sábado, 4 de outubro de 2008

Coisas que enchem o saco nos EUA

1- Self Service: bem-vindo ao país do auto-serviço. De tirar fotocópias a colocar gasolina no posto, tudo por aqui é na base do você mesmo se serve. No filmes é divertido e curioso saber como os caras manejam a bomba no posto, mas até você aprender a fazer todas as merdas, enche o saco pra cacete. Ainda mais se o seu inglês é meio capenga como o meu. Não adianta os vários anos de Alumni e Cultura Inglesa, chegou aqui o bicho pega nos primeiros meses e vira mexe você se vê fazendo papel de imbecil. Esses dias precisava fazer uma cópia de um texto na Bobst Library (NYU) e perdi algumas horas comprando um cartão, carregando o mesmo e depois tentando entender como a máquina funcionava. Mesmo assim minha cópia ficou um lixo e perdi um monte de grana nas tentativas de acertar o zoom, tonalidade, tamanho entre outras coisas.

2- Tips (parte 1): com certeza esse barato me dá nos nervos. Muita gente aqui trabalha só pelas tips e aí toda hora que você come num restaurante ou pede uma cerveja num bar tem dar uma gorjeta. O que enche o saco é ter que ficar fazendo conta toda hora para saber quanto você tem que dar de tip, porque a conta é dada sem o valor da gorjeta e aí você tem que calcular o mesmo (geralmente se dá de 10 a 15% do valor total). Ao mesmo tempo, estive calculando e fiquei passado de pensar como a maldita tip aumenta o preço das coisas. A ficha caiu ao ir no show do Chris Rock no Apollo Theater e tomar uma cerveja. Saca só: você compra a cerveja long neck no bar e que nesses lugares geralmente custa US$ 6, automaticamente deve dar US$ 1 de gorjeta ao barman. Okay, uma breja pede uma... Mijadinha, não? Bem, você vai ao banheiro, se alivia do efeito diurético da loira gelada e depois de lavar as mãos é presenteado com uma toalha de papel vinda do tiozão que trabalha no restroom. O que isso significa? Mais um US$ 1 de tip pro tiozão. Aquela cerveja que custava US$ 6, acaba saindo por 8... Dez cervejas na balada, dez mijadinhas: US$ 80. Puta que pariu!!! Agora entendo porque a negrada por aqui só fica no hard liquor (conhaque, vodca, uísque etc.): custa mais caro, mas uma quantidade menor sobe logo pra mente. Como diz o som do Cypress Hill: "I wanna get high, so high!" (tudo bem que no caso desses californianos, eles se referiam ao efeito da "weed": maconha!).

Tips (parte 2): Pois bem, pensa que o lance da tip acabou? Nada! Em todos os lugares tem alguém fazendo algum trampo (não muito necessário ou que no Brasil estaria incluído no serviço) por tip. No supermercado uns tiozões que ficam empacotando a suas groceries por tip, os homeless ficam abrindo as portas dos MacDonalds e KFCs na 14 Street por tips, uns caras te ajudam a arrumar um táxi e colocar as malas no porta malas do carro na estação de trem por tips... Aí você paga mico, né? Fui comprar um cabo para o DVD de casa e a loja não aceitava cartão de débito. Como estava sem grana na carteira, tive que ir a uma ATM (banco 24 horas) retirar dinheiro para comprar o barato. Ao voltar na loja um tiozão que estava sentado em um tipo de cadeira de espera levantou-se e pegou o cabo para mim. Okay, gentileza ou tip? Paguei o cabo, separei um dólar e, na saída, dei para o tiozão que ficou olhando para a mim com cara de espantado. Gentileza! Olhei pra ele e disse: "No problem man, keep the tip for your kindness!*rs* Outra... Esses dias um brother (o maluco parecia o Flavor Flav, tinha dente de ouro e o caramba!) da Fedex veio entregar um armário que minha namorada comprou on line. Ao atendê-lo ele me perguntou se eu conseguia subir com as paradas para o AP (moro no primeiro andar). Respondi que sim. Ele replicou dizendo que um dos pacotes estava bem pesado. Dei uma olhada e, antes mesmo de falar algo, ele disse que subiria com os pacotes mediante uma tip. Conclusão: ajudei o maluco com o barato e ainda dei US$ 5 de gorjeta. As únicas gorjetas que não me importo de dar são para os músicos que tocam no nas estações de metrô. No meio de ratos, baratas, sujeira, calor, fedor e gente apressada uma musiquinha ajuda a aliviar o estresse. Um dia desses um saxofonista estava tocando "My favorite things" do Coltrane. Levou meu US$ 1 merecidamente!

3- Taxes. Nunca se deixe enganar pelo preço de alguma mercadoria estampada na mesma. Por que? Bem, diferente do Brasil, o imposto nunca está incluído nesse valor e você só saberá o preço final do que está comprando quando passar pelo caixa. O lado interessante disso é que você sabe exatamente qual é a parte do governo na transação (alguns amigos meus diriam: "você sabe em quanto o governo está lhe roubando" *rs*). Contudo, um marinheiro de primeira viagem sempre esquece de pensar nas taxes ao ter os olhos brilhando diante de alguma mercadoria. Por outro lado, há algumas coisas que não tem taxação como roupas e alimentos. A cobrança do imposto em separado ocorre devido a não existir alíquotas únicas para todo o país. Os Estados Unidos são uma república federativa, mas os estados têm bastante autonomia no que diz respeito a cobrança de impostos fazendo com que os mesmos variem de um lugar para o outro. Minha professora de escrita acadêmica, Melissa Monroe, me explicou que é ela é de Massachusetts, estado onde os impostos são tão altos que as pessoas costumam brincar com o nome do lugar chamando-o de "Taxachusetts". Ainda, em outros estados como New Hampshire não ocorre a cobrança de impostos e muita gente viaja para lá para fazer comprar. Vai entender!

Enfim, morando por aqui estou entendendo como é diferente viver numa sociedade efetivamente capitalista (ainda para ajudar tenho lido Karl Marx, que sempre coloca os EUA como exemplo de capitalismo plenamente desenvolvido) . Não me pergunte se isso é bom ou ruim, mas como disse um amigo meu (que está na mesma situação que eu: brasileiro, casado com uma americana e morando na terra do Uncle Sam): "Oh país mercenário do caralho!" *rs*

8 comentários:

Unknown disse...

me parece que não todos nos quais os impostos (em português, taxa aqui é outro pagamento) são acrescentados pós-compra. mas a idéia foi justamente, o do acréscimo pós-compra, o de avisar ao consumidor quanto o governo lhe tira. Vc é contra? Ou simplesmente acha, com parece às vezes, que tudo que não seja booze, sound and bitchs are just a pain in the ass?

Anônimo disse...

Teve uma feira organizada pela FGV mostrando o valor da taxa de cada produto. O que tinha maior taxa, 85% do valor, era a cachaça. Se o preço das taxas fossem divulgados muita gente ficaria com dó de gastar o dinheiro com certos produtos. E a proposito, embora seja mulher, prefiro os destilados e os vinhos. A cerveja tem esse incomodo de fazer ir ao banheiro toda hora e o sabor também, tem que ser um especialista pra pegar uma "cerva" gostosa.
A sacolinha que a gente leva do supermecado que polui os rios e oceanos está embutida no preço dos produtos. Acho isso desonesto demais.
Mas entendo sua situação... quando estive nos US nunca pagava uma "tip" porque simplesmente não conectei a informação, minha cabeça funcionava na lógica do Brasil. As vezes, tempos depois lembrava do detalhe. Nunca ninguém nunca reclamou ou cometeu um ato indelicado.
Tudo isso que mencionou lembra também a cena inicial do filme do Quetin Tarantino "Caes de Aluguel". Muito das suas razões são argumentos de um personagem. O personagem "Mister Pink" não quer ser obrigada a pagar tips.
É a primeira cena, e é demais.
beijos,

Curso de História - Miguel Maluhy disse...

Eu nunca paguei nenhum tip. Jamais percebi essa cultura da gorjeta, não levo jeito para antropólogo.

Unknown disse...

bom, eu sempre pageui gorjeta AQUI...Por ajuda em supermercados, por ajuda em transporte de móveis, para taxistas, etc, e as pessoas com quem convivo fazem o mesmo...Será que moro noutro país? Será que o tal de Brasil fica noutro lugar?

Raphael Neves disse...

Pra calcular a "tip" é fácil, Kibe. O imposto em NY é uns 8% e vem sempre na nota. Multiplica o valor por 2 e você já sabe quanto dá 16%, uma boa tip. Pode arredondar pra baixo que ainda fica dentro da faixa de 15% que eles costumam dar de gorjeta.

Anônimo disse...

Caramba, é uma mistura louca esse negócio de gorjeta, né?
Negação da dádiva (cada gesto tem um preço) mas ao mesmo tempo dá uma impressão de serviçalismo pré-liberal (seja lá o que isso signifique)...

Kibe disse...

Estou curtindo os comentarios, varias leituras interessantes da dita cuja da "tip", ate mesmo uma antropologica do Guilhermao. Essa semana ta foda de escrever alguma coisa por aqui, Karl Marx me chama na biblioteca...

Danilo França disse...

O pior é ter que enfrentar o self service pra evitar dar tips...