Convert Straddles Worlds of Islam and Hip-Hop
Mark Oppenheimer
Ele era um "garoto branco de 15 anos de idade com um pai diagnosticado com esquizofrenia, estuprador e separatista racial e mãe enfrentando seu segundo divórcio,"Michael Muhammad Knight escreve em suas mémorias de 2006, "Blue Eyed Devil: A Road Odyssey Through Islamic America." (Diabo dos Olhos Azuis: Uma Estrada de Odisséia Através da América Islâmica). Em sua casa em Rochester, ele "ouvia muito Public Enemy e lia 'A Autobiografia de Malcolm X' e aos 16 anos tinha um enorme poster do Ayatollah Khomeini na parede do seu quarto. Aos 17, Knight, tendo se convertido ao Islão, estava "circulando no interior do Paquistão com refugiados afegãos e somalis" e estudando "na maior mesquita do mundo: Faisal Masjid em Islamabad, que se parecia a uma nave espacial."
Isto foi precisamente metade de um tempo de vida passado. Knight, agora com 34 anos, é um estudante de doutorado em estudos islâmicos na Universidade da Carolina do Norte. Ele retornou para os Estados Unidos no mesmo ano que saiu e aos 20 anos trocou seu fundamentalismo islâmico por versão mais liberal e irreverente. Escritor prolífico, ele frequentemente satiriza seus camaradas islâmicos, cutucando os tradicionalistas. Ele é um bobo da corte para o mundo islâmico, um provocador em um kufi (adorno de cabeça usado pelos muçulamos).
Knight escreveu sete livros desde 2002, incluindo um de memórias no qual ele descreve sua desilusão com o Islão ortodoxo, um romance, "The Taqwacores," sobre um fictício submundo de roqueiros punks muçulmanos, e outro, "Osama Van Halen" (2009), sobre punks que sequestram Matt Damon e exigem papéis mais favoráveis de muçulmanos em filmes. Seus escritos têm perturbado muitos muçulmanos, assim como seus ataques a hiprocrisia e rebeldia no mundo islâmico. Até agora ele é reconhecido como um praticante (e danoso) aprendiz do islamismo sunita, a maior tradição muçulmana do mundo. Mas Knight encontrou uma nova maneira de surpreender seus camaradas fiéis. No seu sétimo livro, "Why I Am a Five Percent" ("Porque Eu Sou Um Cinco Por Cento") - Jeremy P. Tarcher/Penguim, publicado este mês - Knight professa sua afinidade com a Nação dos Deuses e Terras, também conhecido os Five Percent, um rebento misterioso e mal entendido da Nação do Islã.
Em 2007, Knight publicou uma história dos Five Percent, os quais estavam organizados no Harlem em 1964. Eles tomaram o nome do ensinamento da Nação do Islã de que 5 por cento das pessoas são "pobres professores por direito" que devem educar as massas oprimidas. Em "The Five Percents: Islam, Hip-Hop and the Gods of New York," (Os Cinco Por Cento: Islão, Hip-Hop e os Deuses de Nova York), Knight argumenta que a reputação de criminalidade do grupo foi largamente exagerada.
No entanto, muçulmanos ortodoxos se resentem da conexão existente na mente de algumas pessoas entre o Islão tradicional e os Five Percent cuja teologia eles consideram heresia. E os Five Percent não proferem mais qualquer conexão com o Islão tradicional.
Ainda, o que interessa não muçulmanos não é a precisão teológica mas o fascínio único dos Five Percent. O dialeto do secto, sua obscura numerologia e excêntrica formulação de orgulho racial - na qual homens negros são considerados "deuses" (gods), mulheres negras "terras" (earths) - tem largamente influenciado a música hip-hop e, consequentemente, algo para além da América negra.
Em seu livro anterior sobre o grupo, Knight reafirmava a profunda história dos Five Percent voltando ao seu fundador, Clarence 13X Smith, que se auto-denominava Allah. Ele também analizou mensagens dos Five Percent nas letras de artistas como Wu-Tang Clan, Busta Rhymes e 50 Cent (o qual pegou seu nome de outro 50 Cent, um trambiqueiro [hustler] de rua pertencente aos Five Percent e assassinado em 1987).
Para milhões de fãs de rap se questionado sobre aquelas letras bizarras do rapper RZA (foto acima) do Wu-Tang Clan, ou refletindo sobre as origens da afirmação de rua "Word" (palavra), ou mesmo se perguntando do porquê Erykah Badu (foto abaixo) ter nomeado seu filho Seven (sete), aqui estão no mínimo algumas respostas.
(Para os não iniciados, Seven (sete) refere-se a Deus.
Mas ao oferecer sua simpática exploração dos Five Percent, Knight nunca sugeriu que ele era um deles. Ele se colocava como um muçulmano sunita estudando um grupo desconhecido. No novo livro, no entanto, as coisas mudaram
Knight escreve agora que sua imersão no mundo dos Five Percent fez dele, de certa forma, uma pessoa de dentro. Ele não aceita a verdade literal de todas as suas afirmações (e ele é cético de que todos os Five Percent o fazem também). Mas ele não é mais um estranho ao grupo buscando se inserir.
"Enquanto meu encontro com os Five Percent influenciou meu pensamento sobre raça e religião," Knight escreve, "algo mais aconteceu, algo mais profundo do que posições intelectuais." Ele se viu contemplando essas questões "em termos dos Five Percent, usando linguagem dos Five Percent." "Tornou-se completamente natural para mim refletir sobre a data do dia usando Matemática Suprema," o sistema dos Five Percent no qual números representam conceitos espirituais (um é conhecimento, dois é sabedoria e assim por diante). Algumas vezes Knight "experimentou até mesmo uma ressonância emocional mais profunda com narrativas do ex Clarence 13X e seus deuses adolescentes do que aquelas do Profeta Muhammad e seus companheiros."
Knight não vive como um Five Percent. Alguns diriam que ele nem mesmo vive como um muçulmano. Nos seus dois anos em Harvard, onde em maio terminou um mestrado, "foi a mesquita talvez duas vezes," contou-me ele essa semana. Mas essa aparente tensão somente aponta para o principal argumento de "Why I Am a Five Percent"; esta identidade religiosa não é necessariamente sobre fé, ou mesmo sobre cultura. Acadêmicos gastam uma porção de tempo rebatendo a bolinha de tênis sobre o que "religião" é; para Knight, ela é uma forma de ver o mundo. Ele chegou ao Islã não por causa de afirmações verdadeiras e específicas sobre Deus, mas porque "aquelas orações árabes me deram o sabão certo para me lavar da América, meu pai, meu padrasto, o Jesus branco, e tudo mais dos colegas de classe ignorantes e caipiras do colégio católico." Agora, ele tem uma linguagem mais nova: menos mulçulmana, mais Five Percent. Na época que ele terminou seu primeiro livro sobre os Five Percent, o Harlem estava "mais conectado" com seu mundo "do que o inimaginado quadro da Arábia pré-moderna. Parar em fente do Hotel Theresa," onde Allah, o primeiro Five Percent, foi preso em 1965,"ou visitar o parque Marcus Garvey, onde Allah estabeceu seu primeiro parlamento, me afetariam não menos como uma peregrinação [à Meca]."
Na introdução de seu livro, Knight oferece um pouco de aconselhamento a outros acadêmicos fazendo trabalho de campo: "Mantenha sua defesa e distância. Vocês gastam muito tempo com cultura e falham ao checar a si mesmos, vocês se apaixonarão e se tornarão o seu objeto."
Mas como irá você saber se chegou perto demais do seu objeto? Para Knight houve claros sinais. Em 2008 ele fez a tradicional peregrinação a Meca. "Aqui estou eu," contou-me ele, "um quase muçulmano ortodoxo em Meca, andando ao redor da Kaaba" - o santuário que muçulmanos de todo o mundo encaram durante suas orações - "e interpretando ele através de matemática, as lições, letras do Wu-Tang. Eu tinha que dar sentido aquilo."