quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aimé Césaire no Panthéon



Não sei se a notícia teve alguma repercussão no Brasil, mas deveria: o poeta, escritor,  intelectual e político martiniquense Aimé Césaire (1913-2008) foi incluído no Panthéon, o prédio/instituição/mausoléo que presta homenagem as grandes figuras da história da França. Ali estão enterrados personalidades como Voltarie, Victor Hugo, Rousseau dentre outros. Césaire é o terceiro negro a ser homenageado pela instituição, antes dele foram honrados Toussaint Louverture (1743-1803), escravo livre líder na independência haitiana, e Louis Delgrés (1766-1802) soldado revolucionário que fez parte das tropas napoleonicas que se insurgiram contra reestabelecimento da escravidão na ilha de Guadalupe.

Ficheiro:Graffity Cesaire.JPG

Césaire foi, junto com o senegalense Leopold Sédar Senghor e o guianense Leon Damas (este último se casou com uma brasileira), fundador do movimento literário e político négritude nos anos 1930 enquanto era estudante em Paris. O grupo se reunia no bairro estudantil Quartir Latin, vizinhança da universidade Sorbonne, e lançou revistas literárias/políticas como  L' Étudiante Noir e Légitime Défense. O grupo passou a ter uma visibilidade maior quando foi publicado em 1948 a coletânea de poemas Le Nouvelle Poésie Négre et Malgache que contava com um prefácio do filósofo Jean Paul-Sartre.



No Brasil as idéias da négritude aportaram via o grupo do ativista, ator, escritor e dramaturgo Abdias do Nascimento. Abdias montou em 1945 no Rio de Janeiro o Teatro Experimental do Negro, companhia que participou ativamente do processo de renovação/modernização da cena teatral brasileira no pós-guerra. Em 1950 o grupo liderado por Abdias organizou o Primeiro Congresso do Negro Brasileiro e o Ironildes Rodrigues apresentou a tese Estética da Negritude, claramente inspirada nas idéias do poetas francófonos, o que causou rebuliço, acaloradas discussões e o racha do congresso entre, de um lado, um grupo de negros ativistas, e, de outro, de intelectuais/acadêmicos brancos. Entretanto, a influência do movimento político, literário estético nascido na França será incorporado por Abdias posteriormente quando ele escreve a peça Sortilégio (foto acima), no início da década de 1950.



Voltando a Césaire, seus livros mais conhecidos são Cahier d'un Retour Au Pays Natal (1939), Discours sur la négritude (1950) e Discours sur le Colonialisme (1955).  A cerimônia de homenagem a Césaire no Panthéon ocorreu semana passada, dia 6 de abril, e contou com a presença e discurso do presidente da França, Nicolas Sarkozy. O restos mortais do escritor continuarão na Martinica, de acordo com o desejo da família.

Obrigado Aimé Césaire, agora um imortal negro! A propósito, Frantz Fanon conta uma anedóta ótima em seu livro Peles Negras Máscaras Brancas afirmando que certa vez uma senhora branca desmaiou de emoção ao ouvir um discurso de Césaire tamanho o domínio da língua francesa que o poeta tinha. Acredite se quiser... :)

Muita Paz Muito Amor!