domingo, 3 de novembro de 2013

A Miséria do Novo Humor Brasileiro


Desde o ano passado que leio e escuto comentários positivos aqui e ali sobre o documentário O Riso dos Outros (2012) do diretor Pedro Arantes. Na quinta passada, depois de uma conversa com minha namorada que acabara de assistir o filme resolvi fazê-lo também. São por volta de cinquenta minutos de falas, muitas piadas e poucos risos. Digamos que foi assim ao menos de minha parte. A película busca captar a cena do emergente humor stand up brasileiro.

Sugiro vivamente que as pessoas assistam o filme. É um bom retrato da pobreza do novo humor brasileiro (ou do sudeste brasileiro) que nada faz do que requentar velhas fórmulas, ou seja, o humor desbocado, racista, sexista, homofóbico, misógino, classista e preconceituoso com qualquer forma de diferença física, social e étnica. O documentário capta as falas de figuras de ponta da cena stand up como os polêmicos Rafinha Bastos e Danilo Gentili além dos depoimentos do cartunista Laerte, do escritor Antonio Prata, da blogueira feminista Lola Aranovich, do político e ativista gay Jean Willys e outro/as comediantes, ativistas e acadêmicos. Em minha opinião, faltou a fala do público desse novo humor uma vez que eles são a outra ponta dessa cena artística.

O que me chamou a atenção em particular é a falta de formação e conhecimento político, intelectual, artístico da nova geração de comediantes tirando algumas poucas exceções. Fala-se que há uma "ditadura do politicamente correto" e que a "a piada é só uma piada". Pois bem, há dois anos atrás cursei uma disciplina da grade de meu doutorado com um professor que gosto muito chamado Terry Williams. O curso de Williams tinha um formato e título pouco usual mesmo para a pouco ortodoxa New School: Youth Culture: Sex, Drugs and Comedy. Na verdade, estudamos a junção dessas três temáticas no contexto urbano de Nova Iorque. Lemos textos teóricos sobre sexualidade, drogas e humor, fomos em shows de sexo, clubes de stand up e frequentamos cenas relacionadas ao consumo de drogas.

Ao fazer meu trabalho final para o curso tive a oportunidade de ler mais a fundo sobre humor do ponto de vista teórico além de me aprofundar na trajetória de um dos maiores comediantes norte-americanos: Richard Pryor (1940-2005).  O que me chamou a atenção à época é o acúmulo de literatura teórica sobre os conceitos de humor e piada e o fato do comediante ser um comentarista social que, através do humor e da piada, reflete sobre a realidade a sua volta descontruindo ou reforçando o status quo. Bons humoristas também são existencialistas por natureza uma vez que a sua experiência de vida torna-se material precioso que é revertido na elaboração de piadas que buscam a auto-ironia. Exemplo disso é a vida de Richard Pryor que nasceu dentro de um bordel e teve uma vida atribulada com suas várias namoradas e esposas, abuso de drogas com um toque requintado vindo da experiência de ser negro nos EUA dos anos 1960 e 1970. Para quem se interessa pelo tema e lê em inglês vale a pena checar a sua hilariante e muitas  vezes triste auto-biografia intitulada Pryor Convictions and Other Sentences lançada em 1995.  Abaixo segue um videozinho de Pryor contando sua piada sobre os animais na selva africana. Hilário!  Talvez o/as comediantes brasileiro/as pudessem aprender um pouquinho com ele, não?

Muita Paz, Muito Amor!