sexta-feira, 1 de julho de 2011

Arma Branca

 

SAMPA. Alguma noite de 1975... ou 6... ou 7...

"MÃO NA CABEÇA, NEGÃO FILHO DA PUTA!"

Duas horas depois Gerson encontrava-se parado em frente ao delegado com um olho roxo, o black cheio de laquê todo desarrumado e o motivo da prisão postado em cima da mesa do delegado a sua frente. "Puta que pariu! Já falei que essa negrada num aprende mesmo. Porra, quer ir pro baile balançar a bunda com essa música esquisita ainda vá lá, mas sair armado de casa é cana, meu!", dizia a “otoridade” irritada se dirigindo a um policial enquanto manuseava um garfo encontrado no bolso da calça do meliante, Gerson.

"MÃO NA CABEÇA, NEGÃO FILHO DA PUTA!"

Uma hora depois Gerson estava de volta ao barraco descalço e perdendo pela segunda semana consecutiva o baile do Palmeiras. O pente flamengo lhe salvou da cana dessa vez, mas se encheu de cólera quando o PM abriu um sorriso lhe dizendo com a boca cheia, “E a nota fiscal desse tenão novo aí, hein negrão??”

Uma semana depois. Ginásio do Palmeiras. Gerson no canto do salão olhava para as pretas enormes que passavam a sua frente, mas nenhuma correspondia aos seus olhares. Já estava de saco cheio... “Também”, pensou ele com seus botões, “que nega vai dar bola pra um neguinho de chinelo de dedo e cabelo raspado!”