Acordei tarde hoje e fui à cozinha onde minha mãe já dava os toques finais ao almoço: raviolli (acho que é assim que se escreve). Meu pai que é um ranzinza charmoso reclamava: "Mas só tem isso pra comer? E o arroz, feijão..." Sim, ele nunca come sem esses acompanhamentos. De minha parte, estava no processo de preparar minha dose diária de droga: cafeína. A TV da cozinha, há três na casa, estava sintonizada na Globo e transmitia o programa de Regina Casé, Esquenta. Não tenho saco nenhum para a programação da Globo, acho imbecilizante. Contudo, não há como você fugir dela em sua vida. Pelos posts de meus/minhas amigo/as no Facebook fico sabendo quais são os artistas quentes do The Voice Brasil, como foi a polêmica participação de Edi Rock no Caldeirão do Huck e que em alguma novela estão querendo fazer um moleque preto cortar o seu cabelo "selvagem". Pois bem, voltemos ao Esquenta. Nunca me dei ao trabalho de assistir a esse programa, acho chato. Por outro lado, entendo que o mesmo faz parte de uma política de reconhecimento e representação que coloca preto/as na TV e parte de suas manifestações culturais. E como é padrão Globo, o/as pretinho/as são super produzido/as e bonito/as. Dei uma "bizoiada" no programa enquanto preparava meu pretinho forte. Lá estavam Arlindo Cruz, Preta Gil, a garotada de um videoclipe de passinho patrocinado pela Coca-Cola que está circulando na internet (eu acho), a garota negra carioca que ficou famosa fazendo piadas sobre o comportamento das pessoas no Facebook além do músico Jorge Benjor. Mais um pouco de programa e Benjor faz uma performance cantando W/Brasil. Nesse momento lembrei de conversas que tenho sempre com meus amigos e namorada: Benjor um dia foi legal e nem era Benjor, mas sim Ben. Explico.
Jorge Benjor é uma referência musical para todo/as aquele/as que frequentaram espaços de sociabilidade negra e pobre em São Paulo entre os anos 1960 e 1990. Em qualquer batizado, festa de aniversário, casamento, baile, jantar dançante, churrasco, festa de debutante e outras festividades eram e ainda são tocadas músicas clássicas de Benjor compostas e gravadas por ele entre os 1960 e 1980. Aliás, muitas pessoas ainda se referem a ele nesses espaços como Ben e não Benjor, nome que o artista incorporou nos anos 1980 para evitar confusão com o músico norte-americano George Benson. Mas a mudança de nome pode ser interpretada também como uma linha divisora da musicalidade do artista. Se o Ben fazia uma tipo de música marcada por uma mistura magistral entre bossa-nova, soul, jazz, samba, funk e rock, que alguns classificaram como a melhor definição do que seria o samba-soul ou sambalanço ou samba-rock, o Benjor dos anos 1990 conseguiu sair de uma crise em sua carreira fazendo uma espécie de sonoridade que lembra em muito marchinhas chatas de carnaval e prestando homenagens a figuras conhecidas como o músico Tim Maia (o "síndico" da canção) e o publicitário Washington Olivetto (que segundo consta, encomendou a música). Pode ser sacanagem da minha parte, mas não lembro de nenhuma música contemporânea de Benjor além de W/Brasil. Definitivamente, a negrada que eu conheço e me incluo aclama e ouve o Jorge Ben e desconhece o Benjor. Para o nosso Ben!
Muita Paz, Muito Amor!