sábado, 18 de maio de 2013

An Oversimplicafition of Her Beauty


Devido a insistentes pedidos de minha namorada Moniquetiz e minha querida truta Marília Gessa fui assistir sábado passado An Oversimplification of Her Beauty (2012), filme dirigido por Terence Nance e lançado mês passado nas telonas gringas. Mônica e Marília estavam fascinadas pelo trailer do filme que teve o apoio e participação (de alguma forma) do rapper Jay-Z, do ator/comediante/escritor Wyatt Cinac,  da atriz e ex modelo Joy Briant e a jornalista, diretora e crítica cultural Dream Hampton.  Não me pergunte o papel que cada uma dessas pessoas desemprenhou no filme, pois não sei e estou com preguiça de pesquisar sobre. Também não li nenhuma resenha do filme antes ou depois de assisti-lo, algo que dá certa autenticidade/originalidade a análise meia boca que segue (trailer abaixo).



Sumarizando o filme, a sinopse do mesmo afirma que (retirando os adjetivos que antecedem a descrição) "AN OVERSIMPLIFICATION OF HER BEAUTY, documents the relationship between Terence and a lovely young woman (Namik Minter) as it teeters on the divide between platonic and romantic. Utilizing a tapestry of live action and various styles of animation, Terence explores the fantasies, emotions, and memories that race through his mind during a singular moment in time" (visite o site AQUI)


Quando decidi assistir o filme de Nance esperava algo próximo da nova onda de filmes negros que surgido nos EUA em fins dos anos 2000. Talvez a primeira película desse ainda incipiente movimento seja Medicine For Melancholy (2008) sobre o qual escrevi aqui no blog há quatro anos atrás (leia AQUI). Ano passado tive o prazer de assisir Pariah (2011), estimulado pelo artigo do crítico cultural Nelson George publicado no The New York Times (leia AQUI). Resumidamente, George defende o argumento de que essa nova safra de diretores estabelecem uma complexificação da identidade negra nos EUA e na diáspora africana trazendo para dentro da discussão elementos como gênero, sexualidade, classe e nacionalidade. Com essa expectativa paguei 18 Obama$ e sentei minha bunda preta num cinema do Village para assistir AN OVERSIMPLIFICATION OF HER BEAUTY.


O que a película tem de melhor é o não dito. É um filme que busca dissertar sobre amor e relacionamentos contemporâneos numa cidade moderna, rápida e capitalista até o último fio de cabelo: Nova Iorque. Apesar do filme ser totalmente racializado (todos os personagens são negros) não há nenhuma discussão sobre relações raciais ou racismo propriamente dito: ótimo! Há toda uma iconografia negra, obviamente, que lembra em muito os primeiros e mais radicais filmes de Spike Lee como She's Gotta Have It (1986) e Do The Right Thing (1989). A iconografia está no "afro" psicodélico, nos ternos coloridos e roupas cuidadosamente despojadas que Terence (diretor e um dos personagens principais) veste durante o filme e que remetem a figura de Jimmy Hendrix, em imagens do Brooklyn negro que cada vez mais é parte do passado devido a gentrification (leia AQUI artigo sobre isso no The New York Times) e as dores e dúvidas dos relacionamentos amorosos.


Mas fora isso, tudo soa extremamente artificial em Oversimplification. Não há um roteiro linear e muitas vezes a platéia fica perdida com a justaposição de diferentes histórias/filmes. A película começa dando sinais que vai seguir a estética de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) com sobreposição e mudança rápida de imagens acompanhandos por música e narração frenética, mas depois de algum o diretor desiste desse caminho. A narração é toda afetada pelo uso de termos que remetem a um pseudo-intelectualismo que deseja ser irônico e ao mesmo tempo sofisticado, mas que no final das contas acaba não tendo graça alguma (típico humor hipster falsamente esperto e blasé). As animações são chatas, demoradas, cansativas e cheias de referenciais que não fazem o menor sentido a quem assiste o filme. Mais que isso: o uso exacerbado de animações, desenhos com estética de mangás japoneses, narração, repetição e diálogos deslocados entre os personagens passam a dar uma sensação de cansaço a quem assiste uma vez que o filme poderia ter a metade do tempo. Aliás, o filme tem até mesmo um certo machismo, pois a história é quase em sua totalidade narrada na perspectiva de Terence sobre suas relações com ex-namoradas e casos. Mulheres quase não falam.


Enfim, você poderá conferir por si próprio/a esse detalhes quando o filme aportar pelo Brasil em algum festival ou mostra (ou você baixá-lo em algum site gringo). Mas fica a dica: Oversimplification talvez entre para a lista daqueles filmes que as pessoas fazem um puta esforço em assistir já que se trata da sensação do momento e leva o "sponsorship" de uma série de celebridades negras gringas. Contudo, o filme não passa de uma exercício de estudante de cinema tentando provar que entende da sétima arte e consegue ser ao mesmo tempo diferente e inovador. Nesse processo ele esquece de um detalhe que aprendi com meu amigo Noel Carvalho: cinema se trata de entretenimento, seja mais ou menos intelectualizado, ele tem que fazer a audiência comprar e se deliciar com o argumento e a história do diretor. Não comprei nem me deliciei com a história/argumento de Terence Nance.

Muita Paz, Muito Amor!

domingo, 12 de maio de 2013

Nova Biografia de Malcolm X Traduzida Para o Português



Minha amiga Jaqueline Lima Santos me avisou dias atrás que está previsto para o próximo dia 25 de maio o lançamento em português da mais recente biografia de Malcolm X, escrita pelo historiador Manning Marable e publicada nos EUA em abril de 2011 (mais info AQUI). Essa é uma ótima notícia para quem tem curiosidade em ler o novo livro, mas não possue fluência em inglês. Na época do lançamento do livro por aqui escrevi uma resenha para o blog que logo depois foi publicada na revista Sankofa (leia AQUI). Malcolm X: A Life of Reinvention se tornou um best seller nos EUA entrando para a lista do jornal The New York Times de livros de não ficção mais vendidos naquele ano. No ano seguinte a obra ganhou o prêmio Pulitzer para livros de história. O lado triste do lançamento do livro em 2011 foi que seu autor, o historiador e professor da Columbia University, Manning Marable, faleceu três dias antes do livro vir a público.

Fato também triste e curioso que coincide com a edição do livro no Brasil é a notícia veiculada essa semana da morte do neto de Malcolm X, Malcolm Shabazz.  Shabbaz, 28 anos, ganhou notoriedade e teve sua vida marcada de forma negativa em 1997, aos 12 anos, por ter sido responsável pelo incêndio no qual sua avó, Betty Shabazz, foi morta. O neto de Malcolm teve uma vida curta e problemática (com entradas e saídas da prisão) que findou numa área turística da Cidade do México na manhã da última quinta-feira. As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas, mas a polícia mexicana declarou que Shabazz foi vítima de agressão do lado de fora de um bar (leia mais AQUI). A morte do neto de Malcolm me fez recordar um trecho da primeira biografia de X escrita por Alex Haley e na qual o ativista afirmava que seu pai havia sido morto de forma violenta e que ele tinha certa percepção que o mesmo ocorreria com ele. Infelizmente, a previsão de Malcolm não só se concretizou, mas se perpetou de forma trágica para sua esposa e neto.

Na foto acima Malcolm X segura suas filhas Qubilah (à esquerda), mãe de Shabazz, e Attilah em 1963.

Muita Paz e Muito Amor! 

sábado, 4 de maio de 2013

Dançando com Bobbito Garcia no East/Spanish Harlem


Lugares para se dançar em Nova Iorque abundam. Há opções para todos os gostos e bolsos. Estudante como sou, priorizo os lugares que, além de tocar alguma coisa que eu tenha afinidade, tenham um preço em conta. O local ao qual me refiro nesse texto foi descoberto de forma bastante acidental se tratando de uma famosa dica de insiders. Toda primeira segunda-feira do mês Bobbito Garcia, a.k.a. Kool Bob Love (clique AQUI), toma a frente dos toca discos no bar Camaradas Del Barrio (clique AQUI para visitar) localizado no East/Spanish Harlem. Garcia é uma lenda urbana na Big Apple tendo descoberto grupos de rap que ficaram famosos como Wu Tang Clan e Nas, escrito em revistas de hip hop (Rap Pages e The Source) e atuando em outras áreas relacionadas a cultura hip hop. Ele também é DJ, fotógrafo, colecionador de discos, documentarista e jogador de pick up basketball, assunto sobre o qual dirigiu um documentário ano passado intitulado Doin' It In The Park (assista trailer abaixo).



Portanto, já sabe: se estiver por Nova Iorque em uma primeira segunda-feira do mês (como a próxima) cole no East Harlem onde Bobbito controla as pick ups das 8 da noite a 1 da manhã. No set list da lenda rola muito R&B, hip hop new e old school, música latina (salsa, merengue, bossa nova, música popular brasileira, samba e até samba-rock), funk, soul e break beats. Mas o mais legal é que Bobbito toca tudo isso via canções que raramente você ouve em festas mais comuns, ou seja, é uma festinha especial e seletiva em que ele se sente em casa para sair dos toca discos e até dançar junto com o público.  Paga-se apenas US$ 5 para entrar e o preço da cerveja e dos pratinhos não deixa ninguém pobre. Enfim, boa música, cerveja e comida por um preço justo!

Por fim, se você gostou do trailer do documentário, dá pra comprar o filme de Garcia por US$ 9.90 AQUI

Muita Paz, Muito Amor!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Marcadores de Classe em Nova Iorque

Morar em Nova Iorque tem me feito pensar muito em classe, um conceito que tem voltado a mesa de discussão dos sociólogos contemporâneos após um período de descrédito. A sociedade norte-americana é dividida basicamente por grupos que se alinham em termos classe e elementos étnico-raciais, mas a desigualdade econômica tem crescido nos últimos tempos principalmente após o governo de Bush filho e a crise econômica que se arrasta desde 2008. As clivagens étnico-raciais são, na minha opinião, mais visíveis do que as de classe, apesar de muitas vezes as duas categorias estarem sobrepostas. Mas é justamente a dinâmica de uma cidade como Nova Iorque, marcadamente diversificada do ponto de vista étnico-racial e extremamente cosmopolita, que faz as distinções de classe tão interessantes de ser observadas. Vou elencar três, a saber: a) ser magro b) a ausência ou manipulação de inscrições no corpo, tatuagens e c) ser vegetariano. Na minha opinião, esses são os três marcadores de classe mais discretos de serem observados nos novaiorquinos e estão alocados, de uma forma ou de outra, no corpo das pessoas. Nesse sentido, sigo a orientação do sociólogo francês Pierre Bourdieu para o qual a desigualdade social da sociedade se cristaliza e toma forma no corpo dos indivíduos.
Primeiro uma aula rápida de sociologia. Classe é um conceito fundante em sociologia que explica as formas como indivíduos/grupos agem, se organizam e se agrupam na sociedade. Há três definições clássicas do conceito: 1) oriunda de Karl Marx onde classe é entendida como a posição que ocupamos na estrutura de produção capitalista: burguesia (os que dentem os meios de produção) e proletariado (aqueles que não possuindo os meio de produção, vendem sua força de trabalho). Ainda há a polêmica posição intermediária, vulgarmente chamada de "pequena burguesia" (burocracia, intelectuais, entre outros); 2) oriunda de Max Weber em que classe é dado pela quantidade de bens materiais/econômicos que o indivíduo possue e 3) oriunda de Pierre Bourdieu onde a posição de classe é dada pela articulação entre vários tipos de capitais (simbólico, econômico e cultural) sendo que os marcadores de classe são observados no que o sociólogo denominada de "habitus", ou seja, a cristalização de formas/traços de classe em ordenamentos mentais, físicos/estéticos e de técnicas corporais que estabelecem distinção social.


Minhas análises sobre o marcador social classe estão amparados na perspectiva de Bourdieu, que é mais flexível, complexa e incorpora as elaborações de classe teorizadas por Marx e Weber.  Para Bourdieu, classe é responsável por criar uma espécie de "estilo de vida" marcado pelo consumo de bens materias, simbólicos e culturais. Amanhã (ou dentro de alguns dias) falarei da idéia de magreza como um dos elementos que estabelece distinções de classe em Nova Iorque.

Muita Paz, Muito Amor!