domingo, 29 de agosto de 2010

Adoro Odiar Quem Diz Adorar o Frio!

Eles/elas sempre dizem, com um sorrisso de orelha a orelha, ao descobrir que moro em New York Shitttt!: "Ah, Nova Iorque, que lindo! Adoro o frio e neve, bonito demais, né?" Dentro do silêncio sepulcral que se segue da minha parte penso: "Você gosta de frio porque não mora naquela porra!" Não adianta, a pior coisa da Big Apple é a merda do frio. Não vou estereotipar, como geralmente faço em conversas de boteco, e dizer que pretos como eu não foram feitos para o frio, afinal há lugares na África nos quais se encontra temperaturas muito baixas (nada de neve, mas algo considerável: o Deserto do Sahara é gelado à noite, por exemplo). Também entendo essa fascinação com neve que algumas pessoas tem. "É bonito, né?", perguntam eles/elas. Eu diria que é bonito se você não tem que ir à aula na universidade, no supermercado fazer compras, a academia malhar e a biblioteca estudar.

 

No inverno os dias são mais curtos e anoitece por volta das quatro da tarde, algo que aumenta consideravelmente a sensação de depressão que se abate em algumas pessoas (inclusive essa que vos escreve!). Tenho uma amiga brasileira que me disse que gosta do frio porque as pessoas ficam mais bem vestidas. Não sei. Em minha opinião, pessoas que se vestem bem fazem isso em qualquer clima. Mas o que na verdade o comentário dessa minha colega sinaliza é a fascinação com um certo tipo de vestimenta que está geralmente excluída do guarda-roupa de pessoas vivendo em áreas tropicais como pesados casacos de lã, sobretudos, calças e camisas de veludo, tweets, blazers, botas de cano alto, chapéus, cachecóis entre outras paradas e a associação destes a regiões desenvolvidas como os Estados Unidos e parte da Europa. Os brasileiros que moram de São Paulo para baixo são um pouco mais familiarizados com essas peças de vestuário e guardo algumas histórias engraçadas de amigas cariocas que se mudaram do Rio de Janeiro para a Terra da Garoa devido a mudança de emprego ou estudos. Todas passaram por maus bocados até se acostumarem a um frio que nunca faz na Cidade Maravilhosa ou em outras cidades brasileiras localizadas nas regiões norte, nordeste e centro-oeste e tiveram que, de certa forma, refazer o vestuário. A associação entre frio e produção intelectual também é comum, extrapolando até mesmo o senso comum. Não me lembro agora qual dos filósosfos franceses (Montaigne, Montesquieu ou Descartes) que uma vez afirmou que seria impossível fazer trabalho intelectual num clima tropical.

 

O início das aulas é uma fase estranha. É o final do verão e acabou a alegria, o sol, as mulheres com roupas curtas nas ruas e a magia que os dias quentes e ensolarados possuem. Irão se seguir de cinco a seis meses (de outubro à abril) de chuvas, dias nublados, frio, neve e ausência de verde.  Nessas horas sinto vontade de morar na Califórnia ou Flórida! Definitivamente, a única coisa boa que ocorre no inverno é a possibilidade de cancelamento de aulas/dia de trabalho mediante a ameaça de nevascas...

 Muita Paz!