segunda-feira, 19 de abril de 2010

Linda e Reflexiva Nina...


 

Domingão é o dia da preguiça que os FDPs do Faustão e Silvio Santos (não esqueçamos do Gugu Liberato também) transformaram numa bosta em Brazilian lands. Nos EUA, pra negrada, é dia de ir à igreja entre a manhã e o início da tarde para em seguida se debruçar na glutonaria do brunch (breakfast [café da manhã] + lunch [almoço]). A canção Easy do grupo The Commodores, interpretada brilhantemente na voz de Lionel Ritchie, consegue capturar a preguiça e delícia dos domingos: "Ooh, that's why I am easy/Easy like a Sunday morning". Lembro de minhas manhãs dominicais em SP saindo da cama no começo da tarde e, depois de fazer um amorzinho "gotozinhu" com a ex-primeira dama, ir tomar café na padaria lendo a merda do Estadão, ficar com raiva ao ver a capa da Veja (que mentira!) na banca de jornal da esquina,  dar comida pro Martin (nosso gato vagabundo) e se jogar no sofá pra ler algum livro e decidir qual o sabor da pizza a comer no jantar... Enfim, gula, luxúria e preguiça - pecados capitais - são, de certa forma, socialmente permitidas no primeiro dia da semana. Aproveite...

Mas aqui em New York Shit geralmente gasto meus domingos na Bosta, opa, Bobst Library (NYU) lendo autores chatos de sociologia. Aliás, como a sociologia é chata, hein meu povo?! Hoje, entretanto, mudei de rotina e fiquei em casa em meu dia de Dona Maria ou Amélia: lavando roupa, limpando quarto (achei o controle remoto da TV que estava sumido há uma semana) e fuçando na Internet. E foi xeretando no blog de minha truta Fabiana Lima, o SoulSista, que encontrei outro blog, o Belezas Negras, onde me deparei com essa imagem simplesmente maravilhosa da cantora e pianista de jazz Nina Simone (1933-2003) que coloquei como abertura do post. Muitas coisas vieram a minha cabeça e tentarei organizar algumas aqui...

 http://www.kriso.ee/covers/large/978037/9780375424014.jpg

O post do blog fazia referência a uma biografia (imagem acima) de Nina recentemente lançada nos EUA e remetia a uma resenha do livro publicada no Estadão (leia AQUI), notícia que eu, coincidentemente, havia "tuitado" semanas atrás. Na verdade, conhecia o livro antes da publicação da resenha do jornalão brasileiro uma vez que nas minhas visitas e xeretadas a livraria Barnes & Noble da 18th Street (onde compro parte dos meus livros) havia topado com a obra. Entretanto, confesso que fiquei meio incomodado com o texto devido a alguns motivos bem específicos. A capa é linda e chamativa, mas ao virar o livro topei com a foto da escritora, uma tiazona loira na casa dos 50 anos. Meus/Minhas amig@s/leitore/as branc@s sejam compreensivos nesse aspecto. Admito que às vezes me limito com essa perspectiva bitoladora de enxergar todas as coisas meio que divididas entre preto e branco. Mas o que estava por trás de meu incômodo era também algo pessoal. Explico-me...

 http://respectable.files.wordpress.com/2009/05/nina-simone-2.jpg

A música de Nina Simone tem sido mais que especial para mim nos últimos tempos. Quando vi a capa do livro lembrei imediatamente de músicas que costumava ouvir - como Solitude e Nobody - meses atrás em meu iPhone no metrô durante minha viagem de volta para casa às três da manhã depois de um dia de trabalho na biblioteca. A música de Nina é para mim a cristalização de momentos de solidão, reflexão e mudança e, por conta disso, sua música tem um significado bastante especial em minha trajetória. Por outro lado, não há como sentir uma certa repulsa/desdém de ver autore/as branc@s escrevendo sobre artistas negr@s, como se rolasse uma espécie de espoliação. Esse é o mesmo sentimento que tenho quando olho para a biografia de Tim Maia escrita pelo jornalista Nelson Motta em 2006 (Vale Tudo: o som e a fúria de Tim Maia, Editora Objetiva [leia minha resenha do livro AQUI]).

Desse modo, espero que esse sentimento não seja lido pelos leitore/as do inbrog como uma forma de preconceito de minha parte, mas sim da perspectiva de alguém cuja a música desses artistas tem um significado que vai muito além do entretenimento se materializando em algo político.  Conjuntamente a isso há de minha parte uma preocupação de que o trabalho desses escritores, ao se abster de uma discussão política/racial do contexto no qual essas figuras negras estão envolvidas, acabem por reproduzir visões de senso comum ou estereótipos. O título do livro aqui em questão (Princess Noire: the tumultuous reign of Nina Simone, de Nadine Codonas, Pantheon Books, 464 páginas, US$ 30) lança luz sobre esse aspecto uma vez que o "tumultuado reino de Nina Simone" deve ser entendido numa perspectiva mais ampla do que significa ser negr@ e músico de jazz nos EUA entre os anos 1940 e 1960.

Não posso ir além em minha crítica, pois não li ainda o livro (pretendo fazê-lo em minhas férias no Brasil), mas o texto de Antonio Gonçalves Filho do Estadão não coloca muita enfâse em aspectos históricos, sociais e políticos mas sim psicanalíticos na formação da personalidade de Simone que, de acordo com o jornalista, é classificada como bipolar por sua biógrafa. Ora, tanto a personalidade como o self de um indivíduo não é formado num vazio social. Nessa perspectiva, boa parte dos músicos negros de jazz norte-americanos (exemplos clássicos são a cantora Billie Holiday [1915-1959] e o baixista Charles Mingus [1922-1979]) poderiam ser classificados como bipolares. Minha crítica é: personalidades só podem ser entendidas numa mediação entre a trajetória pessoal do indivíduo e a estrutura social e conjuntura histórica da sociedade na qual o/a mesmo/a está inserido. Digo isso influenciado por dois autores um deles escritor/ensaísta e o outro sociólogo: Norman Mailer (1923-2007) e Norbert Elias (1897-1990).

Mailer era americano e judeu e o texto ao qual me refiro aqui é o ensaio The White Negro (1957). Nesse pequeno texto Mailer desvenda a psicologia dos hipsters: brancos considerados desviantes no anos 1940/1950 por não incorporarem os valores da sociedade americana da época levando um estilo de vida hedonista com uso de drogas (maconha) e apego ao presente (o termo hipster atualmente tem similaridades e diferenças em relação a essa primeira definição). O autor classifica o hipster como um "white negro" (branco negro) já que negros seriam os originais hipsters devido a sua situação de precariedade nos EUA.

Negros teriam desenvolvido um psicologia e personalidade de apego ao presente uma vez que, por conta do racismo e da segregação, não haveria possibilidade de se realizar planos futuros numa sociedade onde sua vida estaria por um fio durante todo o tempo. Em outras palavras, os negros haviam desenvolvido uma espécie de existencialismo devido sua consciência de que a violência contra o mesmo era uma possibilidade existente de forma onipresente. Nessa perspectiva a exacerbação dos prazeres sensorias através do sexo, bebidas, drogas, dança e música (vindos do jazz) vividas sempre de forma intensa no presente era a compensação para a frustante experiência que impossibilitava o desenvolvimento de projetos futuros. Uma leitura freudiana e existencialista da experiência negra incorporada e materializada em brancos norte-americanos como o sex symbol do filme Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955), James Dean (1931-1955), ou o ator Marlon Brandon (1924-2004), figuras que carregavam a negrofobia tão presente no universo norte-americano, ou seja, um misto de medo, curiosidade e desejo pela sexualidade dos negros.

Elias, judeu e alemão, dispensa apresentação aos mais antenados em ciências sociais. Sua obra mais famosa é o livro O Processo Civilizador (1995) onde o autor mostra como sociedades européias passaram por um processo no qual a violência, tão presente nas sociedades guerreiras, foi aos poucos sendo amenizada com a ascensão das sociedades de corte e do processo de formação do estado-nação. Nessa perspectiva, hábitos tão naturalizados por nós hoje como comer com faca e garfo ou soar o nariz, são entendidos como produto de mudança histórica e internalização de restrições sociais por parte dos indivíduos. Contudo, o que Elias evidencia é que, baseando em Sigmund Freud (1856-1939) e em outros autores da psicanálise/psicologia, a personalidade dos indivíduos é moldada nesse processo e a estrutura social da sociedade pode ser observada nos mesmos por meio do habitus, ou seja, disposições das estruturas incorporadas na maneira como agimos, falamos e até pensamos. Esse aspecto fica evidente em seu livro sobre o músico Wolfgang Amadeu Mozart (1756-1791), Mozart: sociologia de um gênio (1994), no qual ele evidencia como a personalidade, arte, genialidade e fracasso do artista a sua época podem ser entendidas através de uma perspectiva sociológica que considere essa relação entre processo civilizador, estrutura social, habitus e tempo histórico. A personalidade desviante de negros norte-americana, observada por Mailer, seria chamada de habitus por parte de Elias, mas ambas as análises estão calcadas em elementos psicológicos, históricos e sociais.

http://todopera.files.wordpress.com/2009/08/mozart2.jpg

Tudo isso me faz chegar a conclusão que simplesmente alegar numa biografia que o biografado é "bipolar" é extremamente simples e cômodo por parte do biográfo uma vez que resolve problemas complexos que são difíceis de se explicar ao leitor mediano. Contudo, faço meia culpa ao meu incômodo por Codonas ser branca e escrever sobre uma artista negra. Percebi que não estava sendo razoável com a autora uma vez que há dois aspectos que devem ser considerados no sentido de relativizar minha posição de certa forma equivocada. A primeira coisa a ser dita diz respeito a elitização que o jazz sofreu nos EUA. O grande público consumidor desse gênero musical (e outro produtos relacionados a ele) é branco, americano e/ou estrangeiro e de classe alta. A audiência negra do jazz é pequena, algo que tem impacto na formação de músicos, crítica especializada e escritores negros voltados para esse segmento musical. A molecada preta que sai das faculdades de comunicação entende muito mais de Notorious BIG (1972-1997) do que Miles Davis (1926-1991) ou John Coltrane (1926-1967) que são músicos que seus avós ouviam. O segundo ponto é que há ótimos livros de jazz escritos por autores brancos como Kind of Blue: a história da obra-prima de Miles Davis (2007) e A Love Supreme: a criação do álbum clássico de John Coltrane (2007) ambos de Ashley Kahn e With Billie (2005) de Julia Blackburn.
 http://bachelorettefiles.files.wordpress.com/2010/02/ninasimone.jpg
Por fim, uma última palavra sobre a foto que abre esse post. A foto é de uma beleza absurda uma vez que a nudez de Simone é singela. Ela era uma negra que não se enquadrava no padrão estética valorizado na comunidade negra com sua pele escura (dark skinned) e nem era considerada uma mulher bonita e sexy quando comparada a Billie Holiday. Por outro lado, outras cantoras de jazz, como Ella Fitzgerald (1917-1996) e Sarah Vaughan (1924-1990), eram apresentadas quase como que assexuadas pela mídia devido a força da imagem de Billie. Assim sendo, a representação da mulher negra varia entre dois extremos: de um lado, a sexualidade exacerbada e traiçoeira de Jezebel e, de outro, a sexualidade reprimida e subserviente da Big Mama (se pensarmos em termos de Brasil, poderíamos colocar como correspondentes deste imaginário Rita Baiana, personagem do livro de Aluízio Azevedo [1857-1913], O Cortiço [1890], e a figura da Mãe Preta).  Contudo, Nina nessa foto evidencia sua nudez e sexualidade de forma humana, livre de estereótipos ao jogar o rosto de lado e fechar os olhos não se importando com aqueles que olham porque o corpo pertence a ela. Seu corpo, sua música, sua sexualidade e sua vida em sua maior e melhor beleza, negritude e humanidade...

Muita Paz e Boa Semana!

PS: tiro férias do inbrog a partir de hoje devendo voltar a escrever somente na segunda metade de maio. É final de semestre por aqui e a loucura e correria chegaram com força total!

sábado, 17 de abril de 2010

Futebol, Racismo e os Macacos!

Não irei comentar a fundo a polêmica que envolveu os jogadores de futebol Danilo (Palmeiras) e Manoel (Atlético Paranaense). Resumindo a história, em partida realizada na última quinta-feira em São Paulo, após uma disputa de bola Manoel teria dado uma cabeçada em Danilo (foto abaixo) que retrucou com uma cusparada no rosto do jogador do Atlético Paranaense seguido do xingamento "Seu macaco do caralho!". Após o término do jogo, Manoel compareceu a uma delegacia da capital acompanhado de um advogado e prestou queixa de injúria racial contra o jogador do Palmeiras. Leia a parada toda AQUI

http://globoesporte.globo.com/Esportes/foto/0,,33377290-EX,00.jpg

Well, todo mundo aí está lembrado do caso Grafite? Ou então das hostilizações raciais que vários jogadores negros foram alvo na Espanha anos atrás? Casos semelhantes não faltam, né?... Consultei minha truta Olívia (foto abaixo), orangotango especialista nesses casos de discriminação, que recomendou que eu subisse aqui no inbrog uma cena de um filme clássico do cinema nacional: Assalto ao Trem Pagador (1962) de Roberto Farias. Nunca vi no cinema tupiniquim o racismo brasileiro ser tão bem retratado numa cena de poucos minutos. Reginaldo Faria faz o papel de um dos componentes de uma quadrilha que assalta um trem pagador e, por conta de ser branco, tem chance de gastar o dinheiro roubado (sua parte e a dos outros assaltantes) de forma diferenciada passando a perna nos compassos até ser descoberto.



Preste atenção na fala do Reginaldão nessa cena brilhante:



Alguém que passar esse filme pro Danilo?

Muita Paz!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pretas Chics, Mas Sem Carne!



O lado meio gay, metrosexual, feminino e nova-iorquino do sujeito que lhes escreve essas linhas falará mais alto no texto que segue.  Já falei de moda em outras ocasiões aqui no inbrog (leia AQUI), portanto, se você é nov@ por aqui, não se assuste! Gente bem vestida é uma coisa sempre agradável de se ver. Tenho mania de elogiar roupas ou sapatos de meu amig@s, mas dia desses cometi um deslize sem perceber. Ao sair do metrô caminhava pelas calçadas do Village e duas patrícias andavam a minha frente. Ambas estavam extremamente elegantes e minutos antes havia trocado olhares com uma delas ao sair da estação.  Ao passar pelas ladies fiz um comentário meio sem noção para a que havia me chamado a atenção: "Nice shoes!". A resposta veio num sorrisso amarelo, "Thanks!". Realmente, ela usava um salto bonito e sexy, mas só depois de algum tempo, conversando com amigas, percebi que meu comentário não se encaixava muito bem no que poderia chamar de cantada... Ou seja, preciso renovar meu estoque de comentários "mau" intencionados para mulheres.

 

Mas NYC é um lugar onde todo mundo se preocupa com aparência e estilo, como já afirmei em vários de meus textos aqui.  Isso é resultado do caldeirão cosmopolita e de diversidade que é talvez a cidade menos norte-americana e mais legal da América (deles!). New York City é preta, gay, branca, rock, judia, latina, hip hop e mais mil e uma outras coisas. Na terça passada jantava com meu truta designer Oga Mendonça e sua primeira dama, Maíra Torrecilas, no restaurante Spice e comentávamos sobre isso. Oga, que ficará na Big Apple por alguns meses estudando e curtindo férias, dizia que estava espantado pelo fato de até mesmo os homens por aqui serem vaidosos. Verdade! Diferente do que ainda infelizmente acontece no Brasil, a velha masculinidade baseada na imagem de homem desleixado e não preocupado com aparência tem se transformado em algo do passado por essas bandas. Contudo, deixemos os barbudos para outro post. As imagens que ilustram esse post foram retiradas do site Black Woman With Style que descobri através de um link postado por minha truta Isis Conceição no seu profile no Facebook.



A página é bem legal e las hermanas de cor chocolate esbanjam estilo em fotografias que, aparentemente, foram todas tiradas nos EUA. Entretanto, a seleção não deixa de compactuar com a estética valorizada nas passarelas, ou seja, mulheres extremamente magras.  De antemão, visando evitar mal-entendidos, quero deixar claro que não me oponho de forma alguma a mulheres que possuam esse biotipo. Minha crítica vai no sentindo da homegeneidade de representação estética feminina que paira nesses meios.  Tempos atrás escrevi um post aqui no inbrog no qual discutia um pouco essas questões (leia a paradinha AQUI) e basicamente minha posição é de que nem 8 nem 80. Tudo que se localiza nos extremos é prejudicial, mas é necessário que exista diversidade de representações. Afinal, se as sistas são diversas em estilo, personalidade, classe, posicionamento político dentre outros aspectos, porque deixariam de ser no que diz respeito ao formato do corpo?

Fique então, para finalizar, com uma nega tamanho grande cuja imagem obviamente não foi retirada do site citado acima. Senhoras e senhores, Jennifer Hudson.

 http://themocialite.files.wordpress.com/2009/02/jennifer-hudson-new-years4_1_111.jpg

 Muita Paz!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Uppity Niggers e Negr@s Metid@s!

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Se nos EUA existe a categoria dos uppity niggers no Brasil há a classe d@s negr@s metid@s! Explico-me... O termo uppity nigger (crioulo arrogante) é uma expressão utilizada para se referir a negr@s que passaram por um processo de ascensão social e fazem questão de deixar isso claro através de um estilo de vida baseado em ostentação, consumo conspícuo de grifes famosas, carros de luxo, restaurantes caros, casas sofisticadas além de uma atitude de desdem em relação aos brancos. Nesse último aspecto, o uppity nigger pode ser tanto um novo pretão/pretona ric@ como alguém proveniente das tradicionais elites negras norte-americanas.

 http://deceiver.com/wp-content/uploads/2008/09/diddy.jpg

Um dos afro-americanos que mais recebeu a qualificação de uppity nigger foi o boxista Cassius Clay (fotinha abaixo) uma vez que o campeão mundial de boxe por várias vezes desafiou a sociedade norte-americana nos anos 1960 e 1970 através de declarações controvertidas, se convertendo a Nação do Islã, ocasião em que mudou seu nome para Muhammad Ali (visite o site dele AQUI), andando acompanhado e tendo como conselheiro um negão sangue no zóio conhecido por Malcolm X (1925-1965) e se negando a ir lutar na Guerra do Vietnã o que lhe rendeu uma sentença de cinco anos de cana (revogada em 1971) e acusações de anti-patriotismo. Entretanto, as atitudes arrogantes de Ali eram atenuadas por seu carisma que fascinava tanto negros como brancos. Outro uppity nigger, o jazzista Miles Davis (1926-1991), era famoso por realizar suas apresentações de costas para o público majoritariamente branco. Atualmente, atitudes uppity podem ser observadas no comportamento de alguns rappers e magnatas negros como Diddy (ex Puff Daddy, ex P. Diddy, ex Sean "Puff" Combs, fotinha acima) ou o nego véio de Dona Beyoncé Knowles, o beiçudão cheio do din din Jay-Z ou Jigga (pros mais chegados) cujo nome de pia é Shawn Corey Carter.

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O alter-ego do uppity nigger é o negro Uncle Tom (negro Pai Tomás), negr@ subserviente aos brancos. Esse último termo foi popularizado através do romance abolicionista Uncle Tom's Cabin (A Cabana do Pai Tomás) de autoria de Harriet Beecher Stowe e lançado num distante 1852.  Lembrando sempre aos desavisados que nigger é a maneira pejorativa que brancos se dirigiam aos negros nos EUA. A palavra sofreu um processo de inversão diacrítica pela geração hip-hop, ou seja, passou de negativa a positiva na forma que jovens afro-americanos e latinos se referiam uns aos outros no tratamento cotidiano dos guetos e nas letras de canções de rap Entretanto, há muita controvérsia sobre quem pode e não pode fazer uso da N-Word, maneira pela qual o termo é chamado nos redutos mais puritanos, conservadores ou politicamente corretos.

 http://www.sonofthesouth.net/slavery/african-american-art/uncle-tom-cabin.jpg

Mas no Brasil temos o similar do uppity nigger que é a categoria d@ negr@ metid@, ou seja, @ pret@ metido à besta. Num país de tradição católica como o nosso arrogância e ostentação nunca devem ser explicitadas e são interpretadas como atitudes negativas e indesejáveis. O tipo ideal é aquele que vence na vida, recebe o prestígio que lhe é devido pela sociedade e ainda mantem uma atitude serena de humildade.  Contudo, no caso dos negros isso cria uma inversão interessante uma vez que o imaginário de pobreza, feiúra, ausência de capital simbólico/cultural, sofisticação que se associa a essa população faz com que as pessoas que contrariem essas imagens não raro sejam classificadas como negros/negras metido/as. E falo isso de experiência própria: quantas vezes não fui chamado de "neguinho metido" por pessoas que nem haviam trocado sequer uma palavra comigo. Talvez a figura que melhor represente o negro metido ou mascarado no Brasil tenha sido o cantor carioca, retratado na foto abaixo, Wilson Simonal (1938-2000) antes do ostracismo que foi alvo dos anos 1970 até sua morte.

 http://userserve-ak.last.fm/serve/500/17201027/Wilson+Simonal++8.jpg

Daí eu pergunto: que tipo de negão/negona você é?

 http://us.st11.yimg.com/us.st.yimg.com/I/yhst-62376181940235_1999_9731023

Pra tirar uma onda, inspirado na camiseta de minha amiga afro-americana (Uppity Negress) da grife Uppity Negro (visite o site AQUI) vou mandar fazer uma na versão adaptada para o português: "Cuidado: Negão Metido!". Quero ver quem vai comprar e usar... Eu vou, já me chamam de "NEGUIM METIDO" mesmo... :)

http://us.st11.yimg.com/us.st.yimg.com/I/yhst-62376181940235_1999_2007039

Muita Paz e Boa Semana!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Imagens e Pensamentos...



Segunda-feira, 8/3 (a data não está errada não, foi há um mês atrás mesmo), 15 horas e me dirigo a universidade para um seminário. Depois de passar a noite na biblioteca preparando minha apresentação tive tempo apenas de ir para casa tomar um banho e trocar de roupas antes de encarar a aula. Após descer do metrô caminhado pela rua 14 chego a esquina da Quinta Avenida. Foi ali, num "orelhão" (termo bem brasileiro para algo quase inexistente em NYC: telefone público), que encontrei a negona da Guiness. Apaixonei e "roubei' uma foto dela. E pensar que no Brasil o pessoal faz comercial de cerveja com a Paris Hilton, que chato... É verdade, fortune favors the bold!


Muita Paz como sempre!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Dia do "Sim" para Gladys!

Minha amiga Gladys Mitchell prova que, apesar da disputa acirrada no mercado matrimonial, mulheres negras continuam se casando e constituindo família com patrícios aqui pelas bandas da América (deles!). Fiquei extremamente feliz ao receber pelo correio, na sexta passada, o convite para a cerimônia de seu casamento que rolará no próximo dia 12 de junho (Dia dos Namorados no Brasil) na Carolina do Norte.  O felizardo a "juntar os trapinhos" com Gladys é meu truta Anthony Walthour (veja a foto dos pombinhos aí embaixo).



Gladys é cientista política atualmente lecionando na Duke University e com doutorado realizado na Universidade de Chicago em 2008. Em sua tese ela discute a relação entre raça e política no Brasil contemporâneo. A moça morou durante mais de um ano no Brasil e fala português fluentemente.  Anthony é um consultor de marketing que acaba de se mudar de Chicago, onde o casal se conheceu, para a Carolina do Norte.

Gostaria muito de ir ao casório, mas provavelmente não poderei já que devo estar por solo verde-amarelo (e não é a Jamaica!). De todo modo, desejo toda a felicidade do mundo ao casal e sinto em não poder presenciar nesse dia os dois pombinhos pulando a vassoura. Aliás, Gladys, dá pra explicar qual o significado dessa tradição????

 'Why Did I Get Married Too'

By the way, fica aqui duas sugestões de filmes sobre casamento e relacionamentos pós-casório. O primeiro é The Best Man (1999), cujo título em português é Amigos Indiscretos, de Malcolm D. Lee. Esse é, com certeza, um dos filmes mais divertidos sobre casamento que já assisti. A segunda dica entrou em cartaz na última sexta-feira, 2/4, aqui nos EUA: Why Did I Get Married Too (2009) - cena acima - de Tyler Perry que é uma continuação de Why Did I Get Married lançado em 2007. O elenco conta com, dentre outr@s atores/atrizes, as cantoras Janet Jackson e Jill Scott. Visite o site oficial do filme clicando AQUI e assista o trailer logo abaixo.

Muita Paz e Felicidades à Gladys e Anthony!

sábado, 3 de abril de 2010

O Perigo de uma História Única

Esse post entrará no ar no sábado, mas escrevo o mesmo na sexta. O mais louco de tudo é que só me toquei de fato de que hoje é Sexta-Feira Santa ao falar com uma amiga brasileira pelo Skype e, ao dizer a ela que estava de saída para a biblioteca, fui surpreendido com sua resposta: "Puta Kibe, só você mesmo para ir para a biblioteca numa Sexta-Feira Santa!". Pois é, daí veio a constatação de que não moro mais num país majoritariamente católico e que hoje não passa de uma sexta comum por aqui. Mas não vou me estender nessa história já que teria muito para contar sobre Páscoas passadas em meio a ovos de chocolate, procissões e a vigilância de Dona Joana para que ovelhas brancas da família como eu não comecem carne nesse dia. Deixo isso para outro post, quem sabe na Páscoa do ano que vem. Ok, mas mudemos de assunto...

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E parece que as mulheres pretas estão dominando o inbrog essa semana. Já falei da gordelícia e maravilhosa Jill Scott, da artista manifesto Erykah Badu e agora...  Minha intenção hoje é deixar para vocês um vídeo com a fala da escritora nigeriana Chimamanda Adichie (foto acima) que me foi enviado pela minha amiga e ex-colega dos bancos de USP Tatiana Alencar.  Nascida em 1977 Adichie é ganhadora de importantes prêmios literários da literatura anglo-saxã. Dos seus livros publicados se destacam Purple Hisbicus (2003), The Half of Yellow Sun (2006) e The Thing Around Your Neck (2009). Visitem a página da moça clicando AQUI

http://multivu.prnewswire.com/mnr/macarthur/35075/images/35075-hi-adichie_chimamanda.jpg

No vídeo que segue a escritora conta um pouco da sua trajetória e como escreveu suas primeiras histórias. As mesmas não tinham nenhuma relação com seu país e população uma vez que a literatura que a garota lia à época era totalmente estranha a realidade da Nigéria. Isso me lembra, guardada a devida distância, uma pesquisa recente realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da UNB e coordenada pela professora Regina Dalcastagné. Usando os conceitos teóricos de campo e capital cultural do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), caso tenha interesse leia o livro As Regras da Arte (2002), e realizando uma pesquisa quantitativa os pesquisadores mostram como na literatura brasileira contemporânea mais de 70% dos escritores são majoritariamente homens, brancos e de classe média/alta. O resultado disso pode ser visto no enredo e tipo de histórias além da representação estereotipada de personagens negr@s e pobres presentes na literatura brasileira produzida atualmente. Leia mais sobre a pesquisa AQUI  Pois é, pra onde vai a tão afamada diversidade tupiniquim...

Sem mais palavras deixo vocês com Chimamanda Adichie. Dois detalhes importantes. O primeiro é que fala da nigeriana, em inglês, conta com legendas em português no vídeo (clique em subtitles e procure por português). Já o segundo eu não poderia deixar passar: São Benedito (Benê para os íntimos!) que me salva de apuros, que mulher LINDA é essa Adichie!

Muita Paz!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Entrevista com Erykah Badu

Sobre os holofotes da polêmica lançada pelo vídeo de Erykah Badu (leia post anterior do nosso inbrog para saber mais), assista entrevista da negona mais comentada dos EUA atualmente concedida ao Wall Street Journal no início da semana.

Muita Paz!