Meus amigos do movimento negro odeiam expressões do tipo mulato(a), pardo(a) e moreno(a) enquanto meu outro amigo, o antropólogo Peter Fry, afirma que é essa indefinição o que faz do Brasil Brasil. Para boa parte dos ativistas, as categorias citadas acima expõem uma negação de uma identidade negra devido ao estigma que paira sobre a mesma, enquanto que para alguns cientistas sociais elas nada mais são do que a recusa nacional a uma classificação racial mais rígida como a norte-americana (black e white). Pois bem, a briga é boa e o debate está inflado de sentimenos e interesses. Mas estamos perto do Carnaval, momento em que tanto ativistas e cientistas sociais devem se encontrar nos ensaios de escola de samba ou na avenida com uma das categoria em carne em osso: a mulata!
A mulata tem a sua história enraizada com a identidade nacional. É possível perceber isso numa leitura da literatura realista/naturalista de Aluízio Azevedo em livros como O Mulato (1881) e O Cortiço (1890), nesse último, aliás, é possível perceber uma clara distinção entre uma personagem feminina negra (Bertoleza) e outra mulata (Rita Baiana). Nos anos 1940, no Rio de Janeiro, o Teatro Experimental do Negro (TEN), sobre o comando de Abdias do Nascimento e captalizando uma idéia do sociólogo Guerreiro Ramos, passou a organizar um concurso de beleza chamado Bonequinha de Pixe e Rainha das Mulatas. Contudo, foi nos anos 1960 e 1970 que a valorização da mulata chegou ao seu auge com o Renascença Clube no Rio de janeiro organizando seus concursos de beleza e personagens como o empresário Oswaldo Sargentelli abrindo casas de shows e excursionando pelo mundo com apresentações de dançarinas conhecidas como "mulatas do Sargentelli". A mulata era a tal! Vista como produto nacional, objeto de admiração e desejo! Contudo, a posição da mesma no imaginário nacional sempre foi ambígua. Vários estudos acadêmicos mostram como a imagem dessa categoria racial tem sido associada a noção de "excesso" no que diz respeito a sexualidade. Alguns exemplos de livros que apontam isso são as obras de Teófilo de Souza Queiroz (1975) e Sonia Giacomini (1992) intituladas, respectivamente, Preconceito de cor e a Mulata na literatura brasileira e Profissão mulata: natureza e aprendizagem num curso de formação. O título de Giacomini é uma dissertação de mestrado que nunca foi publicada, mas é possível ler artigos que resumem o argumento central do trabalho e seu último livro, sobre o qual escrevi uma resenha e recomendo a leitura (do livro, não da resenha! *rs*), aborda o tema da mulher negra/mestiça numa outra perspectiva.
Porém, não é necessário ser intelectual/acadêmico para perceber o lócus social que nossa cultura reserva a mulher mestiça. O ditado popular "branca para casar, negra para trabalhar e mulata para fornicar" resume o enredo presente no romance de 1890 de Aluízio Azevedo. Ali Rita Baiana é a personagem que corrõe a moralidade do português Miranda, João Romão explora o trabalho e a sexualidade de Bertoleza como se essa fosse um animal para depois abandoná-la e desposar a branca Zulmira.
Mas o Carnaval, com sua alegria e sensualidade, vem chegando e a mulata ressurge com força total. A mulata Globeleza Valéria Valenssa já saiu de cena há alguns anos atrás (segundo consta, é frequentadora da Igreja Universal atualmente), Sargentelli faleceu vítima de um enfarto em 2002, mas continuam a surgir aqueles que querem substituir essas figuras lendárias. Isso fica provado pelo site que me foi enviado por um amigo diretamente do jornal Globo. Nesse caso você irá escolher a "Mulata do Gois 2009"... Divirtam-se ou odeiem! *rs*
A mulata tem a sua história enraizada com a identidade nacional. É possível perceber isso numa leitura da literatura realista/naturalista de Aluízio Azevedo em livros como O Mulato (1881) e O Cortiço (1890), nesse último, aliás, é possível perceber uma clara distinção entre uma personagem feminina negra (Bertoleza) e outra mulata (Rita Baiana). Nos anos 1940, no Rio de Janeiro, o Teatro Experimental do Negro (TEN), sobre o comando de Abdias do Nascimento e captalizando uma idéia do sociólogo Guerreiro Ramos, passou a organizar um concurso de beleza chamado Bonequinha de Pixe e Rainha das Mulatas. Contudo, foi nos anos 1960 e 1970 que a valorização da mulata chegou ao seu auge com o Renascença Clube no Rio de janeiro organizando seus concursos de beleza e personagens como o empresário Oswaldo Sargentelli abrindo casas de shows e excursionando pelo mundo com apresentações de dançarinas conhecidas como "mulatas do Sargentelli". A mulata era a tal! Vista como produto nacional, objeto de admiração e desejo! Contudo, a posição da mesma no imaginário nacional sempre foi ambígua. Vários estudos acadêmicos mostram como a imagem dessa categoria racial tem sido associada a noção de "excesso" no que diz respeito a sexualidade. Alguns exemplos de livros que apontam isso são as obras de Teófilo de Souza Queiroz (1975) e Sonia Giacomini (1992) intituladas, respectivamente, Preconceito de cor e a Mulata na literatura brasileira e Profissão mulata: natureza e aprendizagem num curso de formação. O título de Giacomini é uma dissertação de mestrado que nunca foi publicada, mas é possível ler artigos que resumem o argumento central do trabalho e seu último livro, sobre o qual escrevi uma resenha e recomendo a leitura (do livro, não da resenha! *rs*), aborda o tema da mulher negra/mestiça numa outra perspectiva.
Porém, não é necessário ser intelectual/acadêmico para perceber o lócus social que nossa cultura reserva a mulher mestiça. O ditado popular "branca para casar, negra para trabalhar e mulata para fornicar" resume o enredo presente no romance de 1890 de Aluízio Azevedo. Ali Rita Baiana é a personagem que corrõe a moralidade do português Miranda, João Romão explora o trabalho e a sexualidade de Bertoleza como se essa fosse um animal para depois abandoná-la e desposar a branca Zulmira.
Mas o Carnaval, com sua alegria e sensualidade, vem chegando e a mulata ressurge com força total. A mulata Globeleza Valéria Valenssa já saiu de cena há alguns anos atrás (segundo consta, é frequentadora da Igreja Universal atualmente), Sargentelli faleceu vítima de um enfarto em 2002, mas continuam a surgir aqueles que querem substituir essas figuras lendárias. Isso fica provado pelo site que me foi enviado por um amigo diretamente do jornal Globo. Nesse caso você irá escolher a "Mulata do Gois 2009"... Divirtam-se ou odeiem! *rs*
7 comentários:
Oi Kibe!! Que bom encontrá-lo por aqui!!!! Gostei muito do texto....
E uma coisa é certa: "se vc procura alguém do movimento e não consegue achar...só ir no baile de carnaval que tá todo mundo lá... pra se divertir e pra criticar...né???
bjossss.
Hi Alguém,
Pena que os bailes de carnaval estão desaparecendo, não?! Vi uma reportagem tempos atrás que os clubes estão organizando cada vez menos bailes devido a uma série de fatores que não me lembro bem agora (acho que tinha haver com a violência, drogas, custos e o esvaziamento das famílias desses eventos). Por outro lado, o carnaval popular de rua tem ressurgido em lugares como o Rio de Janeiro. Mas nós, paulistas, continuamos a pagar para assistir o desfile no Anhembi e depois fazemos um "bate e volta" pra Praia Grande! *rs* Eu, infelizmente, vou ver o carnaval de longe passando frio...
Beijos!
Em vez de me deparar com mulatas vou, com sorte, topar com "light skinned girls"...
Oi Kibe;
Aqui é a Giovana. Não sei se lembra de mim. Faço doutorado na Unicamp com o Sidney e nos conhecemos no Fábrica das Fábricas. Eu chego aí em NY nesta terça, dia 13 de janeiro, e vou ficar um ano fazendo bolsa sandwich. A casa que ia ficar furou, então estou tentando procurar um lugar para já chegar aí com algo fechado. Tenho visitado o Craiglist, mas como não conheço nada, não tenho muitos critérios de escolha. Será que você sabe de algo? Meu mail é: gixavier@yahoo.com.br
BJKS!
Que que é isso Kibe: "encontrar a categoria mulata" que negócio machista, mulher, seja ela branca, azul, preta ou vermelha não é categoria!
Bjos irados,
Gabriela
E uma pergunta que não quer calar: em qual categoria de homem você se enquadra? rsrs
bjos,
Hey Gabi,
Mulata pode ser uma categoria de classificação racial usada pelas pesoas, mas uma categoria de análise sócio-antropológica incorporada por pesquisadores em sua análise. O engraçado é que muitas mulheres, mesmo que você não goste disso, incorporam a mulata nessa época do carnaval. Ah, e mulher também é uma categoria sexual (homem/mulher) que é diferente de gênero (masculino/feminino).
Bem, quanto a mim estou em várias categorias: preto (racial), homem (sexo), hetero (orientação sexual), masculino (gênero) e, de acordo com você, "machista"...
Ah, mas minha categoria predileta e de homem admirador das mulheres pretas.. .
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