quarta-feira, 13 de agosto de 2008

And the life goes on...

Ok, vamos lá! Mais um dia na América, pois vocês sabem que para os norte americanos América significa América do Norte. O resto, Central America ou Latin America, não são Américas de verdade (ou praticamente não existem). Então quando eles dizem “God bless the America” saibam que estamos fora das bênçãos. Passei o dia todo respondendo e-mails e assistindo TV (já que eu já era um couch potato – termo para quem fica o dia e noite sentado na frente da televisão assistindo e comendo porcarias – mesmo antes de vir para esse país). Pois é, responder e-mails toma tempo, mas é divertido. Vir para cá e mandar mensagens coletivas convidando para bota foras, festas e enviando relatos de viagem me colocou em contato com várias pessoas que não via (vejo) a “miliano”.

Well, vocês devem estar curiosos para saber por que não é possível beber em Stamford aos domingos, não?! Confesso que exagerei um pouquinho, mas o que acontece é que os supermercados aqui vendem bebida alcoólica até determinada hora da tarde dominical, mais exatamente às 5 horas. Depois a seção de bebidas do estabelecimento é literalmente fechada. Descobri essa maravilha ao fazer compras com Dionne na noite de domingo quando animadamente disse que iria comprar umas brejas para beber durante o jantar. Semana que vem vou tirar uma foto da seção de bebidas fechada e colocar aqui. Bizarro!

Continuando a falar de cachaça, ontem tive minha primeira experiência com a chamada brown paper bag. Depois de andar como um louco à toa para “tentar” solucionar um problema no International Student Service da New School resolvi relaxar um pouco. Entrei numa espécie de restaurante e lanchonete e fui à seção de bebidas. Comprei uma Corona e me dirigi ao caixa. Ao pagar fui automaticamente presenteado pelo atendente com uma sacolinha de papel pardo no tamanho de uma garrafa long neck. Perguntei ao cara que me atendia se poderia beber a cerveja ali (ciente de que não seria uma boa idéia sair bebendo o bagulho na rua) e ele respondeu que sim. Contudo, subitamente senti vontade de desafiar o perigo e segui em frente: pus a garrafa na sacolinha de papel pardo e sai na Fifth Avenue. Ao pisar da calçada comecei a sentir os olhares reprovadores e alguns até assustados, mas como eu sou brasileiro e não desisto nunca, continuei firme e forte bebendo minha cerveja mexicana dentro do saquinho pardo. A certa altura me lembrei de um dos personagens do clássico hood movie do Hughes Brothers "Menace to the society" (1993), ou seja, um “young (in my case not so young!) Black male who doesn’t give a damn about America”. Segundo o que sei, essa parada do brown paper bag é um misto de resquício da lei seca com as velhas leis que preservam a liberdade individual. Ou seja, em muitas cidades não é permitido beber na rua, contudo, o saquinho resolve o seu problema já que com ele ninguém vê o que você está bebendo. Achou ridículo ou hipócrita? Pois é, mas funciona! *rs*

A propósito, o meu grande amigo e conterraneo Professor Doutor Ari Brito, atualmente lecionando filosofia na Universidade Federal do Mato Grosso, ao ler meu relato etnográfico sobre o Harlem corrigiu-me dizendo que os carros pretos que por lá circulam não são exatamente taxi cabs, mas carros de aluguel. Arizão, para tirar a dúvida farei uma corrida e entrevistarei o motorista, se tem uma coisa que os meus amigos antropólogos me ensinaram é que sempre devemos dar voz aos nativos! *rs*

Comprar, comprar e comprar! Comer, comer e comer! That’s the American culture! Mas vou ser bem sincero: os caras sabem como comprar e comer! Simpatizantes da cultura hip hop e adoradores de tênis estão em casa aqui. Os pares de tênis custam muito mais em conta do que no Brasil. Um bom tênis para correr sai por uns US$ 35 (uns R$ 56) e um par de botas Timberland, que no Brasil deve custar por volta de R$ 300, aqui sai por US$ 80 (uns R$ 128). Um Air Force 1 (tênis que se tornou um clássico dentro da cultura hip hop e voltou com força total nos últimos anos) custa por volta de US$ 60 (uns R$ 96)...

Pause: nesse exato momento, enquanto escrevo, estou assistindo o programa da Tyra Banks (aquela ex-modelo negra linda!) onde ocorre uma discussão sobre as diferenças de tratamento dado as mulheres negras de pele clara e escura ou, em termos americanos, light skinned women e dark skinned women. Nem preciso dizer que algumas das mais claras nem seriam consideradas negras no Brasil! *rs* Basicamente o programa segue o formato de um culto evangélico onde todo mundo dá testemunhos a respeito do assunto tratado no programa e o apresentador age como se fosse um pastor estimulando as pessoas a falar. Hoje a discussão é sobre as vantagens que mulheres negras de pele clara têm em relação às de pele escura. Nada muito novo! Quem assistiu Jungle Fever (Febre na Selva) do Spike Lee sabe do que estou falando. Contudo, esses temas sempre criam polêmica na comunidade afro-americana e, mais importante, dão audiência a esses programas de TV claramente dirigidos a esse grupo racial. Todo mundo se emociona, chora e ri! Pause... Divertido, agora começou o testemunho dos homens. Um deles disse que prefere as negras mais escuras por que são mais fáceis de se abordar na balada e o outro disse que prefere as mais claras por que gosta de mulheres com cabelo comprido! Hilário! Okay, agora uma mina negra clara (que é tão clara que é considerada branca até nos padrões americanos) está contando sobre suas experiências, inclusive com os brancos que, segundos ela, muitos dos quais acham que ela é uma “white girl trying behaving as a black girl”. Funny! Black people is the same thing around the world. Depois escrevo mais, agora vou tentar correr um pouquinho para perder a barriga de chopp...