Devido a insistentes pedidos de minha namorada Moniquetiz e minha querida truta Marília Gessa fui assistir sábado passado An Oversimplification of Her Beauty (2012), filme dirigido por Terence Nance e lançado mês passado nas telonas gringas. Mônica e Marília estavam fascinadas pelo trailer do filme que teve o apoio e participação (de alguma forma) do rapper Jay-Z, do ator/comediante/escritor Wyatt Cinac, da atriz e ex modelo Joy Briant e a jornalista, diretora e crítica cultural Dream Hampton. Não me pergunte o papel que cada uma dessas pessoas desemprenhou no filme, pois não sei e estou com preguiça de pesquisar sobre. Também não li nenhuma resenha do filme antes ou depois de assisti-lo, algo que dá certa autenticidade/originalidade a análise meia boca que segue (trailer abaixo).
Sumarizando o filme, a sinopse do mesmo afirma que (retirando os adjetivos que antecedem a descrição) "AN OVERSIMPLIFICATION OF HER BEAUTY, documents the relationship between Terence and a lovely young woman (Namik Minter) as it teeters on the divide between platonic and romantic. Utilizing a tapestry of live action and various styles of animation, Terence explores the fantasies, emotions, and memories that race through his mind during a singular moment in time" (visite o site AQUI)
Quando decidi assistir o filme de Nance esperava algo próximo da nova onda de filmes negros que surgido nos EUA em fins dos anos 2000. Talvez a primeira película desse ainda incipiente movimento seja Medicine For Melancholy (2008) sobre o qual escrevi aqui no blog há quatro anos atrás (leia AQUI). Ano passado tive o prazer de assisir Pariah (2011), estimulado pelo artigo do crítico cultural Nelson George publicado no The New York Times (leia AQUI). Resumidamente, George defende o argumento de que essa nova safra de diretores estabelecem uma complexificação da identidade negra nos EUA e na diáspora africana trazendo para dentro da discussão elementos como gênero, sexualidade, classe e nacionalidade. Com essa expectativa paguei 18 Obama$ e sentei minha bunda preta num cinema do Village para assistir AN OVERSIMPLIFICATION OF HER BEAUTY.
O que a película tem de melhor é o não dito. É um filme que busca dissertar sobre amor e relacionamentos contemporâneos numa cidade moderna, rápida e capitalista até o último fio de cabelo: Nova Iorque. Apesar do filme ser totalmente racializado (todos os personagens são negros) não há nenhuma discussão sobre relações raciais ou racismo propriamente dito: ótimo! Há toda uma iconografia negra, obviamente, que lembra em muito os primeiros e mais radicais filmes de Spike Lee como She's Gotta Have It (1986) e Do The Right Thing (1989). A iconografia está no "afro" psicodélico, nos ternos coloridos e roupas cuidadosamente despojadas que Terence (diretor e um dos personagens principais) veste durante o filme e que remetem a figura de Jimmy Hendrix, em imagens do Brooklyn negro que cada vez mais é parte do passado devido a gentrification (leia AQUI artigo sobre isso no The New York Times) e as dores e dúvidas dos relacionamentos amorosos.
Mas fora isso, tudo soa extremamente artificial em Oversimplification. Não há um roteiro linear e muitas vezes a platéia fica perdida com a justaposição de diferentes histórias/filmes. A película começa dando sinais que vai seguir a estética de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) com sobreposição e mudança rápida de imagens acompanhandos por música e narração frenética, mas depois de algum o diretor desiste desse caminho. A narração é toda afetada pelo uso de termos que remetem a um pseudo-intelectualismo que deseja ser irônico e ao mesmo tempo sofisticado, mas que no final das contas acaba não tendo graça alguma (típico humor hipster falsamente esperto e blasé). As animações são chatas, demoradas, cansativas e cheias de referenciais que não fazem o menor sentido a quem assiste o filme. Mais que isso: o uso exacerbado de animações, desenhos com estética de mangás japoneses, narração, repetição e diálogos deslocados entre os personagens passam a dar uma sensação de cansaço a quem assiste uma vez que o filme poderia ter a metade do tempo. Aliás, o filme tem até mesmo um certo machismo, pois a história é quase em sua totalidade narrada na perspectiva de Terence sobre suas relações com ex-namoradas e casos. Mulheres quase não falam.
Enfim, você poderá conferir por si próprio/a esse detalhes quando o filme aportar pelo Brasil em algum festival ou mostra (ou você baixá-lo em algum site gringo). Mas fica a dica: Oversimplification talvez entre para a lista daqueles filmes que as pessoas fazem um puta esforço em assistir já que se trata da sensação do momento e leva o "sponsorship" de uma série de celebridades negras gringas. Contudo, o filme não passa de uma exercício de estudante de cinema tentando provar que entende da sétima arte e consegue ser ao mesmo tempo diferente e inovador. Nesse processo ele esquece de um detalhe que aprendi com meu amigo Noel Carvalho: cinema se trata de entretenimento, seja mais ou menos intelectualizado, ele tem que fazer a audiência comprar e se deliciar com o argumento e a história do diretor. Não comprei nem me deliciei com a história/argumento de Terence Nance.
Muita Paz, Muito Amor!