terça-feira, 29 de dezembro de 2009

De Saco Cheio com a Tecnologia: Twitter, Facebook, Orkut e SL

É verdade, ando de saco cheio da tecnologia. Cada vez mais dou razão ao canadense Marshall McLuhan  (1911-1980) um dos primeiros teóricos da área de mídia que cunhou frases famosas como "the medium is the message", estabeleceu a distinção das mídias entre hot e cold, elaborou a noção de global village ou ainda a interpretação da mídia como extensão dos sentidos humanos. É nessa última perspectiva que sugiro pensar as novas tecnologias virtuais, nada mais do que extensões de nossa fala, audição e visão (logo mais talvez tenhamos mídias que incorporam o paladar e o tato). Sendo assim, acho que a internet, com seus mais diversos recursos, se torna um espaço propício para o exercício de individualismo, xeretice e narcisismo exacerbados.

http://herd.typepad.com/.a/6a00d83451e1dc69e201156e4279f1970c-800wi
 (Marshall McLuhan)

O que mais empolga as pessoas na internet é a possibilidade de saber o que acontece na vida dos outros e, ao mesmo tempo, exporem parte de suas vidas. Fotos, mensagens atualizando o status, comentários aos comentários ou status de outras pessoas em redes de sociabilidade, visitas secretas ao perfil de alguém para saber se ela se encontra casada, solteira, encalhada, namorando ou sei lá o que, twittar notícias interessantes (que na maioria não são nada interessantes!) e frases inspiradoras, circular correntes via email, agradecer a Deus e Jesus por ser tão feliz e abençoad@ e, no final do ano, enviar as mensagens de feliz natal e ano-novo que lotam a minha caixa e me deixam "P" da vida ao ter que apagar uma por uma. A internet é a nova rua onde o boca o boca foi substituído pelo twitter e a fofoca é feita via messenger. Arruma-se namorad@ via sites de encontros e faz-se sexo virtual via webcam. No Second Life, espécie de jogo virtual no qual as pessoas podem (re)criar sua identidade da forma que bem desejarem,  é possível trabalhar, estudar, namorar, fazer sexo e casar de forma virtual.

 http://www.glasbergen.com/images/business_cartoons.gif

Entretanto, as fronteiras entre o "real" e "virtual" são cada vez mais fluídas e as pesquisas que vem sendo feitas por cientistas sociais que se debruçam sobre novas formas de tecnologia tentam evidenciar como categorias vistas pelo senso como novidades - exemplos disso são os termos virtual e network - são formas de organização social ou estados que sempre fizeram parte da sociedade. Mas minha impaciência diz respeito ao narcisismo que envolve essas ferramentas tecnológicas. Não quero mais saber o que meus amigos estão fazendo a cada minuto, o que estão lendo, bebendo, comendo, assistindo e se sentindo afinal, os verdadeiros amigos tem meu número e nada melhor do que uma conversa no mundo real, face to face, regada a umas brejas e petiscos.

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Mas minha intolerância com as novas tecnologias se encontra no ápice devido a ter sido obrigado a ler e realizar apresentações de uma série de autores que tratam do tema. Tive que encarar Pierre Levy, um filósofo francês que há anos vem estudando formas de organização social criadas pelas novas mídias (se você tá interessado leia dele Collective Intelligence e Becoming Virtual, a propósito, já há muito coisa dele traduzido para o português), o último catatau de Manuel Castells (Communication Power, chato pacas!), o jornalista que escreveu o processo de criação do Second Life, Wagner James Au (The Making of Second Life) e o antropólogo Tom Boellstorf com seu Coming of Age in Second Life. Desses, o mais divertidinho é o de Boellstorf onde o antropólogo aplicou as técnicas de pesquisa da observação participante e trabalho etnográfico para pesquisar o SL. Durante quase 3 anos, de 2004 a 2007, o antropólogo fez pesquisas no ambiente virtual do SL usando um avatar com o nome de Tom Bukowski e morando num local que levava o nome de Ethnographia. O livro de Boellstort tenta dar conta das várias facetas do SL incluindo questões relacionadas a dinheiro, sexualidade, estado, política e trabalho dos residentes do SL.

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No curso de Economic Sociology que fiz esse semestre minha professora, Eiko Ikegami, estava extremamente entusiasmada pelas possibilidades trazidas pelo SL (que eu gosto chamar de Second Motherfucking Life!). O approach de Ikegami é interessante: ela entende o SL como um espaço em que relações hierarquizadas são suspensas e as pessoas estão livres para incorporarem outras identidades para além daquelas que possuem na sua vida real. Além disso, esse processo seria algo que teria impacto na vida real das pessoas uma vez que a experiência nessa nova identidade e o contato com outras identidades tende a mudar/transformar os indivíduos. Minha querida mestre ganhou uma grana para pesquisar o SL e obrigou todos os alunos do seu curso a criarem avatares no site. Mas o pior de tudo foi ter que participar de uma conferência via SL num domingo às 11 horas da manhã.  Meu avatar, Xango Soulstar, chegou bêbado de Colt 45 no encontro, já que ele tinha tido ido a uma baladinha na vida real na noite anterior...

Muita Paz (seja ela virtual ou real)!

6 comentários:

Ari disse...

mas que sofrimento horroroso o seu! Me refiro a ter de ler Castells, Pierre Lévy e outros. Sem piadinhas, isso tudo é muito ruim. Mesmo!
Enfim, nem só de boas leituras se faz um doutor, né?

Tamara Takaoka disse...

OI!
Pois é, as vezes tenho a impressão de ter multipla personalidade, tantos perfis... e tenho medo de me perder entre elas.
É bom ver também que dá pra viver sem, não se deixar dependente, esse tempo sem computador acho que está sendo bom pra mim.
Esse post me deu vontade de ler sobre o assunto, vamos ver no que dá... é sempre melhort ser uma usuaria consciente, não?
Me indentifico principalmente com o enfoque dessa sua profa, comprada ou não parece que tem um conteúdo bacana aí, ou eu que sou uma otimista incorrigivel?
Na real vim comentar, pra deixar um textinho que uma amiga virtual postou em seu bolg meses atras e que na época pareceu dizer exatamente o que eu gostaria de dizer pra explicar porque ainda acredito em conhecer ou manter contato com pessoas pela rede.
http://belezasemtamanho.blogspot.com/2009/10/o-computador-e-beleza-verdadeira.html
E sinceramente Kibe , eu te conheço mais agora do que quando te via no onibus ou no corredor, mesmo que não seja muito.
Feliz 2010!

:: Soul Sista :: disse...

Descobri, Marcio Macedo, que nao sou sua amiga verdadeira... Nao tenho seu numero de telefone! ISSO E SERIO!!!! rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

Ei, blase demais, um 2010 mo bom proce, ta bom:

Beijos

Márcio Macedo disse...

Obrigado pelos comentários!

Ari, o último livro do Castells até que é interessante, mas o jeito dele escrever é horrível. O que pode ser dito em duas páginas é extendido em dez.

Tamara, li o texto da sua amiga e achei bem legal. Ela capta bem as mudanças que passamos nos últimos 20 anos talvez. Lembro que até 1995 mandava muitas cartas para amig@s, hoje...

Fabiana, não tem o meu número porque não quer, tá no Facebook!

Abraços e beijos a tod@s!

Angélica Basthi disse...

Kibe, gostei muito do seu olhar sobre as novas tecnologias de comunicação. Pareceu-me q o q + te incomoda é o uso delas e esse narcismo exacerbado como principal resultado. Parece q, mesmo c/ novas ferramentas, a velha questão filosófica mantém-se viva: como lidar c/ o humano ou como o humano lida com o mesmo e o outro.

Conheço alguns dos teóricos q vc citou, fora os q pesquisam a SL (repito aqui, acho a SL uma esquisitice só). Mas entendo q devemos fazer o q vc fez (ainda q a contragosto): procurar conhecer essas ferramentas e entender o seu universo. Até mesmo p/ saber o q não queremos e como responder a isso.

O problema das novas tecnologias de comunicação é q invadem nossas vidas s/ quase nunca nos pedir licença ou permissão.

Creio q é preciso descobrirmos o q fazer c/ isso. Sou da turma q acredita q é possível torná-las favoráveis à construção de um outro mundo, uma outra coisa... Um mundo possível? Talvez...

Abço e ótimo 2010!!!

Unknown disse...

Bem, 10 anos se passaram praticamente desde a publicação desse seu texto , e amigo, e as pessoas só só pioraram esse narcisismo e toda essa curiosidade sobre a vida alheia e o consumo desenfreado de informações idiotas nas redes sociais .