sábado, 11 de abril de 2009

Fiel... no blog

Hoje - já é sábado, mas como ainda não dormi fica sendo hoje - ao trocar mensagens com minha amiga Mojana Vargas via Orkut senti inveja de não estar em Sampa, afinal ocorreu o lançamento do documentário Fiel, o Filme. Não tinha o menor conhecimento da película, mas só de olhar os trechos do trailer já fiquei emocionado. O filme acompanha a trajetória do Timão, desde a queda para série B do campeonato brasileiro de 2008 até o retorno a série A, através de depoimentos de torcedores.



Sendo sincero, não sou nenhum torcedor fanático do "Curintcha", mas sou "curintiano", né?! Sei que parte dos/das leitore(a)s devem torcer para outros times, mas não quero cair nessa falácia brasileira de que religião, política e futebol não se discute. Na verdade esses são os assuntos mais legais de serem discutidos, além de sexo, caso as pessoas tenham alguns neurônios a mais. Quem me me ensinou a ser curintiano foi um tio já falecido chamado Messias. Ele era um "curintiano" doente e sempre que visitava nossa família em Limeira, interior de São Paulo, ficava azucrinando a cabeça do meu pai, santista como bom nego véio e tradicional, que eu iria ser "curintiano" quando crescesse. Não deu outra! Até hoje minha mãe guarda com carinho uma foto minha com seis anos de idade tomando um garrafa de guaraná pelo bico furada na tampa e vestindo um boné e camiseta do Timão em alguma quebrada poeirenta da zona leste de SP em uma das visitas de meus coroas aos parentes da capital.

Aliás, como nunca li nada sobre isso, me pergunto de onde vem essa associação entre o "Curintcha" e a negrada. Pelo que sei, o "Curintcha" foi fundado por operários de origem imigrante - espanhóis - no começo do século passado, mas não sei quando a negrada começou a se identificar com o clube. De acordo com a história publicada no site oficial do time, desde o início os fundadores afirmavam que a equipe iria ser o time do povo, uma vez que o futebol era um esporte elitizado nessa época, começando pelos nomes das equipes como América e Germânia. Caso concordemos com a afirmação do finado sociólogo Guerreiro Ramos (1915-1982), de que no Brasil "negro é povo", então o "Curintcha" é o time da negrada e, consequentemente, do povo! Todas as idéias/símbolos que são utilizados para descrever nossa torcida facilmente se aplicam também no senso comum aos/as pretos/pretas, a saber: maloqueragem (a velha malandragem e criminalidade), sofrimento (nem preciso falar da escravidão), pobreza (favela?) dentre outras coisas! Outra ponto importante é que, se levarmos em conta os imaginários associados aos times, o clássico paulista "Parmeira" e "Curintcha" de certa maneira pode ser visto como uma reelaboração de um velha partida que acontecia no futebol várzea paulistano dos anos 1930 e 1940: time dos brancos versus o time dos pretos!

É bom lembrar também que o "Curintcha" é o time de futebol padrinho de várias escolas de samba em SP como Vai Vai, X9 Paulistana e, é claro, Gaviões da Fiel.


("Vamu invadí, carai!"...)

Podem falar o que for, mas nenhum time teve figuras tão emblemáticas como o "alvi-negro do Parque", assim cantou Bebeto na canção Flamengo, uma vez que os dois times são considerados aparentados. Quem não se lembra de Biro Biro (com seu cabelinho style), Rivelino, o Doutor Sócrates (com seu calcanhar certeiro), Ronaldo (o goleiro roqueiro), Viola (o negrão que sempre falava dele mesmo na terceira pessoa: "O Viola está bem graças à Deus!"), nossa torcida mais querida, briguenta e maloqueira - Fiel -, Neto (o garoto problema que jogava muito, brigava na mesma proporção e tinha um sotaque com os famosos "arrrr" "errrr" "irrrr" típicos do interior paulista), o gagá e ladrão do Dualib e o falecido e lendário Vicente Matheus com suas frases deliciosas, coisas do tipo "é uma meia de dúzia de um ou dois jogadores que estão dando probrema ao time". Nem preciso falar de nossos típicos patrocínios duvidosos! Porra, será que o Timão é uma alegoria do Brasil???

Pois é, meu pai e o truta Mano Brown - santista roxo pra quem não sabe - que me desculpem, mas "Curintcha é nóis, mano!"... Assistam ao trailer abaixo e obrigado à Mojana pelo toque!

Muita paz à todo(a)s os brothers and sisters torcedore(a)s de todos os times ao som de Santogold, Lights Out!

9 comentários:

Clebão Tierno disse...

bacana mesmo este último post, estou sabendo agora q você é um "Curintiano" que nem eu, rsrsrs, e igual ao seu Tio, já passo esta influência ao meu filhão de 4 anos, tem uniformes, posters no quarto, jogos de PS2 com títulos do Clube, a minha parte eu to fazendo pra continuar o legado, e qto à negrada se identificar com o Corinthians eu percebo isto mesmo, sou negro tbm, mas o barato da coisa é ver meu filhão q é branco de cabelo liso saindo na rua com a linda camisa preta e branca, ninguém bota uma fé,rsrsrsrs....

Curso de História - Miguel Maluhy disse...

Um dos melhores times do corinthians foi aquele que teve o Edilson, Marcelinho, Dinei,Rincon e Vampeta, em 1999. Os caras tretavam direto, mas em campo jogavam muito.
Outro comédia do Corinthians foi o Dinei, ex-maconheiro e cheirador, que, assim como o Viola, também falava dele mesmo em terceira pessoa.
Aqui no bairro tem um "alemão" grandão que também fala em terceira pessoa, o Celo. As vezes ele chega no Bar do Tião e comenta: "Porra, o Celo arrebentou ontem na balada, catou duas minas. Negro Velho (eu), você precisa aprender com o Celo, o Celo na balada é foda". Rssss!

Eliana Black disse...

E tbm sou contra essa história de que religiao, política e futebol não se discute... PUtz... vai discutir sobre o que? esses são os melhores debates... rsrs

Ao contrário de vc sou uma corinthiana fanática. Aqui em Sampa esta muito dificil de ir aos cinemas para ver o filme, vou deixar a poeira abaixar um pouco, ai irei ver.

Não sei tbm pq o CORINTHIANS ( com TH)é tido como o time da negrada, talvez seja pelos esteriótipos bem parecidos,como vc cita no seu texto.

Amanhã o TIMÂo tem um jogo bem difícil... eu estarei torcendo, uma nação de alvinegros fanaticos ou não tbm estarão torcendo e SÂO JORGE GUERREIRO tbm estará com suas armas defendendo o Todo Poderoso.

Mojana disse...

Eu também fui levada ao corintianismo por um tio pinguço, já finado, por sinal;
O Corinthians é isso mesmo, negrada, pobreza. O time está identificado com todos aqueles atributos sociais considerados negativos, da marginalidade ao analfabetismo, passando pela ausência dos dentes da frente.
Por outro lado, suas vitórias funcionam como uma espécie de catarse pra essa mesma massa.
Eu fui ver o documentário hoje mas não consegui entrar no cinema, havia muitos corintianos no Shopping Frei Boneca.
Aliás, foi interessantíssimo ver a legião de corintianos bem com aquela cara de moradores da periferia zanzando pra lá e pra cá nos corredores daquele shopping cheio de piriguetes de classe média e seus mini-cachorros barulhentos, rsrsrsrsrsrs.
Havia muitos casais e famílias usando suas camisas do time e cantando as músicas da torcida, o que foi muito bacana naquele lugar tão arrumadinho. Segunda-feira tentarei ver o filme novamente, pois amanhã tem o jogo conta o São Paulo no qual tenho certeza, o Corinthians vai dar o maior baile, hehehehehehe.
Vai Coríntia!!

Raphael Neves disse...

Aí, Mojana, dito e feito... e de virada, que é mais gostoso. Gostei do post e do último comentário... parece coisa de igreja: só que ao invés de dizer que um pastor a levou ao templo, foi um pinguço mesmo que a levou pro corintianismo. hahaha

E meu Mengão, que também é time de preto, pobre e sofredor, ganhou!

Abraço, Kibe.
Rapha

Márcio Macedo disse...

Obrigado à todo(a)s pela leitura e comentários!

Abraço do Kibe.

lafayette hohagen disse...

Eu como bom Palmeirense,fico calado.Em compensação o meu Mengão para me homenagear, já que estava na minha cidade maravilhosa, despachou os pó de arroz.Sorte!!

Thiago da Cuíca disse...

Comprovando a tese do Kibe, sou corinthiano por influência do meu avô, pinguço e operário. Pensando na história do clube, sou a quarta geração de curintianos e meu bisavô é espanhol, vindo pra cá criancinha. Se bobear, meu tataravô fundou o time no Tatuapé...rsrs

Agora, os depoimentos do trailler não trazem os maloqueiros para falar não. eles são as imagens da torcida e espero q eles sejam tb a voz no filme.

abraços

Renata disse...

Como boa curintiana, fico muito orgulhosa com seu post! E acho que dá samba investigar essa hipótese do Timão como alegoria do Brasil...rs...