Lá em Sun Paulu havia uma moça preta grande grande grande que andava com um caderninho bem pequenino dentro da bolsa. Nas páginas brancas do caderninho de capa preta ela tomava notas das coisas grandes e pequenas desse mundo que ela via: a borboleta, o cravo, a rosa, o homem da gravata florida e de sorrisso com dente cariado (dentista é caro em Sun Paulu!). Mas a moça grande grande grande do caderninho de capa preta não mostrava seus rabiscos pra ninguém pois, segundo fofocas das amigas, as notas faziam parte de um projeto grande grande grande de dominar o mundo com todas as suas coisas grandes e pequenas através da sua beleza e simpatia. Um dia a moça grande grande grande perdeu o caderninho de capa preta na saída de um baile nostalgia no qual ela tomava nota das músicas e casais de gente preta que dançavam e faziam falsas juras de amor uns aos outros em sessões de melodia. Um moço baixinho e meio míope que usava um óculos antiquado pisou no caderninho e olhou pro chão animado pensando que fosse uma carteira cheia de dinheiro. Mas não. Era o caderninho bem pequenino de capa preta da moça grande grande grande. A moça grande grande grande só deu falta do caderninho quando chegou em casa de manhã e foi tomar nota de mais uma idéia para dominar o mundo com sua beleza e simpatia. Ficou desesperada! Se alguém tomasse ciência de seus planos de dominar o mundo com sua beleza e simpatia ela estaria perdida. Quatro estações se passaram e moça grande grande grande se desesperava cada vez mais numa busca obstinada pelo caderninho, mas ninguém sabia dele. Fez promessa pra São Longuinho, simpatia, foi pra Tietê pedir graça pra São Benedito, jogou búzios, consultou os pais véios e caboclos na umbanda e até contratou um detetive picareta que acabou com o pouco dinheiro que ela ainda tinha. A moça grande grande grande aprendeu inglês, francês, árabe e mandarim pra facilitar a busca, mas nada disso adiantou. Nem sinal do caderninho filho da puta com seus planos de dominar o mundo por meio da sua beleza e simpatia. Um dia chuvoso a moça grande grande grande se embelezou toda colocando o seu melhor vestido, sapato e arrumando o cabelo. A moça grande grande grande estava linda, mas estava triste. Seu caderninho se perdera pelo mundo das coisas grandes e pequenas e a cada dia que passava ela sentia menos vontade de viver, pois seus planos de dominar o mundo por meio da sua beleza e simpatia não existiam mais. Ela ia desistir de tudo e arrumar um emprego de burocrata tomando notas das coisas que ainda faltavam serem inventadas nesses mundo das coisas grandes e pequenas. Quando ela abriu a porta, se deparou com um negro baixinho, roupa surrada, míope usando óculos antiquado. Esse indivíduo era tido como louco, pois há exatamente um ano vinha batendo de porta em porta perguntando coisas sem sentido as moças bonitas. Quando a moça grande grande grande olhou para ele (de cima para baixo) notou que o maltrapilho segurava um caderninho preto nas mãos magras e delicadas. "Você é a moça grande grande grande que quer dominar o mundo com sua beleza e simpatia?" Quase sem reação a moça grande grande grande se engasgou toda e disse de supetão, "Sim, sou eu! Esse caderninho é meu?", "Não, não é mais, pois achado não é roubado!" A moça grande grande grande olhou com fúria para o homem baixinho e tomou o caderno dele de forma brusca. Bateu a porta na cara do vagabundo e se jogou no sofá para ler seus planos e notas no caderninho. Mas quando abriu o mesmo, percebeu que as páginas estavam em branco, ainda por serem escritas. Apenas uma página estava preenchida com letras de formas infantis: "Moça grande grande grande quer casar comigo? Meu nome é Mundo e eu sou um preto baixinho, míope e de óculos de grau antiquado!" Mundo, conquistado/apaixonado, esperava cabisbaixo e debaixo de chuva quando a moça grande grande grande abriu a porta novamente: "Caso mais tarde. Entra para evitar um resfriado".
domingo, 3 de julho de 2011
A Moça do Caderninho
Lá em Sun Paulu havia uma moça preta grande grande grande que andava com um caderninho bem pequenino dentro da bolsa. Nas páginas brancas do caderninho de capa preta ela tomava notas das coisas grandes e pequenas desse mundo que ela via: a borboleta, o cravo, a rosa, o homem da gravata florida e de sorrisso com dente cariado (dentista é caro em Sun Paulu!). Mas a moça grande grande grande do caderninho de capa preta não mostrava seus rabiscos pra ninguém pois, segundo fofocas das amigas, as notas faziam parte de um projeto grande grande grande de dominar o mundo com todas as suas coisas grandes e pequenas através da sua beleza e simpatia. Um dia a moça grande grande grande perdeu o caderninho de capa preta na saída de um baile nostalgia no qual ela tomava nota das músicas e casais de gente preta que dançavam e faziam falsas juras de amor uns aos outros em sessões de melodia. Um moço baixinho e meio míope que usava um óculos antiquado pisou no caderninho e olhou pro chão animado pensando que fosse uma carteira cheia de dinheiro. Mas não. Era o caderninho bem pequenino de capa preta da moça grande grande grande. A moça grande grande grande só deu falta do caderninho quando chegou em casa de manhã e foi tomar nota de mais uma idéia para dominar o mundo com sua beleza e simpatia. Ficou desesperada! Se alguém tomasse ciência de seus planos de dominar o mundo com sua beleza e simpatia ela estaria perdida. Quatro estações se passaram e moça grande grande grande se desesperava cada vez mais numa busca obstinada pelo caderninho, mas ninguém sabia dele. Fez promessa pra São Longuinho, simpatia, foi pra Tietê pedir graça pra São Benedito, jogou búzios, consultou os pais véios e caboclos na umbanda e até contratou um detetive picareta que acabou com o pouco dinheiro que ela ainda tinha. A moça grande grande grande aprendeu inglês, francês, árabe e mandarim pra facilitar a busca, mas nada disso adiantou. Nem sinal do caderninho filho da puta com seus planos de dominar o mundo por meio da sua beleza e simpatia. Um dia chuvoso a moça grande grande grande se embelezou toda colocando o seu melhor vestido, sapato e arrumando o cabelo. A moça grande grande grande estava linda, mas estava triste. Seu caderninho se perdera pelo mundo das coisas grandes e pequenas e a cada dia que passava ela sentia menos vontade de viver, pois seus planos de dominar o mundo por meio da sua beleza e simpatia não existiam mais. Ela ia desistir de tudo e arrumar um emprego de burocrata tomando notas das coisas que ainda faltavam serem inventadas nesses mundo das coisas grandes e pequenas. Quando ela abriu a porta, se deparou com um negro baixinho, roupa surrada, míope usando óculos antiquado. Esse indivíduo era tido como louco, pois há exatamente um ano vinha batendo de porta em porta perguntando coisas sem sentido as moças bonitas. Quando a moça grande grande grande olhou para ele (de cima para baixo) notou que o maltrapilho segurava um caderninho preto nas mãos magras e delicadas. "Você é a moça grande grande grande que quer dominar o mundo com sua beleza e simpatia?" Quase sem reação a moça grande grande grande se engasgou toda e disse de supetão, "Sim, sou eu! Esse caderninho é meu?", "Não, não é mais, pois achado não é roubado!" A moça grande grande grande olhou com fúria para o homem baixinho e tomou o caderno dele de forma brusca. Bateu a porta na cara do vagabundo e se jogou no sofá para ler seus planos e notas no caderninho. Mas quando abriu o mesmo, percebeu que as páginas estavam em branco, ainda por serem escritas. Apenas uma página estava preenchida com letras de formas infantis: "Moça grande grande grande quer casar comigo? Meu nome é Mundo e eu sou um preto baixinho, míope e de óculos de grau antiquado!" Mundo, conquistado/apaixonado, esperava cabisbaixo e debaixo de chuva quando a moça grande grande grande abriu a porta novamente: "Caso mais tarde. Entra para evitar um resfriado".
sábado, 2 de julho de 2011
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Arma Branca
SAMPA. Alguma noite de 1975... ou 6... ou 7...
"MÃO NA CABEÇA, NEGÃO FILHO DA PUTA!"
Duas horas depois Gerson encontrava-se parado em frente ao delegado com um olho roxo, o black cheio de laquê todo desarrumado e o motivo da prisão postado em cima da mesa do delegado a sua frente. "Puta que pariu! Já falei que essa negrada num aprende mesmo. Porra, quer ir pro baile balançar a bunda com essa música esquisita ainda vá lá, mas sair armado de casa é cana, meu!", dizia a “otoridade” irritada se dirigindo a um policial enquanto manuseava um garfo encontrado no bolso da calça do meliante, Gerson.
"MÃO NA CABEÇA, NEGÃO FILHO DA PUTA!"
Uma hora depois Gerson estava de volta ao barraco descalço e perdendo pela segunda semana consecutiva o baile do Palmeiras. O pente flamengo lhe salvou da cana dessa vez, mas se encheu de cólera quando o PM abriu um sorriso lhe dizendo com a boca cheia, “E a nota fiscal desse tenão novo aí, hein negrão??”
Uma semana depois. Ginásio do Palmeiras. Gerson no canto do salão olhava para as pretas enormes que passavam a sua frente, mas nenhuma correspondia aos seus olhares. Já estava de saco cheio... “Também”, pensou ele com seus botões, “que nega vai dar bola pra um neguinho de chinelo de dedo e cabelo raspado!”
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