa, dois papers e várias noites gastas na Bosta, ops, Bobst Library (NYU). Que gostoso! Agora vocês já sabem por que sumirei do NewYorkibe nas próximas semanas... A charge do PhD Comics abaixo resume o que é ser pós-graduando por aqui!

Muito amor, paz e Coca-Cola com café (esse último se não à todo(a)s, ao menos pra mim)!

PS: ouçam a rádio NewYorkibe, basta entrar no link Last.Fm e depois clicar em "Play NewYorkibe's Library"

domingo, 12 de abril de 2009

Bo é o cara!

Barney has gone, but Bo is already in tha house! (Barney se foi, mas Bo já está na parada!) Bo é o mais novo mascote da Casa Branca tomando o lugar de Barney, o cachorrinho de Bush. O mais novo pupilo da América, segundo o que informa a imprensa, foi um presente do senador Edward Kennedy a família Obama. Notem que até o cachorro dessa administração está numa pegada pós-racial, multicultural e globalizada. Vamos fazer uma leitura semiótica vagabunda da imagem do cachorrinho oficial...



Comecemos pelo nome. "Bo", nome pelo qual o puppie (filhote) atende, em inglês padrão é uma abreviação de "best offer" (melhor oferta). Contudo, "Bo" está bem próximo de um termo vindo da vernáculo afro-americano (black American slang) muito ouvido em canções de rap e R&B: boo (pronuncia-se "bú"). Este último faz referência a alguém com qual mantemos uma relação amorosa/afetiva do tipo namorado(a). Ouça aqui a canção My Boo de Usher com a participação de Alicia Keys. Boo seria é uma variação do francês beau (bonito) que gerou o termo beautiful (também "bonito", mas sempre se referindo ao gênero feminino) em inglês.

A raça de Bo é cão d'água português (olha "nóis" na parada!). Essa espécie não solta pêlos, algo importante já que uma das filhas do presidente, Malia, é alérgica. Bem sofisticado o pulguento!

Olhem para o foto de Bo e percebam que ele é todo preto com focinho, peito e patinhas brancas. Alguém que não tem nada melhor para fazer como eu - na verdade deveria estar escrevendo um essay para amanhã! - irá dizer que isso faz referência a origem racial de Obama: filho de pai negro africano com um branca americana.

Por fim, a coleirinha do truta nessa foto me lembra o arco-íris usado como símbolo do movimento gay ao redor do mundo. Mas a idéia de arco-íris também tem sido utilizada para se referir a união de povos e raças diferentes. Não é à toa que a África do Sul pós apartheid se auto-declara como uma nação rainbow nation (nação arco-irís).

Mas acho que eu sou muito pró-black. Minha ex-namorada tem um gato todo preto que se chama Martin (homenagem a Luther King) e pretendíamos arrumar outro, também preto, que iria se chamar Malcolm para dar uma eletrizada na relação. Ainda intenciono arrumar um cachorro - adivinha a cor? - cujo nome vai ser Jabú, abreviação de jaboticaba. Entretanto, sem dúvida, Bo é o cara!

sábado, 11 de abril de 2009

Fuck The New York Police!

Se você já fez ou um dia vir a fazer um curso básico de sociologia irá ler o alemão Max Weber (1864-1920), um dos pais fundadores dessa disciplina. Weber define o Estado como a instituição que possue o monopólio legítimo do uso da violência/força. Lembre-se que Estado é diferente de governo, já que esse segundo é composto pelos políticos (e seu staff) eleitos democraticamente para administrar o Estado durante determinado período de tempo. Desse modo, pode-se falar do Estado brasileiro durante a vigência do governo FHC ou Lula. Nem preciso dizer que o orgão do Estado responsável por aplicar o uso da força - violência - é a nossa "querida" polícia que pode lhe descer a porrada com legitimidade!

O grande problema é saber medir o uso da força para cada situação ao mesmo tempo em que se discute quem controla e julga a ação da polícia. Exemplo: esses dias atrás li um texto no qual o autor comparava vários riots (revoltas populares) ocorridas nos EUA nos últimos 40 anos. Em um deles, ocorrido em Crown Heights, NYC, e que envolveu confrontos abertos entre a comunidade negra e judia, houve apenas uma pessoa morta para dois dias de revolta. Contudo, esse baixo número só ocorreu porque o chefe de polícia na época estabeleceu a ordem de atirar apenas em casos extremos e afirmou que todos os policiais envolvidos em tiroteiros teriam que justificar suas ações posteriormente. Conclua por si só!

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(Ação policial na The New School University na manhã de sexta, 10/4)

Nos anos 1990 o grupo de rap de Los Angeles N.W.A. (Niggers With Atittude) lançou uma canção intitulada Fuck The Police que resumia o sentimento da população negra de LA - e de talvez de todo os EUA - em relação a esse orgão do estado responsável por realizar a repressão. A versão que disponibilizei aqui é de Ice Cube, ex-rapper desse grupo assim como Dr. Dre, DJ Yela (que virou produtor de filmes pornôs) e Eazy E (que faleceu vítima de AIDS em 1996), cantando a música em um de seus shows.

Ontem, 10/4, um grupo de alunos da instituição onde estudo aqui em NYC, The New School For Social Research, invadiu um dos prédios para protestar contra a política do presidente da instituição, Bob Kerrey, e exigir a sua renúncia. Nos últimos meses a universidade vem enfrentando vários problemas relacionados as ações do burocrata que tem levado a um conflito de interesses entre estudantes, professores e administração. A polícia foi chamada para retirar os estudantes do prédio invadido localizado na 65 Fifth Avenue. A frase que resume meu sentimento após a ação da polícia é o mesmo do N.W.A.... Fuck the New York Police!

Assistam o vídeo abaixo e vocês entenderão o porquê...

Para saber mais a respeito da situação da New School visitem o blog City Room do jornal New York Times. Para quem não lê em inglês visite o blog de meu amigo Raphael Neves, aluno de doutorado em ciência política na mesma instituição.

STOP THE VIOLENCE!

Fiel... no blog

Hoje - já é sábado, mas como ainda não dormi fica sendo hoje - ao trocar mensagens com minha amiga Mojana Vargas via Orkut senti inveja de não estar em Sampa, afinal ocorreu o lançamento do documentário Fiel, o Filme. Não tinha o menor conhecimento da película, mas só de olhar os trechos do trailer já fiquei emocionado. O filme acompanha a trajetória do Timão, desde a queda para série B do campeonato brasileiro de 2008 até o retorno a série A, através de depoimentos de torcedores.



Sendo sincero, não sou nenhum torcedor fanático do "Curintcha", mas sou "curintiano", né?! Sei que parte dos/das leitore(a)s devem torcer para outros times, mas não quero cair nessa falácia brasileira de que religião, política e futebol não se discute. Na verdade esses são os assuntos mais legais de serem discutidos, além de sexo, caso as pessoas tenham alguns neurônios a mais. Quem me me ensinou a ser curintiano foi um tio já falecido chamado Messias. Ele era um "curintiano" doente e sempre que visitava nossa família em Limeira, interior de São Paulo, ficava azucrinando a cabeça do meu pai, santista como bom nego véio e tradicional, que eu iria ser "curintiano" quando crescesse. Não deu outra! Até hoje minha mãe guarda com carinho uma foto minha com seis anos de idade tomando um garrafa de guaraná pelo bico furada na tampa e vestindo um boné e camiseta do Timão em alguma quebrada poeirenta da zona leste de SP em uma das visitas de meus coroas aos parentes da capital.

Aliás, como nunca li nada sobre isso, me pergunto de onde vem essa associação entre o "Curintcha" e a negrada. Pelo que sei, o "Curintcha" foi fundado por operários de origem imigrante - espanhóis - no começo do século passado, mas não sei quando a negrada começou a se identificar com o clube. De acordo com a história publicada no site oficial do time, desde o início os fundadores afirmavam que a equipe iria ser o time do povo, uma vez que o futebol era um esporte elitizado nessa época, começando pelos nomes das equipes como América e Germânia. Caso concordemos com a afirmação do finado sociólogo Guerreiro Ramos (1915-1982), de que no Brasil "negro é povo", então o "Curintcha" é o time da negrada e, consequentemente, do povo! Todas as idéias/símbolos que são utilizados para descrever nossa torcida facilmente se aplicam também no senso comum aos/as pretos/pretas, a saber: maloqueragem (a velha malandragem e criminalidade), sofrimento (nem preciso falar da escravidão), pobreza (favela?) dentre outras coisas! Outra ponto importante é que, se levarmos em conta os imaginários associados aos times, o clássico paulista "Parmeira" e "Curintcha" de certa maneira pode ser visto como uma reelaboração de um velha partida que acontecia no futebol várzea paulistano dos anos 1930 e 1940: time dos brancos versus o time dos pretos!

É bom lembrar também que o "Curintcha" é o time de futebol padrinho de várias escolas de samba em SP como Vai Vai, X9 Paulistana e, é claro, Gaviões da Fiel.


("Vamu invadí, carai!"...)

Podem falar o que for, mas nenhum time teve figuras tão emblemáticas como o "alvi-negro do Parque", assim cantou Bebeto na canção Flamengo, uma vez que os dois times são considerados aparentados. Quem não se lembra de Biro Biro (com seu cabelinho style), Rivelino, o Doutor Sócrates (com seu calcanhar certeiro), Ronaldo (o goleiro roqueiro), Viola (o negrão que sempre falava dele mesmo na terceira pessoa: "O Viola está bem graças à Deus!"), nossa torcida mais querida, briguenta e maloqueira - Fiel -, Neto (o garoto problema que jogava muito, brigava na mesma proporção e tinha um sotaque com os famosos "arrrr" "errrr" "irrrr" típicos do interior paulista), o gagá e ladrão do Dualib e o falecido e lendário Vicente Matheus com suas frases deliciosas, coisas do tipo "é uma meia de dúzia de um ou dois jogadores que estão dando probrema ao time". Nem preciso falar de nossos típicos patrocínios duvidosos! Porra, será que o Timão é uma alegoria do Brasil???

Pois é, meu pai e o truta Mano Brown - santista roxo pra quem não sabe - que me desculpem, mas "Curintcha é nóis, mano!"... Assistam ao trailer abaixo e obrigado à Mojana pelo toque!

Muita paz à todo(a)s os brothers and sisters torcedore(a)s de todos os times ao som de Santogold, Lights Out!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Pequenos Prazeres



1- Ler
2- Escrever
3- Ouvir... música
4- Fazer... sexo (com ou sem amor, sempre com proteção)
5- Amar alguém (seu pai, sua mãe, o(a) famigerado(a) do(a) seu/sua irmã(o), cachorro, gato...)
6- Rir/Ficar puto(a)/Chorar
7- Dançar
8- Dormir
9- Comer
10- Beber (café, chá, suco, água, e, claro, algo alcóolico)
11- Frequentar o banheiro (você sabe para quê!)
12- Ter alguma fé (em Deus, Buda, Marx ou sei lá o que)
13- Ter amigos (e alguns inimigos)
14- Ter vícios: o meu é fumar meus Phillies (ninguém é de ferro!)
15- Aprender algo novo todo dia (mesmo que seja inútil)
16- Liberar endorfina transando, correndo pra pegar o metrô ou malhando na porra da academia!
17- Jogar conversa fora
18- Admirar a beleza... Das mulheres, da arte e de um dia fresco e ensolarado na primavera!

MISTURAR TUDO E PRATICAR DIARIAMENTE!

FAÇA A SUA LISTA DE PEQUENOS PRAZERES NO COMMENTS, QUERO SABER SOBRE O SEU HEDONISMO MINIMALISTA!...

sábado, 4 de abril de 2009

Negrada na TV Americana (Negros Evoluídos?/Parte 2)


(Foto de mural com David Alan Grier, estrela de Chocolate News)

DJ Hum, ex-parceiro de Thaide, é, assim como os bons "nego véio" (no singular mesmo!), um ótimo contador de histórias. Anos atrás quando convidamos ele para fazer uma fala no nosso ciclo de seminários na USP, Humberto nos divertiu enormemente com seus contos. A lenda da velha escola do hip-hop relatou que houve uma época em São Paulo que todos os shows dos grupos de rap tinham um espaço para uma espécie de palestra. Era a época da "consciência", do ficar "cada vez mais preto" (título de um disco do DMN), de "escolher o seu caminho" (álbum dos Racionais MCs)... Todo grupo, sem exceção, dava palestra no show. Em uma ocasião uma rapaziada mandava ver no show e um dos rappers parou a apresentação e começou a discussar. De acordo com ele, "era hora de nos libertamos das amarras que nos ligavam ao passado, era hora de recuperarmos nossa ancestralidade, de retomar nosso poder, de voltar para nossas casas, nossos carros, nossas mulheres e nossa terra... Era hora de voltarmos para os Estados Unidos da América!"...

Ok, você pode achar que o truta aí de cima errou o alvo, mas vamos com calma. O imaginário que se espraia a respeito da população afro-americana ao redor do mundo é de associação à riqueza, poder, consumo e hedonismo. Os vídeos de hip-hop e R&B vendem essa imagem e muitos filmes e séries também. Mas é fácil perceber a distorção da realidade - ao menos para mim que vivo aqui, mas sou nascido e criado no Brasil -, já que ela é produzida por ambos os lados da moeda.

Anos atrás, quando trabalhava num projeto de qualificação de professore(a)s da rede pública de ensino de SP, sempre perguntava se ele(a)s sabiam qual é a porcentagem dos negros no universo da população norte-americana. As respostas sempre batiam acima dos 45%, quando eles na verdade não são mais do 13.5%. A distorção é produto das séries e filmes produzidos nos EUA e da TV brasileira. Na primeira há a obrigatoriedade de uma certa representação da diversidade racial que compõe o país, já na segunda os negros/mulatos/mestiços/pretos/morenos/marrom bombons somem! Odeio novela, mas sempre assisto parte de alguma quando janto num restaurante brasileiro no Queens. Aquilo me dá nojo! Olho para TV e não vejo negros e quando topo com algum são serviçais, prostitutas, sambistas etc. Só trabalhando nesse projeto, anteriormente citado, tive certa noção de como a molecada ainda sofre no Brasil devido ao cabelo crespo, o nariz chato e os lábios grossos.

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(Cartaz da série cuja personagem principal é interpretada pela cantora Jill Scott)

Mas as discussões que envolvem raça voltaram com força devido a eleição do "neguinho", Barack Obama. Adoro fazer isso, chamar o cara mais poderoso do mundo de neguinho! Pois bem, todo mundo quer tirar um pedacinho do momento histórico e lucrar com isso, dos fabricantes de moedas e pratos com o rosto do presidente aos produtores de TV. Esta é mais uma razão pela qual a idéia propagada pelo termo post racial, ou seja, de que as categorias raciais perderam a centralidade na dinâmica das relações sociais norte-americanas, me parece furada. Na minha opinião, raça continua a tocar um papel fundamental na sociedade americana, mesmo que as pessoas evitem o debate aberto. E para completar, negrão tá na crista da onda por aqui!... Não é qualquer "negrão", obviamente, mas negrão e rico (ou upper class, como dizem por essas bandas). Um ótimo espaço para se ter uma noção da força do conceito de raça e como ela se relaciona com a Obamania é visto na mídia americana, mais especificamente a TV. Abaixo cartaz de Bamboozled (2000), filme de Spike Lee que faz uma ácida crítica a mídia norte-americana.

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Mês passado assisti no canal MSNBC um programa sobre os Newbos, New Black Over Class (algo do tipo "novos multi milionários negros") apresentado pelo jornalista Lew Hawkins e baseado em seu livro homônimo, a ser lançado em junho, Newbos: The Rise of New America's Overclass. Nada interessante! O programa prometia algo novo, mas o que se viu foi o jornalista entrevistando negros ricos que fizeram sua fortuna em ramos já conhecidos: entretenimento e esportes. Hawkins conversou com o dono da BET (Black Entertainment TV), jogadores de basquete, beisebol e futebol americano que controlam sua carreiras, possuem agentes negros que são amigos de infância e investem na comunidade atráves de programas educacionais par jovens, além dos rappers donos da Cash Money Records, gravadora cuja umas das estrelas é o retardado do Lil Wayne (desculpas aquele(a)s que apreciam, mas eu não suporto!). Um dos proprietários do selo, o rapper Briam Williams, a/k/a Birdman, disse no meio da entrevista que tem US$ 500.000 em grillz - adorno usado sobre os dentes por hip-hoppers - na boca, urgh! Enfim, o programa foi uma espécie de mais do mesmo. Vale aqui a afirmação de uma senhora citada por Lawrence Graham em seu livro Our Kind of People (2000) relacionada a recepção do mesmo: "Folks don't want to hear about rich black unless we're playing basketball, singing rap music or doing comedy on TV." Bang!

America's New Multi-Millionaires.Black stars of sports, entertainment and media.A growing class of celebrity entrepreneurs who went from working class to the wealthy class at a young age. Now, many of these African-Americans are building wealth for future generations.Lee Hawkins profiles the success, challenges and responsibilities of the New Black Overclass... NEWBOs.

Na mesma noite o canal HBO apresentou o documentário The Black List volume 2, uma vez que no ano passado eles já haviam produzido o The Black List volume 1. O título brinca com a definição de "lista negra" que, como todo(a)s sabem, faz referência a um grupo de pessoas reunidas numa lista devido a algum aspecto negativo como pendências financeiras. Os filmes - dirigidos por Timothy Greenfield-Sanders - são uma série de entrevistas realizadas por Elvis Mitchell com personalidades negras dos mais variados campos: artístico, político, empresarial, etc. Alguns exemplos de entrevistados são a escritora ganhadora do Nobel de literatura em 1993 Toni Morrison, o ex-jogador de basquete Kareem Abdu- Jabbar, o reverendo Al Sharpton, o comediante Chris Rock, a ativista/acadêmica Angela Davis (que estará no Brasil em agosto lecionando no curso Fábrica de Idéias em Salvador/BA, se estiver por lá vá vê-la) entre outro(a)s. Infelizmente não pude assistir ao programa devido ao meu plano de TV por assinatura não incluir HBO, mas pretendo comprar os DVDs (é possível assistir parte deles on line). O programa da HBO é de longe, falo mesmo sem ter assistido por inteiro, muito melhor do que os NewBos, uma vez que o universo de entrevistados é mais diverso incluindo áreas nas quais os negros não tem tanta visibilidade na sociedade, ciência e design, e os assuntos abordados são variados exibindo a multiplicidade de questões que envolvem a população afro-americana.


(Angela Davis, uma das entrevistadas de Black List Volume 2)

Do outro lado do jogo, há o que poderíamos chamar de um BBB: Black Big Brother. O reality show Harlem Heights é um produção da BET e acompanha a trajetória de oito jovens profissionais afro-americanos recém saídos da faculdade e que moram na meca da cultura negra em NYC: Harlem. O programa tem uma roupagem de politicamente consciente uma vez que a todo instante os participantes fazem referência ao momento ímpar para os negros vivido no país devido a eleição de Obama. No episódio de estréia foi possível ver os participantes acompanhando o anúncio da vitória do "neguinho" em 4 de novembro, chorando - eu também chorei! - e festejando junto com a multidão que tomou as ruas do bairro naquela noite histórica. Contudo, Harlem Heights fica só na intenção de ser um reality show diferenciado.

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(Toda a patota de Harlem Heights reunida)

O centro das relações entre os participantes é nada mais do que flertes e dates entre os quatro rapazes e as quatro senhoritas. Essas últimas, extremamente atraentes, sempre aparecem em cenas cujo os close-ups são de pernas, bundas e peitos exibidos em roupas minúsculas ou de decotes fartos. O rolê das garotas é sempre para fazer compras e o grande problema de todas diz respeito aos relacionamentos entre as amigas e os namorados. Os rapazes também não fogem a regra, aos menos as discussões entre eles se aproximam do que acontece na real (aqui falo com propriedade de homem com anos de boteco), já que as conversas giram em torno de mulher, dinheiro, e um pouquinho - mais bem pouquinho mesmo - de política! Pois é, essa é a BET! De qualquer maneira, a série enche os olhos de qualquer negrão subdesenvolvido como eu já que todo mundo nela é bonito(a), charmoso(a), bem sucedido(a) - ou prestes a ser - e mora no centro da cultura afro-americana. Assista o trailer e você entenderá um pouco o tipo de consumo que é objeto de desejo de muitos negros fora dos EUA e alvo de crítica de Paul Gilroy. Um outro detalhe é que a qualidade da produção também é de colocar o Big Brother Brasil no chinelo: várias cenas são gravadas externamente e o pessoal da BET tenta explorar diferentes lugares do Harlem não deixando aquela sensação claustrofóbica e chata do programa brasileiro.


(Brooke Crittendon, à esquerda, e Ashlie Fray, participantes de Harlem Heights)

Algo realmente novo foi a estréia ocorrida domingo passado, 29/3: The No. 1 Ladies' Detective Agency, série em que a personagem principal é nada mais que a cantora e compositora de neo-soul Jill Scott. Também produzida pela HBO, a série aposta na popularidade de Scott que foi descoberta pelo pessoal da banda de rap The Roots no início da década e, posteriormente, tornou-se uma cantora consagrada já tendo lançado três álbuns e ganho três Grammys. Scott também segue o mesmo caminho aberto por personalidades como Will Smith, Queen Latifah, Ice T e Beyoncé, ou seja, da música para as telinhas/telonas. Não tive como fazer uma avaliação mais precisa do programa (lembrem que não tenho HBO no meu pacote de TV por assinatura), mas a expectativa antes da estréia era boa como se percebe pela leitura do artigo Unusual Sleuth, Unusual Setting do New York Times de 27 de março.

No. 1 Ladies' Detective Agency
(Jill Scott em cena de sua série na HBO)

O show da HBO é uma adaptação do livro homônimo de Alexander MacCall Smith que foi o primeiro de uma série de outros nove posteriormente traduzidos para mais de 40 línguas e que já venderam mais de 15 milhões de cópias em inglês. As histórias se passam em Botswana, país ao sul do continente africano, onde também foram feitos as filmagens da série. Scott interpreta Precious Ramotswe, uma mulher de 35 anos, recém divorciada que após ter o filho desaparecido deixa a vida rural no campo para abrir um escritório de investigação na capital do país, Gaborone. Na cidade Precious vivencia questões que apresentam a tensão entre tradição e modernidade que afeta o país e sua população. Exemplos disso são a pressão para que ela molde o seu corpo ao padrão ocidental - leia-se magra - ou o problema da infidelidade masculina que é vista como algo quase que natural no país em plena era de avanço feminista no resto do mundo. Alertando a uma mulher que procura os serviços do escritório para encontrar o marido desaparecido, Precious diz: "Sometimes when a man is missing, he has found interest in another woman." Sem dúvida, um papel a medida para Scott uma vez que as letras de suas músicas abordam muitas das questões tratadas pela série falando de sexo, relacionamentos e pobreza na perspectiva de uma afro-americana tributária das conquistas do movimento pelos direitos civis, revolução sexual e feminismo dos anos 1960.

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(Ms. Scott: sexy, fora de "padrões" e feminista sem perder a feminilidade)

Por outro lado, alguns shows de temática ou com atores e apresentadores afro-americanos lançados ano passado tem futuro incerto. Esse é o caso de Chocolate News (foto no início do post), da rede Comedy Central, e D.L. Hughley Breaks the News da CNN. O primeiro, teve uma audiência abaixo do esperado e após cumprir seu número inicial de 10 programas não foi renovado. No caso do segundo, a CNN resolveu não renovar o contrato de Hughley após o apresentador solicitar que as imagens fossem transferidas de New York para Los Angeles, cidade onde sua família reside (mas o programa era chato, assisti a pelo menos dois episódios). CW, o canal que possue mais comédias com elenco de afro-americanos, anunciou em fevereiro que renovará 6 de suas séries mais populares, mas as suas duas séries de maioria negra, The Game e Everybody Hates Cris (no Brasil ambos podem ser vistos pela Sony, na TV a cabo, enquanto que a Record exibe Todo Mundo Odeia o Cris na TV aberta) não estão entre eles e tem futuro incerto. Enquanto isso a série Do Not Disturb, do canal Fox, foi cancelada após apenas três episódios devido a baixa audiência. Por fim, os talk shows de fim de noite estão dominados por apresentadores brancos.


(Everybody Hates Chris da CW)

De acordo com o artigo No Smooth Ride on TV Networks' Road to Diversity do New York Times a NAACP (Associação Nacional Para o Avanço das Pessoas de Cor) apurou que ocorreu um queda considerável de atores pertencentes a minorias étnicas/raciais atuando na TV americana entre 2006-7. A única rede que apresentou aumentou foi a ABC.


(D.L. Hughley na CNN)

De qualquer modo, há novidades à vista. Uma delas é o desenho The Cleveland Show produzido pela Fox e um derivado de Family Guy (no Brasil, "Uma Família da Pesada"). Todos os personagens da família são dublados por atores negros embora o criador de Cleveland Brown tenha sido Mike Henry que é branco. No início do projeto esse detalhe foi ponto de preocupação dos executivos da Fox, mas todos ficaram mais tranquilos com o enquadramento dado por Henry aos personagens e pela diversidade étnico/racial da equipe que produz The Cleveland Show. A Fox ainda possue mais um piloto de série com maioria de atores negros intitulado Brothers com previsão de lançamento no segundo semestre. Enquanto isso a ABC está considerando um piloto intitulado The Law e um derivado da série NCIS cujo título ainda não foi definido, mas sabe-se que o rapper e ator L L Cool J será uma das atrações. Entretanto, esses são apenas quatro projetos piloto num universo de 70 sobre desenvolvimento pelas TVs americanas.



A escassez de programas televisivos com a atuação majoritaria de negro(a)s nas redes de TV mais renomadas abriu caminho para o sucesso do produtor Tyler Perry com o seu House of Payne exibido na TBS e que é a parte mais rentável do seu conglomerado de comédias. Recentemente ele lançou no cinema a comédia Madea Goes to Jail e as bilheterias tem sido generosas. O filme segue a velha receita lançada há muitos anos atrás por Dustin Hoffman em Tootsie (1982) do homem vestido de mulher interpretando um papel feminino, mas que foi renovado por Eddie Murphy na refilmagem de The Nutty Professor (1996).



A falta de shows voltados para públicos de minorias é creditado por Paula Madison, executiva vice-presidente da NBC Universal, a maneira como Hollywood faz a seleção da maioria de seus roteiristas e diretores. Geralmente buscasse esses profissionais em escolas de cinema e cursos de pós-graduação onde não há muita diversidade, algo que resulta numa TV bastante monocromática. A saída que ao menos a NBC tem buscado é oferecer mais dinheiro para os shows que incluirem mais membros de grupos minoritários as suas equipes de redação e produção. Enquanto isso, no Brasil... Ao menos teremos o lançamento do primeiro longa metragem de Jeferson De, Bróder, no segundo semestre!

Abaixo um videozinho com The Cleveland Show!

Muita paz e amor!

Falta de colírio? Enquête 2 do NewYorkibe

Gostaria de agradecer a todo(a)s que participaram da enquête do NewYorkibe É ou não é? postada no dia 11 de março. De acordo com o censo étnico/racial realizado por meio de nossos leitores Beyoncé Gisele Knowles é... MULATA! Tivemos 12 participações sendo que 5 delas a classificaram na categoria vencedora, 2 tascaram um PRETA na colega, 2 atacaram de MORENA, 1 afirmou que ela seria BRANCA, 1 "SERIA O QUE SERIA" e , por fim, 1 disse que ela "PODE SER O QUE QUISER". Nossa enquete prova que Beyoncé pode passar por toda o gradiente de cor brasileiro!

Passemos então a enquête número 2 do NewYorkibe intitulada "Falta de colírio?"...

http://cm1.theinsider.com/media/0/49/82/246126612-M.0.0.0x0.432x367.jpeg
(Puffy Daddy, esbanjando estilo e mala com seus óculos escuros!)

E a pergunta é: por que afro-americanos, na maioria rappers, usam óculos escuros à noite????
Alternativas:

1- Falta de colírio
2- Manter o estilo
3- Olhar a bunda de outras minas sem que a namorada perceba
4- Não serem reconhecidos e passarem despercebidos
5- Esconder hematomas ganhos na última briga
6- Outras (por favor, explique!)